quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A esquerda brasileira: fazer tudo pode não representar nada!

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Na "Era dos Extremos" do profº Hobsbawm ele traduz os fatos pelos quais nossas vidas atravessaram o longo e desafiador século XX. E o que podemos dizer do século XXI?

Poderíamos dizer que, até o momento, vivemos os "extremismos da era", ou seja, fantasmas do passado como nazismo e o fascismo retornando na cena pública, desfilando (literalmente) suas "verdades" e (pasmem) sendo alimentado por um modelo educacional que foi sendo enquadrado em determinismos, minimalismos e resumos-dos-resumos, independente se for particular ou pública, a escola tornou-se item obrigatório e desinteressante pela máquina financeira do capital e seus funcionários "eleitos" para "governar".

O atual estágio de formação dos sujeitos pela educação formal segue passos largos de algo que tornou-se institucionalmente inviável, pois, intencionalmente, acabar com esse modelo de ensino tornou-se parte do fetiche do capital. 

Vamos aos fatos: o capitalismo seguiu seu curso, suas reformas e seu controle sobre as finanças globais, submeteu estados nacionais a total submissão de um novo modelo de mercado ancorado na mais medíocre das funções de criação de mais-valia, subtraindo não apenas o lucro, mas também a ilusão disso em formas não-capitais como juros, fazendo com que o capitalista agora viesse a acumular: juros.

Apoiado por um processo de produção transnacional e corporativa, derrubou todas as barreiras planetárias, onde qualquer pequeno ou micro comerciante pode importar produtos com menor custo vindo dos portos e aeroportos de qualquer país, consumir "importados" não é mais o fetiche da classe (assalariada) média, contudo, agora o inacessível e a ostentação demandam essa supervalorização de ego consumista, além da narrativa das forças políticas no controle desse poder tornou-se única e indivisível: qualquer ajuste fiscal desestabilizador de direitos é solução para Grécia, Espanha, Brasil, enfim, finalmente o país irá dizer que segue uma diretriz implantada nos países "ricos".

Não bastasse isso, admitir que o capitalismo em sua neoliberal venceu e nem de longe perderá as atuais batalhas não é nenhum sentimento derrotista, mas realista. E o que mais agoniza e será a "bola da vez" será a educação.

Educação que se torna "universal" nessa campo contraditório do sistema (capitalista) vai penetrando como uma reivindicação necessária da classe trabalhadora, mas também da classe burguesa. Ambos ganham, mas precisam acessar e desfrutar de forma diferente. E assim foi até o final do século XX.

Ciência e conhecimento universais, pesquisas voltadas para alcançar benefícios para humanidade, ensino superior como o lugar sagrado da produção cientifica, de profissionais habilitados e campo "neutro" das disputas ideo-políticas, incluindo as vaidades e vontades dos governos, vai seguir um caminho tortuoso.

O capitalismo dirigente não dá ponto sem nó. Utilizando-se das tecnologias para ampliar a produtividade, a lucratividade em níveis jamais vistos na sua história e mantendo, assim, a classe trabalhadora em condição de controle absoluto, via desemprego, precarização e pulverização do processo de trabalho vinculado a flexibilização do jogo jurídico-trabalhista, isso em algum momento, afetaria também a boa e velha escola.

Muitas vozes, principalmente a serviço do capital, tem cuspido na escola que estudou para justificar que as massas precisam de formação "rápida" e "qualificação", não sendo necessário o tempo "desnecessário" com conhecimentos universais que se tornam "complementares" ao gosto e a "liberdade de escolha" de cada indivíduo.

O neoliberalismo está criando um novo direito: o direito de ser idiota!

Sim, quando a educação formal chega no ponto do seu esgotamento físico, econômico, cultural e político, algo me fez refletir e perceber que é INTENCIONAL termos uma escola ancorada a um modelo institucional-formal degradante, de assimilação do conhecimento pelo "mantra" da leitura repetitiva, com lousa e giz, não informacional e de auto-gestão do caos. 

As reformas propostas para o ensino médio expressam essa vontade insaciável do capital neoliberal de tornar o indíviduo "livre" do conhecimento universal, para escolher em qual fast-food empregacional irá trabalhar. Quando digo "fast-food empregacional", refiro-me ao a atual reforma trabalhista e a enorme tendência de uma classe assalariada precarizada e sem acesso aos direitos da seguridade social ou aposentaria pelo desgaste do trabalho.

O capital age como "bons espartanos" empurrando a nós, a "massa de bárbaros" para o precipício, ops, precipício será uma palavra muito refinada para nova educação modernizante do capital neoliberal, melhor dizer: "pra fundo do buraco".

E porque digo no título que "fazer tudo pode não representar nada", bom a julgar pelo que consideramos "estar em movimento", para alguns de nós, pelas nossas referências, "estar em movimento" significa o conjunto combinado ou não de nossas ações, formações, lutas sociais, enfim, temos objetivos comuns e estamos em franca construção disso.

Não é o que a conjuntura apresenta. Vamos aos fatos sobre as nossa esquerda, a começar pelo PT (com as ressalvas todas) a ausência de máquina estatal e até mesmo parlamentar levou uma parte da militância a retornar para outras máquinas como a sindical ou para o mundo real da sobrevivência, ainda é forte o susto com o golpe de 2016 e a progressiva campanha contra o petismo deu contornos de racismo e fascismo direto com ampla disseminação de preconceitos, que se observadas as devidas proporções são destiladas por jovens ou adultos na faixa dos 30 a 40 anos, basta analisar os perfis no facebook ou twitter e a narrativa primária dos ataques que vão desde a questões do "comunismo", ao uso da máquina estatal, ou descaso, ou corrupção, além do processo que já citei, a completa intolerância, falta de respeito e idiotice assumida na criação ou contestação de fatos ou dados, onde você fala de direitos trabalhistas e a resposta automática é o tal do "não existe almoço grátis", uma bobageira criada e disseminada, para travar o debate político e não fazer avançar. Não há companheiros, o grau de disputa pelo seu lugar ao "parlamento" (ao sol seria dar crédito ao concorrente) é evidente, e onde um petista ocupa o cargo, uns dez saem, pois lá ninguém quer "ajudar" ninguém, onde o PT internamente tornou-se um lugar em que "desejar sorte" é dizer "espero que afunde". Somando isso a ausência completa de direção, mesmo depois do seu último congresso, apostando todas a fichas no retorno do grande líder das massas. Sem pontes e nem amarras com setores da esquerda, o discurso da "frente ampla" continua sendo de forma arrogante, "eu sou o cara" ou o "PT é o maior partido", desse jeito e sem uma real reflexão coletiva apoiada nas bases, tudo tendo a dizer que 2018 é mais incerto que 2016.

O Psol busca brigar e tender a querer apenas a herança do pós-lulismo, nada indica que o esforço de guerra será pela "frente ampla", pela mesma arrogância do PT, numa linha "eu disse". Combativo, esquece-se que na pasmaceira da política brasileira, os primeiros que perdem são os que defendem posição ideológica e diferente dos demais partidos, é o que mais perde com o golpe, ops, a reforma política proposta. Ainda vive outro drama, ausência de unidade, coisa que o primeiro também vive, de forma diferente, virou satélite de um leque de movimentos e ativistas que busca fazer resistência político-institucional com o pé nos movimentos (ops, outro ato falho, esse discurso era do PT da fundação, "partido sem patrão") mas não construindo coesão de dentro para fora e de fora para dentro em um projeto maior. Pena, porque aqui perdemos todos e todas.

PCO honestamente quer o espólio e a massa falida do PT. Tem de forma generosa feito uma inflexão trotskista para tática, já que a estratégia esta enormemente longe, desculpe a gramática, mas é assim que estamos. Contudo, longe também de êxito em apresentar-se como força política que irá retomar a narrativa do processo histórico pertencente a classe trabalhadora.

Pstu, poucas palavras, haja visto que se conjuntura fosse um jogo tipo batalha naval, só restaria o bote salva-vidas, pois a julgar a sua análise da Venezuela e seu flerte com a direita anti-PSUV,  e não contra o "chavismo" como dizem, uma vez que o legado desse processo é estabelecer um novo centro do poder, e é fato, para além do chavismo, o PSUV é uma força política de esquerda, popular, com capilaridade nas forças armadas, na sociedade civil e entre os trabalhadores, isso poucas forças de esquerda tem conseguido reunir. 

E os demais partidos? Incluindo o PCdoB, PDT, PSB, enfim, pouco a comentar já que contra Temer ou com Temer, a luta pelo espaço eleitoral-institucional e o desembarque do petismo tem sido a principal estratégia de todos. 

Portanto, ao observar as pautas, são milhões todos os dias e todas as horas, estamos ou observamos milhões de pautas, lutas sociais, identitárias, salariais, reformas, contra-reformas, falência institucional, guerras de todos os tipos sobre todos os assuntos inimagináveis, novos fatos se sobrepondo a fatos ainda presentes, enfim, o capital abriu a "caixa de pandora" e o atual estágio da tecnologia, principalmente informacional tem se disseminado como se o tempo agora corresse atrás dos fatos tentando alcança-lo.

A diferença é que quem esta no poder pode gerenciar essa tempo a seu favor. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos que seguir sobrevivendo e lutando, individual e coletivamente, a ponto de parecer passivo diante de umas pautas e ativo em outros, o gesto "curtir" parece ser, para militância política, um gesto de reação para não ser chamado de "negligente ou displicente" às pautas diversas que são listadas todos os dias. 

Essa semana o blog do Sakamoto disse que não se manifestar contra a manifestação de facistas nos EUA era no silêncio da neutralidade, apoiar. Bom eu diria que se apenas postar nas redes sociais é gesto de não-neutralidade diante do grotesco fato ocorrido, para mim serve apenas de redução de "dor na consciência" pela nossa real negligência . Pois enfrentar o nazi-facismo é uma tarfa diária, de educação popular . (https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/08/13/diante-do-odio-e-da-intolerancia-o-silencio-nao-e-neutro/)

Assim termino esse desabafo político (dos vários que tenho feito) para refletirmos qual é o centro das nossa disputa? O que nos faz estar em movimento de fato e não apenas com a nossa consciência tranquila? Ir a manifestação ou "curtir" ou postar uma opinião não é de fato estar em movimento, o que estamos fazendo para transformar e alterar a correlação de forças na sociedade?

Quando jovem li um artigo que suponho ser do Leonardo Boff que havia resgatado a estória da "galinha e da águia", e conta que auma águia filhote ao ser cuidada por um grupo de galinhas esqueceu-se da sua vocação natural, ser águia. Bom, espero que não estejamos tanto tempo sendo tratados como galinhas ao ponto de esquecermos de ser a águia necessária. 

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Estamos debatendo política assim???



* Nota1: também precisamos retomar o trabalho de base, e atualmente lembrei de outra estória envolvendo galináceos, sobre a galinha e a ema, no quesito tática e estratégia, pois, a ema é uma ave gigante e desajeitada, ao botar o seu ovo, que é enorme, o faz quieta e sem alarde. Já a galinha, ao botar seus ovos, que são pequenos comparados ao da ema, fazem um verdadeiro carnaval. Se queremos ser galinha ou ema, bem isso pouco importa, e a lembrança da estória também. Já que não estamos botando esse ovo grande de ema, sem alarde, e nem estamos fazendo um carnaval pelas pequenas conquistas que temos tido nessa conjuntura.

* Nota2: A partir de sexta, 18/08/2017, cumprida tarefa na Audiência Pública do PEEDHSP, como ainda estou "contaminado" pelo passado e buscando redenção para as lutas que se avizinham, e não estou falando de eleição, desta data em diante vou caminhar para o meu ostracismo. Sim, se minha pequena contribuição não é relevante, se minha presença incomoda e se o "amém" é a regra das nossas esquerdas, prefiro me resignar. Para alegria de muitos, muitos poucos "militantes de eventos", "oportunistas institucionais", "carreiristas sem carreira", candidatos a "militante youtubers" e outros tipos da fauna da nossa esquerda brasileira, eu prefiro mergulhar nos estudos, trabalhar no meio da classe trabalhadora (onde estou) e buscando contribuir microscopicamente com um nova ascenso que dê forças a nossa força política de classe. Deixo as vaidades e as verdades para quem queira construí-lá longe de mim.