sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Breve história da espada, da árvore, da pedra e da água

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 «Então a espada falou e disse: - Eu sou a mais forte e posso destruir todos vocês. 
O meu fio corta, dou poder a quem me pega e morte a quem me enfrenta.
- Mentira! - disse a árvore. Eu sou a mais forte, tenho resistido ao vento e a mais feroz das tormentas.
A espada e a árvore lutaram. 
A árvore se ergueu dura e forte e enfrentou a espada. 
A espada golpeou e golpeou até cortar o tronco e derrubar a árvore. 
- Sou eu a mais forte, voltou a dizer a espada. 
- Mentira! - disse a pedra. A mais forte sou eu porque sou dura e antiga, sou pesada e compacta. 
E a espada e a pedra se enfrentaram. Dura e firme ficou a pedra e lutou contra a espada. 
A espada golpeou e golpeou e não pôde destruir a pedra, mas partiu-a em muitos pedaços, a espada perdeu o fio e a pedra ficou muito desgastada. 
- Empatamos! - disseram a espada e a pedra e as duas choraram sua inútil batalha. 
Enquanto isso, a água do riacho já não estava olhando a luta e nada dizia. 
A espada olhou pra ela e disse: - Você é a mais frágil de todos! Você não pode fazer nada a ninguém. Eu sou a mais forte! - e a espada se lançou com muita força contra a água do riacho. 
Houve um grande alvoroço e uma barulheira daquelas, os peixes se apavoraram e a água não resistiu ao golpe da espada. 
Pouco a pouco, sem dizer nada, a água voltou a tomar a sua forma, a envolver a espada e a seguir o caminho do rio que a levaria ao grande desaguadouro que os deuses haviam feito para matar a sua sede. 
O tempo passou, e a espada na água começou a ficar velha e enferrujada, perdeu o fio e os peixes se aproximavam e gozavam dela sem medo. 
Lamentando, a espada saiu da água do riacho. Já sem fio e derrotada se queixou, dizendo: sou mais forte do que ela, mas não posso causar-lhe dano, enquanto ela, sem lutar, conseguiu me vencer! (...) 

Os antepassados acabavam de contar para eles mesmos a história da espada, da árvore, da pedra e da água, quando disseram: «Há ocasiões em que temos que lutar como se fôssemos uma espada diante de um animal, outras em que temos que lutar como a árvore no meio da tormenta, e ocasiões em que temos que lutar como as pedras diante do tempo. Mas, às vezes, temos que lutar como a água diante da espada, da árvore e da pedra. É esta a hora de tornarmo-nos água e seguir o nosso caminho até o rio que nos leva ao grande desaguadouro onde matam sua sede os grandes deuses, os que deram origem ao mundo, os primeiros».*

* EZLN, Comunicado de 29 de setembro de 1995.  

- “Eles são um exemplo da possibilidade real de construir algo novo a partir de baixo. Acontece que, à diferença de outros movimentos revolucionários que almejam o poder para, em seguida, construir uma nova sociedade, o zapatismo percorre o caminho inverso: desenvolve e fortalece novas relações, se prepara para defendê-las e faz da vida no interior das comunidades o embrião de um modelo de sociedade cuja força questiona a ordem existente e dialoga com as mais diferentes culturas, realidades e movimentos. Ou seja, a base da relação com o México e com o mundo não é o discurso que ainda vai se tornar fato, mas sim o fato que serve de base ao discurso. E por ser parte da realidade faz com que o discurso se torne mais verdadeiro, vivo e palpável.

Os primeiros resultados desta estratégia são apontados pelos zapatistas ao analisar o comportamento dos Municípios Autônomos depois das incursões do Exército federal ao longo do primeiro semestre de 1995. Na breve história da espada, da árvore, da pedra e da água, o EZLN revela quais são os frutos já colhidos e o caminho que pretende seguir.