sábado, 20 de fevereiro de 2021

Esqueçam 2021, vacina a passos lentos é hora de organizar o campo popular contra o fascismo!


 Texto no pôster: Estamos nos preparando para repelir o inimigo, Moscou e Leningrado, 1927. Autor: Merkulov Lu


Janeiro de 2021 passou. Passou a ressaca das eleições das duas Casas Legislativas e no final o bolsonarismo venceu. Venceu? Ou nunca perdeu! Baleia Rossi era a face da mesma moeda com perfume, mas sinalizava que impeachment não estava no seu horizonte, que os planos da política econômica assassina de Guedes seguiria e que mesmo após a COVID 19, os/as trabalhadores e trabalhadoras ainda iriam amargar com essa lógica financeira e neoliberal. Reformas contra a população que iriam ou irão, ter impacto mais devastador que a própria pandemia. As mesmas mentiras de "reformar para melhorar", sem que você, leitor ou leitora se pergunte: "melhorar para quem?" E no final, a resposta oculta é sempre a mesma, para os mesmos ricos e as elites de sempre!

Geralmente sou o otimista da sala. Mas não sobre 2021. Basta ver ao redor, governos medíocres e gestores do interesse do capital, BolsoDoria e minha versão local, BolsoDoriaGuti, todos serviçais do interesse privado em detrimento do público, eleitos num sistema que segue a mesma lógica das elites, com raras exceções o governo do PT venho após mais de 500 anos de colonização e expropriação de riquezas e direitos sociais, e querendo governar dentro das regras, deles!, deu no deu.

Por melhores analises que se façam do lado de cá. Por melhores cartas, comunicados e todo tipo de manifesto. O pouco que avançamos é necessário, mas ainda é pouco. Por mais que tenhamos avançado nas eleições municipais e com as conquistas de mandatos com perfil de combate no campo popular. Nada no horizonte aponta para uma saída de curto prazo para derrotar o bolsonarismo.

É evidente que não acredito em saída de curto prazo. 

Mas a direção do PT e algumas esquerdas sim! Quanto trata a questão como algo que caminha "naturalmente" para o processo eleitoral de 2022 e quando o ungido de Lula diz que "o antibolsonarismo é maior que o antipetismo" (fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/02/10/antibolsonarismo-e-mais-hoje-forte-do-que-o-antipetismo-diz-haddad.htm) é um jogo de retórica que esquece que Bolsonaro joga em mais de uma frente. 

Pode "ele não" ter sido um deputado atuante, mas conhece os corredores do Congresso e soube se alimentar de narrativas para compor base eleitoral. Ou seja, otário é quem acredita que "ele não" saiba jogar o jogo, e a eleição da presidência da Câmara e do Senado mostram que se de um lado o fascismo babante mantem a base eleitoral, do outro o jogo matreiro da politica convencional reúne forças, e o Centrão e o PMDB estão aí pra provar que tudo é possível.

Vamos lembrar que ele deu rasteira no Moro. E se depender de como caminham as coisas por aqui, a tendência de manutenção de 30% de seu eleitorado segue firme e aterrorizante é saber que nas redes sociais "ele não" segue no topo das redes sociais, evidenciando que algo está fora da curva na política tradicional da direita, no centro e a esquerda. (fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2021/02/17/bolksonaro-continua-senhor-das-redes-sociais-com-399-milhoes-de-seguidores.htm)

Não é falta de aviso e nem de criticas. Mesmo no "bate e assopra" da Glogolpe ou de outros firmes comentaristas políticos, o certo é que o abismo que se abriu entre a classe assalariada média e o conjunto geral da sociedade é um fato que precisa ser analisando, interpretado e levado para nossa prática cotidiana.

Estudos futuros irão ter que nos apontar o que é essa nova comunicação de massa que vem de personagens como "ele não". Alguns sinais no processo histórico e nas conjunturas podem nos explicar num fato que me deixou preocupado um ano antes da eleição que levou a vitória do "ele não", onde em 2017 estava em Fortaleza (CE) de férias e eu e minha companheira andando pela feirinha de artesanato vimos uma camiseta estampada com a cara do individuo "Bolsonaro", e pensei, bom a uns vinte anos atrás essa iniciativa popular era tomada em produzir o rosto de Lula como símbolo de indignação ou referência do anti sistema. 

A expressão dessa mudança se deve pelo abandono do trabalho de consciência de classe, em particular pelo PT, e a velha forma de se fazer política no Brasil. País com um contingente de trabalhadores/as na pobreza e onde a desigualdade permite que o individual se afirme no jogo neoliberal do "cada um por si" impedindo que a dimensão do fazer político seja parte integrante da solução dos nossos problemas.

O trabalhador e sua banquinha com sua iniciativa de comercializar uma camiseta com a foto do "ele não" apenas expressa sua conexão com a tendência que viria a ser nosso terror em 2018 nas eleições presidenciais, ou seja, o trabalhador e a sua banquinha analisaram a conjuntura com maior destreza do que muitos de nós "sabidos" da política. 

2021 foi inaugurada pelas carreatas "Fora Bolsonaro" e "Impeachment", inusitadamente além da esquerda, setores do golpe de 2016 como o MBL (o fascismo de sapatênis) também aderiu, mas não quer se "juntar com a gentalha". Ainda bem, nós a gentalha preferimos manter as coisas no seu lugar. 

Mas mesmo com o conjunto de desmandos, genocídio e ilegalidades que vão desde a crise do Covid com atraso no Plano Nacional de Vacinação e quase sessenta pedidos de impeachment o governo do "ele não" segue impune.

Isso nos faz ficar acuados? Não. Há resistências que vieram das eleições municipais. O que há é dispersão, e isso é o elemento que ainda nos preocupa. E a pressão de 2022 não contribui.

Desde a aprovação da Constituição de 1988 as reformas que seguiram foram promovidas pela burguesia, em termos de Estado o desmonte e a pilhagem foi acelerada pela mudança de rota do capitalismo mundial, em tese, os liberais não tem o que reclamar, esse Estado é deles e segue sendo, mesmo durante os governos do PT. E isso diz muito sobre qual devam ser nossas preocupações de agora enquanto esquerda. 

Regredimos no campo institucional e voltamos a nos aquartelar no parlamento. Sobrevivemos no campo popular com os movimentos sociais seguindo firmes mesmo diante do encerramento dos investimentos do orçamento e do fundo público em políticas sociais. Os sindicatos seguem respirando, mas alguns seguindo para os respiradores enfrentando a maior regressão de direitos trabalhistas da história (como diria Carlos Lessa, a busca da burguesia neoliberal é de enterrar a era varguista).

Depois de muito anos dedicados a militância organizada eu mesmo estou em recuo. Sem um coletivo e sem uma direção fico atuando pontualmente. É o pior dos mundos para um leninista, mas até o velho dirigente teve seus momentos de recuo e imersão. Mas esse momento me abre uma janela de reflexão e observo hoje um abismo entre os ativistas e militantes orgânicos e a coletividade em geral. 

Já apontei criticas a isso em outro artigo que publiquei sobre erros na lógica militante da esquerda brasileira sobre os militantes profissionais e que não tem relação alguma ao modelo bolchevique, nem em tática, estratégia ou dedicação à classe. E agora reconheço que a disposição que eu e outros camaradas não se expressa na realidade atual. Não éramos melhores, mas estar liberado era como um dever que exigia ignorar família, lazer e o tempo. Ainda há muitos e muitas seguindo essa máxima, mas a rigor deveria ser a regra e não a exceção, já que militância politica na esquerda é diferente da horda de cabos eleitorais na direita.

Pode ser que 2022 possa ser aglutinador? Sim ou talvez. E ainda assim é a expressão da nossa tragédia quando perguntamos "quais foram os esforços de construção de uma práxis unitária contra o fascismo reinante no Brasil de agora?", mesmo que estejamos dispersos, isso não impediria pelo menos uma Mesa de Negociação pela unidade. Porém, não é o que temos. 

Os partidos seguem com sua relevância no cenário de disputa politica e por isso deveriam ter a maior responsabilidade sobre o processo no campo popular e das esquerdas. Negar isso é desconhecer a sociedade civil no Brasil. Não há experiências que provem o descolamento ou deslocamento fora desse instrumento político. 

A luta pela memória é dever da esquerda. Confusões que se perpetuam como o mito da ditadura militar branda e o "Brasil que ia pra frente", ou a adoração ao nazifascismo são expressões do momento e sinalizam que nosso dever deve ser levado a potência máxima.

Formar, formar e formar. Estudar, estudar e estudar. Ler, ler e ler. Atuar nos pequenos espaços, reunir pessoa a pessoa, dialogar e refletir, ocupar cada micro espaço e criar trincheiras de pensamento critico. 

Atualmente sem coletivo ou direção, sigo livre para cumprir essa tarefa sem precisar ter foco em criar seguidores ou panelas, admito que é muito libertador contribuir com a formação e fortalecer novos sujeitos políticos que ao avançarem em seu processo de consciência escolham por si os seus caminhos de luta, no nosso campo, o campo popular. 

Não desprezo as organizações, mas não há tempo de ficar disputando entre nós. Há uma sociedade para disputar e isso já é uma grande tarefa. 

Derrotar o fascismo deve guiar nossa práxis.