domingo, 21 de agosto de 2016

O abandono da estrela.

Este artigo poderia ter como título, "A estrela solitária", mas não seria adequado ao assunto a ser tratado e que tem dominado as rodas de conversa, principalmente dos/as petistas.

A ausência da estrela vermelha tem sido o assunto do momento nestas eleições de 2016. Seja pela direita ou pela esquerda nota-se que muitas candidaturas em vários municípios não utilizam em seus logotipos de campanha nenhuma referência ao Partido dos/as Trabalhadores/as, nenhuma mesmo, nem estrela, nem vermelho ou mesmo a sigla (PT).

Alguns atribuem ao desgaste do partido que culminou no impeachment da presidenta Dilma, outros ao medo que foi proliferado, ops, destilado pelas "mandíbulas" dos setores que fazem oposição ao PT. O certo é que isso só pode ser traduzido na relação com a conquista de votos.

Agora para um partido que acumulou ao longo da sua história simbologia, posição política, experiência institucional e militância política, qualidades até ontem apontadas como fator positivo do partido frente as demais agremiações partidárias é uma surpresa tamanha submissão a uma análise meramente propagandista.

Quando a esquerda do PT criticou com unhas e dentes a "metamorfose" das peças publicitárias de campanha, uma critica dura era a ausência da estrela vermelha, símbolo do partido desde a sua origem e identidade inconfundível de quem a ostentava.

Contraditoriamente a campanha de Lula em 1998 escondeu a estrela e adotou uma "carinha" mais "agradável" para uma parte classe assalariada média e alta que ainda tinha medo do radicalismo petista. Perdemos aquela eleição.

E provocativamente em 2002 o guru do marketing político, Duda Mendonça, trouxe a tona e em grande escala a estrela vermelha e ainda afirmou isso nos registros do documentário de Moreira Salles, "Entreatos", onde o seu "maior sonho" era fazer a campanha do Lula com a estrela, "um grande símbolo" segundo o marqueteiro.


Porém, essa poderia ser a principal desculpa dos que abandonaram a estrela, fazendo como a velha tática stalinista onde "os fins justificam os meios" muitos/as irão logo se defendendo e dizendo que nesse momento é "tático" conquistar votos da sociedade e depois levantar as bandeiras.

Bom, espero que esses companheiros/as não estejam acreditando que a população é idiota a esse grau e que o simples abandono da sigla vai inflar suas candidaturas, se aproveitando da distração do eleitor/a e da despolitização do senso comum em que se votam em pessoas e não em partidos.

Primeiro, que a distração do eleitor/a não será o item que vai de fato fazer com que se ignore a qual partido pertence as candidaturas. 

Segundo, pior ainda para as candidaturas petistas que ao reafirmarem a máxima do valor do voto em pessoas mata de vez o pouco de politizador que possa existir num processo eleitoral. É uma tragédia.

Na democracia a repulsa de uns se equilibra com o apoio de outros. Para esquerda, transformar esse apoio em ação dá grande força a uma candidatura que se propõe a defender ideias, ideais e projetos coletivos, faz da política o meio para que as pessoas resgatem suas esperanças na luta pelos seus direitos. Não foi diferente no passado, não será diferente agora.

Mas parece que ser de esquerda também não tem sido uma posição fácil de praticar. Muitas contradições, elucubrações, discursos panfletários, praticas quase idênticas e pouco acumulo de forças real, porém esse assunto é para outro artigo.

Voltemos ao problema da estrela. Muito bem, a frase "apesar do PT" não é novidade. Quando apoiava candidaturas do partido e até mesmo quando fui candidato a vereador ouvia muito frases do tipo, "se não fosse o PT (...)", "eu voto em você, mas você deveria sair do PT", "poxa seu candidato é legal, mas tem que ser do PT?", e assim vai, desde o primeiro voto que pedi em 1996 para o meu primeiro candidato a vereador, isso não é novidade.

Não é novidade que as elites sempre questionaram o PT, justamente porque para elas a política é como um negócio e portanto não pode ser exercido como política, com "P" maiúsculo. Para se ter ideia disso, o panfleto golpista chamado "Veja" publicou em 1994 (olhem só, 1994 nem sequer passamos na porta do palácio do planalto), uma "radiografia" sobre o PT e já pejorativamente indicava que a estrela era o símbolo do radicalismo contra o bom funcionamento do status quo da sociedade política brasileira.


E de lá pra cá muita coisa mudou, inclusive a forma de aversão a estrela. Entendo que as críticas vieram como um "rolo compressor" passando por cima de tudo que era petismo conhecido, e de críticas a forma do PT atuar, passamos a ser criticados pelas denúncias de corrupção que seletivamente escolhiam dirigentes do PT para serem os alvos do malho que estava (e está) em curso. 

Desculpas não faltam para abandonar a estrela, mudar as cores e dar tons mais alegres às candidaturas, pois em tempos de preservação dos dedos a política tradicional cobra menos ideologia e mais resultados. OK, mas isso vale para um partido de esquerda?

Malditas sejam as lições do passado. Essa mesma "análise" norteou o poderoso partido social-democrata na Alemanha na década de 1930 e deu no que deu. Afrouxou o programa, expurgou os radicais (assassinaram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht), tentaram sair da crise do capital pela velha conciliação e foram engolidos pela própria ilusão economicista proposta a classe trabalhadora. Venho o nazismo, Hitler e a repressão duríssima aos comunistas.

E aqui? Aqui não é a Alemanha e tucanos e peemedebistas não encontraram seu Hitler, mas a narrativa contra esquerda é a mesma e tristemente a resposta do núcleo dirigente majoritário do petismo é quase igual - reformas capitalistas para sair da crise do capital e abandono de alguns símbolos secundários em nome de garantir seus votos. É, a história poderá não perdoar.

O problema não está em usar ou não usar a estrela vermelha, o problema é a negação da identidade e isso não pode ser recuperado, quem vencer abrindo mão de sua identidade, com certeza não fará diferente ao ganhar, porque é a identidade (em política) que estabelece o elo entre o representante e seus representados.

Por fim, e em resposta aos que acham que minha desistência a uma terceira tentativa a Câmara de Vereadores/as este ano é um ato "covarde", ou não me conhecem ou acham que vão ganhar mais votos querendo ser os "corajosos" numa festa de porcos.

Pois, a renúncia foi um longo processo de reflexão interna, minha e de alguns companheiros/as que já me alertavam sobre posições vacilantes em meu meio. E eu - militante orgânico e fiel - tergiversava, não concordava e discutia com quem tentasse me "abrir os olhos" (minha origem oriental me impede de tal ação), o que me convenceu á verdade foram o tempo e os fatos, triste é o poder, principalmente quando uns acham que tem o que não lhes pertence. 

Como militante, com autonomia e direito de fazer escolhas, decidi não ser candidato, se não for para um projeto político coletivo, com ideais e coragem de escolher o tipo de voto que combine com esse programa. Guarulhos é uma cidade com mais de 800 mil eleitores, será que não é possível convencer uma parte de que é possível ter na política um instrumento de luta, se não for pra isso aí não vale a  eleição, porra!

Feliz estou. Tenho recebido apoios, mesmo de lamentação pela não candidatura, mas sinceros com relação ao tipo de político e de política que querem ver atuar. Tenho certeza que todas e todos esses companheiros/as sabem que ainda tenho ao lado uma estrela vermelha, eu não a abandonei.