Boa leitura!
ECONOMIA NACIONAL
Recessão prossegue e impõe mudança de estratégia: O resultado do PIB do terceiro trimestre
no Brasil assustou a maioria dos analistas, ao indicar uma deterioração ainda maior que a esperada. Na média,
os analistas esperavam uma queda de 1,2% do PIB na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No
entanto, os resultados divulgados pelo IBGE mostram uma queda de 1,75% nesta comparação, totalizando
queda de 4,5% na comparação com o mesmo trimestre de 2014. Todos os componentes do PIB apresentaram
queda: pela ótica da oferta, a indústria teve queda de 1,3%, a agricultura diminuição de 2,4% e os serviços -1%;
já sob a ótica da demanda, a queda do consumo das famílias foi de 1,5%, os investimentos caíram 4% e apenas
o consumo do governo apresentou leve crescimento, de 0,3%. O alento veio do setor externo, onde as
importações caíram 6,9% e as exportações diminuíram apenas 1,8%, aumentando o superávit comercial e
reduzindo a necessidade de financiamento doméstico em moeda estrangeira.
Comentário: A queda do PIB, apesar de já aguardada, veio acima do esperado.
A recessão prossegue em
um ritmo muito acelerado, destruindo emprego, renda e lucros pelo caminho. A ideia de uma “recessão
controlada”, planejada para amenizar os efeitos inflacionários da recomposição dos preços relativos (tarifas
públicas e câmbio), fracassou e deixou para trás uma recessão fora do controle, não trazendo consigo nenhum
elemento que aponte para a recuperação econômica no curto/médio prazo.
A recomposição dos preços
ocorreu, trouxe consigo os efeitos inflacionários (que não foram significativamente afetados pela alta dos juros
ou queda do PIB) e não trouxe a recuperação da confiança dos empresários, muito menos a recomposição das
taxas de rentabilidade que poderiam promover a retomada do investimento privado. Conforme já alertado por
diversos economistas, a estratégia recessiva apenas serviu para destruir os horizontes de investimento privado,
deteriorar as expectativas empresariais na esteira da queda da demanda agregada e da retração do crédito,
além de deteriorar ainda mais as combalidas finanças públicas devido à queda de arrecadação decorrente da
recessão.
Sair desta armadilha que o país adentrou não será fácil e passará, necessariamente, por uma
mudança no discurso e na ação política e econômica do governo, que deve comunicar que o ajuste dos preços relativos se completou e que, para o futuro, o tema a ser enfrentado é o da retomada do crescimento
econômico. As ferramentas, mesmo que pouco ortodoxas, existem e estão à disposição do governo: a
manutenção do atual patamar cambial (que incentiva as exportações e reduz importações), a manutenção da
atual taxa de juros real (que permitirá a redução da taxa nominal, uma vez que os índices inflacionários caírem
no início de 2016) e a retomada dos investimentos e crédito, através da criação de um fundo de investimentos
que utilize parte do excesso de reservas internacionais que o país acumulou ao longo dessas décadas.
A
comunicação adequada do fim do ciclo recessivo, da abertura de uma nova estratégia (negociada com os
setores empresariais e trabalhadores) de retomada do investimento e do crescimento, além da escolha
adequada das ferramentas utilizadas para esta estratégia(priorizando investimentos públicos e privados com
alto efeito multiplicador, além de crédito direto às empresas e consumidores, não ao sistema bancário privado),
pode ser a chave para a superação desta recessão, que ameaça prosseguir a todo vapor ao longo de 2016.