O PT é um partido
de esquerda?
Escrevo como
militante e que óbvio acompanha a vida interna do partido.
Próximo do VI
Congresso Nacional, se acontecer, deverá ser duro e sincero nos seus debates,
para que não paire dúvidas sobre qual tipo de partido o PT se tornou e que
rumos quer tomar daqui para frente e evidente que a decisão deste congresso não
será desprezada pela militância socialista e revolucionária que reside
internamente.
Especulações ainda determinam o tom dos
debates. Os detentores de mandatos ou máquinas bem estruturadas ainda deverão
definir o número de quadros e de delegados. E a crise política que se abateu
sobre o “mundo de paz das alianças” com o golpe institucional ainda não chegou
para alguns.
Pode ser que
abstinência pelo poder já comece a dar seus sinais.
Em que momento a
retórica transformou a dignidade numa patética busca de justificar alguns
cargos na mesa diretora da Câmara dos Deputados?
Esse é o debate do
momento que divide, seriamente, opiniões dentro do partido.
Em tese, passados
120 dias de governo ilegítimo e golpista, com todos os tipos de adjetivos
elogiosos ao nosso partido vindo inclusive dos principais candidatos à
presidência da Câmara, excluindo-se a candidatura do PDT, parece que realmente
o petismo esqueceu o que é disputa política de projetos e posições.
Não formam os mandatos
que vieram antes da luta política, e sim, a luta política precedeu os mandatos.
O PT que avançou no
parlamento desde a redemocratização não votou no colégio eleitoral expulsando
parte da sua bancada, suspendeu Erundina quando a mesma compôs o ministério do
governo Itamar e recentemente expulsou um deputado que contrariou orientação partidária
na questão do direito das mulheres.
São fatos e
histórias que só se consagram com postura política. Estar ou não estar na mesa
representa nada a classe trabalhadora que precisa de ousadia contra as reformas
que vão degradar ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora.
Contudo, estar irá acrescer cargos a mais e menos dignidade, num momento que a
militância e simpatizantes ao petismo exigem posição política. Dignidade é dar
a mão a um aliado, por exemplo, e fazer o bom combate.
Retomar o papel do
que é ser uma esquerda parlamentar. Ou seja, lançar-se na denúncia, informar a
sociedade, articular com suas organizações as lutas necessárias para resistir e
insistir contra as teses atribuídas ao PT e a esquerda brasileira sobre a crise
econômica do Estado e nossas bandeiras de luta.
Outra questão que
afeta os sujeitos “progressistas e moderninhos” da sociedade brasileira é a
bipolaridade que vai da desobediência civil à conciliação de classe. Incrível
como esse biótipo de ser da classe assalariada média tradicional ou batalhadora
adora do seu computador na varanda gourmet elevar o tom contra o golpe e ao
mesmo tempo aplaudir a conciliação nas instituições.
Vai ver que esse é
o mal gerado por um PT que abandonou a disputa de ideias, da formação de um
novo sujeito, de um novo homem, uma nova mulher para uma sociedade mais
desenvolvida intelectualmente.
Reclamar do avanço
do conservadorismo neopentecostal e dos francos apoios à Bolsonaro para
presidente, vejam as idades dos coitados, são expressões desta sociedade que é
empurrado nos valores desse capitalismo neoliberal, financista e globalizado,
em que mesmo diante da jornada de trabalho absurda, horas extras e trabalho não
pago através das novas tecnologias, das condições de vida empurradas ao máximo,
elas se entorpecem ainda nos finais de semana e no consumo.
A esquerda
brasileira tinha um projeto de sociedade, uma utopia que movia a formação de um
tipo de cidadão/ cidadã, e em passos pequenos e largos, a depender da
conjuntura, seguíamos. Quando a caminhada vai a centro, chega a parte do poder
do Estado e limita-se a “fazer o possível” e menos o que é preciso para
rupturas com o modelo tradicional de política, é inevitável a migração desses
sonhos, frustações e vontades para algo que seja “idealizável”.
Sim, as atuais
religiões que exploram financeiramente e candidatos reacionários são idealizáveis
para um tipo de individuo (e não cidadão/cidadã), que quer manter padrões de
consumo, se entorpecer com baladas, churrascadas e encontros vazios de fim de
semana, com o autoritarismo operando a favor de um padrão de “paz social”, de
preferência exclusiva e uma moral tradicional, burguesa e conservadora que
opere já que a ética é, para esses indivíduos, algo irrealizável.
Nesse quadro, o que
se espera de um partido que não pertence a ordem?
Primeiro, para ter
essa resposta é preciso saber se parte da sua elite no controle do partido quer
ser contra a ordem ou adaptar-se a ela, isso define mais da metade do seu rumo.
E, segundo, optar
por não pertencer a essa ordem, justamente pelo que ela representa exige de
seus dirigentes a necessária posição e postura política que vai balizando
nossas ações.
Para alguns
militantes, ideológicos e que querem romper com a atual ordem capitalista, e
que portanto defendem isso como um processo em cadeia o VI Congresso poderá ser
uma retomada que vai das pequenas cidades, estados e no plano federal, ter um
partido que retome o programa político (o que queremos para o Brasil), que
tenha leitura do momento político e como as forças políticas tradicionais, da
velha política operam (análise de conjuntura), e quais ações e articulações
faremos para defender os interesses da classe trabalhadora e que vai em
movimento recolocar o PT no caminho que escolheu: um partido sem patrão, anticapitalista,
solidário e socialista.
Se o resultado de
abril será a frustação ou um levante, apenas o congresso dirá.