Em respeito a democracia, publico as duas opiniões sobre a questão da permanência do campus da UNIFESP em Guarulhos. Eu defendo a permanência da UNIFESP em Guarulhos!
Contra o preconceito - porque essa visão de que a presença da universidade em uma região da periferia (em crescimento economico e social), não é boia para universidade só cola para visões elitistas, brancas e retrogradas;
Contra a segregação social - a posição dos que querem a saída do campus fere a proposta de democratizar e ampliar os muros da universidade que deve viver e vivenciar a realidade da população para assim estar a serviço dela;
Contra o elitismo - pois o campus da Unifesp poderá contribuir mutuamente através do tripé ensino-pesquisa-extensão na região podendo contribuir para um novo desenvolvimento social local no Pimentas, em Guarulhos e na região do Alto Tiete.
Esta luta pela universidade pública em Guarulhos vem das lutas do movimento estudantil da década de 1980, na retomada da democracia no Brasil e em Guarulhos passando pela luta dos estudantes secundaristas na UGES, todas as conferencias municipais da educação desde 1997 afirmam e reafirmam que Guarulhos quer e precisava de uma universidade pública, passando pela luta dos Cursinhos comunitários e reivindicações nas edições do Orçamento Participativo.
Uma luta de 30 anos não pode morrer e nem recuar! O campus da Unifesp FICA!
Boa leitura, para os que pensam no povo, em uma universidade a serviço da sociedade e de Guarulhos!
Unifesp
07.08.2012 19:20
Mudar
o campus de lugar não é a solução
Em meio à recente crise enfrentada pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), oprofessor Janes Jorges defende,
em artigo enviado a CartaCapital, que a distância do
campus da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) não é a causa
dos maiores problemas da instituição. Para ele, a falta de infraestrutura na
unidade da Unifesp é mais relevante, e os alunos, docentes e funcionários
precisam se unir para encontrar saídas mantendo a universidade na região, pois
a Unifesp poderia ser um motor de desenvolvimento do bairro Pimenta, em
Guarulhos. Confira o artigo abaixo:
Por Janes Jorge*
Os alunos da Unifesp reclamam da
distância do campus de Guarulhos e da falta de infraestrutura. Foto: Olga
Vlahou
Neste ano de 2012, professores, alunos
e técnicos administrativos têm discutido intensamente os graves problemas
enfrentados pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Inúmeros fatores são apontados
como causadores da chamada “crise da EFLCH”, embora o próprio entendimento do
que seja a tal crise varie bastante na comunidade universitária, bem como a
melhor forma de superá-la. O objetivo deste texto é discutir em que medida a
localização do campus é um fator agravante ou provocador dos problemas da
EFLCH. A tese aqui defendida é a de que
a crise não decorre de fatores geográficos – localização e características do
entorno – e que sua presença no bairro Pimentas, em Guarulhos, não compromete
sua excelência acadêmica, além de ser um fator de desenvolvimento social,
político e urbano da Região Metropolitana de São Paulo.
É preciso ressaltar que ao se decidir
pela localização do campus da EFLCH não se deve ter no horizonte perspectivas e
interesses de curto prazo, embora eles sejam os que parecem ter maior sentido
do ponto de vista individual. Houve um tempo que o belo campus Butantã da USP
era um local isolado e distante para muitos, assim como o campus da Unicamp.
Por outro lado, mudanças de endereço de campi não são
estranhos à vida universitária, como a própria história da FFLCH/USP indica –
embora a mudança de endereço da Faculdade de Direito da USP do Largo de São
Francisco não tenha prosperado.
Uma correlação mecânica entre a chamada crise da EFLCH e o bairro
Pimentas transfere a responsabilidade da situação para uma agente exterior ao
mundo universitário. Neste caso, o fator provocador não decorre mais da
estrutura universitária e da ineficiência com que professores e alunos atuam
dentro dela ou de sua incapacidade em transformá-la. É transferida, mesmo que
involuntariamente, para o bairro popular.
Há a necessidade de evitar a ilusão de
que bastaria mudar a localização do campus para que os problemas da EFLCH
acabassem, pois isso poderia gerar nova frustação caso eles se repetirem
alhures. O mais provável é que se os problemas não forem discutidos em sua
complexidade e enfrentados coletivamente, a mudança apenas alteraria o endereço
de grande parte deles. Os problemas de licitação e a precariedade do campus, as
greves de alunos e professores, as dificuldades de diálogo na EFLCH e na
Unifesp não são decorrentes do local do campus. As dificuldades de transporte
sim. Mas, neste caso, deveriamos deixar o local ou contribuir para que tais
dificuldades sejam superadas em benefício da comunidade
universitária e da vizinhança, mesmo tendo como horizonte um período de tempo
mais longo?
É compreensível que professores e
estudantes que enfrentam, há anos, todo o tipo de dificuldade estejam
desanimados e furiosos, ou mesmo saturados de debates. Ainda mais depois de um
semestre conflituoso – embora também de conquistas, como as novas áreas para o
campus. Mas, começar do zero em outro
local, sabe-se lá onde, não parece a melhor saída.
Um bom argumento, talvez central, para
que a EFLCH permaneça em Pimentas vem da necessidade de construir uma metrópole
mais igualitária em todos os sentidos. Como é necessário expandir o ensino
superior público na Região Metropolitana de São Paulo, que tem cerca de 20
milhões de pessoas, ou 10% da população brasileira, é recomendável do ponto de
vista da justiça social e do desenvolvimento urbano que as universidades ocupem
lugares antes preteridos da metrópole, como os seus extremos. Em geral, urbanistas
e geógrafos concordam que é preciso criar “novas centralidades”, algo benéfico
para toda a metrópole, inclusive para suas áreas privilegiadas que hoje também
enfrentam graves problemas de mobilidade urbana e segurança.
Não é mais possível desenvolver a Região Metropolitana de São Paulo
concentrando ações e recursos em áreas historicamente beneficiadas pelo poder
público, ocupadas preferencialmente por segmentos de classe média alta da
população. É preciso conectar a periferia à periferia. Seria irônico que a
universidade pública, autora de tal diagnóstico em inúmeros estudos, aja
contrariamente ao que recomenda à sociedade. Quanto à região central da cidade
de São Paulo, talvez sua melhor vocação, hoje, seja a moradia.
A expansão da Unifesp na Grande São Paulo e cidades próximas responde a
essa necessidade de democratização da metrópole. Ao desenvolver nestes locais
uma estrutura universitária pública, amplia-se a consciência crítica e cidadã.
Um exemplo são os professores da EFLCH em conselhos municipais de Guarulhos e
participando de outras iniciativas municipais. Essa interação é tensa por
interferir diretamente em conflitos locais, mas é também transformadora.
Guarulhos é a segunda cidade mais importante da Região Metropolitana.
Quando a EFLCH funcionar plenamente poderá, então, polarizar toda a área leste
e norte da Grande São Paulo, além de parte do Vale do Paraíba. São milhões de
pessoas, dezenas de cidades. Devido à precariedade do transporte público,
seguramente não é o campus ideal para o aluno ou professor que vive nas zonas
Sul e Oeste de São Paulo, mas a situação é melhor para o paulistano da Zona
Leste e Norte, ou de Itaquaquecetuba. Cabe, por fim, lembrar que nas zonas
Leste e Norte de São Paulo e em parte de Guarulhos existem bairros de classe média
alta. Futuramente, eles poderão servir de moradia a professores e alunos.
A EFLCH e o bairro
Pimentas
Nas últimas décadas, o bairro Pimentas
teve mudanças positivas, segundo seus moradores. E foi, sem dúvida, a nova
conjuntura econômica nacional e os investimentos municipais que alteraram a
região. O campus não causou a valorização imobiliária de que muitas vezes foi
acusado, pois ela ocorreria de qualquer forma.
Por outro lado, a presença da EFLCH no bairro foi benéfica. Escolas da
região recebem alunos do campus e professores da rede pública vão para a EFLCH,
além de docentes da Unifesp que se engajam em atividades de pesquisa e
extensão. Mais uma vez, tendo-se o curso de história como referência, é
possível afirmar que os resultados são promissores. Evidentemente isso poderia
ser feito mesmo que a universidade estivesse em outra região de São Paulo, mas
é inegável a diferença de estar localizado em um bairro popular e ir a uma
destas regiões realizar atividades de extensão. Neste caso, o compromisso com a
realidade local se impõe de forma inescapável, pois a comunidade universitária
trata de seu próprio destino.
O campus também traz recursos para o bairro: atrai investimentos e
atenção do poder público (federal, estadual e municipal), cria empregos para
moradores da região, ajuda a movimentar o comércio, o aluguel de residências,
etc. Em longo prazo, pode criar dinâmicas que ampliem as opções culturais e as
perspectivas da população local, tornando o bairro mais heterogêneo e
diversificado. Salvo engano, quando o quadro de professores estiver completo
serão cerca de 250 docentes, centenas de funcionários e milhares de alunos de
diversos locais diferentes. Muitos deles estarão pela primeira vez em um bairro
de origem popular.
De nada adiantaria, porém, a EFLCH ser benéfica para o desenvolvimento
de São Paulo e para o bairro Pimentas se não fosse capaz de produzir
conhecimento de qualidade. Tendo como parâmetro a área de história – faltam
dados e conhecimento para analisar as demais – isso vem ocorrendo plenamente. O
curso de História está entre os melhores e mais difíceis de São Paulo. Há
alunos concluindo a faculdade e disputando com êxito o mercado de trabalho e a
pós-graduação, o que deve se expandir de forma acelerada.
O departamento também tem realizado encontros acadêmicos periodicamente,
apesar de todas as dificuldades. No primeiro semestre houve, inclusive, um
encontro internacional exitoso. Professores e alunos têm seus projetos
aprovados pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e
convênios com instituições importantes, como o Arquivo Público do Estado de São
Paulo. Além disso, enquanto houve aulas os grupos de pesquisa se reuniram
periodicamente. Em julho, estudantes de História acolheram no campus e no CEU o
Encontro Nacional dos Estudantes de História, que contou com cerca de 450
participantes, a maioria de fora de São Paulo.
Alguns apontam os índices de evasão dos alunos da EFLCH como a prova
cabal de que o campus é inviável no bairro Pimentas. Evidentemente, a
precariedade do transporte público e, em especial, a ausência de uma estação de
metrô na região causam grandes prejuízos a estudantes, técnicos administrativos
e professores, além da população local. Contudo, não é possível correlacionar
tão imediatamente um suposto “isolamento” do bairro e as taxas de evasão, pois
há outros problemas afetando a vida dos estudantes.
Uma possibilidade, talvez mais provável, é a de que os alunos se
desanimam ao chegar a um campus sem condições adequadas de estudo e convivência
acadêmica e não pela distância geográfica. Portanto, somente se a EFLCH
estivesse plenamente instalada seria possível fazer essa correlação entre
evasão e distância. Por outro lado, o simples arrolamento estatístico da evasão
não explica as suas causas. Para isso, são necessários estudos qualitativos,
pois a evasão pode decorrer de inúmeros fatores, alguns até mesmo positivos,
como maiores possibilidades de escolha por parte dos estudantes.
Ainda que seja uma deficiência gravíssima de solução complexa, alunos,
professores e técnicos administrativos não são passivos diante da precariedade
da rede de transportes públicos. Procuram soluções como os fretamentos e
caronas, nem sempre saídas ideais. Por isso, a luta pela instalação de uma estação
de metrô próxima ao campus é um sonho possível que devia começar a ser
construído imediatamente. Esse objetivo poderia, inclusive, congregar a
comunidade universitária e a população do bairro e arredores. Embora promissor,
é necessário aguardar para avaliar a qualidade do sistema Orca
recém-conquistado.
Além disso, é interessante observar como o sistema de caronas entre
professores – que funciona relativamente bem -, não deixa de estreitar os
encontros e conversas com os colegas, indicando que o enfrentamento conjunto
das dificuldades pode ter efeito agregador e construtivo.
Novo campus: novas
promessas e novos problemas?
É possível que algumas pessoas que
pensam na saída do bairro Pimentas como solução para os problemas da EFLCH
idealizem o novo local a ser escolhido. A situação começaria a mudar de figura
quando o novo local fosse indicado. Seria o momento em que os problemas dele
começariam a aparecer. Por exemplo, será que ele seria mais próximo que o atual
para estudantes e professores? E para os técnicos-administrativos? Haveria
verba garantida para essa operação? O governo federal apoiaria a medida? E o
governo municipal da nova cidade escolhida, apoiaria? Mesmo que fossem de
partidos políticos diferentes às vésperas de uma eleição presidencial? E a
Unifesp aceitaria uma EFLCH na cidade de São Paulo?
É difícil acreditar que, se a estrutura universitária não foi capaz de
oferecer um prédio novo para a EFLCH, possa rapidamente disponibilizar todo um
campus novo, sem problemas de infraestrutura e bem localizado. Não se corre o
risco de iniciar um novo ciclo de reivindicações do zero, tendo que refazer
todas as relações que, bem ou mal, já existem em Guarulhos – desde o
cadastramento de escolas para a licenciatura até contatos com o poder
municipal? E, mais grave ainda, não se corre o risco de perder tudo o que foi
conquistado no primeiro semestre sem qualquer garantia de haver algo melhor em
outro lugar? Parece um risco alto demais.
Diante do que foi dito acima, acredita-se que a EFLCH, que já tem uma
bela história de lutas, conquistas e realizações em Guarulhos, permaneça unida
no campus atual, preparando-se para sua expansão com novos cursos e alunos,
encontrando seu lugar na Unifesp, na metrópole e no universo do conhecimento.
*Professor-doutor de
Teoria da História da Universidade Federal de São Paulo. É autor do livro Tietê
– O Rio que a Cidade Perdeu, e, com outros autores, de Paulicéia Afro: lugares,
histórias e pessoas.
Ensino Superior
27.07.2012 14:16
A
Unifesp e as soluções provisórias
A crise na
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) continua se agravando. As
reclamações quanto as condições do campus de Guarulhos, na Grande São Paulo, e
os planos que a reitoria têm para mantê-lo no bairro dos Pimentas incomodam
professores e estudantes. No artigo abaixo, Juvenal Savian, coordenador da
Pós-Graduação em Filosofia da Unifesp, explica as reivindicações dos
professores da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. “Em 2006,
tentou-se fundar um campus ‘na’ periferia, mas esse campus não deve ser
necessariamente ‘de’ periferia”, escreve o professor. Aqui você
pode ler o dossiê “A crise da Escola de Humanidades da Unifesp e sua
permanência no Pimentas”.
Por Juvenal Savian*
A Unifesp está prestes a alugar um prédio industrial pertencente à
empresa Stiefel a fim de ali instalar parte da EFLCH (Escola de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas), Campus Guarulhos (Bairro dos Pimentas), enquanto
durarem as obras do campus definitivo. O prédio da Stiefel foi projetado para
ser ventilado por um sistema de ar condicionado central que requer atualmente
adaptação. A empresa recusa-se a fazer a adaptação, propondo que a Unifesp a
faça. Esta, por sua vez, diante de uma soma que pode chegar a 2 milhões de
reais, considera a hipótese de alugar o prédio sem ar condicionado.
Eis apenas um elemento do conjunto de soluções
provisórias adotadas pela Unifesp para resolver a crise da EFLCH. Não se pode
negar o empenho da Reitoria e da Direção do Campus, mas tais soluções são
inadequadas ao funcionamento de uma faculdade cuja vocação são a alta pesquisa, a docência superior e a extensão. Há
certamente um grave problema de assessoria no governo federal e na Unifesp.
Prova-o o fato de que essas instâncias, ao analisar a crise da EFLCH, têm se
concentrado em medidas de circunstância e em aumentar a segurança no campus,
temendo as ocupações costumeiras do movimento estudantil. Mas negligenciam a
tensão existente entre o bairro e o campus, o problema insolúvel de acesso (a
menos que houvesse algum colossal projeto ferroviário ou metroviário), o
isolamento cultural do campus etc.
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Há indícios de que atuam no campus não
apenas diferentes grupos estudantis, mas também outros movimentos, de ideologia
“extremista” e estabelecidos há mais tempo no bairro. Esses grupos conduzem,
junto com alguns estudantes, a um enfrentamento das instâncias administrativas
da universidade e sobretudo do corpo docente. Como dizem, os docentes são
elitistas, burgueses e oferecem formação inadequada, porque seu projeto é fundar uma
universidade popular, com partilha dos bens do campus. Há também o incômodo
explícito de algumas autoridades do governo federal e municipal com o fato de a
EFLCH não levar progresso ao bairro nem assistência social. Alguns docentes
chegaram a assimilar essa consciência missionária, mas todos têm de admitir
agora que a Unifesp só levou especulação imobiliária ao bairro e mais acepção
social, porque sua formação beneficia 90% de estudantes que não vêm de lá. Por
outro lado, ela é profundamente excludente, pois sua localização dificulta o
acesso à imensa maioria de seus estudantes, facilitando-o apenas aos que moram
no seu entorno.
À revelia de todos os problemas e tendo
mesmo que lutar para justificar sua existência, o corpo docente da EFLCH tem
feito o impossível para corresponder às elevadas exigências a que é exposto.
Mas tocou-se o limite. As soluções provisórias são inadequadas e mesmo o
projeto do novo campus já contém problemas. Todavia, reservam-se cerca de 50
milhões de reais para esse projeto, quase o dobro do orçamento anual de
subprefeituras paulistanas como Pinheiros e Campo Limpo. Na contrapartida, há,
na Praça da República, centro de São Paulo, prédios inteiramente apropriados
para ensino e pesquisa em humanidades, com boa estrutura e por um terço desse
preço.
A EFLCH foi criada para pôr em prática um Projeto Acadêmico específico;
não foi criada para um bairro. E não se trata de falar de periferia ou de
centro, pois em qualquer lugar onde não haja cultura formal, com acesso
dificultado e ideologia de enfrentamento, não cabe um campus universitário. É
preciso analisar a conveniência de a EFLCH continuar onde está. Em 2006,
tentou-se fundar um campus “na” periferia, mas esse campus não deve ser
necessariamente “de” periferia.
*É Coordenador da
Pós-Graduação em Filosofia da Unifesp