O caráter dos três mandatos do PT foram marcados pela conciliação com forças conservadoras da política nacional para garantir a governabilidade num programa de desenvolvimento econômico e social que equilibrasse a desigual distribuição de renda elevando as condições da base e do meio da "pirâmide" para uma renda média, essa "humanizaçao" do capitalismo brasileiro e pequenas reformas estruturantes nas políticas públicas marcaram o período do PT no poder nacional a partir de Brasília.
Esse processo inevitável nos primeiros anos do gov. Lula, justamente porque o Estado herdado por FHC era o neoliberal, inclusive nos compromissos eleitorais com a famosa "carta aos brasileiros" (2002) isso já demostrava recuo no programa democrático popular. Os movimentos iniciais do governo aplicam a amarga receita do neoliberalismo com a reforma da previdência sob os trabalhadores do setor público e a mesma política fiscal e do mercado financeiro. Aos poucos foram feitas mudanças nas políticas sociais com a criação do Bolsa Família, retomada da ampliação das instituições federais de ensino superior, parcerias com os municípios e uma retomada de investimentos em infraestrutura. As contradições características do gov. Lula se expressam por exemplo no campo da política agrária com apoio tanto ao agronegócio, quanto a agricultura familiar. A grande marca da politica ficou a cargo da política externa que barra os acordos da ALCA e aproxima o país para relações internacionais multipolares com o fortalecimento do Mercosul, criação dos Brics e independência política mundial.
Isso explica, em parte, a forte vitória nas urnas e uma onda vermelha que vimos mesmo diante dos ataques da oposição de direita que estava (e está) mais preocupada com em derrotar o PT (partido) em vez do governo.
Agora neste breve balanço desses 12 anos podemos concluí que os ataques deliberados das elites em fazer oposição pelos meios de comunicação aberta, criação e ou apoio a pretensas lideranças politicas ou midiáticas para fazer o coro oposicionista, as críticas a aproximação internacional com Cuba, o chavismo e o "bolivarianismo", tentando imprimir uma ideia- força de um "comunismo petista autoritário"mostram o quanto é forte o conteúdo de luta de classes. Não importa se há tentativas de "conciliação de classes", como acusam alguns setores da nossa esquerda, a certeza que o núcleo central das elites nos odeiam.
Outro fator fortíssimo do elemento de classes é que passou a ser uma campanha aberta de marginalização dos trabalhadores pobres, críticas aos padrões de condições de vida da nova parcela de assalariados que chegou a renda média (criticas ao" "padrão" de qualidade e ocupação dos aeroportos), criticas ate racistas com relação as cotas raciais ou regulamentações de direitos como politicas para mulheres, demarcações de terra indígenas e quilombolas, parâmetros para o salário mínimo, acesso educacional (mesmo que parte pela lógica do consumo educacional via Prouni), etc..
Frente a isso porquê votar e levar Dilma ao primeiro turno?
Primeiro garantir que não seja preciso comprometer ou repartir o próximo governo com compromissos com mais setores ligados as forças conservadoras. Dando condições para um realinhamento ao programa democrático popular.
Segundo, a possibilidade de fazer avançar uma verdadeira reforma do sistema político por uma constituinte exclusiva e soberana, onde a manifestação voluntaria de mais de oito milhões de brasileiros demostraram que parte dos trabalhadores assalariados da nova conjuntura quer fazer mudanças necessárias no país. Buscando o fortalecimento das organizações da classe trabalhadora e um novo marco republicano que introduza elementos como a democracia participativa.
Terceiro, a esquerda brasileira poderá ter que enfrentar (mesmo que ainda dividida), a maior reação conservadora e de classe já imaginada desde o fim da ditadura civil-militar e da ofensiva neoliberal, onde preservar direitos sociais e colocar em pautas projetos do campo progressista, popular, socialista e dos trabalhadores/as será o elemento divisor da sociedade brasileira, que poderá ser a retomada do debate de classes. Reconhecer de que lado está? Será fundamental para nossa luta.
Quarto, reagrupar as forças progressistas e da esquerda, pois é claro que haverá a reorganização do lado de lá. As ideias-força do modelo neoliberal podem impor sobre nossas elites e sua representação politica um pacto como que assistimos na Venezuela.
No primeiro turno com Dilma temos muito a ganhar, basta aprendemos com as possibilidades do momento histórico.
Recolocar as ideias socialistas deve ser a tarefa de toda militância para além das eleições oficiais.