Podem achar que é mania de perseguição. Mas pode ser mesmo, uma perseguição ao contrário. Recentemente a imprensa, ou melhor, um ou dois órgãos de imprensa insistem em negar a existência de uma corrente de pensamento de esquerda e socialista no interior do PT de Guarulhos (SP).
Eles publicam faz duas semanas que dois expoentes históricos do PT e que hoje se encontram fora da legenda estão recebendo “convites” para retornarem. Um deles tive o privilégio de militar lado a lado, desde a minha adolescência. Para que não haja jogo de palavras não é segredo para ninguém de que o escritor (ou blogueiro), que aqui escreve atuou no Núcleo Chico Mendes que tinha como representação parlamentar o companheiro Edson Albertão.
Minha primeira candidatura no PT, grandes lembranças e lições, que me permitiram colaborar na fundação do extinto Espaço Cultural Florestan Fernandes, das lutas do MST e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do primeiro de maio de luta com os Racionais MC´s, onde pude viver minha história no partido sendo membro do Diretório Municipal e da Executiva da Macro Região Guarulhos/ Alto Tiete.
O que me incomoda é relação que tem parte da imprensa de pobre informação e pouca capacidade ideológica, pobrinha mesmo. Os companheiros citados, Albertão e Orlando Fantizzini saíram do PT em 2005 no auge da crise moral do partido conhecida (ou tachada pela imprensa golpista) como “crise do mensalão”. Já não era de hoje que combatíamos (e por isso disputamos o PT até hoje), grupos ou indivíduos que tornaram o partido num “balcão de negócios”, foram várias disputas históricas, locais ou nacionais – isso é publico na história do PT.
Bem sair ou ficar não era uma questão de vida ou morte, mas de decisão política sobre os rumos da esquerda brasileira para o futuro. Os dois companheiros decidiram nas suas bases sair! Fundaram o PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, seguiram.
Eu e outros (as) companheiros (as) escolhemos ficar, lutar internamente e defender as mesmas bandeiras históricas da esquerda socialista do PT. Ficar não significou atestado de “traição” a causa dos trabalhadores (as), até porque os trabalhadores (em parte) continuam a dar vitórias eleitorais para o PT e o imaginário da sua luta popular.
Ficamos! Disputamos as eleições internas defendendo um partido que reassumisse sua tarefa histórica de defender interesses populares, estar ao lado do povo, não se confundir entre as tarefas de governo e de partido, sem alianças que ferissem nossos ideais, enfim, fizemos a lição de casa e disputamos a presidência do PT de Guarulhos até agora com três candidaturas: Minha, do Rafael Severino (o Rafa do PT) e neste último com a companheira Erika Gomes.
Não ficamos na luta interiorana do PT de Guarulhos, adentramos a Articulação de Esquerda (AE), tendência nacional da esquerda socialista, democrática e revolucionária do PT, e nos somamos a milhares de lutadores e lutadoras do povo.
Nestes últimos anos, de 2005 para 2010, mantivemos vivo o debate de rumos e projetos em disputa na sociedade onde enfrentamos internamente as diferenças com a forma de condução do partido e do governo, as escolhas para governar e para fazer política. Somos 1% do PT, e não temos vergonha de dizer em que permanecemos fieis aos nossos ideais.
Fomos contra a taxa da luz proposta pelo governo Eloi, realizamos o plebiscito pela reestatização da Vale do Rio Doce, defendemos um vice-prefeito do PT, uma política de alianças com os movimentos populares e sociais, fortalecimento do movimento sindical combativo – na defesa da CUT, pautamos as propostas de maior participação e políticas públicas para juventude, mulheres, negros/as.
Estivemos presentes em momentos decisivos como nas prévias que indicou o companheiro Almeida prefeito, mostrando que a força do PT está na militância e não nos cargos de governo, disputamos as eleições municipais de 2008 com uma candidatura a vereador com a cara e a coragem de obter 400 votos no intenso dialogo com a população, damos nossa contribuição para que o governo pense em referencias de políticas públicas versus obras apenas, enfim, lutamos, lutamos, com vários instrumentos e em várias frentes.
E na recente polemica do Rodoanel, discordamos do modelo de desenvolvimento viário do PSDB. Nós da AE defendemos que o governo tem o seu papel negociador e o partido o seu papel de disputa, para nós o partido deveria defender contrário ao Rodoanel, sim porque o que é injusto para o povo, não pode ser justo para o PT. E a audiência de 15 de dezembro de 2010, mostrou a face do governo tucano: truculento e autoritário.
Mesmo chamados de militantes de “movimento estudantil”, isso não nos desonra pelo contrário nos orgulha. Orgulho de ser reconhecido como combativo, como são os estudantes lutadores/as desta vida que defendem o justo.
E mesmo assim parte da imprensa (conservadora), que se retro alimenta dos anúncios do nosso governo municipal insiste em simplesmente ignorar a nossa existência. E imagino os motivos:
1) Não reconhecer um grupo de pensamento critico pode ser manter vivo no debate a certeza de que o PT é um partido de esquerda, que se renova, que debate projetos e pode manter-se no governo com novas e renovadas lideranças;
2) Não reconhecer uma esquerda socialista jovem, renovada, que mesmo sem os expoentes do passado, é desta tradição que viemos;
3) Não reconhecer que há um grupo organizado, propositivo, que disputa projetos de governo inclusive dentro do PT é desconsiderar que há debate – e não a versão autoritária que querem sempre impor sobre a imagem do nosso partido. A democracia é o óleo que move a vida dos petistas, o dia que isso não houver, não estaremos mais contribuindo com o fortalecimento do PT;
4) Não respeitar a historia das pessoas. Somos jovens, somos poucos, mas somos militantes e que exigimos respeito às lutas e defesas que realizamos. Na recente experiência de governo, onde ocupamos a tarefa de coordenar a Secretaria da Assistência Social não houve um segundo que não fossemos questionados, cobrados, mutilados, desrespeitados por interesses que moveram órgãos que deveriam informar e não mentir ou fantasiar. Vencemos (em parte), porque resgatamos o valor da política pública, pautamos temáticas antes esquecidas: idosos, crianças e adolescentes, pobreza X cidadania, acesso a direitos aos jovens, população em situação de rua, etc. Pautamos a campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes, realizamos fiscalização direta no cemitério da Vila Rio, realizamos reuniões técnicas com diversas áreas, uma belíssima campanha do Fundo da Criança num momento de crise econômica, valorizamos o servido público – que atende diretamente a população, conseguimos recursos em Brasília – tanto na assistência social, como na secretaria de direitos humanos e ministério da justiça, entregamos dois novos Centros de Referencia, a reforma do Albergue, novas viaturas para os conselhos tutelares e um permanente dialogo, um novo sistema de atendimento a crianças e adolescentes, implantamos o primeiro postos de atendimento a vitimas de trafico de pessoas, politizamos o debate da assistência social como política integrante e integradora da seguridade social do Brasil e entregamos os conselhos gestores para o controle social direito da população. Isso nos orgulha como esquerda e como socialistas;
5) E por fim, é bom lembrar que mesmo na Alemanha na década de 30, a esquerda socialista e a forças democráticas praticamente isoladas sobre o jugo do partido nazi-fascista também sofreram censura igual. Identidade censurada. Opinião censurada. Existência censurada. E no final desta historia? Quem foram os derrotados?
Venceu o povo. A resistência e a página da historia varreu ou para o passado ou para o esquecimento daqueles que tentaram ignorar os que lutam. Mas o que lutam não precisa deste tipo de exposição, de imprensa ou órgão de comunicação que serve a senhores que só desrespeitam a consciência do povo.
Os que especulam a idéia do retorno de ambos os companheiros sob a desculpa de “garantir o debate do PT”, mal sabe que é cúmplice desta situação em que nos encontramos. A despolitização do partido e do governo são resultados de um modo de ver as coisas, um projeto de pensar a disputa da sociedade. É um direito conduzir assim as coisas, é nosso direito enfrenta-lo!
O nosso direito é manter viva a luta. Bem vindo aos que querem retornar ao partido (com as devidas reflexões criticas da sua saída, porque se vão voltar no mínimo erraram ao sair), mas nós da AE Guarulhos já temos clareza no caminho, no projeto e no papel que desempenhamos na disputa do partido e do governo.
Queremos vida longa ao nosso governo petista, sempre repensado, avaliado, construido e mudando a vida dos trabalhadores/as. Mas politizando o debate, sobre qual é o nosso projeto e para que rumo? Individual ou coletivo?
Para os que nos ignoram, já estão devidamente incomodados com a nossa existência.