Me sinto cansado
Quando a mente pede e é possível descansar o que você faz? A rigor a condição de assalariamento, de venda da força de trabalho só nos permite aquele mês, os sagrados trinta dias para aqueles trabalhadores registrados. Mas não queria escrever sobre isso. Queria escrever sobre o cansaço da vida. Já faz uns anos em que me encontro em uma nova transição de ciclos, isso sempre inclui mudanças, rompimentos, transformações, alterações de rotina, etc., tudo isso para mim sempre foi um reconhecimento de que era preciso mudar, mesmo não querendo, mas reconhecendo.
Como disse, agora não é diferente. E como novo ciclo, novos desafios. Esse explodiu como um vulcão adormecido, foi de estremesser as bases seguras da vida cotidiana. Várias crenças estáveis viraram pó e junto se foram relações pessoais de anos. Tentando dar a volta por cima a crise me reserva a busca por ajuda, e foi o que eu fiz.
De um problema residual, saíram pela porta da mente toda mágoa, raiva, frustação e indignação guardadas na falsa fortaleza do militante político e abrindo o flanco para o sujeito , indivíduo comum e humano da essência, de volta ao homem simples como é com suas fragilidades. O passo de procurar ajuda se deu no misto de medo e insegurança. Entre o atendimento com psiquiatra à psicóloga o movimento não foi planejado, porém o atendimento foi necessário. Descobrindo e enfrentando meus próprios preconceitos, eu que ofereço escuta profissional, me vi escutado, foi bom. E assim foi ao longo do período.
Confrontado, questionado, avaliado e tratado. Foi e está sendo uma experiência necessária, hoje me sinto bem.
Tentando incluir na rotina algo pouco vivido: bem estar individual. Avaliando com mais serenidade os projetos planejados e buscando estar em companhia de reais companheiros/as. Até aqui tudo indo bem. Transição de ciclo tem dessas.
Contudo, alguns desafios ainda rondam. Não é a força que as vezes rompe o dique, e sim o ponto que o torna frágil.
Cansado e repensando no que eu faço, onde cada vez mais relevando e indo pra frente, o que não deu não deu. Mas, e tem sempre esse “mas" algumas coisas acontecem no dia a dia que mesmo inesperadas me levam a pensar “será que vale a pena?”.
Será que eu não estou precisando de um período “sabático", ou seja, será que eu não devo abandonar alguns projetos que estou desenvolvendo para me dedicar a outros que valham a pena e que me satisfaçam mais?
Preciso mesmo de relações e até trabalho que exigem de mim uma dedicação que só faz sentido a interesses que eu não acredito?
E que contribuição é essa que eu tenho oferecido de fato?
Descobri a docência e ela me renovou como militante. Mas depois de um tempo querendo mais desafios, acadêmicos e político pedagógicos, e vendo isso ser negado e na relação com educandos, ainda haver entre uns e outros uma relação de farsa ou ausência do que está sendo proposto, penso: “preciso disso?”
“Eu estou cumprindo com os compromissos que acredito?”
Eu sempre fui um militante que respeitou os processos, que joga o jogo, mas que com limites. Meu limite é minha ética, ética além daquela que compreende minha profissão, e sim aquela que acumulei em vida. Não aceito ser docente figurativo e nem submisso a um modelo de mercado.
Enfim, quem me conhece sabe. Chato sempre, de joelhos jamais.
Vai ver que é hora de partir...para outra.