Fim de festa.
06 de outubro passou para o susto ou alegria dos (as) candidatos (as) a vereador. Para prefeito a luta continua. Assim como as analises das últimas eleições, sigo refletindo sobre os desafios não apenas eleitorais, mas da capacidade orgânica de mobilização, resistência e organização.
Já adianto: derrota, derrota e derrota. Esse pessimismo não é para desanimar ninguém, mas precisamos refletir sobre os fatos para reorganizar a luta da classe trabalhadora guarulhense.
Seguir sem refeltir sobre porquê Guarulhos, antes governada pelo PT (2000 - 2016) que promoveu mudanças estruturais no serviço público com a criação do Fácil, dos PEV agora Ecopontos, dos Centros de Leitura, do Hospital Pimentas Bonsucesso, dos CEU's, da maior ampliação de escolas municipais e de Unidades Básicas de Saúde, que promoveu a urbanidade com o Parque da Transguarulhense, das melhorias no Pimentas, da Praça Estrela no Soberana, dos terminais de ônibus, do Bilhete Único, da estrada Velha Itaim São Miguel, do Orçamento Participativo entre tantas conquistas, que elegeu e reelegeu tanto Lula como Dilma foi tragado pelo anti-petismo e pelo fascismo reinante.
Se o voto é uma "arma" o bolsonarismo fascista tornou esse instrumento numa forte arma contra a esquerda guarulhense, pois, sem uma atuação ampla nos espaços institucionais e com uma virada terrível de 60% do eleitorado para uma pósição de direita que desde as eleições de 2016 expressa todo seu ódio a um inimigo imaginário que é a "esquerda" de Guarulhos, segue firme por meio do voto confirmando aberrações eleitorais.
Já foi analisado que parte desse fenômeno é sim culpa da ausência da posição e unidade dos partidos considerados de esquerda.
O PT como principal protagonista preferiu não avaliar os pontos da derrota de 2016, escolheu não defender o seu legado e fez uma oposição pifia na Câmara de Vereadores, o partido preferiu não reagir não produzindo um mero jornal contra o governo Guti no primeiro mandato (2017-2020).
A vitória de Guti nas eleições de 2020 foram a combinação dessa inércia e expressou um situação que não se imaginaria: o PT perdeu a capacidade de enfrentamento no parlamento. Nada comparado a trajetória histórica de uma oposição combativa que em momentos como na década de 1980 elegendo presidente da Camara com Eloi Pieta, com Orlando Fantazzini único vereador que dirigiu a oposição na década de 1990 e com Orlando e Albertão sendo uma oposição combativa no período de 1996 e 2000, sendo eleitos os únicos vereadores atuantes pelo jornal Estadão.
A quarta posição em que Alencar ficou nestas eleições de 2024, com 61 mil votos, menos de 10%, sepultou a representação histórica do petismo que ficava entre 15% a 20% do eleitorado em eleições anteriores, mesmo em tempos difíceis.
Várias combinações levaram a essa situação, desde o processo interno de escolha do candidato a prefeito que abriu mão das prévias e do protagonismo da base filiada, a falta de disposição dos "dirigentes" em construir a unidade no momento em que seria chave para enfrentar a direita governista, as crises políticas que desde 2016 com a derrota eleitoral, golpe contra Dilma, prisão de Lula, vitória de Bolsonaro e derrota de Lula, passando por uma direção local que escolheu não debater, não analisar, não se organizar e apenas ser uma federação dos mandatos de vereadores, sem reação.
O partido é a organização da classe, mas o PT preferiu nacionalmente não aprender nada com a atual situação política do país, preferiu uma saída igual a do Partido Social Democrata Alemão (PSDA), capitular em vez de resistir. Preferiu aguardar a liberdade de Lula e apostar nas eleições de 2022, a ter que se organizar.
As análises abaixo serão em pontos para melhor leitura.
Guti, o grande derrotado!
O governo Guti escolheu destruir os serviços públicos em nome da privatização por meio da terceirização. Não construiu nada de novo, manteve sobre seu plano apenas entregar as obras do governo do PT para a cada eleição "entregar" como se fosse sua realização. Construiu uma base de governo na Camara de Vereadores forte e tem um apoio velado de setores do judiciário que blindam o seu governo. Mas tem fama de egoista, nunca foi fiel a um partido ao longo da sua trajetoria de vereador, ewleito prefeitio preferiu não eleger nenhum deputado estadual ou federal em 2018 e 2022, vamos lembrar que os governos do PT sempre elegeram deputados estaduais e federais (estaduais Almeida e Alencar e federais Orlando e Janete Pieta), ou seja a máquina elege, só Guti que preferiu não eleger.
E porque com Jorge Wilson seria diferente?
Prefeiu rifar seu secretário de governo e como desculpa disse atender a um "pedido" do governador Tarcisio. O resultado: o candidato da máquina ficou em terceiro lugar com 128 mil votos, bem distante do segundo colocado. As previsões se confirmam: Guti é fiel a ele mesmo. Página virada, dizem os aliados!
Apenas 25 mil votos separam Eloi e Lucas neste segundo turno.
Porém, a surpresa não é essa. O susto foi Sanches ter 33% (cerca de 212 mil votos) na frente de Eloi que obteve quase 30% (190 mil votos), mostrando uma tendência do eleitorado na zonas eleitorais permeadas pela classe trabalhadora de renda média nas zonas 176 (centro-continental-bom clima), 278 (ponte grande-itapegica) e nas periferias como a 394 (bonsucesso), 279 (taboão) e 393 (cabuçu-recreio), já Eloi vence nas zonas 395 (cumbica) e 185 (pimentas).
Primeiro: Eloi repete as vitórias de Lula no primeiro turno de 2022, nessas duas unicas zonas; Segundo, o voto da classe assalariada média preferiu uma direita "original" já que Lucas é membro do MBL; Terceiro,o voto de Lucas nas periferias, em particular no Bonsucesso ou no Taboão, lugar com histórico de lutas sociais e populares e onde Eloi era referência, denota a ausência da esquerda nestes lugares.
206 mil abstenções, cansaço diante das instituições ?
Segundo: Nem direita e nem esquerda levaram 206 mil eleitores a não sair de casa nem para justificar o voto no dia. Diferente dos 63 mil que anularam e os 41 mil que votaram em branco, estes ausentes poderiam ter decidido as eleições municipais no primeiro turno ou ter colocado outro candidato (a) no segundo turno.
É certo que a resposta destes reprenta o cansaço com o atual quadro de disputa político eleitoral e dão uma resposta direta a quem atua na política institucional:(a) Nem direita e nem esquerda tem convencido estes a sair de casa, seja pela causa que for; (b) não se sentem representados por nenhuma força política atual; (c) a apatia é a derrota da fraca democracia liberal brasileira, mostrando a indiferença para qualquer causa que for, este último é um elemento terrível, pois, tende a caminhar com formas apelativas da política como discursos fascistas anti sistema.
Cabe a esquerda entender, compreender, refletir, organizar e mudar a forma como quer estabelecer essa relação orgânica com o conjunto da população.
Na Camara de Vereadores, perto de 40% de renovação!
Seja a direita ou a esquerda, o balanço final é de derrota para esquerda. A inesperada vitória de um delegado novato com 18 mil votos expressa que a disposição ao fascismo é um fato na política guarulhense, bem como outros palhaços bolsonaristas eleitos, que não cabe citar, é certo que a alergoria e a narrativa anti direitos humanos será ainda mais beligerante nesse mandato.
A boa novidade para esquerda e para o PT foi a vitória de Fernanda Curti pelo PT, com 9 mil votos e a mais votada do petismo, duas questões são centrais: uma, que o voto petista e jovem preferiu uma posição mais ideologica e de renovação, e dois, será a possível resistencia contra o bolsonarismo presente neste mandato do legislativo.
Mesmo assim, a esquerda encolhe e fica restrita aos cinco eleitos (as): três eleitos (as) do PT, um do Psol e uma da Rede.
E os partidos?
Os votos de legenda expressam a fidelidade do eleitor a uma linha de pensamento. O PT segue sendo a referência de voto a esquerda, recebendo 7 mil votos do total de 58 mil votos que o partido recebeu.
Mas, o PL canaliza o voto do bolsonarismo fascista e em Guarulhos alcançou 9 mil votos, dos 45 mil votos da chapa de vereadores. Contudo, a direita segue altamente personalista, pois o PSD do governo Guti, obteve 71 mil votos, e destes menos de mil votos na legenda, o PR do governador Tarcisio também só recebeu 3 mil votos de legenda frente aos seus 81 mil votos na chapa de vereadores.
Os partidos políticos em geral na direita expressam interesses pessoais e particulares, ou seja, servem de abrigo provisório e de aluguel, não tem penetração na massa, não representam nada na vida política do país.
A novidade é o voto dirigido para o bolsonarismo fascista, que segue uma tendência.
Mas e a esquerda para além do PT?
O Psol de Guarulhos não engatou na onda psolista da capital paulistana.
O Psol de São Paulo está pau a pau com o PT em votos de legenda, onde o Psol alcançou 105 mil votos de legenda e o PT paulistano 131 mil votos de legenda, isso denota que a referência na esquerda está em franca disputa e podendo representar uma mudança dessa referência. Já o Psol guarulhense alcançou os incrivéis 1307 votos.
Candidaturas que alcançam referência em São Paulo como a Bancada Feminista, aqui alcançou 1865 votos, ficando na primeira suplencia e a Juntas 816 votos, um desafio para representação da luta feminista na Camara de Vereadores (as).
As demais esquerdas pouco pontuam nos sesu votos de legenda, mesmo sendo partido cuja posição estadual e nacional são conhecidas, no plano local estão quase subsumidas. Pouco ou nada se sabe da posição que será adotada pelos candidatos eleitos pelo PDT, primeiro mandato e do PCdoB e PSB, estes dois últimos forma da base do governo de direita de Guti.
Ou seja, sem uma estratégia que busque combinar oposição de esquerda, defesa de causas e organicidade territorial, local e entre as categorias de trabalhadores (as), a esquerda guarulhense virou refém da pauta estadual e nacional.
A quem diga que para esquerda a votação ou participação nas eleições burguesas não representa a capacidade de luta dos trabalhadores (as), porém, a luta de classes exige avançar em todos os campos, se não temos força político institucional, se não temos votos expressivos, taõ pouco temos organizações fortes que estão nas ruas promovendo levantes.
A combinação das lutas e resistências é que constrõem novas hegemonias. Nesse momento, a nossa esquerda foi derrotada!
Sem avaliação e sem estratégia não adianta aguardar 2026 e 2028.
O "Congresso Consevador" de Guarulhos promovido pelas direitas guarulhenses reuniram 800 pessoas, sem uma linha eleitoral ou apoio do governo municipal, esse tipo de mobilização deveria ser um termometro para os desafios que temos pela frente.
Quando haverá um Congresso ou encontro das esquerdas guarulhenses para pelo menos construir um programa minimo de resistência ao fascismo e de organização sem necessariamente estar vinculada ao processo eleitoral?
Cabe o PT fazer uma avaliação sincera, politizada e preocupada com a unidade das esquerdas. Mas fará? E o Psol? Quando vai buscar enraizar suas paustas fundamentais na vida social da cidade para ser de fato uma força política de renovação da esquerda?
Seguiremos, com nossos atos em defesa do povo palestino, contra as privatização, contra as escolas civico-militares e o fascismo presente. Sempre é um bom momento para encontrar nossos companheiros (as) e camaradas, mas isso será suficiente?
São algumas perguntas que precisam de respostas, urgentes!