Reforma ou revolução? Desde Rosa Luxemburgo, quantas vezes reatualizamos sua questão?! A militante comunista alemã fez no tempo a análise necessária frente a um dilema urgente para os rumos da luta de classes na Alemanha. Se seguirmos Marx como uma bíblia tudo na Alemanha de Weimar onde pós primeira guerra, restabelecimento do Estado a partir de uma democracia liberal, com um processo de desenvolvimento (mesmo limitado) das forças produtivas, consolidação da sociedade civil, a República constituída dentro das regras burguesas, enfim, tudo caminhando para uma economia política que pudesse criar as bases para o levante proletário e com um elemento a mais, a esquerda havia conquistado os corações e mentes da maioria do proletariado, com influência sobre os sindicatos, um partido forte (SPD) e influência social, a química perfeita. Numa virada da realidade, deu Hitler.
Rosa se soma aos que criticam elementos do processo revolucionário russo de 1917 e sua condição prematura, pois, país agrário, um proletariado pequeno, repressão institucional, regime aristocrático e imperial e baixo desenvolvimento das forças produtivas. Deu revolução. Bom, dialética critica e práxis não são apenas conceitos intelectuais, são instrumentos que atuam sobre a realidade e que definem como as consciências agem sobre os processos históricos em curso, em termos de organização e o tempo da política, Lênin segue grande.
Imaginem se a Germania e o Império russo fizessem parte do mesmo território? Fazer o pensamento viajar tem suas vantagens, nos permite imaginar esses gigantes tendo que construir um processo juntos, digo Rosa e Lênin. Não que a internacional comunista não os tenha sempre reunido, mas convenhamos que a ideia de nação contaminou parte dos nossos processos de luta de classes, e mesmo que todos e todas nós fossemos internacionalistas, a lógica de "cada um cuidar do seu quintal" prevaleceu ( e prevalece) até hoje.
Iniciei essa historinha ou essa grande parte da história mundial apenas para provocar aos que conhecem essa passagem importante e seus/ suas protagonistas, deixo para que sua revisitação e questionamentos ao meu precário conhecimento, aos que não conhecem deixo o desafio de buscar compreender por que duas realidades na sua mesma época histórica, dentro das suas coerências e contradições seguiram caminhos tão diferentes.
São Paulo em 2020 antes da pandemia e já com o fascismo instalado no Palácio do Planalto apontava para uma realidade político eleitoral previamente definida na capital paulistana. Covas em baixa com a ameças de Alckmin em postular a candidatura pelo PSDB (necessidade de fazer frente ou ter força política contra o hegeminismo de Doria), possível candidatura de Marcio França pelo centro, novamente Russomano ainda no páreo, indefinição e declarações de amores entre PT e Psol pela unidade contra o fascismo, apesar do flerte do campo majoritário do PT a possível candidatura de Marta (golpista).
Então venho a pandemia e na política paulistana o quadro muda de março até julho. O pandemônio percorre os caminhos da lógica eleitoral e muda o jogo: Covas em primeiro nas pesquisas alçado pela pandemia (apesar das ações terem sido midiáticas e medíocres) encerra a questão no PSDB (mesmo com setores questionando sua saúde, tipo uma operação "Dilma doente" como fez Aécio), Marcio França segue no centro, em segundo e possivelmente vai capitalizar parte do eleitorado e das forças políticas antiDória, e o terceiro lugar, ora ora, emBoulos de vez (a piada é ruim, mas precisava fazer), há uma guerra de pesquisas, mas desde a aprovação da chapa Boulos-Erundina o processo começou a ganhar contornos de grande disputa.
O PT escolheu Jilmar Tatto, para o petismo rosa-choque chapa branca não merece explicações, parece que o golpe de 2016, que o próprio campo majoritário insistiu em não acreditar, agora deu salvo conduto a todos os criminosos internos, não há demônios no PT mais, parece que todos e todas somos santos e absolvidos por uma força divina. Sobre o consensualismo institucional e da democracia liberal de baixa intensidade fez seu processo interno restrito aos delegados (as) do último PED (Processo de Eleições Diretas) fez como a boa e velha política, uma eleição onde os eleitores (as), sub dividido em suas forças políticas, já tinham na contabilidade a conta de onde cada voto ia pender.
Habermas baixou no PT (a tempos) e agora opera sobre esse deliberacionismo medíocre. Parece agora que todos(as) são xiitas, reconhecem o imperialismo estadunidense, detestam o capitalismo financeiro, odeiam o PMDB e limitam o debate critico a poucas palavras.
E com isso, as redes sociais virtuais que são expertise do bolsonarismo segue subestimada pela esquerda que prefere ficar presa num loop onde inexiste a apreensão histórica e a estratégia como parte refinada do fazer político.
Explicando o loop me refiro as intermináveis criticas dos petietes, filiados fanáticos que como fãs de uma boa banda vão aos seus shows, ops atos e manifestações, replicam sem critica e são fieis ao ponto de desmerecer a ideia do que seja um individuo de esquerda, socialista e militante.
Um aparte, eu posso usar esses termos sim. Militante desde os quinze anos, vivi intensamente a vida do partido, fui designado para tarefas em várias instâncias, percorri madrugadas em colagens, panfletagens, reuniões a todo momento, viajei sem grana, dormi no chão, disputei instâncias, quebrei o pau, era odiado e respeitado, nunca havia falta do a uma reunião de diretório (até 2015), ou seja, vivi os tempos sombrios e frios do PT na oposição na metade da década de 1990, segui minha consciência e os coletivos que ajudei a construir, ocupei palco contra aliança com PMDB e derrubei banner do Quércia com Lula em 2002, ergui a bandeira vermelha com sua estrela reluzente em locais mais perigosos do que destes de hoje do bolsonarismo. Disputa, debate e fascismo não são novidade para mim.
Seguindo a análise, a forma como o petietismo trata a chapa Boulos-Erundina nada mais reflete a ausência de respeito e reflexão política desses tietes abobalhados e por que ainda não encontramos um centro político de luta contra o fascismo bolsonarista.
A história não se repete, mas ensina. E a arrogância dos que alegam que Boulos é "desconhecido" com um "partido pequeno" apenas repete (tragicamente) as mesmas criticas de Brizola e o PDT ao "sapo barbudo" e que o "PT era um partido pequeno", mas que elegeu a primeira prefeita mulher e nordestina em 1988.
Estratégia em política não é definida pelo que se vê, mas sim pelo que constrói dentro do processo.
E para os curiosos ou raivosos, eu ainda persisto no PT, ainda filiado, porém não atuante. Tenho meus motivos e não cabe explicar aqui (leia os artigos anteriores referentes a análise do PT).
Também não vou fazer campanha para Boulos. Moro em Guarulhos e aqui já tenho contradições demais para administrar no PT.
Boulos e o Psol não são o PT. E quem repete essa conversa deve ser bem idiota. Boulos para mim é tentativa do pós lulismo, que não quer rivalizar ou ranger os dentes como Ciro Irritado Gomes, pelo contrário, desde a sua candidatura a presidência sua auto construção popular e de massa está aí para quem quiser analisar. E diferente de Lula, sua capacidade de construir unidade partidária não é unânime, desta vez diferente de 2018, enfrentou prévias e disputou com outras duas candidaturas (Sâmia e Gianazzi) e mesmo assim venceu com criticas de uma das forças derrotadas. Sua busca em agregar agora depende da simbologia em torno da sua chapa e articulação interna.
No PT tudo segue tardio. Programa de governo, tentativa de exposição da candidatura, a lógica tática do "cada um por si" e do "ema ema ema cada um com seus problemas eleitorais", a busca por colar a imagem de Jilmar junto a Lula e Haddad. Insatisfações internas não públicas e a tentativa de um grande pacto que envolve apoios para eleições de 2022. A velha política do campo majoritário consolidou e agora sem uma pujante máquina estatal e institucional para alavancar as candidaturas insistem em Suplicy, que seguirá sendo um soldado fiel, para "puxar" os votos da bancada caso o barco Tatto não avance, ou seja, pelo menos o partido tem seu Cássio para salvar das boladas do adversário, apenas isso.
E parece que nada servirá de aprendizado ao PT paulistano. Tragedia, para um instrumento politico que se conformou em ser máquina eleitoral. Bom discurso, programa nem tanto e práxis sofrível.
As eleições na capital paulistana podem ser a versão de "jogos vorazes" ou "jogos mortais", depende evidente do gosto do expectador. Na direita o bolsonarismo em cacos não emplacou ninguém, pode ser que o efeito BolsoDoria já tenha mesmo se despedaçado por vários lados e o exército de Deus e da Família tenha sido partilhada no espolio de herdeiros, nem Joice, nem Mamãe emplacam (para nossa sorte), na direita capitaneada por Dória o sorriso segue firme de otimismo, a pandemia lhe fez bem e esperam que isso perdure até novembro (sim, é cruel e desumano, mas estamos falando de Dória Farinata) e o centro pode surpreender, pode (?!) pois, Serra e Alckmin acoados pelas operações tardias da lava jato, não precisam aparecer, precisam operar, e Marcio França pode sim construir esse pacto. Vamos ver, quem viver verá.
E o que tudo isso revela? Que a esquerda brasileira não amadureceu para um plano que é o mais estratégico nesse momento e que exigiria ter a certeza que seria uma tarefa de um dia de vida: ganhar as eleições no estado de São Paulo. Digo isso por que vencer não seria fácil, se vencer não seria empossado, se empossado tentariam o impeachment.
É verdade que a esquerda nunca ganhou as eleições no estado de São Paulo. É verdade que a burguesia jamais permitiu e que preferirá implodir o estado a ter que entregar a instituição para um (a) militante de esquerda socialista. E essa é a questão que não analisamos e nem nos debruçamos em entender.
Não que a presidência da República não seja importante. Porém, a alma da burguesia está em São Paulo, é o coração do dragão. Fincou suas raízes aqui para governar direta e indiretamente o país. Os vôos do país se concentram aqui e não em Brasília, todos e todas inevitavelmente passam por São Paulo. Sem São Paulo não haveria República Velha e nem o Estado Novo, não haveria golpe de 1964 sem a preventiva e orquestrada operação paulista "Deus-Família-Liberdade de mercado", não haveria neoliberalismo e todos os seus antecessores sem FIESP, aqui foi o grande laboratório da construção do Estado minimo, gerente do capital operada no Palácio dos Bandeirantes (se tem que derrubar o Borba Gato de Santo Amaro, imagine o palácio dos BANDEIRANTES), o capital passeia em São Paulo, há cada vez menos máquina pública para gerir, o governante age como Dória previu, como um CEO de uma empresa que gere para seus acionistas o capital investido e aporta com recurso público a falência ou crise do empresariado (agro, financeiro, industrial, serviços, o caralho).
Dito isso, e espero poder detalhar mais essa análise. A eleição da capital paulistana pode representar uma virada no cenário nacional, pode representar a consolidação do "novo" PSDB (FascisDória) ou pode sem mais uma eleição, essa última eu duvido.
Chega, vou dormir.
Se incomodei, devo ter contribuído pra alguma coisa.
ps.: E antes que alguns perguntem, "quem é essa cara?", eu respondo, "NINGUÉM". Como militante, sigo agora sendo ninguém.