A notícia de que o PT teria contratado uma pesquisa de opinião à empresa VoxPopuli para medir o impacto do apoio ou rejeição do sr. Bolsonaro e as medidas de transferência de renda do auxilio emergencial teriam relevância estratégica se não fossem divulgadas pela revista do golpe, a (in) Veja que segundo ela mesma informa: "Uma pesquisa recente do Vox Populi encomendada pelo partido de Lula quantificou o fenômeno. Ela apresenta o desempenho do presidente por região, renda familiar e escolaridade. VEJA teve acesso aos dados."
Vamos repetir a última frase: "Veja teve acesso aos dados". Podemos considerar que a VoxPopuli vazou, sim. Podemos considerar que um dirigente do partido vazou, com certeza. A própria Dilma ironizou os vazamentos de informações de reuniões de gabinete que deveriam ser sigilosas consideradas "sigilo de Estado", mas não. E não é novidade. Durante o governo Lula, nenhuma reunião era sigilosa o bastante que não fosse parar nas "venenotas" da Farsa de S.Paulo.
Uns poderiam dizer que "é do jogo politico". Mas considerando que as reuniões obscuras de políticos do PSDB e outras agremiações seguem seu sigilo, supor que isso é "endêmica" apenas ao PT só demostra a fragilidade em nosso projeto de disputa pelo poder. Uns chamam de "excesso de republicanismo", este militante chama de "cagada" mesmo.
O uso de espiões é tradicional de forças políticas e econômicas que estão no poder. A atual conjuntura brasileira evidencia que isso é uma pandemia na política e Moro contribuiu muito.
Mas o problema reside e o uso dos meios midiáticos tradicionais e mercadológicos não é novidade na luta interna do PT, antes acusamos um opositor de "usar de meios burgueses para fugir o debate interno", ou "desrespeito a democracia interna e disciplina militante", hoje seria só cagada intencional mesmo.
Isso pode constatar que "ninguém é confiável"? Depende do dirigente e da forma como as articulações políticas se dão no processo, e mesmo assim o risco existe.
Bom, uma vez escancarado o problema, os dados analisados aqui não pertencem a revista golpista (in) Veja, e sim do PT e sua contratada VoxPopuli. Um dado interessante, sempre que as matérias ficam abertas e escancaradas, como esta, nestas grandes corporações de comunicação, o certo é que querem ver o "circo pegar fogo", então vamos à gasolina.
A preocupação do partido está correta. Quem dirige o Estado colhe suas bénéfices, e por pior que seja o governante ou o governo, em um país onde a desigualdade é profunda qualquer iniciativa que busque amenizar as "dores" da fome, desemprego ou pobreza tem um retorno. A forma como isso vai ser implantado determinam o caráter do governo no poder, desde na forma do velho coronelismo paternalista ou reformismo social democrata, isso agindo individualmente sobre o cotidiano do sujeito distante de qualquer debate político que se contraponha a lógica das forças no poder, logo vai incorporando o beneficio como algo "dado e recebido" para atender tais necessidades sociais emergentes. Sobre isso vale considerar:
- A imagem sobre o beneficio concedido não é somente quem (Bolsonaro ou Lula), mas também qual instituição, nessa caso o Estado via governo federal/ Caixa Econômica Federal;
- A necessidade social operada pode ser caótica, com filas e pessoas ainda sem receber, em análise, e outros, mas devemos considerar o impacto sobre a vida de quem recebeu, e falamos de cerca de 46,2 milhões de pessoas, dados da agência Brasil de 30/04/20, isso no âmbito das individualidades diversas, socializando o valor sobre suas necessidades diversas, e mesmo que isso não reflita em "gratidão", em parte haverá efeito de reconhecimento; O velho poder do Estado Moderno, a história enfim não acabou né Fukuyama?!
- Como não houveram reformas estruturais que permitissem ampliar a participação social por meio das diversas políticas públicas e sociais, e que poderiam ter dado os mesmos resultados dos levantes de 2013, mas sobre uma outra perspectiva de classe, ainda as narrativas, discursos e formas de ver e fazer as coisas, em especial em política seguem as mesmas;
Onde a revista (in) Veja não teve muita dificuldade para apontar duas mudanças na curva de aprovação ao governo fascista de Bolsonaro em dois aspectos: escolaridade e região do país, e sinaliza (nas suas palavras): "A leitura é que os 600 reais do auxílio emergencial pagos a trabalhadores informais e beneficiários do Bolsa Família influenciaram na manutenção do um terço de apoio que Bolsonaro apresenta nas pesquisas em geral."
E o deslocamento por escolaridade diz que aqueles com ensino fundamental em dez. 2019 eram menos de 19% e agora em abril de 2020 são 42% os que "aprovam" o governo federal, seguido dos de "ensino médio" que dão 33%, e no público com formação no superior caiu para 24%, uma mudança significativa na curva.
Com relação a região nordeste, que deu a vitória a Fernando Haddad nas últimas eleições, o quadro mostra que a aprovação em dez. de 2019 era pouco menos que 15% sobe em abril de 2020 para 27% e com uma tendência de queda dos que "reprovam" o governo federal.
Isso somada a análise constatada internamente no PT e que a (in) Veja traz ""O Bolsa Família aumentou a probabilidade de essas pessoas votarem no Lula e na Dilma, mas não gerou petistas. Já esse auxílio emergencial é temporário. A curto prazo, há o aumento na popularidade, mas quanto tempo dura essa gratidão?”, questiona o cientista político da FGV Cesar Zucco."
O processo que poderia ter "gerado petistas" ou novos cidadãos/ cidadãs ou ativistas populares sob a perspectiva da defesa da democracia e outros valores humanos não estiveram no centro ou pelo menos em paralelo às medidas governamentais do período Lula-Dilma. E isso depende de um esforço conjugado, mobilizante e permanente, sem a preguiça republicana constumeira.
Talvez que desse discurso republicano da classe dirigente do petismo seja a sua própria gênese do erro, ao colocar em suas fileiras parte dessa geração de "novos petistas", sem tradição ou leitura ou postura intelectual arrogante e elitista formam penetrando no "mundo do PT", com super valorização da historia que não foi vivida, glorificando o passado e vivendo sua Realpolitik contra os "radicais", dando ao Estado a crença de que estar no poder e saber conduzi-lo seria suficiente.
Esse republicanismo burro e intensamente preguiçoso que no uso dos recursos dos cargos buscou fazer carreiras, bebedeiras e um "viver a vida" em nome de um projeto de poder que supostamente teria sido consolidado por uma "democracia sólida dos trópicos", e de vitória em vitória bastava "usar a caneta" da republica para vencer quem ameaçasse o poder dos "soviets dos mares do sul".
O uso recorrente de ataques pós golpe contra a classe trabalhadora e contra os pobres como "ingratos" termina o ciclo de cretinices desses novos desamparados do neo petismo, que nunca participado de uma vida partidária intensa, com debates intermináveis e luta sociais intensas, agora quer se apegar ao passado da década de 1980, sem ter feito uma única reflexão importante sobre o presente de 2013-2020.
Agora o Estado liberal é uma realidade incomoda e mesmo diante de uma disputa evidente de projetos societários que estão sendo conduzidos por Bolsonaro e sua Internacional do conservadorismo-fascista (Bannon e outros) ainda uma parte do republicanismo burro aposta no "susto das instituições", esquecendo que os atores do golpe são os mesmos de toga, de terno e de mandatos, perseguindo seus interesses no heich de Bolsonaro.
Se é para aprendermos com as lições do passado, melhor retornarmos "As veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano, em especial de como foram sufocadas as iniciativas de construir um continente latino americano independente e desenvolvido, e como direta e indiretamente o imperialismo capitalista sufocou a todos, pois, a paz dos povos não pode representar "baixar a guarda" no alerta contra as tentativas do capitalismo em destruir qualquer forma alternativa à sua ordem.
Cuba resiste, mas não dorme tranquila, esta em alerta permanente.
Para nós, vencer eleições parlamentares é manter viva a denúncia do sistema. E vencer as eleições para o Executivo? O que isso vai representar para esquerda quando não houver mais nada para administrar que tenha conectividade com nosso projeto societário ou nossos valores humanos?
Com a pilhagem total do Estado e as inúmeras amarras para sua libertação em termos de reformas estruturais, de que valerá para esquerda vencer? Fazer bons índices de superavit? Mostram como somos fiéis a lógicas fiscais das quais não concordamos?
A esquerda no mundo está no meio de uma encrenca. Na Grécia, Espanha e até na promissora Portugal, as amarras neoliberais impedem que hajam governos ousados do ponto de vista de ampliar a mobilização da sociedade em defesa de um Estado que se imponha sobre a sanha capitalista. Cada vez mais o projeto neoliberal avança para novas formas de destruir o que era tão sólido na (antiga) sociedade moderna. Os ataques de Trump a OMC evidenciam que os capitalistas financeiros querem o fim o acordo de Breton woods e querem novas instituições que atendam aos interesses, de fato, do capitalismo financista. A velha estrutura da ONU passa por um questionamento e uma erosão silenciosa, onde gravatas de marca, diplomas e títulos pessoais não serão mais considerados pela nova ordem global.
Tudo isso, em meio a pandemia e pandemônios, exigem que haja o retorno para os estudos e a formação, da qual parte da intelectualidade nas instituições públicas devem se inscrever, não como entidades superiores, mas com pés no chão e lado a lado, para o trabalho de base massivo e coordenado, e não esse dos discursos e disperso, para combinação das táticas eleitorais com desprendimento e impersonalização, e uma maior definição do que seria um projeto de poder que se traduza no convencimento e dedicação do povo.
O cenário pós pandemia será de revanche do capitalismo. Será mais duro e cruel contra aqueles que nada tiveram a ver com sua baixa de lucros, novamente a classe trabalhadora vai pagar com tortura e dor, a revanche implacável dos especuladores e sua corja empresarial e banqueira. O mundo pós pandemia vai ser pior do que este que estamos vivendo, pois o sangue que vai correr não será monitorado pelas instituições ou instrumentos da burguesia (mídia em especial), e serão muitos que vão sofrer. A ditadura do mercado financeiro será dura, quem viver verá.