Guarulhos foi governada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) por quatro mandatos consecutivos, terminando um ciclo de 16 anos de governo. Não quero entrar aqui no velho debate sobre os prós e contras, a fulanização ou quem é o mocinho ou bandido da história.
Também não cabe aqui descer a ladeira do debate sobre o "desgoverno" ou grandes "conquistas". o certo é que por quatro mandatos a eleição e reeleição dos prefeitos do PT representaram mais do que simples "compra de votos" ou uso da máquina pública. É certo que uma parte significativa dos eleitores depositaram esperança e confiança na forma petista de governar. Ou senão, melhor propor ao Ministério Público que acione uma parte dos eleitores da cidade (ou quase a metade) por corrupção passiva por ter eleito os últimos governantes.
O que me chama atenção é a apatia do maior partido (cartorialmente) da cidade, o PT de Guarulhos ainda possui mais de 10 mil filiados (as) só no diretório do partido local e em quase dois meses não reprogramou-se quanto a nova situação política, derrotado nas eleições majoritárias, não ocupa mais o Paço Municipal e mesmo com a maior bancada de vereadores na Câmara não consegue estabelecer as bases para uma oposição (seja ela branda, raivosa, condescendente, meio-a-meio, etc.), e não apresenta um balanço político sequer sobre os dezesseis anos na prefeitura ou as causas da derrota.
A militância está a deriva, como um naufrago, ainda espera socorro no meio do mar.
O único documento que trata do último período vem da carta de desfiliação do ex-prefeito Sebastião Almeida, que aponta as suas visões sobre o governo e as causas da derrota. Contudo, a narrativa é de saída do PT, não ajuda e nem atrapalha, apenas causa espanto.
A oposição vitoriosa tenta criar sua marca, mostrar sua gestão e deixar claro que o atual governo continua firmemente anti-petista ao ser abraçado pelo vice-governador, Márcio França, do partido do atual prefeito eleito e do tucanismo do governador Alckmin, isolando o PSDB local de possíveis bicadas de outros pró Serra, por exemplo. Tenta governar os primeiros meses por uma premissa que mais parece um réquiem do governo petista: apostar na culpa do passado, aplicar medidas populistas e gerenciar a máquina pública. Sobre esse novo momento, há muito ainda que aguardar, pouco a esperar.
O que me preocupa é como chegamos até aqui: na ressaca da derrota.
Seria canalha ou pouco respeitoso apresentar um único motivo pela derrota. Dizer que foi o candidato, o golpe (impeachment de Dilma), o anti-petismo, o desgaste político de tanto anos governando, enfim, o conjunto das coisas explicam a causa da derrota.
Governo que afastou-se do partido. Partido enfraquecido pelo governo. Governismo cego contra militância. Militância que afastou-se do governo. Pauta de gabinete sobre a pauta social e popular. Alianças em detrimento dos movimentos sociais. Reconfiguração das prioridades e interesses. Ausência de formação e politização. Acomodamento na máquina. Quantas destas questões separadas ou juntas não compuseram as teses sobre o vai e vem do governo do PT nestes últimos anos.
Para chegar ao prazo final de inscrição e indicações de presidentes e chapas ao PED (Processo de Eleições Diretas) sem nomes, composições e programas políticos. Para além dos 16 anos de governo, existem os anos anteriores da formação do partido e das lutas sociais empreendidas, e ainda assim, um partido político que se comporta como uma agremiação partidária qualquer. Tragédia.
E quem são os derrotados e derrotadas? Não foram os dirigentes do partido, os mandatários, os candidatos e candidatas, os/as líderes, enfim, o maior derrotado e derrotada é a própria classe social originária e depositária das esperanças e do voto de confiança no PT, a própria classe assalariada guarulhense. Que recebeu, em parte, serviços públicos novos em lugares distantes, integração e impulso parcial da cidade para outro patamar, se não fosse assim, porque tantos candidatos (as) a prefeitura em 2016? Quem aceita administrar uma cidade falida? O poder opera vários discursos, esse colou.
A ressaca da derrota ainda está no ar. Depressões, ausências e distanciamentos, ora de depurar e restabelecer novas solidariedade necessárias. O certo é que este partido ainda gera grandes graus de interesses diversos, podendo não ser possível unificar pelo consenso, apenas pelo acordo.
Se a unidade possível é pelo acordo, este precisa assumir poucos pontos e ao mesmo tempo englobar os mais variados interesses, duro exercício. Fazer política é assim, as vezes, em poucas palavras é preciso buscar explicar o livro inteiro e agradar parcialmente a todos e todas.
Ou poderíamos seguir a velha visão moderna: fazer política é escolher quem não se vai desagradar.
A pergunta que precisa ser respondida é: "se o PT pode ainda ser o depositário da esperança da população, precisamente da classe assalariada?" e se sim, como construir esse novo caminho capitalizando o que fez pela cidade, organizando pessoas e não eleitores (apenas) e tornando seu lugar - partido - em lugar de participação política.
Para uns reaprender, para outros mudar.
Comentários