Central das Favelas rompe com organizadores da visita de Obama
Por Michel Blanco, da Redação Yahoo! Brasil
O clima de cordialidade nos preparativos para receber Barack Obama na Cidade de Deus azedou. A Central Única das Favelas do Rio (Cufa) rompeu com os organizadores da visita do presidente norte-americano por discordar das regras impostas aos moradores enquanto Obama estiver na comunidade.
O rígido aparato de segurança vai mudar radicalmente os hábitos da favela. Os moradores não poderão sair de casa e o tradicional banho de sol na laje está proibido. A Cufa foi informada pelos organizadores da visita de que o cordão de isolamento em torno da comitiva será de 300 metros. Os moradores, inclusive crianças, serão revistados.
“Isto não é visita, é hostilização. As crianças daqui são esculachadas a vida inteira, e agora vêm os americanos para esculachar também? É um absurdo”, diz um dos líderes da Cufa à frente das negociações. “Esse aparato tem que existir, claro. Porém, deveria servir para viabilizar o contato dele com as pessoas. Não é o que vai acontecer.”
A entidade, no entanto, ressalta a importância da visita de Obama à Cidade de Deus. Mas questiona as normas impostas pela segurança e os preparativos que veem como “maquiagem” dos problemas da favela.
O rapper MV Bill, um dos fundadores da Cufa, diz esperar que o plano seja revisto, “para que a visita não seja uma grande frustração”. Em entrevista por telefone, Bill frisa que a visita é bem-vinda, “mas ela está fora de sintonia do que se espera de um cara como Obama. Pelo jeito dele, pela cara dele, há uma identificação automática com a comunidade. Quase pensam que ele já vai sair falando português. Mas aí vem isso. Vão transformar a comunidade num cativeiro.”
Os moradores da Cidade de Deus também se mostram indignados. O eletricista Márcio, embora acredite num clima de tranquilidade, prevê um protesto pacífico dos moradores. “Ele vai apenas tirar uma foto pra dizer que foi a Cidade de Deus. E só. Vai haver um protesto pacífico. A Cidade de Deus é uma comunidade pacificada.”
De acordo com os planos, durante a visita de Obama, o comércio será fechado. Prejuízo para quem trabalha no fim de semana e esperava um movimento maior com a visita do presidente americano, como a cabeleira Vânia. “Trabalho no domingo e vou ter o meu comércio fechado. A gente não pode mascarar as coisas pra gringo ver um Brasil que não é realidade. Seria uma ótima oportunidade para discutir as dificuldades da Cidade de Deus”, afirma.
“O Obama tem uma história, é preto. Ele precisa conhecer a realidade do Brasil. E a Michelle podia ir lá no meu salãozinho, poxa”, completa.
Futebol, capoeira e discurso
Embora a agenda de Obama na CDD não esteja confirmada, a expectativa é que o presidente americano vá a um campo de futebol e depois veja uma roda de capoeira de crianças atendidas por uma entidade assistencial, em um prédio fechado com capacidade para apenas 60 pessoas.
Nesta sexta-feira, a embaixada norte-americana em Brasília informou que o presidente não fará mais discurso na Cinelândia, região central do Rio de Janeiro. O novo local do discurso de Obama será o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A embaixada não especificou as razões que levaram à mudança do local do discurso do presidente dos EUA evento, que deve ocorrer na tarde de domingo.
Antes de ir ao Rio, Obama inicia sua visita ao Brasil em Brasília, onde terá encontro com a presidente Dilma Rousseff. O Brasil é a primeira parada do presidente norte-americano em um tour que inclui Chile e El Salvador.
Cidade de Deus ganha faxina para a visita de Obama
Por AE | Agência EstadoA Cidade de Deus recebeu ontem uma faxina para a visita do presidente americano. Pela manhã, um pequeno caminhão da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) passava nos arredores do prédio da Fundação da Infância e da Adolescência (FIA), que receberá Barack Obama, para recolher os montes de sacos plásticos de lixo deixados por moradores.
Cinco homens encobriam as pichações dos muros e portões da FIA. As cestas de basquete da quadra multiuso foram substituídas por novas e as bandeiras do Brasil, do Estado e do município do Rio foram hasteadas no local. Nas dependências da FIA, Obama assistirá a apresentações de percussão, capoeira e conhecerá obras de artesanato.
Ontem, representantes do consulado dos Estados Unidos e agentes do serviço secreto se reuniram com diretores da fundação, representantes do governo do Rio e da Prefeitura. Em um caminhão, os americanos trouxeram cadeiras para o evento.
O Exército simulou a ocupação da Cidade de Deus por cerca de 100 homens da Brigada de Infantaria Paraquedista. A 200 metros da sede da FIA, 59 barracos situados à beira do Valão não receberam faxina para a passagem do líder americano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Sob protocolos, EUA e Brasil travam disputa comercial
Por AE | Agência Estado Em meio a muitos protocolos de intenção e acordos com promessas de cooperação, a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, será marcada por verdadeira queda de braço comercial com a presidente Dilma Rousseff. Confessadamente, Obama vem com um único objetivo: aumentar as exportações. Dilma, concretamente, dirá que quer vender mais e quer desbastar o megadéficit comercial, que hoje chega a US$ 7,7 bilhões.Na avaliação de diplomatas, mesmo que as negociações não redundem em acordos concretos, a visita de Obama tem um efeito colateral de valor incalculável: o marketing em favor do Rio de Janeirocomo cidade segura o suficiente para o homem mais visado do mundo passear com a família. Sede da Olimpíada de 2016 e uma das cidades a sediar a Copa do Mundo de 2014, o Rio foi intensamente criticado por conta dos problemas de segurança. Nos EUA, onde Chicago perdeu a candidatura da Olimpíada para o Brasil, essa foi uma das maiores críticas.
Obama deve visitar o Corcovado e a Cidade de Deus, além de discursar no Theatro Municipal, no centro do Rio. Apesar do intenso aparato de segurança, a imagem que ficará, acreditam os diplomatas, é a do presidente americano e família apreciando o Cristo Redentor.
Motivos
Fora dos ganhos de marketing para o Rio, um assessor da Presidência resumiu ontem a preocupação de Dilma nas conversas com o chefe da Casa Branca: “A presidente vai conversar com Obama sobre comércio, e não apenas sobre parcerias estratégicas”.
Obama assinou ontem um artigo no jornal USA Today em que deixa bem clara a missão da viagem pelo Brasil e pela América Latina: aumentar as exportações e arrumar mais empregos na indústria dos EUA para os norte-americanos. “Precisamos continuar brigando por cada novo emprego, cada nova indústria, cada novo mercado no século 21. Essa é uma das razões para a minha viagem à América Latina nesta semana - reforçar nossa relação econômica com vizinhos que terão um papel crescente no nosso futuro econômico”, escreveu o presidente americano.