quarta-feira, 30 de abril de 2014

Poema "Meu Maio", de Vladimir Maiakovski


Meu Maio

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!


Vladimir Maiakovski

HINO DA GREVE




É nosso dia companheiro
Nosso é o trabalho de nossas mãos
Nossas máquinas que movemos
Nossos os frutos da produção

Já vou me esperam os companheiros
Irmãos de classe para lutar
Parando as máquinas falaremos
E a nossa voz se ouvirá

É nosso dia companheiro
Nosso é o trabalho de nossas mãos
Nossas máquinas que movemos
Nossos os frutos da produção

Avante vamos classe operária
Avante todos os oprimidos
Parando as máquinas e no silêncio
Do operário se ouça o grito

É nosso dia companheiro
Nosso é o trabalho de nossas mãos
Nossas máquinas que movemos
Nossos os frutos da produção



* Hino composto e cantado pela primeira vez entre fins de outubro e início de novembro do ano de 1979, durante os "piquetões" nas portas das fábricas metalúrgicas que estavam em greve, na Zona Sul da cidade de São Paulo.Em 30/10, segundo dia de greve, o operário e metalúrgico Santo Dias da Silva, foi assassinado pela PM na porta da metalúrgica Sylvânia.

Democracia Participativa: um passo a frente para mudar o sistema político!


Pouco conheço da Venezuela, e conheceria menos ainda se não fosse Chavéz. Sua postura coletiva de governar e a disputa de projetos políticos que colocou na pauta da sociedade venezuelana foram fundamentais para que a militância de esquerda pudesse cunhar novos processos de participação, intervenção, mudanças e reformas.

Conhecemos pouco a história de nosso continente. "As veias abertas da américa latina" que nos escreveu Eduardo Galeano nos mostram que há muito por conhecer na "grande pátria" de Bolivar ou das lutas das "Mães da Praça de Maio" na Argentina ou o grande lutador Jośe Marti referencia cubana para o seu sistema educacional.

Mariategui, nosso intelectual marxiano e irmão peruano deu grande contribuição para que construissemos uma revolução socialista e continental com a diversidade dos povos do lado de cá.

Che abriu fronteiras e exportou o sentimento dos povos de cá para os demais continentes, nas imagens, gestos e culturas mostramos como na tradição indigena de nosso continente o colorido das lutas revolucionárias que iremos empreender.

Tudo isso para ver que o legado intelectual e político de Chavéz ainda está por emergir de uma nova tentativa de resistência ou de caminhada nas várias revoluções bolivarianas ou aqui na imagem de Luís Carlos Prestes e tantos e tantas outras que marcam a nossa história.

Para o Brasil falta. Falta essa cultura em nossas veias. O sangue latino na canção e voz de Ney Matogrosso é verdadeira, não podemos negar que o colonizador invasor foram diferentes, mas a pilhagem foi igual. A solidez da nossa nação pode esconder o medo de se levantar novas e necessárias bandeiras.

Vários países já fizeram uma repactuação com a sua história. Suas comissões da verdade colocaram no banco dos réus os ditadores e seus funionários diretos, pagaram com a dura verdade da história a reparação que a pátria exigia. Passado e futuro dependem do que fazemos no presente, sem reconciliação com o passado o  presente é incerto e o futuro é desanimador.

O Uruguai avnaça para polêmicas necessárias, a liberação d maconha não é apoio ao narcotráfico, mas uma decisão de autonomia e independencia nacional, mostrando que um país sulamericano tem um Congresso Nacional, uma sociedade que busca estar esclarecida e uma participação política que lhe dá liberdade para decidir seus rumos. 

O que o Uruguai nos traz de lição: não precismos ser tutelados nem pelo "velho mundo desenvolvido e arrogante", nem pelo império estadunidense. O rumo de uma país é decidido de forma soberana.

E no Brasil? No Brasil ainda a disputa de projetos políticos esbarram na forma como herdamos o Estado Nacional da ditadura civil militar, o atraso dos "homens de farda" institucionalizaram a violência sobre a população, a corrupção como meio de arranjar as coisas e ainda sairam livres dos crimes cometidos contra a humanidade.

Não pode ser a regra do (a) brasileiro (a) a ideai de que para "melhorar corta-se os dedos, porque os anéis valem alguma coisa", como no caso das eleições. Anular votos é o gesto dos acomodados, covardes e relaxados.

Não vejo que o Brasil seja o mais "desenvolvido" de nosso continente, pelo contrário, somos o mais passivo - mesmo com grande número de conselhos de controle social, conferências, etc. - nos falta ousadia para disputar projetos, retardamos decisões e ficamos tensos com reformas, aí a reformamos mais ainda ao ponto em que ela (a reforma) é tão conciliadora que não serve a ninguém.

Se em 2002 o "a democracia venceu o medo" em eleger Lula presidente. O nosso medo em perder as eleições precisa se tornar em coragem para fazer as mudanças e reformas populares contra quem na conciliação quer nos derrotar. 

Fortalecer a democracia participativa para além das eleições é um desafio danado, mas temos que assumir. Reorganizar o tempo da vida ou da sobrevivência e organiza-lo a nosso favor, em favor de que possamos participar da vida política. 

Há uma razão para que o transporte público seja ruim e penoso, para o endividamento bancário, comercial e de créditos, tudo isso está a serviço para impedir a sua participação nas decisões políticas. 

Já parou para pensar nisso?!

Desinformados ou metirosos? A quem interessa confundir a população!


Toda eleição é sempre a mesma palhaçada! Você até pode imaginar que eu vou me juntar ao coro que critica eleições sem participar ou mudar o sistema que aí está né. Desculpe, não sou idiota a esse ponto.

O ponto é que sempre retorna a velha máxima de grupos que se dizem politizados ou "cansados" da política depositando seus fiéis e sagrados conceitos em ideias falsas de "anulação" das eleições, como isso bastava para chocar ou mudar o sistema.

Primeiro é erro de quem acha ou acredita que isso possa mudar algo. Anular eleições são sempre a porta de entrada para ditaduras civis-militares e meios de manter oligarquias, elites e grupos econômico-financeiros decidindo sobre os rumos do país.

Segundo, essa ideia de "vamos protestar" não votando apenas deposita confiança em quem já mantém suas votos sob controle de favores, ajudas e apoio financeiro. Ou seja, a burrada dessa história é que além de não protestar por nada, você ainda mostra o quanto você "NÃO SE IMPORTA COM OS RUMOS DO PAÍS", e como ausente que é da política deve ser também diante dos outros nas suas relações.

Ou seja, você é um oportunista! Que não teve a chance de ser "esperto" ou corrupto e deposita nesse anti protesto sua indignação/ vontade de pertencer a aquele meio que você acha que é dos "bem de vida".

Terceiro, esse gesto é o gesto dos covardes. Começa não indo no conselho de escola do filho ou filha - e reclama da qualidade do ensino público, quando você que mora em condominio se ausenta das assembléias e reclama das taxas ou decisões, etc., e nas eleições quer "protestar", desculpa colega algo está errado em você.

Quarto, muitos "pagam o pau" para Europa Ocidental e os Estados Unidos, e mesmo com as diferenças sobre o tipo de democracia lá no "mundo desenvolvido" a participação faz parte da vida - inclusive e necessariamente dos trabalhadores (as) - que para além do tempo do trabalho, da família e etc., acompanham, debatem e se posicionam. 

Quinto, há um novo processo em curso no Brasil que é o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político que quer marcar sua posição entre os dias 01. a 07 de setembro onde esse instrumento político de manifestação pode pesar na hora de decidir os rumos do país.

Reproduzo abaixo informações esclarecedoras sobre as falsas informações sobre o voto nulo, branco ou abstenção, leia antes de dizer bobagens. O povo brasileiro lê pouco e acaba apoiando no automático essas bobagens que circulam na internet.

boa leitura e bom voto!





Voto nulo não cancela eleição

por Marina Jankauskas

Interpretação equivocada de lei confunde eleitores sobre o poder desse tipo de voto

A cada período eleitoral, surgem campanhas de votação nula em massa. Estimulados por boatos, correntes de e-mails e até mesmo cartilhas que ensinam a votar nulo, eleitores manifestam sua insatisfação em relação aos candidatos ou ao sistema político por meio dessa categoria de voto. Defende-se que “se mais de 50% dos votos forem anulados pelos eleitores, será necessária uma nova eleição”. No entanto, segundo Rogério Schmitt, doutor em ciência política e antigo professor da FFLCH, isso não é verdade. O voto nulo, juntamente com o voto em branco, não é computado no total de “votos válidos”. Isso significa que o resultado da eleição só leva em conta quem votou em algum candidato.

A confusão em acreditar que votos nulos têm o poder de eventualmente anular uma eleição se deve à má interpretação do Código Eleitoral e à divulgação dessas informações equivocadas. O artigo 224 da Lei 4737/65 diz que “se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país (…) o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias.” O erro está em pensar que nulidade é sinônimo de voto nulo. A nulidade a qual o artigo se refere é a anulação, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), dos votos de candidatos em casos de fraude, abuso de poder, corrupção, compra de voto, extravio ou furto de urnas. Somente nesses casos a eleição pode ser cancelada. Schmitt explica com um exemplo extremo: “se todos os eleitores menos um anularem o voto, o candidato que esse um válido votou vai estar eleito. Em tese, se isso acontecesse, a eleição seria considerada legal. Talvez não fosse considerada legítima, mas legal ela seria.”

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Para juristas, Urna não é mais lugar de protesto

Por não serem votos considerados votos válidos, a diferença entre voto branco e voto nulo não se aplica na prática. No ponto de vista objetivo, ambos têm o mesmo efeito, pois não possuem interferência no resultado das eleições. O que os difere é a simbologia. O voto branco significa “tanto faz”: o eleitor apático pensa que qualquer um dos candidatos pode ganhar e nada mudará; ele delega a responsabilidade e o poder de escolha para a maioria. Já o voto nulo é uma manifestação do desagrado do eleitor, que não se identifica com nenhum dos candidatos, pois não são aptos ou dignos de receber seu voto. Para André Singer, professor da FFLCH e especialista em comportamento político e pesquisas eleitorais, ambos são bem distintos. “Para resumir, em princípio seriam votos com sentido oposto. Um de recusa total do processo eleitoral [voto nulo] e outro de aceitação total desse processo, incluindo seu resultado [voto em branco]”.

Essa diferença de significado é uma herança de antes de 1997, quando os votos brancos eram considerados válidos em eleições proporcionais (para Deputado Federal/Estadual e Vereador). Após a Lei 9.504/97 do Código Eleitoral, o voto branco deixou de ser computado em todas as eleições.

Mesmo assim, o Brasil ainda possui uma alta taxa de votos nulos e brancos, em comparação com outros países. Tanto para Schmitt quanto para Singer, grande parte disso se deve à obrigatoriedade da eleição. Em países onde o voto é facultativo, o número de votos nulos e brancos é baixíssimo. Por outro lado, sua taxa de abstenção é muito maior. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela fica por volta dos 50%. Em uma pesquisa do Datafolha de maio desse ano, 44% dos entrevistados disseram que não votariam se a eleição não fosse obrigatória. “No sistema de voto facultativo a abstenção é alta, por que quem não está afim não precisa ir votar. Por outro lado, os votos brancos e nulos são baixos. Não faz sentido a pessoa acordar, ir para o local de votação, pegar fila, se aborrecer, chegar e votar nulo ou em branco. Melhor ficar em casa”, explica Rogério Schmitt.





terça-feira, 29 de abril de 2014

Uma guerra necessária para um Brasil necessário!



Guerra é uma palavra forte. Sim ela remete a caos, humanidade em xeque, vidas em jogo, etc., ou seja todo tipo de problema que possamos imaginar. 

E se a guerra fosse silenciosa como na história do sapo e a caneca de água quente, na lógica o sapo se imerso na água e colocada para ferver leva o bichinho a uma morte silenciosa. Agora se aquecer a água e empurrar o sapo para caneca, ops, sua reação é imediata ele reage. Sim não somos sapos e segundo a teoria da evolução não somos macacos.

Guerras elevam o sentido de civilização, sim. Poderiam ser evitadas para que não houvesse tanto caos e desumanidade, pois o homem na sua forma animal aflora em guerras: mulheres são estupradas, crianças perdem a infância, enfim todo tipo de desumanidade.

Mas podem resultar nas comissões da verdade punindo ditadores, reafirmam direitos humanos contra desumanidades como a escravidão, fim de racismos de Estado (como na África do Sul), e assim vai.

No Brasil uma elite, uma pequena elite branca não tolera perder poder, seja ele qual for. O Estado brasileiro é governado desde 2003 por uma nova força política que não compõe o DNA dos setores conservadores e mesmo que seja um governo do PT com alianças á direita (PMDB e companhia), essa "tolêrancia" tem tempo e medida.

Exemplos não faltam aos milhares e o maior expoente que expressa essa luta contra o PT e o governo de alianças é a mídia.

O comportamento dos meios de comunicação - empresas privadas com concessão pública - é de classe. Defendem um padrão para o país, impõem uma cultura, usam aquilo que detestam (políticas públicas) contra os governos em nome da "denúncia", mas impedem grandes reformas que poderiam mudar essa situação e utilizam o "terror de Estado" e a violência frutos desse sistema como meio de controle.

Não sair na rua serve para os pobres. Aos ricos é preciso segurança para que se possa viver uma vida tranquila em shoppings, restaurantes, parques...

Jornais impressos atendem a todos os segmentos e pertencem aos mesmos donos, formadores de "opinião" falam de uma cultura que precisa melhorar e seus empregadores de rádio e TV reproduzem o que interessa as gravadoras e produtoras, cretinos revistidos de jornalistas se sentem superiores aos demais profissionais, aos fatos e as informações verdadeiras.

A comédia torna-se uma arma contra as reformas sociais, populares e contra o pensamento progressista e democrático. Se ri de tudo, inclusive do próprio povo!

E na contramão disso?

A insurgência popular por meio dos seus gestos. Sim palavra mais forte do que guerra, é insurgência. Insurgir contra algo, alguém ou alguma coisa que oprime, reprime e comprime vontades coletivas.

De 01. a 07 de setembro de 2014 parte da população brasileira irá ocupar novamente o seu lugar na história.

Haverá um plebiscito popular, uma forma de manifestação e consulta ao povo, sem valor legal, mas com forte valor moral.

O plebiscito irá peguntar se a população quer (SIM), ou não para que se cire uma constituinte exclusive e soberana do sistema político.

A constituinte é a maior iniciativa que o povo realiza para defender seus interesses coletivos.

E será sobre o sistema político atual. Não apenas eleições - mais principalmente - sobre como tornar o sistema político brasileiro mais democrático, mais participativo, mais soberano, mais transparente e com maior controle da sociedade sobre os rumos. 

Desburocratizar a democracia é um grande desafio.

Controlar socialmente a mídia é um grande desafio.

Ocupar nosso espaço na política é um grande desafio.

O povo brasileiro já teve sua coragem colocada contra parede várias vezes, em todas vencemos no tempo certo ou no momento necessário.

Agora esse é o novo desafio!


4ª Bicicletada de Guarulhos

Mais de mil ciclistas foram prestigiar o maior evento ciclístico da cidade de Guarulhos (SP), promovida pela Coordenadoria da Juventude da Prefeitura. Fazer políticas públicas de juventude exige ousadia, participação, parcerias e principalmente reunir a galera!

Assista e fique conectado!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Marco Civil da Internet. “A guerra recém começou”. Entrevista especial com Sérgio Amadeu


“Quando se abre mão da privacidade, da intimidade, em troca da segurança, na verdade se está construindo um cenário totalitário, autoritário”, alerta o professor.
jornalggn.com.br
O texto do Marco Civil foi aprovado na Câmara dos Deputados, garantindo uma versão mais alinhada à proposta construída pela sociedade civil em um extenso debate, desde 2009, sobre o tema. Entretanto, a matéria ainda precisa ser aprovada peloSenado para que possa ser sancionada pela Presidência da República. De um lado, ativistas pela liberdade na rede, de outro, uma bancada conservadora que tende a uma visão mais alinhada aos interesses das empresas de telecomunicação. Soldados das duas trincheiras se preparam em busca de um só objetivo, o Marco Civil da Internet. A primeira batalha foi vencida pelos ativistas, mas esse foi apenas o primeiro capítulo de uma guerra que está recém começando.
“O texto do Marco Civil da Internet defende claramente aneutralidade da rede e ele é o texto que assegura que a internet continue livre, aberta e diversificada. Nós conseguimos impedir os ataques mais fortes das operadoras”, explicaSérgio Amadeu, em entrevista por telefone à IHU On-Line. Entretanto, ele explica que há tensionamentos no texto. “Sem dúvida alguma, as companhias de telefonia, junto com um grupo de deputados conservadores, inseriram noMarco Civil alguns dispositivos que são ruins, mas que não prejudicam a essência do projeto, nem destroem a neutralidade na rede”, considera.
Segundo dados do Portal de Notícias do Senado, o texto que foi enviado pela Câmara dos Deputados já recebeu 41 emendas. “Elas (as companhias de telecomunicações) já estão organizando o lobby das operadoras com o Senado numa tentativa de alterar a redação da neutralidade. Por isso nós estamos nos preparando para uma batalha, porque se o projeto de lei for mudado no Senado, ele volta para a Câmara, e não volta para ser melhorado, volta para ser piorado”, destaca o entrevistado.
CODE Ipea
Sérgio Amadeu, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo – USP, participou da implementação dos Telecentros, na América Latina, e da criação do Comitê de Implementação de Software Livre – CISL. Também foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI da Casa Civil da Presidência da República. É professor na Universidade Federal do ABC – UFABC. É autor de, entre outros, Software Livre: a luta pela liberdade do conhecimentoExclusão digital: a miséria na era da informação (São Paulo: Perseu Abramo, 2001); eComunicação Digital e a Construção dos Commons: redes virais, espectro aberto e as novas possibilidades de regulação.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Afinal de contas, depois de todas as quedas de braço entre as empresas de telecomunicação e ativistas, de que maneira ficou o texto do Marco Civil da Internet enviado ao Senado?
Sérgio Amadeu – O texto do Marco Civil da Internet defende claramente a neutralidade da rede. Ele é o texto que assegura que a internet continue livre, aberta e diversificada.
Nós conseguimos impedir os ataques mais fortes das operadoras. Sem dúvida alguma, as companhias de telefonia, junto com um grupo de deputados conservadores, inseriram no Marco Civil alguns dispositivos que são ruins, e que já estão organizando o lobby das operadoras com o Senado, numa tentativa de alterar a redação da neutralidade. Por isso, nós estamos nos preparando para uma batalha, porque se o projeto de lei for mudado no Senado, ele volta para a Câmara, e não volta para ser melhorado, volta para ser piorado.

"O  Marco Civil defende a neutralidade" 

Quanto mais interferência das empresas de telecomunicações, mais haverá influência no financiamento de campanha, aumento do poder das teles e da força delas junto aos grupos de deputados pragmáticos  que não têm nenhum compromisso com as causas finais, mas apenas com a suas reeleições.
Assim, eu conclamo a todos para nos ajudar a pressionar o Senado, para que possamos ter a Internet mais avançada no mundo. Quem acha isso não são apenas os ativistas da liberdade da rede no Brasil, são pessoas que sempre lutaram pela liberdade e ajudaram a construir a Internet, como o criador da web,Tim Berners-Lee, que recentemente pediu apoio pela aprovação do marco civil com neutralidade da rede. Então, nós estamos ganhando, por enquanto nós estamos ganhando!
IHU On-Line – O atual texto da Lei está mais próximo da proposta construída coletivamente desde 2009, por meio das audiências públicas, ou mais próximo aos interesses corporativos?
Sérgio Amadeu – Ele ficou mais próximo da proposta da Sociedade Civil, apesar de ter tido várias idas e vindas. Quero lembrar, inclusive, que eu me opus a uma das redações dele, referentes ao segundo parágrafo no artigo 15 [1], que inaugurava no Brasil a remoção de conteúdos com ordem judicial a pedido da Rede Globo e da indústria do copyright. Foi feito um acordo e eles retiraram isso; nós conseguimos vencer. Há alguns problemas que advêm do fato de o relator ter incorporado alguns textos vindos de bancadas conservadoras, que do contrário não votariam no projeto. Então, o projeto da sociedade civil era bem mais avançado, mas eu considero uma vitória descomunal o fato de o projeto ter passado por um Congresso Nacional tão conservador como o nosso.
Lei pela liberdade
Nós estamos prestes a ter uma vitória colossal no mundo. Queria deixar isso claro. Em todo o planeta, nós estamos vivenciando leis para criminalizar, bloquear e controlar a Internet.
No Brasil, o Marco Civil vem para fazer com que a Internet continue livre e aberta. Vários jornalistas me perguntavam: “Mas o que muda na vida do cidadão com a aprovação do Marco Civil?” Eu falava: “Olha, não muda nada! A Internetcontinuará livre, coisa que não vai acontecer se a gente não aprovar rapidamente o Marco Civil”. Por quê? Porque as operadoras de telefonia já articulam uma série de ações para gradativamente ir transformando a internet em uma grande rede de TV a cabo.

"Se o projeto de lei for mudado, será piorado"

IHU On-Line – É possível apontar alguma brecha na legislação que permita interpretações no sentido de impactar a neutralidade da rede e mesmo a privacidade?
Sérgio Amadeu – Sim, existe. Por exemplo: as operadoras de telefonia fizeram um 'cavalo de batalha' e conseguiram incluir no artigo 3º [2] um princípio  o da liberdade de modelo de negócios, desde que respeitando os demais princípios da lei , e ele nos dará neutralidade. Mas por que eles fizeram questão de colocar essa redação? Exatamente para poder brigar depois no Judiciário. Sabendo que eles podem perder, e sem a aprovação do Marco Civil, eles querem continuar a disputa, continuar a guerra, e a guerra vai virar jurídica, com a interpretação do que for aprovado no Marco Civil. Então, nós temos aí um exemplo claro.
Privacidade
Nós também temos outro problema: eles se aliaram aos setores conservadores e conseguiram iniciar a guarda de lobby por aplicação. Isso significa que todas as empresas de comerciais que têm aplicações na web vão ter que guardar lobby por um período de tempo obrigatoriamente, o que permite o manejo de dados e o uso como várias empresas fazem.
Isto é, vão organizar o nosso perfil para entender o comportamento das pessoas que acessam seus sites. Na verdade, ao invés de estarem impedindo que as empresas guardem os metadados que caracterizam nossa ação na rede, que elas manipulem os nossos rastros digitais, esses grupos de conservadores estão na contramão, estão fazendo de tudo para quebrar a nossa privacidade. Eles dizem que fazem isso em defesa da nossa segurança. E eu digo que, quando se abre mão da privacidade, da intimidade, em troca da segurança, na verdade se está construindo um cenário totalitário, autoritário, e que no momento seguinte vira exatamente o seu oposto, que é a incerteza, a insegurança, a chantagem, o controle por parte das corporações. Agora eles colocaram isso no Marco Civil  a guarda de lobby e aplicação sobre o período de tempo , mas nós temos além de dados pessoais que vão ser enviados ao Congresso, onde nós trataremos exatamente desse assunto de modo detalhado. Assim, não é um grande prejuízo colocar isso no Marco Civil, porque, no que se refere ao projeto de dados pessoais, nós vamos poder efetivamente travar uma batalha em defesa da privacidade. Então, já alerto a todos que a guerra mal começou.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Sérgio Amadeu – Nós temos chances de aprovar o Marco Civil no Senado, mas não vai ser tão simples. Nós vamos ter que começar a nos mobilizar, porque não está fácil!
Notas
1 - Art. 15 - Salvo disposição legal em contrário, o provedor de aplicações de Internet somente poderá ser responsabilizado por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente.
2 - Art. 3º - A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição;
II - proteção da privacidade;
III - proteção aos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade da rede, conforme regulamentação;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; e
VII - preservação da natureza participativa da rede.
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria, ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.