domingo, 28 de janeiro de 2024

Crise no Equador, recrutamento do crime organizado. Esse não é um artigo sobre segurança pública!

O título da matéria do site UOL "Paga com pastel ou maços de dólares, extorsão é rotina no Equador" (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/01/19/paga-com-pastel-ou-maco-de-dinheiro-extorsao-e-rotina-no-equador.htm?cmpid=copiaecola) e no site Metropolis "RH do crime: facção faz força-tarefa para recrutar novos integrante" (https://www.metropoles.com/distrito-federal/na-mira/rh-do-crime-faccao-faz-forca-tarefa-para-recrutar-novos-integrantes), o que as duas matérias tem em comum? Elas são a expressão da realidade do projeto neoliberal. 

Se você não sabe o que é, alerta! Esse projeto que integra essa fase do capitalismo teve inicio na década de 1970 onde a "oportunidade fez o ladrão", após quase duas décadas e meia de enriquecimento dos capitalistas durante os anos 1950 e 1960, chamada de "era do ouro" do capitalismo, onde o conflito do país-líder (EUA) e a URSS (ex-União Sovietica) opondo capitalismo e socialismo levaram os países desenvolvidos do sistema capitalista a recuar, adotando sistemas públicos de seguridade social, criando (sim criando) os sistemas públicos de aposentadoria dos trabalhadores (as), período dos "Estados de Bem Estar Social" fazendo com que esses países reconhececem os direitos sociais e trabalhistas - áreas onde os países socialistas eram garantidores de direitos à população - era considerada uma ameaça ao capitalismo a pequena ideia de sociedades com pleno emprego e direito a saúde e educação universais. Também foi um período de conciliação entre as classes, onde a concenttração de riqueza (que foi forte) coexistia com uma partilha pequena dos lucros ao trabalhadores organizados por seus sindicatos. 

O neoliberalismo foi a combinação dessa acumulação de riqueza que ase aproveita do discurso do "custo social" dos direitos da classe trabalhadora e a erosão dos países socialistas, em especial da ex-URSS, abrindo a oportunidade (ou oportunismo) para que setores avançados da burguesia internacional buscassem por meio da política alterar as regras do jogo do seu próprio sistema. A defesa do "Estado gastador" foi uma das mentiras propagadas pela mídia empresarial e o acordo para mundança da ordem global do capital tem inicio no pacto chamado de "Consenso de Washington", encontro que em 1989 sela as bases das "reformas" economicas que visaram pilhar as riquezas do Estado/ do povo, retirar direitos sob a desculpa do "custo do Estado", manter e ampliar o "investimento" do Estado aos ricos e seus interesses e reestabelecer o liberalismo radical que levou o mundo capitalista a crise de 1929, através da regulação por meio do mercado e a acumulação de riqueza por meio da financeirização do capital, duas combinações que Marx vai atestar como a própria morte do sistema capitalista, com razão, já que o que acumula riqueza no capitalismo é a criação e circulação da mercadoria no longo processo de exploração do trabalho do trabalhador, exemplo de como esse método não mudou, basta observar que apesar dos países desenvolvidos do capitalismo terem desisndustrializado seus grandes parques (só nos EUA o setor de serviços mais de dois terços da economia) a sua elite segue firme porque também tornou flexivel esses parques produtivos deslocando para países onde a mão de obra é considerada barata como na China e a India. 

Acredito que deu para você perceber onde quero chegar, recentemente a crise de segurança no Equador e o encarceramento em massa no Brasil (mais de 800 mil pessoas presas) são processos que se agravaram após a privatização de serviços, erosão no campo da cultura e na educação, ampliação de processos de consumo em massa, desconstução de causas de interesse coletivo como a questão ambiental e preservação de direitos dos povos originários (com forte critica do fascismo financeiro sobre os direitos dos povos indigenas e quilombolas), e com uma conta que não fecha: jovens sem acesso a trabalho, já que o mercado de trabalho capitalista tem reduzido o direito ao trabalho regulamentado pelo sem direitos, manutenção do custo de vida como da cesta básica ao aluguel, idosos com aposentadorias ou beneficios defasados diante de um sistema público de saúde (SUS) atacado por todos os lados, subsididos e beneficios em acesso e valores que não competem de igual com setores paralelos do capitalismo como o tráfico de drogas e o crime organizado em geral, esse último fator que está ligado a ociosidade de parte da sociedade que é gerada por este projeto, o neoliberal. 

A ociosidade programada não escolhe a pessoa, mas determina que uma perte delas, sem oportunidade de trabalho ou recursos para gerar sua renda, em paralelo o sistema por meio da sua mídia investe no velho discurso da "superação do individuo" por meio da farsa do empreendedorismo. Marx definia o desemprego como "exercito industrial de reserva", ou seja, o desemprego como invenção do capitalismo, era o meio para conter uma parte da sociedade produtiva para minar a sua organização sindical, como chantagem e medo aos que estavam empregados, e ao mesmo tempo repor a mão de obra descartável do processo produtivo, em geral os trablhadores mais velhos, acidentados, sem a mesma capacidade produtiva, enfim, método e nós (trabalhadores/as) como meras peças de reposição. Já essa ociosidade programada é parte do método do neoliberalismo. 

Que não apenas mantêm o desemprego como medida, mas reconhece que é mais interessante o ocioso que se submete a processos de trabalho desregulamentados, sem direitos e em condições favoráveis apenas a acumulação de riqueza do capitalista. Alguns intelectuais tem apontado que essa desumanização do trabalho chega a níveis terríveis se tornando um tipo de servidão moderna. 

E o que isso tem haver com a segurança pública? Tudo. Já expliquei o longo caminho do atual projeto neoliberal, fase desse capitalismo global, e os efeitos sobre todos, todas e todes que não pertencem a elite. Posso resumir: Estado fraco, retirada de direitos sociais e trabalhistas, enfraquecimento do acesso a cultura e a educação universais, desemprego, ociosidade programada, crime organizado presente na vida política e pública...e caímos nessa roda que gera gerações de jovens periféricos e suas famílias assistencializadas pelo crime organizado, privatização dos serviços de segurança pública, tornando as prisões em negócio que precisa ser alimentado por (mais) presos, onde os lideres dessas organizações cada vez mais próximos e parte integrante de grupos políticos neoliberais que como Bolsonaro, Trump e Milei defendem essa lógica liberalizante, onde o coletivo desaparece e o individuo faz uma luta contra os seus iguais. Investir em segurança pública hoje representa uma estupidez sem lógica, um oportunismo eleitoral e uma canalhice política contra a própria população. Se todos gostam de histórias de superação individual, deveriam observar que histórias de superação coletiva traz mais resultados do que depositar no individuo a resposta aos seus problemas estruturais. 

De experiências públicas a populares, como as "Cozinhas solidárias" do MTST ao investimento pesado que países como China e Coreia do Sul fizeram na educação pública, a recuperação de uma área degrada como fez Sebastião Salgado ou a criação do Parque da Augusta em São Paulo, o certo é que o que pertence ao Estado é e deve ser do conjunto da sociedade e seus recursos e planos devem servir para esse interesse comum. O que fará o crime organizado numa sociedade com pleno emprego e inclusão dos jovens em sistemas de cultura, educação e apoio com recursos, com redução da população carcerária com a descriminilização das drogas, regulamentadas como psicotrópicos, com controle estatal e de saúde pública, gerando empregos legalizados, pagando impostos, ou com comunidades revitalizadas pelos direitos de cidadania e não o medo entre o crime e a polícia. Há outro caminho. Mas temos que ser mais firmes e ousados em buscar construi-lo.

nota: e tema última, o presidente da Confederação Nacional da INDÚSTRIA considerando o agronegócio parte do "importante" crescimento econômico e ainda associando ao "salto" na industria, só expressa que as comodites viraram o meio dos capitalistas em enriquecer de forma preguiçosa e empurrando a sociedade brasileira cada vez mais para o abismo. Pare e reflita!