sábado, 21 de outubro de 2023

Nota de posição política. Candidatura a prefeito (a) pelo PT de Guarulhos (atualizada pós reunião do diretório de 21/out./23)

 


Nota de posição política.

Primeiro, esta nota é uma posição política pessoal sobre as eleições de 2024 e a candidatura do PT à prefeitura. Sigo filiado “afetivamente” ao PT, diferente dos rumores de que eu havia saído do partido (para tristeza de alguns), mas escolhi nos últimos anos empreender meus esforços militantes na luta contra o golpismo e o fascismo presente na sociedade brasileira. Portanto, me dou o direito a expressar minha posição de um lugar que historicamente contribui por duas décadas e meia, onde já pertenci ao diretório municipal, da executiva da Macro Região, da JPT estadual, de mandatos combativos (Albertão e Greenhalgh) e do governo.

Segundo, para os que me conhecem não perderão seu tempo em tentar me convencer do contrário, e para os que não me conhecem insisto que minha militância no PT vem de antes do governo (década de 1990), durante o governo (década de 2000), do período do golpe de 2016 e agora. Minha posição é baseada na coerência do que sempre defendi internamente no PT, pois nunca fui lulista, sempre defendi o PT como um partido que deve organizar a classe trabalhadora.

Lembrando aos incomodados com essa posição, de que eu sei meu lugar nesse processo: minha posição e um peido só fazem barulho, se deixar um mau cheiro já cumpriu seu objetivo. Sei meu lugar de irrelevância para o partido hoje. O que não impede que eu me expresse.

Terceiro, as pré candidaturas à prefeito (a) são legitimas e tem seu potencial para disputa. O valor político do PT está na sua organização e o PT ainda é o partido que em nosso tempo proporciona a possibilidade de vitória de candidatos e candidatas do campo popular sobrepondo-se a lógica tecnocrata eleitoral, desde a vitória de Erundina em 1988 até de Lula em 2022 prova que mesmo com todo aparato medíocre do marketing e suas técnicas pseudocientíficas, a força de uma organização social ainda é maior do que qualquer máquina. Dito isto, avalio a candidatura de Alencar necessária para este momento. Contudo, dependerá do método que for empregado na construção desta candidatura.

Quarto, por isso defendo a escolha interna pelas prévias. Não só pelo princípio democrático, o que por si só já é importante. Mas como um método necessário para organizar e construir coesão. A força política do petismo é sua militância. Não falo de claque para aplaudir discursos ou histeria coletiva de campanha eleitoral. E sim, da militância política, que balança bandeira e argumenta, dialoga, debate a política. Não falo da massa de empregados temporários que após as eleições voltam para sua vida medíocre, vida inclusive que deveria ser dever do PT cuidar para serem alçadas para outro patamar da vida social e política mais relevante para luta social.

Quinto, não preciso explicar que o processo de prévias amadurece, nos debates, a construção do que queremos ao buscar retornar para prefeitura. Tarefa que não pode repetir os 16 anos, há antigos e novos problemas que exigem renovar a força de fazer política numa cidade que apesar das conquistas sociais, principalmente, que foi o legado dos governos do PT, ainda assim foi um grande lugar de votos do fascismo bolsonarista, e que segue com força por aqui.

Portanto, todo esforço para aproximar a militância ao PT, é um esforço que irá construir a força social que pode levar a vitória eleitoral. Contudo, a vitória moral ainda é a máxima numa guerra, e convenhamos, o PT como partido esteve ausente na oposição ao gutismo.

Ter prévias é mobilizar, visitar, conversar, circular, expandir, ouvir, sentir na pele as dores, reclamações, angustias e crises pessoais de uma militância que depois desse processo poderá sair maior. Maior na sua capacidade histórica de lutar nas eleições e fora dela.

Agora se a mecânica interna pós golpe e Bolsonaro for da velha forma de “decidir”, passando um pano novamente para métodos que preferem saltar diretamente para o jogo eleitoral, acordos, articulações externas e composições estranhas, bom, que os sábios da política interna então avaliem o que mais vale a pena.

Lembrando que as prévias não resolvem as insatisfações internas, mas tornam as decisões mais aceitáveis quando se apela para necessidade de vencer as eleições. O lugar da militância na unidade é fundamental.

Termino dizendo que esta é apenas uma posição de um militante. Um voto no processo interno e um voto no processo externo. A depender de como será decidido o método de escolha e construção, só posso dizer que não estarei sozinho na decisão sobre o que fazer se a decisão for uma escolha indireta.

É só uma reflexão. Que espera contribuir para construção daquilo que deveria ser maior: a unidade do partido para vencer as eleições, governar para o povo e construir alternativa ao bolsonarismo fascista.

Que os valores que construíram esse grande partido dos (as) trabalhadores (as) não sejam totalmente consumidos por uma política que prefere (de novo) a força bruta em vez da força das ideias!

Observação após decisão do Diretório Municipal do PT de 21/outubro/23:

1. A "unanimidade" de 35 votos a favor da indicação de candidatura à prefeito pelo PT só mostra que a velha forma abriu mão da reflexão e do método de como enfrentar o inimigo nas eleições de 2024. A ausência dos representantes ligados a Eloi Pieta já é a maior crise interna que o PT de Guarulhos teve depois das prévias de 2016, visto que horas após a "decisão unanime" Pietá vai as redes sociais criticar a forma sem apresentar a saída para crise interna - aqui mais dúvidas do que certezas sobre 2024;

2. Dificuldade de ampliar o debate interno buscando se afastar do debate de nomes e ampliar a reflexão sobre as tarefas de construir uma unidade da militância do partido. Abolir as prévias, na minha visão, deu cheque me branco e promoverá o fechamento ainda maior do núcleo de decisão, não havendo agora necessidade para primeiro buscar dialogar com a base filiada, aproximar-se com a militância interna e depois buscar construir alianças externas. Agora, duvido muito, que haverá disposição para construir internamente essa unidade - já ouvi todo tipo de discurso no PT, e a rigor, depois que um processo termina, muita promessa fica no vazio;

3. Mas está promessa que será feita, sobre o candidato do PT buscar visitar e dialogar com a base filiada e a militância mais orgânica, duvido muito que será feita. Promessas serão feitas, com certeza. Contudo a realização disso ficará nas intenções;

4. Alguns podem dizer que as prévias não são garantia de unidade da militância. Mas obrigaria os candidatos a prefeito a buscarem ampliar ao máximo seu diálogo com os filiados (as), identificar e resgatar os mais aguerridos (as), os combativos (as), os/as insistentes, os desmotivados (as), enfim, uma força política interna que faz a diferença e entende que após as prévias, a unidade interna se faz com a mesma responsabilidade da disputa;

5. Novamente o velho teatro dos acordos aconteceu. Nem imagino o que entrou na conta, só sei que meu idealismo continua cegar minha visão. Ingenuidade com certeza, porém, podem me fazer de bobo, mas não estou morto e nem desatento. Nesse ponto, o que incomoda é a forma como o possível poder é jogado, podendo limitar o próximo mandato do PT na prefeitura. Lula livre provou que o PT foi novamente refém, o voto útil foi para tirar Bolsonaro do poder e Lula sabe disso quando desidrata o próprio PT do governo, evidente que a dimensão guarulhense é menor e diferente, mas a desculpa para que o PT fique refém e que o governo seja ocupado pelos aliados em nome de derrotar um inimigo maior será usado contra o próprio partido;

6. Por fim, cada vez mais - pelo menos eu - me convenço que não serei um militonto (na definição de Frei Betto), não sou "vaca de presépio" e nem irei, mesmo tendo definido qual poderia ser o melhor candidato do PT para 2023, decidir o voto agora. Não há amarras que me façam aceitar o erro que o diretório municipal tomou. O que está em jogo é a cidade, o direito da população, as políticas públicas necessárias, enfim, superar os últimos dois mandatos do gutismo;

A "decisão" pode parecer normal para um jeito tradicional de fazer política, mas o PT não nasceu para jogar esse jeito tradicional (caudilhesco, de cúpula, limitado, refém dos mandatos exclusivamente) inclusive as primeiras vitórias se deu no contexto da busca pela ruptura. Contudo, quando uma organização morre aos poucos por dentro, lentamente, as vezes só mesmo em momentos chave se percebe que algo precisa parar, para um balanço, reflexões mais duras e aí sim decisões de fato.

A sorte esta lançada. Pena que sem uma definição madura da política (para um partido que ainda reivindica ser de esquerda)