segunda-feira, 14 de março de 2016

A democracia vive horas decisivas em nosso país.

Pela Legalidade Democrática
Fórum 21 convoca a intelectualidade brasileira à defesa da democracia, contra o golpe


A democracia vive horas decisivas em nosso país. 


O ar empesteado de avisos da véspera, lubrificados pelo Jornal Nacional, e pelas manchetes desta fatídica 6ª feira, 4 de março de 2016, desdobrou-se na ruptura longamente cevada, desde outubro de 2014. 

Os agentes da PF chegaram a residência do ex-presidente Lula e o levaram sob condução coercitiva. Praticamente sequestrado: durante horas não havia notícia oficial de seu paradeiro, com a desculpa de se evitar manifestações, ou seja, parecem temer o povo ou a democracia. 

A revanche dos interesses derrotados nas eleições presidenciais do ano passado desfechou assim seu bote final contra a soberania das urnas. 


Dê-se a isso o nome que se quiser dar. 

Os acontecimentos das últimas horas, a obscena sintonia entre a mídia e a polícia partidarizada, falam por si. 

O pudor e as aparências foram sacrificados em nome do que importa: a caça implacável à Lula, apontado pelo Datafolha, no início desta semana, o melhor presidente da história deste país, por 37% dos brasileiros 


É impossível levar a cabo o projeto de restauração neoliberal preconizado pelos grandes interesses do dinheiro local e estrangeiro, com um estorvo que detém esse trunfo na urna. 

Não se trata da pessoa do ex-presidente. 

O que foi sequestrado neste 4 de março de 2016 é o que ele representa em carne e osso – com todas virtudes e limitações da carne e do osso humanos. 

Os pilares erguidos desde 2003, na construção da grande ponte de acesso dos brasileiros aos direitos da civilização e da democracia social, estão sendo demolidos. 

A caça a Lula, consumada agora, é a parte mais explosiva dessa faina demolidora, edulcorada de cruzada ética pela narrativa dominante. 

O Fórum 21 nasceu como um espaço ecumênico de aglutinação da inteligência brasileira. 

Reúne todos aqueles empenhados em contribuir para a construção da frente democrática e progressista em formação no país. 

Não podemos subestimar o que temos pela frente a partir de agora. 

O assalto em curso visa a democracia, as lideranças que dificultam a subordinação radical do país aos interesses rentistas e, em última instancia, sonegar um futuro melhor ao povo brasileiro. 

O ataque desfechado por José Serra esta semana às maiores reservas de petróleo descobertas no século XXI ilustra a força motriz desse mutirão. 


Dilapidar o pré-sal e o potencial que ele representa em direitos e autonomia econômica simboliza o modelo que eles querem vestir a fórceps no país. 

Isso não se faz sem o uso da força. 

Reacende-se a velha fornalha que incinerou ou tentou incinerar governos, soberania e direitos em 1932, 1954, 1962, 1964, 1989 … 

Hoje, como das vezes anteriores, vivemos uma transição de ciclo de desenvolvimento. 

Esgotou-se um capítulo do crescimento brasileiro. 

Outro precisa ser construído. 

A complexidade da travessia consiste no fato de que o velho já não atende às necessidades nacionais, mas o novo ainda não se estruturou para servi-las. 

Estamos na soleira de escolhas cruciais na vida de uma nação. 

O passo seguinte terá como bússola a solidez econômica voltada para atender as necessidades e urgências do nosso povo? Ou o país, seu parque fabril, seus recursos e seu gigantesco mercado de massa serão reduzidos a um anexo de interesses dissociados das urgências nacionais? 

É isso que está em jogo nas horas que rugem. 

Para resistir não basta a emoção. 

É preciso organização --local, regional, nacional. 

É preciso impulsionar uma espiral ascendente de mobilizações, consistentemente preparadas. 

O Fórum 21 conclama seus integrantes, o mundo acadêmico e todos os intelectuais brasileiros a cerrarem fileira ao lado da democracia. 

Não apenas para resistir. 

Mas para fazer dessa resistência uma ponte de repactuação da nossa riqueza e do nosso potencial, com o potencial e a riqueza do nosso povo. 

Esse é o sentido das reuniões que o Fórum 21 convocará em seguida, para discutir o novo degrau do golpe, a crise econômica, a partidarização da justiça e a manipulação do discernimento social pela mídia. 


Essa maratona não se confunde com uma tertúlia acadêmica. 

Trata-se de aglutinar a inteligência brasileira para refletir e agir. 

E isso significa, entre outras coisas, levar a círculos amplos da população a verdadeira natureza do embate que se acirra e se acelera. 

O embate entre um projeto de sociedade para 30% de sua elite; ou a árdua luta pela construção de uma verdadeira democracia social no Brasil. 

Em breve, a agenda de encontros do Fórum 21 nas universidades e capitas brasileiras será divulgada. 

Todos nós sabemos de que lado devemos marchar. 

Trata-se agora de exercer integralmente esse discernimento juntando forças na trincheira ecumênica do Fórum 21 e de outras iniciativas democráticas em curso. 

Resistir ao golpe para construir um Brasil mais justo e soberano: essa é a tarefa para a qual a História nos convoca nesse momento. 

Só podemos cumpri-la juntado forças em torno da nossa maior arma: a palavra engajada. 



Assinaturas: 


Alexandre Rocha Padilha - Secretário Municipal de Saúde de São Paulo
Alipio Freire - Militante político
Altamiro Borges - Jornalista
Andrea Loparic, professora de Filosofia/USP
Andrei Koerne - Professor de Direito do Largo São Francisco - USP
André Vitor Singer - Professor da FFLCH-USP
Anivaldo Padilha - Presidente do Fórum 21
Arlete Moysés Rodrigues, professora/Unicamp
Bernardo Kucinski - Professor aposentado de comunicação da USP e Escritor
Breno Altman - Jornalista
Carlos Eduardo Fernandez Da Silveira
Carolina Maria Pozzi de Castro, professora/UFSCar
Claudineu De Melo - Advogado
Clemente Ganz Lucio - Diretor do DIEESE
Eduardo Fagnani - Professor de Economia da UNICAMP
Erminia Maricato - Professora de Arquitetura da USP
Fabio José Bechara Sanchez - Professor de Sociologia da UFSCAR
Fernando Morais - Escritor
Flavio Wolf Aguiar - Professor e Jornalista
Francisco César Pinto Fonseca - Professor de Ciência Política da FGV
Fábio Konder Comparato - Jurista
Gabriela Calazans, professora (Santa Casa)
Georgia Haddad Nicolau - Jornalista
Gerson Sobrinho Salvador De Oliveira - Médico
Gilberto Bercovici - Professor de Direito do Largo São Francisco - USP
Gonzalo Berron - Economista
Guilherme Santos Mello - Professor de Economia da UNICAMP
Igor Fuser - Jornalista e Professor de Relações Internacionais da UFABC
Jean François Germain Tible - Professor de Ciência Política da USP
Joaquim Calheiros Soriano - Diretor da Fundação Perseu Abramo
Joaquim Ernesto Palhares - Secretário Político do Fórum 21
José Luiz Del Roio - Militante Político
José Reinaldo Carvalho - Jornalista
José Ricardo Maciel Kobayaski - Professor
Kenarik Boujikian - Desembargadora do TJSP
Ladislau Dowbor - Professor de Economia da PUC-SP
Laura Capriglione - Jornalista
Laurindo Leal Filho - Professor de Comunicação da ECA-USP
Leda Paulani - Professora de Economia da USP
Lucas Baptista De Oliveira - Mestrando da UNICAMP
Lucius Provase - Professor de teoria literária
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo - Professor de Economia da UNICAMP e FACAMP
Luiz Kohara, arquiteto e urbanista
Léa Maria Aarão Reis, Jornalista
Magda Barros Biavaschi - Desembargadora aposentada do RS
Marcelo Brandão Ceccarelli - Mestrando da UNICAMP
Marcio Pochmann - Presidente da Fundação Perseu Abramo e membro do Fórum 21
Maria Alice Vieira - Membro do Fórum 21
Maria Inês Nassif - Jornalista e Membro do Fórum 21
Maria Luiza Flores da Cunha Bierrenbach
Maria Rita Garcia Loureiro Durand - Professora de Ciência Política da FGV
Martonio Mont'Alverne Barreto Lima, jurista
Nuno de Azevedo Fonseca, professor FAU/USP
Paulo Roberto Salvador - Jornalista
Pedro Paulo Zahluth Bastos - Professor de Economia da UNICAMP
Pedro Rossi - Professor de Economia da UNICAMP
Reginaldo Mattar Nasser - Professor de História da PUC-SP
Reginaldo Moraes - Professor de Ciência Política da UNICAMP
Ricardo Guterman - Servidor da Assembleia Legislativa de SP
Ricardo Musse - Professor de Sociologia da USP
Rodrigo de Luiz Brito Vianna - Jornalista
Rosa Maria Marques - Professora de Economia da PUC
Rubem Murilo Leão Rêgo - Professor de Ciência Política da UNICAMP
Silvio Angrisani Caccia Bava - Jornalista
Socorro Gomes - Presidenta do Conselho Mundial da Paz
Tais Ramos - Advogada e professora de Ciência Política
Vera Soares - Professora
Vicente Carlos Y Pia Trevas - Sociólogo
Vicente Trevas, Sociólogo
Wagner Nabuco de Araujo - Jornalista
Walfrido Jorge Warde Jr - Advogado
Walquiria Gertrudes Domingues de Leão Rego - Professora de Ciência Política da UNICAMP