segunda-feira, 24 de abril de 2023

A anestesia que toma conta do PT, nova etapa! (a experiência Lula 3)

 



Fora de mim não acreditar! Creio na humanidade, na força da luta, na pedagogia do exemplo, nas coisas que importam de fato para vida, enfim, se crer é acreditar preferia acreditar que o Lula encarcerado, cerceado, reflexivo e destemido tenha urgido das trevas do lavajatismo e do fascismo da ditadura jurídico política de Moro com a coragem que os e as injustiçados (as) alimentam seu retorno.


Não esperava de Lula vingança, mas reflexão crítica sobre quaos devam ser as tarefas mais urgentes da classe trabalhadora. Se ele leu mesmo Piketi e pode com tempo e calma observar os mortos e desvalidos dos escombros da vitória neoliberal, deve ter refletido sobre o quanto é limitado apenas buscar flerte com uma força da economia capitalista que além de impopular é destrutiva, o setor financeiro.

Se é verdade em seu discurso ao sair do cárcere de Curitiba de que juventude deveria assumir os rumos das próximas batalhas. Faltou dizer isso ao PT nas últimas eleições, até onde se sabe, faltou priorizar e quem foi eleito (a), se deu pela sua própria força pessoal e coletiva.

Passamos as festas, a festa do natal, do ano novo e da posse. Ameaça de golpe na primeira semana do ano de 2023 e depois do horror fascista dos camisa verde-amarelo, passaram também 100 dias de governo.

O PT pelo menos tirou lições de 2016? Tudo indica que ainda não. 

As vozes e as atitudes são de um partido que como em 2003, entrou em "modo governo", ou seja, anestesia geral e irrestrita. Preocupado com 2024, deixou a tarefa de enfrentamento ao golpismo ao valoroso ministério dos Direitos Humanos e o da Justiça.

Na contramão da sua própria reflexão sobre ter se empenhado mais na incidência sobre os jovens, a partir do ensino médio, Lula preferiu um MEC dócil à patifes como Lemann e sua quadrilha. A não revogação ou prioridade sobre o ensino médio vai perpetuar uma geração (ou gerações) a luta de uns contra os outros na selva capitalista, gerando novos improdutivos vagabundos, como "influencers", mão de obra barata na uberização do trabalho, poucos e raros quadros formados no ensino superior, ampliação dos "nem-nem", ou seja, podemos até voltar a "comer picanha", mas na roda dos jovens o diálogo pode ser a disseminação de fakenews, ou na simbologia que me incomoda até hoje, quando em 2008 retornando de uma atividade de trabalho na linha vermelha do metrô, jovens universitários que ascenderam com as políticas sociais do lulismo, carregavam de baixo dos braços uma revista "Veja", símbolo do protofascismo que iria jogar nas trevas a sociedade brasileira a partir de 2016.

Como é rápida a adaptação das forças internas para a anestesia partidária. O que se vê ligeiramente são os discursos do "deixa disso" ou da defesa cega do governo contra o bolsonarismo. Ou seja, bolsonarismo que deveria ser combatido por nós, vira apenas estandarte para a adaptação do partido ao governo, uma rendição com retórica radical.

A mesma conversa mole de preservar as direções até as eleições de 2024 para que  a "democracia interna" não atrapalhe as articulações eleitorais, velha forma de ampliar mandatos das direções e tornar o golpe menos duro, bastando usar uma desculpa estratégica.

Essa anestesia apenas retarda as capacidades do partido ser partido. Ninguém nega que o PT seja o partido do governo, como ninguém nega que o PT é apenas mais um partido na coalisão de governo, e que novamente reafirmou sua dependência enorme no "grande líder dos povos". 

Sem crítica e sem estratégia política, faz das eleições sua única frente de atuação. Esquece do golpe de 2016, esquece da tragédia de 2018, esquece do desgoverno de 2019 a 2022, prefere simbologismos midiaticos em vez de decisões políticas urgentes para combater o fascismo bolsonarista. 

A voz corrente é de que é cedo para julgar. Bom, não estamos falando de um presidente novato, nem de um governo novato e muito menos de um partido novato no poder da República. Nessa conjuntura, o tempo é inimigo sim, pois o esgoto das redes por onde resiste é rápido em preservar narrativas, em criar símbolos e criar crises. A máquina estatal não será dócil à funcionalidade do lulismo, irá percorrer pelas veias da estrutura corroendo, corrompendo e  cooperando com a implosão do governo na menor escorregadela.

Não é novidade que a burguesia odeia a pretensão do PT e de Lula em enfrentar a pobreza. Indiretamente, enfrentar a pobreza  é enfrentar a burguesia, causando estranhezas de ambos os lados, sendo maior estranhamento da própria burguesia.