quarta-feira, 31 de agosto de 2016

31 de agosto, dia da consumação do golpe!



Isso não é igual a 1992 e Dilma não é Collor. As coincidências na história não são "repetições de fatos" ou "dejá vu", mas como se comportam as forças políticas majoritárias quando tem seus interesses ameaçados ou encontram suas "janelas de oportunidades", hoje em paralelo a 1964 foi num dia 31 (mas de março) o dia em que as tropas do general golpista, Kruel, de Minas Gerais (o mesmo estado do senador golpista, Anastásia agora em 2016), movimentaram-se para Brasília.

Golpe consumido, o último fio de esperança era ver um senador golpista ter um ataque epilético de consciência sobre o processo de cassação por crime de responsabilidade por uma movimentação fiscal atípica no orçamento da União. (A direita chamou isso de "pedalada fiscal", eu chamo do que eu quero).

Isso abre precedente no processo republicano? Não. Pois, o julgamento da presidenta Dilma teve todo seu processo conduzido por uma maioria do Congresso que rendia fidelidade a ela até que aparecesse proposta melhor no jogo de interesses. E surgiu.

E esse pode ser o primeiro problema do governo ilegitimo e golpista de Temer, como conciliar uma política econômica ortodoxa, onde diminuir o Estado não se limitam apenas a reduzir os recursos para a área social, mas também causar a sangria dos caprichos dos parlamentares aliados? E do outro, como manter maioria num congresso onde a sua extensa maioria espera favores, cargos e verbas públicas para os diversos estelionatos eleitorais Brasil afora?

Ainda bem que as respostas não são problema meu. Meu problema é saber o quanto de tempo posso dedicar a bater, atacar, derrotar e tripudiar sobre um golpista sem-votos que assume a presidência tendo vendido a "mãe" para ter a faixa presidencial no tapetão.

Nem é preciso explicar que Dilma não é Collor. Ela enfrentou, ele se acovardou. Ela não roubou e nem se meteu em escândalos de corrupção, Collor sim. Os processo de impeachment são diferentes. Ela foi fazer a sua defesa, ele se escondeu e cagou para os ritos, atitude estranha para quem se julgava "inocente". Ela percorreu o país e reuniu milhares de pessoas que foram espontaneamente para ouvi-la. E nem é preciso de dizer que Collor não teve a companhia de Chico Buarque e tantos e tantas outras em solidariedade. Há diferenças, não se façam de tontos.

Porém, algo pesa sobre a queda de Dilma. O lulismo. Patrocinador da presidenta, ela mesma não negou até o último minuto fidelidade, que foi recíproca, ao partido e ao ex-presidente Lula. Contudo, a máquina do Estado já estava ocupada de acordos que não poderiam ser quebrados.

E a impetuosidade de querer ser a "caçadora de usurpadores", tentando se "diferenciar" dos seus partidários esbarra na regra de ouro da pilhagem do Estado: quando a torneira é aberta, uma hora deve ser fechada. Não que Dilma fechasse a torneira, muito pelo contrário, mas Gilmar Mendes, sinistro do STF, já alertou recentemente que sobre a "lava-jato", por hora chega!

Escutei muito de vários compas que basta o governo Temer se mexer para que o "povo acorde", acordará mesmo? Aos poucos percebo que muitas pessoas tem refletido sobre os fatos, a condução da mídia e como pouca coisa mudou, isso num ritmo lento, muito lento demais. E se for nesse ritmo já estaremos na fila das eleições de 2018.

Então, depois do último golpe de 1964, o que mudou nesse?

A titularidade do golpe. Quando se falava de "ditadura do mercado" na década de 1990, percebemos que hoje (31 de agosto) isso é real, e já acontece a um tempo nos países de capitalismo desenvolvido, vejam o documentário "Capitalismo, uma história de amor", de Michael Moore, e o número expressivo de intelectuais que questionam que a própria democracia liberal, propagada pelos liberais, é a grande ameaça ao sistema de livre mercado.

E se o golpe contra presidenta Dilma seguiu o rito republicano liberal de cassação, o objeto é totalmente falacioso, pois, destituição por manobra fiscal prevista e autorizada pelas instituições do Estado quebram os princípios do direito administrativo, onde até erros podem ser sanados, ou seja, a presidenta poderia ter levado uma reprimenda para que até o final de seu mandato se corrigissem tais "pedaladas", sim, porém esperar isso desse Congresso é demais!

E daqui pra frente? A esquerda que disputa o poder executivo precisa reunir-se urgentemente. Com o risco de termos nossos princípios colocados em xeque diante do que fazer com as dividas públicas que consideramos ilegitimas? Nas administrações que se identificam com a esquerda, há muito do "respeito as regras", enfim, paga-se fielmente os custos das dividas e questiona-se pouco a sua legalidade. Mesmo as trocas de dividas com a União por compromissos com a ampliação de serviços e atendimentos pelas políticas públicas são negadas, mostrando que o jogo fiscal exige que as regras sejam pelo financeiro e não pela sociedade.

Só tem uma coisa que não mudou do Congresso de 1964 para este de 2016. As famílias abastardas que ocupam e usurpam o poder democrático, que se revezam e tornam cargos públicos eletivos em latifúndios privados de seus primogênitos preguiçosos que vão sendo apinhados no poder.

Estes elementos me voltam para uma das poucas trincheiras que ainda temos e os espaços que estamos ocupando. Nem é um bom projeto, nem o tempo e muito menos esperar pelo pior, nada disso organiza a classe assalariada, mas a combinação desses elementos em um profundo trabalho de base, o bom e velho trabalho de base.

Não basta apontar os problemas, tem que organizar a luta pela soluções. Soluções devem ser coletivas, para não serem personalizadas. E conquistas devem abrir portas para novas lutas e permanente alimento da consciência. Nunca para. Se não desligamos a TV Golpe, não paramos também!

Até o próximo ato. Pela democracia, denunciando o golpe, sem Temer.