O gutismo é a velha vagabundagem governante. Todos, sem exceção, desfilaram nos cargos dos governos do PT (Seja Eloi ou Almeida), o próprio candidato do bolsonarismo, Jorge Wilson se aliou ao PT e teve seu lugar ao sol. Quem não se beneficiou jamais foi perseguido como o bolso-gutismo se colocou ao longo desses oito anos, petistas ou colaboradores, todos foram perseguidos de alguma forma, mesmo diante da inercia do partido, até onde sei, todos e todas sobreviveram de alguma forma, com algum medicamento ou forma de de adaptar, outros escolheram se aproximar da base do governo e ficar com seus interesses. Nessa situação a questão que fica é porquê aqueles que estão em posições de direção ou liderança parlamentar preferiram deixar os companheiros (as) a mercê das perseguições e sofrimento. Perseguições e sofrimentos pelo que fizeram no passado: apoiar, defender e lutar em defesa do governo do PT, com todos seus limites e erros programáticos.
Ausência de avaliação para construir a defesa dos 16 anos de governo do PT deixaram o fascismo gutista impregnar a ideia de que desde a colonização do Brasil até 2000 Guarulhos foi província "bem governada" e cidade em franco progresso e que os governos do PT é que levaram a cidade ao atraso. Essa foi a estória vendida e comprada, para agora vivermos numa coxias de 60% jumentos bolsonaristas.
Fomos derrotados nas ideias.
Agora por mágica ressurge o PT. Diferente, descaracterizado, apenas lulista e nada partido coletivo, organizado e mobilizado para disputar a sociedade.
De eleição em eleição perdendo identidade popular, social e enfrentamento na defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Como desgraçadamente previsto, não se pode criticar Lula, falar de luta de classes, classe trabalhadora, fascismo, imperialismo, enfim, o vocabulário petista está preso ao momento, fora do governo lembramos da origem de classe, dentro do governo o mundo muda, a república funciona e a democracia liberal é assim, limitada e temos que aceitar. Não há quem prove o contrário, pois a realidade é dura.
E Guarulhos? Saflate tem refletido sobre a morte da esquerda, e analisando o cenário guarulhense ele tem razão. A cidade não é mais operária, está se tornando num grande armazém, encoberto sobre a forma da "logística", na verdade a cidade virou um galpão de tranqueiras que no capitalismo dependente brasileiro apenas faz parte do enredo desse teatro terrível da estagnação do crescimento, bem diferente de desenvolvimento.
Já perdi tempo explicando que a divisão das duas forças políticas no PT, de um lado Alencar e da outra Eloi era um equivoco, o momento não exigia esse tipo de imaturidade, e mesmo que a coalisão exigisse sacrifícios, derrotar esse projeto que transformou a prefeitura em uma emaranhada rede de esquemas que poucos se aventuram a desatar, a drenagem dos recursos públicos seja por todo tipo de terceirização, a destruição de serviços que pareciam consolidados como a educação e um próximo governo endividado pelo córrego Baquirivu.
Dizer que um escolheu sair do PT e outro ficar para "preservar" ser de esquerda é apenas fazer parte da plateia de um ou de outro, isso não responde a questão da tática e da estratégia em retomar um projeto de esquerda que faça sentido para o conjunto da população.
Guarulhos poderia ter deixado de ser apêndice da capital paulista, mas a inercia político ideológica dos governos do PT, rendição ao instituição, certeza da permanência no poder, uma rede de interesses que conflitavam com a ideia de governo popular, a exaustão de uma década no poder, conflitos internos do petismo, ausência de debate político interno, falta de vontade em refletir sobre o papel do governo para avançar a cultura política da população, desestabilização das organizações sindicais e populares, medo dessas mesmas organizações, tudo isso e muito mais jogou 60% da população/ eleitorado no colo do bolsonarismo fascista. A última pesquisa da "Paraná pesquisas" não deixa duvida: o gutismo está de saída com reprovação do governo em torno de 30%, até compreendemos, mas o governo Tarcisio com mais 60% de aprovação, e pergunto: "aprovado pelo quê?"
Não basta ocupar as ruas como bloco de carnaval que aparece uma vez por ano. As ruas devem ser ocupadas sempre, pautas, lutas e causas não faltam.
Pelo clima e termômetro dos grupos, candidatos e interesses, o lado de cá, a esquerda morreu mesmo, eleitoralmente irá para as ruas, fracionada nas diversas candidaturas que buscam seu lugar de fala na Câmara Municipal. Mas e o programa de governo? Do lado de cá nenhum movimento, alguns até arriscam dizer: "perda de tempo!" E o tempo dirá que esse erro e essa falta de juntar pelo que interessa os coletivos vai custar caro.
Há tempo de recuperar? Ideologicamente há sempre tempo, mas haverá disposição?
Amadurecer é bom e ruim ao mesmo tempo. Me permite refletir e agir de forma direta. Me torna assertivo no caminho, porém, me traz dores insanáveis, como não poder contribuir para que um lugar que foi tão fundamental na minha vida militante que é esse PT. E eu sei que esse mesmo lugar caga e anda sobre quem sou ou quem fui, assim paraliso.
Sigo tentando contribuir para derrotar o fascismo, principal subproduto do neoliberalismo que quer como uma maldita ideia de moral burguesa, repetir o erro que os próprios liberais corrigiram via Welfore State, para salvar a si próprio e o sistema evidente.
Não há vitória da classe trabalhadora na crise do capital, pois o lado de cá sofre mais. Estamos vendo isso no Rio Grande do Sul, vivemos isso na Covid-19 e em todas as crises dessas últimas duas décadas.
Nós devemos ser a crise! Nós devemos paralisar o sistema. Nós devemos causar o incomodo que exige mudanças!
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"Sair de casa pronta pra peleja é lei
O fogo amigo é trégua na madruga
A trombeta soou, não era chá, eu sei
Não haveria mansidão nenhuma
Pisar com segurança nesse novo chão
A ocupação se dá de tal maneira
É guerra sem quartel, embate com razão
Pra pertencer e ser em toda esquina
Em toda esquina
Gente se junta pra fazer revolução
Gente se junta pra falar besteira
Com quem tu andas? Quem é que te estende a mão?
Veja que rua é pra vida inteira
Se na bandeira resta algum coração
Quando ele pulsa, ela sangra vermelha
E nas ladeiras pra subir tem sempre um não
Ladeira abaixo é assim, a noite inteira
Desafiando a norma do que deve ser
Que domicílio seja mundo afora
Tem hora que o que vale é argumentação
Tem tempo de bailar a noite inteira
A noite inteira"
Noite Inteira - Pitty (part. Lazzo Matumbi)