quarta-feira, 29 de maio de 2013

Duas escolhas, duas tarefas.



Duas escolhas, duas tarefas.

Eu volto este artigo mais para a cozinha da minha militância política, o PT. Teremos este ano um Processo de Eleições Diretas (PED) no partido, onde objetivamente escolheremos novas direções (municipais, estaduais e nacional) e seus respectivos presidentes (as) pelo voto direto e massivo dos filiados (as). Alguém diria que pouco importa ou interfira na realidade atual esse momento, mas vamos as questões de fundo.

No último congresso aprovou-se uma série de resoluções no calor dos debates e na urgência de uma renovação da política interna. Para nós da esquerda popular e socialista do PT avanços pela esquerda foram fundamentais.

A mais polêmica será a paridade de homens e mulheres nas direções, ousando novamente o PT determina que o machimo petista precisa sentir a aproximação necessária das suas mulheres não pelas cotas eleitorais apenas, mas inclusive nas direções. Ou faz isso ou reproduzimos (da pior forma) a lógica do patriarcado com indicações de esposas para primeiras damas, sucessoras ou detentoras de mandatos eletivos sem siquer ter tido qualquer militancia orgânica e política no petismo.

Há forças e personalidades petistas que se movimentam contra a proposta. Porém derrota-la não será apenas o estupro da democracia interna, será também a confirmação de que abandonamos a pouca ousadia que temos em mostrar para sociedade de que o PT é referência pela mudança de paradigmas na sociedade. O PT não nasce para se adaptar, surge para transformar (resgate da origem é importante).

Aqui é responsabilidade do campo de pensamento a esquerda lutar pela sua manutenção, é vida ou morte.

Outro ponto refere-se as cotas que permitem maior dialogo com a juventude e a militancia negra do partido. Tem sido muito pouco a existência apenas de setoriais ou secretarias especificas quando o assunto é aplicabilidade de políticas partidárias, as governamentais não são ainda no alcance desejado e no legislativo é onde o “bicho pega” com o Estatuto da Igualdade e da Juventude, ambos enfrentando os ódios da elite branca e exclusivista no quesito direitos.

As medidas organizativas já sofreram frouxidão. Os critérios com relação a novos filiados (as) e de pagamento sofreram alterações que mexem consideravelmente nas regras do jogo.

Diante do quadro como devem se posicionar as várias forças políticas internamente? Houve um tempo em que tradicionalmente o PT dividia-se como no parlamento inglês do século XIX em distinção de rumos no projeto político. Contudo, o “rei está nu” e não podemos negar que todos e todas pertencemos ao mundo establishment não importa o nível, cargo ou lugar devido as responsabilidades advindas do governar.

Há dirigentes em movimentos, sindicatos, no partido, nas entidades sociais, nas ong's, nas consultorias, no setor privado, no ensino superior, enfim, há muitas outras vidas fora de governos e mesmo assim e em grande medida ao redor do governo. Ruim, sim. É o remédio amargo do protagonismo político que escolhemos.

Portanto o que está em jogo nestas eleições internas do PT? Para cada força política e seus sujeitos inúmeras questões de pensamento e interesses.

Noves fora dos interesses dos grupos, facções e aparelhos do campo majoritário. Prefiro falar um pouco do campo ideológico do pensamento a esquerda do PT.

Ser de esquerda no PT hoje é coisa séria. Tão séria que mexe com os ânimos e tira sonos dos que ainda querem manter vivo o pensamento critico sobre a realidade brasileira, uma postura revolucionária quanto as mudanças das estruturas do estado, a construção de hegemonia político, economica, social, juridica, militar e cultural da sociedade.

Sobreviver parece ser a palavra de ordem ou da ordem dessa corrente de pensamento. E nela me encontro, por isso é mais tranquilo a análise.

Das tarefas que temos para retomar esse pensamento elencamos: 1) Necessária reaproximação com os movimentos sociais e populares insidindo nas suas decisões com participação, apoiando a formação de novos quadros militantes; 2) atuar com mais vigor no trabalho de base petista, dialogar com filiados (as), dirigentes nos interiores onde a luta de classes contra suas oligarquias e coronéis ainda persiste e resiste; 3) taticamente eleger parlamentares com compromisso individual e coletivo com o nosso programa, gente da gente exercendo papel no legislativo de denúncia e atuando pelas nossas bandeiras; 4) intervir, adentrar e fazer a diferença em governos petistas implementando políticas públicas e fortalecendo outro Estado participativo, criativo e que intefira na realidade; 5) realizar alianças internas em pontos comuns.

A Esquerda Popular Socialista (EPS) em sintonia com estes pontos constrõe nesse momento historico o seu caminho, em particular, há duas tarefas em jogo que é recompor internamente do PT o pensamento de centro esquerda nas direções e a faz com alianças táticas. E fora do PT busca reaproximar e reunificar a militancia de esquerda no campo democrático-popular.

E a conclusão do nosso debate interno é claro: há uma movimentação interna de parte do campo majoritário que advém de uma tradição de esquerda e que percebe sua crise de valores, governar não é o limite e nem pode ser o fim para o PT. Ai entramos nós.

Escolher apoiar os companheiros Rui Falcão para presidente do PT nacional e Emidio Souza para presidente do PT estadual em SP nos remete aos compromissos de ambos em buscar “governar” o PT dialogando com as forças e mais importante: dialogando com o PT. Nacionalmente nós da EPS temos muito a contribuir, portanto é tarefa não entrar na executiva nacional e nos manter na executiva estadual em SP pela porta dos fundos dos acordos, lançaremos chapas e vamos para disputa interna.

Essa movimentação interna nos permitiu (nesse momento) recompor internamente e firmar compromissos pela manutenção dos principios historico-social do PT, olhando pra frente, mas admitindo que o conservadorismo das elites é mais cruel do que as medidas do neoliberalismo. Financeirização do capital, super exploração e o controle das corporações são cruéis e podem ser mais cruéis numa sociedade homofobica, racista, discriminatória, exclusivista, machista, teocrática, bipartidária, xenofóbica, ou seja, não basta o capital querer o máximo dos seus lucros, mas os seus valores societários também são fundamentais.

Em resumo, “botar o terno no operário não o faz membro desse clube restrito do poder” temos que manter vivo o PT.

Wagner Hosokawa
assistente social, mestre em serviço social pela PUC/SP, Coordenador de Juventude da Prefeitura de Guarulhos e militante da EPS.