GUARULHOS
27 de janeiro de 2011 - 09:59
Alberto Augusto
Ônibus queimado em protesto por assassinato de adolescente e enchentes
Protesto no Morro do Piolho teve dois ônibus queimados
Lucas Pimenta
Um protesto de moradores do Morro do Piolho, no Jardim Presidente Dutra, na tarde de ontem, terminou com um ônibus da linha Santos Dumont da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) completamente queimado na Avenida Papa João Paulo e outro na Avenida Rio Real, que teve as chamas controladas e seguiu em operação.
De acordo com os moradores, o motivo do protesto foi o assassinato de um garoto de 16 anos e, também, a sequência de ações truculentas da Polícia Militar, que supostamente entraria na comunidade com frequência e agrediria moradores. Outro motivo secundário viria das fortes enchentes que atingiram o local na última semana. “Fizemos isso porque não aguentamos mais. Somos pais de família, trabalhamos e a PM vem aqui todas as noites, batendo, queimando cigarro em nossos pés e até nos jogam no rio. Eles falam que querem drogas e dinheiro, mas não é todo mundo que é bandido”, comentou um morador do local, que tem 33 anos e preferiu não se identificar.
Outro morador da comunidade, 26 anos, também indica a revolta com a morte do adolescente, que trabalharia como ajudante e ao entrar em uma auto-peças na Avenida Rio Real foi morto com um tiro no tórax. Segundo o morador, no inquérito não consta o culpado, que seria o segurança do estabelecimento. “Voltamos do velório, hoje, indignados e fizemos isso. Para nos bater, a polícia vem, mas para achar quem matou um trabalhador, não faz nada”, comentou com indignação.
O caso agora é investigado pelo 7º Distrito Policial de Guarulhos, do Jardim São João, e, por conta do problema, o trânsito local ficou parcialmente fechado por três horas.
Relatos de moradores são histórias de terror
Mesmo sem a confirmação sobre o suposto abuso da Polícia Militar, relatos dos moradores do Morro do Piolho, na região do Jardim Presidente Dutra, são assustadores.
De acordo com um morador de 32 anos, a Polícia Militar faz incursões ao local praticamente todas as noites à procura de entorpecentes, supostamente queimam e mutilam moradores, mesmo sem encontrar qualquer ilegalidade. “Eles entram, nos cercam e nos forçam a dar dinheiro. Não faço parte do crime e mesmo eles não achando nada, queimam plástico quente e colocam em nossos pés”, afirmou.
Outro morador de 25 anos afirma que trabalha como ajudante, tem três filhas e relata que, após passar o dia o trabalhando, durante as ações da PM, é obrigado até mesmo a entrar no rio, que passa ao lado da comunidade. “Eles perguntam se a gente sabe nadar. Jogam-nos dentro do rio, que é todo sujo, e se não apontamos onde tem dinheiro, ficamos lá. Sou trabalhador, e é uma humilhação minha filha ver isso.”
Questionada, a assessoria da PM afirmou ter apurado a denúncia e que essa não corresponde. O órgão informa ainda que denúncias devem ser levadas à Corregedoria.
Dois ônibus são atacados no Parque São Luís em protestos de moradores
Keyla Santos
Da Redação
Um coletivo da Empresa de Ônibus Guarulhos foi incendiado por volta das 17h de hoje na Avenida Papa João Paulo 1º, no Parque São Luís, próximo à comunidade Morro do Piolho. Um segundo veículo da Empresa de Ônibus Vila Galvão foi depredado na Avenida Rio Real. Policiais militares chegaram a tempo de impedir que populares ateassem fogo.
Segundo o major-tenente Carnevale é possível que a manifestação tenha ocorrido por conta das enchentes que vêm acometendo a região nos últimos dias. A informação é de que os moradores haviam solicitado à Prefeitura que fosse realizada limpeza no córrego e que fossem retirados os entulhos da região, porém, a solicitação não foi atendida.
Uma das faixas da Avenida Papa João Paulo 1º foi interditada, os policiais militares permaneceram no local para orientar os motoristas e acalmar os ânimos dos moradores. O major disse que, segundo relato de testemunha, os responsáveis pelo incêndio pediram para que os passageiros e os funcionários deixassem o veículo, permitindo inclusive que o motorista retirasse seus pertences.
A diarista Maria dos Santos, 40 anos, alegou que a manifestação foi necessária por conta das enchentes e também devido à violência policial. A moradora assegurou que viaturas da polícia militar adentram a comunidade em alta velocidade e não se preocupam com quem estava passando pela via. “Os jovens da comunidade são tratados como marginais, mas eles não são”, disse a diarista.
O motorista do ônibus da empresa Vila Galvão, Francisco Souza, 24 anos, disse que não suspeitou da ação, pois os manifestantes se passaram por passageiros no ponto. “Dois homens adentraram ao veículo e começaram a gritar ‘já era, já era, perdeu, perdeu’ e deram a entender que estavam com arma de fogo. Em seguida pediram para os passageiros deixarem o ônibus”, disse.
Segundo Souza, enquanto o veículo era evacuado, um grupo de aproximadamente dez pessoas começou a apedrejar o ônibus. “Um deles chegou até a jogar álcool em mim”, afirmou.
O ônibus incendiado foi retirado da via por volta das 22h30.
fonte: www.diariodeguarulhos.com.br