Mais de duas décadas o estado de São Paulo é governado por uma mesma elite no poder. O PSDB e seus aliados, apadrinhados e protegidos só tem um saldo a comemorar: privatizaram quase tudo em nome dos interesses dos "amigos" empresários e do lucro fácil que financia suas campanhas.
De energia a "quentinhas" nas penitenciárias, de estradas a hospitais, enfim, muito do patrimônio público foi privatizado e entregue para "competente iniciativa privada". Além das privatizações parciais como nas pequisas desenvolvidas nas universidades públicas paulistas (USP, UNESP e Unicamp), da Sabesp na sua área de serviços entre outras.
O que está por trás disso é o maior esquema de manutenção de grupo no poder que pode se pensar na história política do Brasil.
Escândalos no metrô e nos trens mostram que o que não foi privatizado pode muito bem ser terceirizado ou financeirizado nas formas de execução, arrecadação ou prestação dos serviços.
E nas escolas, qual é o assunto?
A (des) organização escolar não é novidade! 1995 foi o inicio de um processo que impôs uma verdadeira destruição deliberada da educação com a conivência da burocracia escolar nas diretorias de ensino e algumas direções de escola. Escândalo ainda maior por que em vez de dialogo, foi a imposição.
O fechamento e morte terminal do "projeto" CEFAM (Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério) era um projeto ousado e que inseria a primeira ideia do que seria "estudar em tempo integral" formando bons profissionais. Com uma bolsa remunerada e permanência em tempo integral o Cefam era inovador e incomodava por estar formando professores num campo de pensamento mais critico e comprometido de fato com o ensino, pois na base da sua formação estava preparar profissionais para atuar no magistério.
Aqueles que defenderam sua extinção usam de forma canalha a LDB (Lei de Diretrizes de Base da Educação), um mostro aprovado no apagar das luzes do governo FHC e com a triste e equivocada ajuda do relator, o senador Darcy Ribeiro, onde alegavam que a nova LDB definia novas bases para os níveis de ensino, inclusive o técnico e o superior.
Falácia, pura falácia. O governo poderia optar em alocar a estrutura e o projeto numa modalidade avançada de ensino, poderia com apoio inclusive dos educandos e educadores ter reconhecida o caráter inovador do projeto. Mas preferiu encerrar. Matou-se parte da resistência.
Os olhos na década de 1990 se voltada para crise da educação chilena, que foi privatizada durante a ditadura de Pinochet e criou um profundo abismo entre as crianças e adolescentes chilenos, pois em nome da "qualidade" as entidades gestoras das escolas (que antes eram públicas) escolhiam os "melhores" alunos já na matrícula. Mais de trinta anos se passaram, os estudantes fizeram greves históricas com milhões nas ruas e agora a presidenta Bachelet anuncia a progressiva reestatização do ensino a começar pelo fundamental, lá eles aprenderam que educação deve ser pública e universal.
De mão dada com o capital.
Alckmin não é menos medíocre que Pinochet e manda ver aqui no processo da (des) organização das escolas públicas. Pensem: se hospitais públicos foram entregues para máfia das OS (organizações 'sociais"), lucrando muito, atendendo pouco e garantindo direitos em anda, o que serão das escolas públicas de ensino médio "reorganizadas"?
Os sinais estão no ar. O mercado do ensino superior com a alta competitividade e um aumento brutal desde o governo FHC, segundo Sampaio (2011) o ensino superior privado no Brasil corresponde a 75% da oferta de vagas, mostrando que o "mercado" educacional atingiu níveis altíssimos.
Interesses internacionais agora ameaçam mais ainda a educação superior no Brasil, onde vários grupos e empresas educacionais buscam de toda forma derrubar da lista dos direitos sociais das constituições dos países membros da OMC (Organização Mundial do Comércio), com a alegação que educação deva ser ofertada na modalidade de "serviços" podendo "ampliar" oportunidades.
Mesmo com algumas barreiras nacionais, o Brasil foi invadido por essa lógica e grandes grupos empresariais tem se apropriado de instituições "testa de ferro" para adquirir e comprar outras instituições pequenas ou familiares.
Vejam o que a matéria do portal R7 nos traz,
" Escolas, mesmo desorganizadas administrativamente, ainda são um bom negócio". A frase, dita pelo professor Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em planejamento em gestão em ensino superior, reflete como o mercado está vendo as instituições de ensino no País.
Desde a criação da lei que estrutura o sistema brasileiro de defesa da concorrência, em 2011, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou 23 operações de aquisições e fusões de empresas no setor da educação.
Como os processos ocorrem com os valores sob sigilo, não é possível estimar um valor certo sobre o total das transações. Porém, em resposta ao Portal R7, o órgão informou que é obrigatório que empresas notifiquem ao Cade atos de concentração onde um dos grupos envolvidos tenha faturamento anual de pelo menos R$ 750 milhões no ano anterior à operação e o outro grupo, R$ 75 milhões." (R7 em 30/092013)
E os valores não param por aí, estamos falando de um negócio de bilhões de reais.
Grupos como editora Abril estão "migrando" para os negócios voltados para consultorias e gestão, sim gestão, da educação, sendo esse um novo "nicho " de mercado. Uma vez que se confirmem o sucateamento do ensino médio, precarização das suas relações, sufocamento dos movimentos de professores, redução das ofertas de vagas e depois de tudo isso....escolas "reorganizadas", para quem o governo irá entrega-lás?
A sociedade tem o direito e a obrigação de saber, conhecer e avaliar que tipo de escolas estamos falando? Que acesso será oferecido?
O fetiche das escolas particulares apenas ocultam o ranqueamento e a meritocracia que ainda definem os "melhores" na educação brasileira. Um aluno em uma instituição privada pode ir melhor no acumulo de informações, mas não na apreensão do conteúdo. Se a educação privada fosse melhor filho de bacana não ia precisar de cursinho particular.
Outra contradição que precisa ser urgentemente resolvida, e aí é a tarefa do Estado enquanto instituição que deve antes de tudo promover o que diz a constituição: "acesso a educação pública e de qualidade.".
Porque os filhos e filhas da classe trabalhadora ralam nas escolas públicas e o dos ricos e da classe assalariada de renda média as escolas particulares. E quando o acesso a universidade pública se abre isso se inverte, pois as crias dos bacanas vão para as públicas e os da classe trabalhadora pagam mensalidades!
Se você ainda pergunta do que se tratam as ocupações das escolas públicas. Eu digo: dignidade humana.
Essa panela de pressão vem desde a década de 1990 com reformas neoliberais e tentativas de passar o que é público e universal para o setor privado que é restrito e oportunista.
Quando alunos ocupam e inserem um anova dinâmica de sociabilidade com comissões de limpeza, segurança e atividades lúdicas eles estão mais do que defendendo o "prédio", mas sim a ideia do que é patrimônio público. A educação pertence a uma sociedade, só ela pode destruir o velho e construir o novo.
Essa estrutura administrativa e burocrática da educação paulista esta podre. Cheia de burocratas, alguns "burro" cratas e muito "ladro" cratas, e com isso nem toda lei, nem todo governo ou boa vontade podem mudar isso.
Ocupar é legitimo. Num Estado moderno e contemporâneo como o que o nosso busca ser é altamente inovador a ideia de que cidadãos e cidadãs preocupados com o seu problema individual (que é estudar) deva com suas forças fazer uma luta coletiva (a escola é de todos/as).
Fui nessa terça na escola pública Conselheiro Crispiniano, no centro de Guarulhos. Eu estudei lá, a contragosto, mas estudei lá. A contragosto porque eu e meus colegas fomos vitimas da (des) organização do governo Covas e do Brotero (na Vila Progresso) fomos para lá.
No Conselheiro já era do movimento estudantil. Lá primeiro conheci o peso da discriminação, pois a escola era considerada a melhor escola pública e dominada pelos filhos e filhas dos bacanas (na verdade pela classe assalariada média falida que não podia mais pagar escola particular), e não foram poucas as criticas a nós "favelados" recém chegados.
Lá não havia filas enormes para saborear a merenda, diferente da minha ex escola, e uma cozinheira muito simpática uma vez me confidenciou que os alunos tinham "vergonha" de comer lá, pois o status estava na cantina.
Bem choques culturais a parte, fui do Grêmio Estudantil, conheci professoras comprometidas com a educação e com a luta pela qualidade no ensino, fiz amigos que até hoje se correspondem e agora formado em Serviço Social, mestre e doutorando sinto orgulho do que vi e senti: o levante dos alunos e ocupar a escola que antes segregava pela condição financeira, hoje esta dando uma aula de democracia!
É isso aí a luta tarda, mas não falha!
Veja também: http://www.clickguarulhos.com.br/alunos-do-conselheiro-mostram-que-estao-cuidando-da-escola/
E para não acharem eu exagero, instituições de ensino estão mais no caderno de economia do que educação: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/3809528/acoes-setor-educacional-chegam-cair-quase-2015-hora-comprar