quarta-feira, 15 de outubro de 2025

2026, as eleições importam! Desafios da esquerda brasileira, pensar menos executivo e mais parlamentarista.

 


O cenário ainda não está certo. No plano federal a situação parece favorável para Lula e dos estados, São Paulo tem na liderança a reeleição indesejada de Tarcísio. Isso reflete em muito o que o fascismo brasileiro pretende nesse momento: manter e ampliar os dedos sujos no que puder, enquanto parte da esquerda se segura no lulismo. Esse cenário pode e deve expressar o que devem ser as tarefas da esquerda para o próximo período. Nadar contra realidade não é uma opção. E eu mesmo que defenda, atue e deseje uma saída revolucionária, reconheço que fomos dragados pelo modelo eleitoral e o processo da redemocratização realocou a esquerda da resistência armada para uma resistência institucional, compreensível diante do terror do período militar, mas o terrorrismo neoliberal foi mais rápido que a Constituição de 1988 e atropelou a classe trabalhadora.


Não bastasse o controle político das elites com seus representantes, a velha guarda da direita envelhecendo e a nova geração alimentada pelo egoísmo neoliberal quer terra arrasada em todos os campos institucionais, como uma praga devora os recursos do Estado por todos os lados, da farsa das privatizações, a roubalheira das pseudo organizações sociais e da precarização dos serviços públicos esse processo que criminaliza servidores públicos que não podem ser controlados pela escória neoliberal e distribui privilégios rotativos para políticos cada vez mais medíocres que não se contentam apenas com pequenas trocas, agora querem exercer uma tarefa que não lhes pertence, o de executar recursos por meio de emendas parlamentares ocultas, sem controle e planejamento público.

No meio do caos a pequena, mas corajosa atuação parlamentar da esquerda - nem toda evidente - tem resistido a pilhagem e buscando manter o "moral das tropas" com a mobilização dos atos de rua, nesse campo ainda estamos navegando em águas confusas, em tese o empate, como registrado pela USP que monitorou e quantificou tanto o ato pela anistia aos golpistas de 08 de janeiro e os atos contra a PEC da Bandidagem, sendo que em São Paulo ambos empataram, 42 mil para cada lado. 

Não é segredo que o bolsonarismo fascista tem priorizado o fortalecimento parlamentar numa estratégia que vai desde controle do legislativo e inviabilizar um quarto mandato de Lula. Nem é preciso argumentar muito sobre as tarefas da esquerda diante desse quadro, contudo falta decisão. Decidir o que será prioritário?

Mesmo que o estado de São Paulo com Tarcísio na frente das pesquisas represente um problema sério, a indicação das pesquisas de que Haddad segue na liderança é um sinal de qual prioridade estamos falando. 

Não é momento de barbeiragem, talvez precisemos de um (a) humorista sério e bem posicionado (a) para enfrentar o bolsonarismo de Tarcísio na tarefa de candidato (a) a governador (a) para desestabilizar a folga fascista estadual e investir pesado em uma das vagas para o senado e tentar, porquê não, as duas e buscar eleger senadores pelos demais estados, com identidade ideológica e alinhamento, sem essa de "aliados na direita", a votação da taxação dos bilionários provou que os cargos no governo representam menos do que o financiamento oculto que banca essa thurma. Preservar e ampliar as bancadas estaduais e federais pelo país afora, mantendo nomes fundamentais hoje na trincheira parlamentar.

Não é hora de errar muito, mas errar menos. Não é momento de divergências intestinais, mas de bons antiácidos. 
Todo momento é importante para o futuro. Contudo há momentos em que se não reagir, não haverá futuro!  

O direito a ser um professor analógico! Inteligência é apenas humana.

 


Havia no passado um termo chamado de "liberdade de cátedra" que segundo nota da reitoria da Universidade de Brasília (UNB) diz que a "Constituição Federal, no art. 206, assegura, a docentes e estudantes, a liberdade de aprender, de ensinar, de pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, de modo a garantir o pluralismo de ideias e concepções de ensino, bem como a autonomia didático-científica. Esse princípio é reforçado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei no 9.394 de 20 de dezembro de 1996), em seu artigo terceiro." (UNB, 2025) e este é o ponto.

É comum que o desenvolvimento de novas tecnologias possam atuar como parte da metodologia empregada no processo formativo, mas tudo tem limites. Eu desde minha passagem pela pós graduação me tornei um crítico feroz da ditadura da "nota Capes" na elaboração e construção das pesquisas acadêmicas, como todo idealista que chega nesse lugar restrito, acreditava e acredito que fazer ciência é um fazer para sociedade, contudo, esse planetinha não é apenas restrito ou elitista, é inclusive limitador onde uma questão paira firmemente no ar: as regras sagradas de elaboração, construção, permanência e aceitação são defendidas para proteger o fazer científico ou para justificar esse lugar restrito, elitista e limitado a uma turma? 

Furar essa bolha exige tanta articulação e capacidade de argumentação que em algum momento cansa. Eu cansei, reconheço. 

Contudo, do outro lado, o que está em curso no ensino seja superior ou básico parece muito pior. Seja no setor privado que busca lucratividade acima do processo formativo, seja no público que prefere inovar sem mudar nada. 
Estou falando de uma coisa que ganhou um nome que considero equivocado, a tal da "inteligência artificial" (IA) e me recuso a usar iniciais em caixa alta, não é nome próprio, é apenas uma designação para uma coisa que é artificial, mas não é inteligente. Inteligência vem do nosso  "telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor" que são características humanas. 

E nem vou ficar em grandes elaborações para explicar porque essa coisa artificial não é inteligente. Para isso basta lembrar dos tempos de escola quando muitos de nós no dia das provas utilizamos um recurso presente até hoje, a COLA. E o que era colar? Colar na escola era buscar as respostas com colegas solidários, com esquemas elaborados (de anotações na palma da mão a inscrições na carteira) ou bisbilhotando a prova do outro, enfim, era a forma encontrada para responder uma prova. E vejam que coisa incrível, o que a tal IA faz? Recebe da rede global via internet milhares, milhões, bilhões de megas e teras bytes escritos, elaborados, pesquisados, alimentados por nós humanos através do nosso  "telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor".

Chamar de "inteligente" uma coisa que colou é como dar um prêmio pra preguiçoso em dia de desafio.

Uns podem até dizer que a IA ao combinar dados tem elaborado novas produções. Mas montar quebra cabeças não requer inteligência, exige paciência e noção para juntar peças. 

Digo isso porquê quero fazer um chamado ao artesanal, ao analógico, ou seja, ao direito que temos de preservar métodos para garantir um mínimo de decência no processo formativo humano. Do mesmo jeito que livros de papel nunca serão extintos, e os dados e nossa humanidade provam isso, haverá sim professores que irão buscar preservar ações, atitudes e métodos formativos analógicos. Mesmo no processo educativo infantil a busca pelo retorno aos jogos interativos, integrativos e sem o uso de recursos tecnológicos evidenciam uma qualidade exclusivamente humana: a nossa relação, somos um ser vivo coletivo e que depende, mesmo buscando um momento só, alguma interação.

Se existe um movimento evidente de que para manter ou resgatar nossa humanidade é preciso ter uma distância segura dos recursos tecnológicos, isso não será diferente no processo formativo. Portanto, exigir o direito a ser um professor analógico, cujas habilidades e o trabalho educativo, acadêmico e formativo seja por meio da leitura, do diálogo ou dialógico, dos jogos reflexivos, lúdicos e dinâmicos, da elaboração crítica com ou uso exclusivo do "telencéfalo altamente desenvolvido". 

Fora de mim abrir mão da tecnologia, como toda boa ditadura, a do capital vai empurrando cada um de nós para suas formas sem direito a escolha - contraditório ao discurso liberal - pois, seja para pagar contas ou resolver problemas básicos somos empurrados para beira do abismo. A tecnologia não é o abismo, mas a forma e para o que ela é destinada em nossa sociedade.

Dito isso, reivindico meu direito ao analógico, quero poder exercer a docência a partir da velha escola de Sócrates, quero me integrar a realidade como Paulo Freire, quero as rodas de conversa e as interações humanas necessárias. Quero ser o ponto de partida, não preciso surpreender ninguém com mágica tecnológica, deixo isso para os outros magos que se sentem mais tranquilos com esse modelo. 

Um pouco de nostalgia para acalmar a alma!