Duas
escolhas, duas tarefas.
Eu volto
este artigo mais para a cozinha da minha militância política, o PT.
Teremos este ano um Processo de Eleições Diretas (PED) no partido,
onde objetivamente escolheremos novas direções (municipais,
estaduais e nacional) e seus respectivos presidentes (as) pelo voto
direto e massivo dos filiados (as). Alguém diria que pouco importa
ou interfira na realidade atual esse momento, mas vamos as questões
de fundo.
No último
congresso aprovou-se uma série de resoluções no calor dos debates
e na urgência de uma renovação da política interna. Para nós da
esquerda popular e socialista do PT avanços pela esquerda foram
fundamentais.
A mais
polêmica será a paridade de homens e mulheres nas direções,
ousando novamente o PT determina que o machimo petista precisa sentir
a aproximação necessária das suas mulheres não pelas cotas
eleitorais apenas, mas inclusive nas direções. Ou faz isso ou
reproduzimos (da pior forma) a lógica do patriarcado com indicações
de esposas para primeiras damas, sucessoras ou detentoras de mandatos
eletivos sem siquer ter tido qualquer militancia orgânica e política
no petismo.
Há
forças e personalidades petistas que se movimentam contra a
proposta. Porém derrota-la não será apenas o estupro da democracia
interna, será também a confirmação de que abandonamos a pouca
ousadia que temos em mostrar para sociedade de que o PT é referência
pela mudança de paradigmas na sociedade. O PT não nasce para se
adaptar, surge para transformar (resgate da origem é importante).
Aqui é
responsabilidade do campo de pensamento a esquerda lutar pela sua
manutenção, é vida ou morte.
Outro
ponto refere-se as cotas que permitem maior dialogo com a juventude e
a militancia negra do partido. Tem sido muito pouco a existência
apenas de setoriais ou secretarias especificas quando o assunto é
aplicabilidade de políticas partidárias, as governamentais não são
ainda no alcance desejado e no legislativo é onde o “bicho pega”
com o Estatuto da Igualdade e da Juventude, ambos enfrentando os
ódios da elite branca e exclusivista no quesito direitos.
As
medidas organizativas já sofreram frouxidão. Os critérios com
relação a novos filiados (as) e de pagamento sofreram alterações
que mexem consideravelmente nas regras do jogo.
Diante do
quadro como devem se posicionar as várias forças políticas
internamente? Houve um tempo em que tradicionalmente o PT dividia-se
como no parlamento inglês do século XIX em distinção de rumos no
projeto político. Contudo, o “rei está nu” e não podemos negar
que todos e todas pertencemos ao mundo establishment não
importa o nível, cargo ou lugar devido as responsabilidades advindas
do governar.
Há
dirigentes em movimentos, sindicatos, no partido, nas entidades
sociais, nas ong's, nas consultorias, no setor privado, no ensino
superior, enfim, há muitas outras vidas fora de governos e mesmo
assim e em grande medida ao redor do governo. Ruim, sim. É o remédio
amargo do protagonismo político que escolhemos.
Portanto
o que está em jogo nestas eleições internas do PT? Para cada força
política e seus sujeitos inúmeras questões de pensamento e
interesses.
Noves
fora dos interesses dos grupos, facções e aparelhos do campo
majoritário. Prefiro falar um pouco do campo ideológico do
pensamento a esquerda do PT.
Ser de
esquerda no PT hoje é coisa séria. Tão séria que mexe com os
ânimos e tira sonos dos que ainda querem manter vivo o pensamento
critico sobre a realidade brasileira, uma postura revolucionária
quanto as mudanças das estruturas do estado, a construção de
hegemonia político, economica, social, juridica, militar e cultural
da sociedade.
Sobreviver
parece ser a palavra de ordem ou da ordem dessa corrente de
pensamento. E nela me encontro, por isso é mais tranquilo a análise.
Das
tarefas que temos para retomar esse pensamento elencamos: 1)
Necessária reaproximação com os movimentos sociais e populares
insidindo nas suas decisões com participação, apoiando a formação
de novos quadros militantes; 2) atuar com mais vigor no trabalho de
base petista, dialogar com filiados (as), dirigentes nos interiores
onde a luta de classes contra suas oligarquias e coronéis ainda
persiste e resiste; 3) taticamente eleger parlamentares com
compromisso individual e coletivo com o nosso programa, gente da
gente exercendo papel no legislativo de denúncia e atuando pelas
nossas bandeiras; 4) intervir, adentrar e fazer a diferença em
governos petistas implementando políticas públicas e fortalecendo
outro Estado participativo, criativo e que intefira na realidade; 5)
realizar alianças internas em pontos comuns.
A
Esquerda Popular Socialista (EPS) em sintonia com estes pontos
constrõe nesse momento historico o seu caminho, em particular, há
duas tarefas em jogo que é recompor internamente do PT o pensamento
de centro esquerda nas direções e a faz com alianças táticas. E
fora do PT busca reaproximar e reunificar a militancia de esquerda no
campo democrático-popular.
E a
conclusão do nosso debate interno é claro: há uma movimentação
interna de parte do campo majoritário que advém de uma tradição
de esquerda e que percebe sua crise de valores, governar não é o
limite e nem pode ser o fim para o PT. Ai entramos nós.
Escolher
apoiar os companheiros Rui Falcão para presidente do PT nacional e
Emidio Souza para presidente do PT estadual em SP nos remete aos
compromissos de ambos em buscar “governar” o PT dialogando com as
forças e mais importante: dialogando com o PT. Nacionalmente nós da
EPS temos muito a contribuir, portanto é tarefa não entrar na
executiva nacional e nos manter na executiva estadual em SP pela
porta dos fundos dos acordos, lançaremos chapas e vamos para disputa
interna.
Essa
movimentação interna nos permitiu (nesse momento) recompor
internamente e firmar compromissos pela manutenção dos principios
historico-social do PT, olhando pra frente, mas admitindo que o
conservadorismo das elites é mais cruel do que as medidas do
neoliberalismo. Financeirização do capital, super exploração e o
controle das corporações são cruéis e podem ser mais cruéis numa
sociedade homofobica, racista, discriminatória, exclusivista,
machista, teocrática, bipartidária, xenofóbica, ou seja, não
basta o capital querer o máximo dos seus lucros, mas os seus valores
societários também são fundamentais.
Em
resumo, “botar o terno no operário não o faz membro desse
clube restrito do poder” temos que manter vivo o PT.
Wagner
Hosokawa
assistente
social, mestre em serviço social pela PUC/SP, Coordenador de
Juventude da Prefeitura de Guarulhos e militante da EPS.