quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Trump venceu! E daí?

 

Trump venceu. Com votos dos delegados e com a maioria dos votos dos eleitores, seu partido alcançou maioria no Senado e na Câmara e tem maioria conservadora no Supremo Tribunal. 

A esquerda liberal está esquizofrênico, fala em perigo para "democracia", perigo para os imigrantes, perigo, perigo e perigo. Mas cá entre nós, a democracia burguesa não é assim? Venceu quem captou votos e melhor expressou ideias. E esses mesmos liberais dizem: "ele mentiu, fez fake news", sim, mas os democratas também não?

Ou o movimento Black Lives Matter conquistou uma legislação ou uma polícia menos racista? A política econômica de Biden trouxe segurança social aos pobres e trabalhadores subarternizados, que em geral são funcionários de bilionários como Bezos, a questão das guerras foram resolvidas? Os Palestinos podem dormir em paz, as mulheres abandonadas a própria sorte no Afeganistão depois das promessas do "mundo livre" estadunidense?

Biden e Kamala são parte do mesmo projeto de Trump com uma diferença, os primeiros fazem um discurso moderno e o segundo é honesto em suas intenções, mas ambos serão a garantia de que o sistema financeiro do capital seguirá sendo apoiado em detrimento a população.

O fascismo de Trump é um tipo peculiar de nacional entreguismo, diz defender a "América grande" porém não pode abrir mão da dura realidade, os EUA é uma país colonizado por bandidos que o Reino Unido expulsava, bandidos convertidos a protestantes, depois impulsionou seu desenvolvimento com escravidão negra e imigração de miseráveis. Agora suas empresas lucram com a mesma mão de obra que seja imigrante ou nos centros de produção global como a Índia e a China, foram escolhidas pelos mesmos "nacionalistas" estadunidenses que pela lógica do capital preferem mão de obra barata a ter que pagar direitos de um conterrâneo nascido na "make América great again".

Sinceramente mesmo quem lamenta a derrota de Kamala sabe no fundo que mesmo com todas as promessas nada séria feito fora do roteiro: manutenção do sofrimento palestino, guerra infinita para aquecimento da economia, retórica negra com repressão branca, enfim, a única coisa que seria relevante para os liberais era poder dizem que a opressão segue respeitando os "valores democráticos" (liberais burgueses)

Essa mesma esquerda liberal que se esconde atrás das lutas legítimas das mulheres, do povo negro e LGBTQIA+ e eles que de fato criam os entraves que são denominadas pautad identitária, e não a esquerda que sempre levantou essas bandeiras e lutas. Agora quem tem monetizado com o identitarismo é essa esquerda liberal, que contamina os espaços e enfraquece as lutas populares.

O que fazer? O de sempre uai. Organizar, dialogar, formar e construir o Programa para disputar a sociedade. Não tem fórmula mágica, sem tomar aquele café com os colegas de trabalho, com a família e os conhecidos não tem trabalho de base. Trabalho de base não é oportunismo de ocasião, é dia a dia sincero, é dizer e fazer.

Trump é parte do sintoma de um fascismo que fica encubado, como uma cloaca podre que consegue se reproduzir assexuadamente em termos biológicos e por mitose se reproduzir.

Trump, Bolsonaro e outros são como disse nacional entreguistas, são parte do sistema, querem entregar serviços públicos para amigos, lucrar com isso e ainda dizer que estão "quebrando o sistema" quando na verdade estão alimentando esse próprio sistema e quebrando de fato os imbecis que creem e as vítimas que não apoiam suas ideias. 

Nessa questão insisto que aí está a culpa da nossa esquerda, que fica cada vez mais parecida com os democratas estadunidenses, prometem mas não entregam. 

Se dissemos que as escolas e a saúde públicas devem ser o caminho porquê nossos governos não fazem tudo que podem e que não podem para fazer dar certo, com concursos, com carreira pública, com recursos e com a participação política de profissionais e população para integrar, decidir e intervir independente de governo. Foda-se. Se a democracia confirma a nossa finita humanidade, onde seja pelas urnas ou pela vida tudo acaba, porquê não fazemos? Ajuste fiscal e contenção de gastos para alimentar o sistema financeiro é tarefa deles, não nossa! A nossa, da nossa esquerda é de fortalecer quem interessa: a população trabalhadora.

Correto é a análise de Valério Arcary no BdF (https://www.brasildefato.com.br/2024/11/06/cinco-polemicas-sobre-a-derrota-da-esquerda-no-brasil), esse debate sobre a perda de votos entre os pobres não explica porquê perdemos votos mas regiões onde a classe trabalhadora de carteira assinada também não foi tocada pela mudança necessária.

#ficaadica

domingo, 3 de novembro de 2024

O fim de uma era na política de Guarulhos. Uma direita que se renova e uma esquerda que encerra um ciclo!

 Lutas operárias, resistência a ditadura militar, Casa de Cultura Paulo Pontes na Vila Fátima, Greves operárias, Oposição Sindical metalúrgica, luta de padres contra o esquadrão da morte, fundação do PT de Guarulhos, lutas pelo direito a moradia, Tribunal da Terra de Guarulhos, Movimento Estudantil e fundação da UGES,  Lula lá em 1989, lutas contra a privatização do SAAE, Espaço Cultural Florestan Fernandes, cassação do sr. Nefi Tales, vitória eleitoral do PT na prefeitura, 16 anos de governos do PT e o golpe de 2016. Esquecimento da história da cidade antes e depois dos governos do PT, lembrando 10 anos de Orçamento Participativo, mais de 100 escolas municipais, mais de 60 equipamentos de saúde pública, Teatro Adamastor, modernização do serviço público, criação do Fácil, Unifesp e Hospital Pimentas, urbanização entre tantas mudanças.

A derrota de Eloi Pieta, ex-PT e atual Solidariedade, e por uma diferença de 100 mil votos e uma ausência de mais de 332 mil  entre faltantes, votos brancos e nulos, este último grupos (dos ausentes) poderia ter ficado atrás do eleito,  o sr. Lucas Sanches que obteve 361 mil votos.

Eloi perdeu e ganhou onde justamente Lula havia perdido e ganho em 2022, no Pimentas. Apesar de Lula ter tido desempenho melhor na 394 na região de Bonsucesso por uns poucos 400 votos. 

É o fim de uma era. E digo porquê, primeiro Eloi fora do PT não vai promover coesão da esquerda, já que com uma terceira derrota e fora deste campo, bem como a forma de organizar a tática e a estratégia, ficaram presos a uma lógica que mudou. O PT precisa saber se vai gravitar em torno da reeleição de Alencar ou buscar se reconectar com a população como um partido de oposição presente e não ausente como foi nos oito anos da gestão Guti, as demais organizações podem se sobressair como o PSOL principalmente, bem como Unidade Popular, Pstu e Pcb mas precisar também construir, e repito construir  e não correr, com essa reconexão com a população guarulhense.

Guarulhos está virando um grande galpão. O setor de serviços, comercio e logística vieram para ficar e estabelecendo uma nova identidade da cidade dentro do processo de interesses do capitalismo mundial e nacional, contudo, classe trabalhadora é classe trabalhadora. Essas categorias são categorias frágeis da classe, podem ser contratado sem vinculo, sem direitos, precarizados e agora inseridos na lógica dos aplicativos, da plataformização e da polivalência do trabalho, estão inseridos nessa lógica do consumo rápido, urgente, fetichizado ao máximo, onde o prazer fica preso também a uma ideia de lazer mercadológico, ostentação e sem necessariamente refletir o bem estar de viver.

2025 é um novo. Novas angustias e novas esperanças. 


Já em São Paulo...

Em São Paulo um Boulos "petizado" perdeu por uma diferença de 1 milhão de votos e um saldo de crescimento quase insignificante da última disputa para esta, ou seja, Marta de vice, mais de 40 milhões do Fundo Eleitoral do PT, determinado por Lula e um apagamento da lógica militante demostram que algo está errado na lógica atual que se repete faz um tempo. Talvez o Psol do "não recebi um real, tô na rua por um ideal" empolgasse mais um público que buscar mudança não pela direita na política.

Não tem muito que analisar, tem boas reflexões de Saflate, Jessé de Souza, Rudá...mas um alerta.

Tem uns liberais da imprensa a esquerda defendendo que com a vitória eleitoral do centrão, onde PSD de Kassab é o vencedor do momento, tem defendido que a esquerda precisa se "atualizar" olhar para Marçal, "comprar" o discurso do empreendedorismo e abandonar suas lutas, virar uma versão "Tabata-João Campos", tipo um produto de limpeza desengordurante.

Cuidado! Formulas de formuladores que sempre apoiam ou se ausentar nas questões de privatização, terceirização, redução da força dos (as) servidores (as) públicos (as), reformas trabalhista e previdenciária entre outras mágicas que não deram certo para a população, sempre estão aproveitando esses momentos eleitorais para deslegitimar uma luta que é necessária: de classe.

 

Eleições Municipais em Guarulhos, 2. Turno: O que o voto na direita tem a dizer para nós?





















TODA SOLIDARIEDADE À CUBA SOCIALISTA!

Campanha de Apoio a Cuba Estimadas/os amigas/os do MST,

Vocês todos/as estão acompanhando as dificuldades econômicas que CUBA está passando em razão do bloqueio econômico e financeiro que os EUA continua aplicando. 

 Bloqueio naval, que não permite que navios atraquem, pois são penalizados com a proibição de atracarem depois em qualquer porto dos EUA; 

 Bloqueio de turistas, que impede que o país aumente acesso às divisas estrangeiras;

Pela ocorrência dos furacões, que afetaram todo rede elétrica e pela impossibilidade de acesso ao petróleo no mercado mundial. 

 Diante disso, o MST se somou a dezenas de movimentos e pessoas de boa vontade no Brasil, para levantar recursos. Veja o PIX abaixo. 

Faça também a sua parte. A solidariedade é a mais bela qualidade do ser humano! Abraços Secretaria Nacional

Fortaleça a campanha de solidariedade a Cuba doando qualquer valor!

📲 DOE PELO PIX: 34.131.511/0001-64 (Câmara Empresarial Brasil - Cuba)
Banco do Brasil
Ag: 4770
CC: 13844-4

#Cuba #CubaViveEResiste #SolidariedadeComCuba #ContraOBloqueio #Internacionalismo

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Análise das Eleições 2024: há futuro para esquerda guarulhense?




Fim de festa. 06 de outubro passou para o susto ou alegria dos (as) candidatos (as) a vereador. Para prefeito a luta continua. Assim como as analises das últimas eleições, sigo refletindo sobre os desafios não apenas eleitorais, mas da capacidade orgânica de mobilização, resistência e organização. 

Já adianto: derrota, derrota e derrota. Esse pessimismo não é para desanimar ninguém, mas precisamos refletir sobre os fatos para reorganizar a luta da classe trabalhadora guarulhense. 

Seguir sem refeltir sobre porquê Guarulhos, antes governada pelo PT (2000 - 2016) que promoveu mudanças estruturais no serviço público com a criação do Fácil, dos PEV agora Ecopontos, dos Centros de Leitura, do Hospital Pimentas Bonsucesso, dos CEU's, da maior ampliação de escolas municipais e de Unidades Básicas de Saúde, que promoveu a urbanidade com o Parque da Transguarulhense, das melhorias no Pimentas, da Praça Estrela no Soberana, dos terminais de ônibus, do Bilhete Único, da estrada Velha Itaim São Miguel, do Orçamento Participativo entre tantas conquistas, que elegeu e reelegeu tanto Lula como Dilma foi tragado pelo anti-petismo e pelo fascismo reinante. 

Se o voto é uma "arma" o bolsonarismo fascista tornou esse instrumento numa forte arma contra a esquerda guarulhense, pois, sem uma atuação ampla nos espaços institucionais e com uma virada terrível de 60% do eleitorado para uma pósição de direita que desde as eleições de 2016 expressa todo seu ódio a um inimigo imaginário que é a "esquerda" de Guarulhos, segue firme por meio do voto confirmando aberrações eleitorais. Já foi analisado que parte desse fenômeno é sim culpa da ausência da posição e unidade dos partidos considerados de esquerda. 

O PT como principal protagonista preferiu não avaliar os pontos da derrota de 2016, escolheu não defender o seu legado e fez uma oposição pifia na Câmara de Vereadores, o partido preferiu não reagir não produzindo um mero jornal contra o governo Guti no primeiro mandato (2017-2020). 

A vitória de Guti nas eleições de 2020 foram a combinação dessa inércia e expressou um situação que não se imaginaria: o PT perdeu a capacidade de enfrentamento no parlamento. Nada comparado a trajetória histórica de uma oposição combativa que em momentos como na década de 1980 elegendo presidente da Camara com Eloi Pieta, com Orlando Fantazzini único vereador que dirigiu a oposição na década de 1990 e com Orlando e Albertão sendo uma oposição combativa no período de 1996 e 2000, sendo eleitos os únicos vereadores atuantes pelo jornal Estadão. 

A quarta posição em que Alencar ficou nestas eleições de 2024, com 61 mil votos, menos de 10%, sepultou a representação histórica do petismo que ficava entre 15% a 20% do eleitorado em eleições anteriores, mesmo em tempos difíceis. 

Várias combinações levaram a essa situação, desde o processo interno de escolha do candidato a prefeito que abriu mão das prévias e do protagonismo da base filiada, a falta de disposição dos "dirigentes" em construir a unidade no momento em que seria chave para enfrentar a direita governista, as crises políticas que desde 2016 com a derrota eleitoral, golpe contra Dilma, prisão de Lula, vitória de Bolsonaro e derrota de Lula, passando por uma direção local que escolheu não debater, não analisar, não se organizar e apenas ser uma federação dos mandatos de vereadores, sem reação. 

O partido é a organização da classe, mas o PT preferiu nacionalmente não aprender nada com a atual situação política do país, preferiu uma saída igual a do Partido Social Democrata Alemão (PSDA), capitular em vez de resistir. Preferiu aguardar a liberdade de Lula e apostar nas eleições de 2022, a ter que se organizar. As análises abaixo serão em pontos para melhor leitura. 

Guti, o grande derrotado! O governo Guti escolheu destruir os serviços públicos em nome da privatização por meio da terceirização. Não construiu nada de novo, manteve sobre seu plano apenas entregar as obras do governo do PT para a cada eleição "entregar" como se fosse sua realização. Construiu uma base de governo na Camara de Vereadores forte e tem um apoio velado de setores do judiciário que blindam o seu governo. Mas tem fama de egoista, nunca foi fiel a um partido ao longo da sua trajetoria de vereador, ewleito prefeitio preferiu não eleger nenhum deputado estadual ou federal em 2018 e 2022, vamos lembrar que os governos do PT sempre elegeram deputados estaduais e federais (estaduais Almeida e Alencar e federais Orlando e Janete Pieta), ou seja a máquina elege, só Guti que preferiu não eleger. 

E porque com Jorge Wilson seria diferente? Prefeiu rifar seu secretário de governo e como desculpa disse atender a um "pedido" do governador Tarcisio. O resultado: o candidato da máquina ficou em terceiro lugar com 128 mil votos, bem distante do segundo colocado. As previsões se confirmam: Guti é fiel a ele mesmo. Página virada, dizem os aliados! Apenas 25 mil votos separam Eloi e Lucas neste segundo turno. 

Porém, a surpresa não é essa. O susto foi Sanches ter 33% (cerca de 212 mil votos) na frente de Eloi que obteve quase 30% (190 mil votos), mostrando uma tendência do eleitorado na zonas eleitorais permeadas pela classe trabalhadora de renda média nas zonas 176 (centro-continental-bom clima), 278 (ponte grande-itapegica) e nas periferias como a 394 (bonsucesso), 279 (taboão) e 393 (cabuçu-recreio), já Eloi vence nas zonas 395 (cumbica) e 185 (pimentas). 

Primeiro: Eloi repete as vitórias de Lula no primeiro turno de 2022, nessas duas unicas zonas; Segundo, o voto da classe assalariada média preferiu uma direita "original" já que Lucas é membro do MBL; Terceiro,o voto de Lucas nas periferias, em particular no Bonsucesso ou no Taboão, lugar com histórico de lutas sociais e populares e onde Eloi era referência, denota a ausência da esquerda nestes lugares. 206 mil abstenções, cansaço diante das instituições ? 

Segundo: Nem direita e nem esquerda levaram 206 mil eleitores a não sair de casa nem para justificar o voto no dia. Diferente dos 63 mil que anularam e os 41 mil que votaram em branco, estes ausentes poderiam ter decidido as eleições municipais no primeiro turno ou ter colocado outro candidato (a) no segundo turno. 

É certo que a resposta destes reprenta o cansaço com o atual quadro de disputa político eleitoral e dão uma resposta direta a quem atua na política institucional:(a) Nem direita e nem esquerda tem convencido estes a sair de casa, seja pela causa que for; (b) não se sentem representados por nenhuma força política atual; (c) a apatia é a derrota da fraca democracia liberal brasileira, mostrando a indiferença para qualquer causa que for, este último é um elemento terrível, pois, tende a caminhar com formas apelativas da política como discursos fascistas anti sistema. 

Cabe a esquerda entender, compreender, refletir, organizar e mudar a forma como quer estabelecer essa relação orgânica com o conjunto da população. 

Na Camara de Vereadores, perto de 40% de renovação! Seja a direita ou a esquerda, o balanço final é de derrota para esquerda. A inesperada vitória de um delegado novato com 18 mil votos expressa que a disposição ao fascismo é um fato na política guarulhense, bem como outros palhaços bolsonaristas eleitos, que não cabe citar, é certo que a alergoria e a narrativa anti direitos humanos será ainda mais beligerante nesse mandato. 

A boa novidade para esquerda e para o PT foi a vitória de Fernanda Curti pelo PT, com 9 mil votos e a mais votada do petismo, duas questões são centrais: uma, que o voto petista e jovem preferiu uma posição mais ideologica e de renovação, e dois, será a possível resistencia contra o bolsonarismo presente neste mandato do legislativo. 

Mesmo assim, a esquerda encolhe e fica restrita aos cinco eleitos (as): três eleitos (as) do PT, um do Psol e uma da Rede. E os partidos? Os votos de legenda expressam a fidelidade do eleitor a uma linha de pensamento. O PT segue sendo a referência de voto a esquerda, recebendo 7 mil votos do total de 58 mil votos que o partido recebeu. 

Mas, o PL canaliza o voto do bolsonarismo fascista e em Guarulhos alcançou 9 mil votos, dos 45 mil votos da chapa de vereadores. Contudo, a direita segue altamente personalista, pois o PSD do governo Guti, obteve 71 mil votos, e destes menos de mil votos na legenda, o PR do governador Tarcisio também só recebeu 3 mil votos de legenda frente aos seus 81 mil votos na chapa de vereadores. 

Os partidos políticos em geral na direita expressam interesses pessoais e particulares, ou seja, servem de abrigo provisório e de aluguel, não tem penetração na massa, não representam nada na vida política do país.

A novidade é o voto dirigido para o bolsonarismo fascista, que segue uma tendência. Mas e a esquerda para além do PT? O Psol de Guarulhos não engatou na onda psolista da capital paulistana. 

O Psol de São Paulo está pau a pau com o PT em votos de legenda, onde o Psol alcançou 105 mil votos de legenda e o PT paulistano 131 mil votos de legenda, isso denota que a referência na esquerda está em franca disputa e podendo representar uma mudança dessa referência. Já o Psol guarulhense alcançou os incrivéis 1307 votos. 

Candidaturas que alcançam referência em São Paulo como a Bancada Feminista, aqui alcançou 1865 votos, ficando na primeira suplencia e a Juntas 816 votos, um desafio para representação da luta feminista na Camara de Vereadores (as). 

As demais esquerdas pouco pontuam nos sesu votos de legenda, mesmo sendo partido cuja posição estadual e nacional são conhecidas, no plano local estão quase subsumidas. Pouco ou nada se sabe da posição que será adotada pelos candidatos eleitos pelo PDT, primeiro mandato e do PCdoB e PSB, estes dois últimos forma da base do governo de direita de Guti.

Ou seja, sem uma estratégia que busque combinar oposição de esquerda, defesa de causas e organicidade territorial, local e entre as categorias de trabalhadores (as), a esquerda guarulhense virou refém da pauta estadual e nacional. 

A quem diga que para esquerda a votação ou participação nas eleições burguesas não representa a capacidade de luta dos trabalhadores (as), porém, a luta de classes exige avançar em todos os campos, se não temos força político institucional, se não temos votos expressivos, taõ pouco temos organizações fortes que estão nas ruas promovendo levantes. 

A combinação das lutas e resistências é que constrõem novas hegemonias. Nesse momento, a nossa esquerda foi derrotada! Sem avaliação e sem estratégia não adianta aguardar 2026 e 2028. 

O "Congresso Consevador" de Guarulhos promovido pelas direitas guarulhenses reuniram 800 pessoas, sem uma linha eleitoral ou apoio do governo municipal, esse tipo de mobilização deveria ser um termometro para os desafios que temos pela frente. 

Quando haverá um Congresso ou encontro das esquerdas guarulhenses para pelo menos construir um programa minimo de resistência ao fascismo e de organização sem necessariamente estar vinculada ao processo eleitoral? 

Cabe o PT fazer uma avaliação sincera, politizada e preocupada com a unidade das esquerdas. Mas fará? E o Psol? Quando vai buscar enraizar suas paustas fundamentais na vida social da cidade para ser de fato uma força política de renovação da esquerda? Seguiremos, com nossos atos em defesa do povo palestino, contra as privatização, contra as escolas civico-militares e o fascismo presente. Sempre é um bom momento para encontrar nossos companheiros (as) e camaradas, mas isso será suficiente?

São algumas perguntas que precisam de respostas, urgentes!

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Para mim hoje, um AVC ou ataque cardíaco seria um presente!

 

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Tem aquele que diz que na vida ou no jogo, melhor parar quando está ganhando. Talvez haja razão nesse pensamento. 

Talvez se a gente pudesse interromper a vida no nosso melhor momento, seja isso que nos permita admitir que ela valeu a pena.

Hoje, sinceramente um AVC ou um ataque cardíaco me permitiria interromper a vida num bom momento. Já fiz lutas, já fiz minhas experimentações e experiências, escolhi o que fazer e paguei o preço disso, errei, magoei, fui magoado, vivi bem, e não é uma questão de idade, é de satisfação.

Pois, quando a vida te cobra seus erros acumulados, quando parte da rotina se confunde com indiferença ou negligência, melhor parar.

Não falo em suicídio. Nem perto disso. Mas a gente depois de um tempo tenta prolongar a vida como se algo pudesse ser inovador para nossa existência.

Realmente não sei se vale a pena esse prolongamento da vida.

Valeu o que foi vivido. Se no seu balanço foi satisfatório, quem sabe, ou melhor, eu estou pensando nisso, talvez um mal súbito seja um presente. 

Ninguém é imprescindível mesmo. 

Acho que já trabalhei o necessário. Vamos pra próxima.

Quem sabe é hora de deixar esse papo de prolongar. Encharcar as veias da melhor carne, tomar as cachaças e as brejas que puder e deixar a vida me levar.

Ao final, me tornei parte da pessoa que jurei nunca ser, magoei quem eu faria tudo pela sua felicidade e parte do que que adoro fazer em coletivo será encerrado pelo vil metal.

Para quem está em declínio, melhor encerrar com alguma dignidade, um AVC ou ATAQUE CARDIACO seria sim um presente!



terça-feira, 20 de agosto de 2024

Escolas militares são parte de um projeto de sociedade. Como se combatem projetos societários?







Na segunda semana de agosto de 2024 começa com uma boa noticia: "Justiça de SP suspende programa Escola Cívico-Militar de Tarcísio" (Metropolis, 07/08/2024), estão em curso muitas lutas contra esse projeto do governo Tracisio, que foi iniciado pelo governo fascista de Bolsonaro. Foram lutas na Assembleia Legislativa onde estudantes, professoras e militantes das organizações sindicais, populares e de esquerda fizeram enfrentamento contra a medida, agora sendo implantadas a luta que segue é contra a sua implantação. 

O conflito era inevitável e necessário. Lutar contra as medidas político ideologicas do fascismo é fundmental para que não se crie uma visão militarizada da sociedade como quer os fascistas. Casos de enfrentamento como a ação fascista de invasão da sede da APEOESP Guarulhos tem sido a tônica do que ainda está por vir. 

O fascismo brasileiro atual é uma mistura de oportunismo eleitoral e oportunidades de "mamar" no dinheiro público por meio da sustentação desse discurso de ódio e violência, que se não tivesse inocentes utéis mandado pix para essa cambada de vagabundo não teria o mesmo efeito que tem. 

E esse é o ponto central: tem base que sustenta essas ideias. Por isso, as velhas formas de resistência pós redemocratização não tem sido eficazes para enfrentar o problema. O fascismo brasileiro com raiz em Plinio Salgado e com apoio institucional de Vargas não tem refresco na memória do povo braisileiro, a história que é repassada nas escolas é apenas um breve paragrafo, o que é ruim, pois novamente normalizamos posturas violentas como se faz com a questão da ditadura militar. Depois não se sabe porquê esses mostros saem dos esgotos com suas ideologias escrotas. 

A culpa da nossa esquerda é certa. Passados quatro décadas pós redemocratização os partidos da esquerda, em particular o PT, tiveram várias gestões municipais, estaduais e federal, sustentaram em seu discurso que "educação é prioridade da esquerda e não da direita", isso é um mito que foi sustentado pelas inovações e investimentos que foram realizados ao longo dessas experiências de gestão. 

Talvez a mais exitosa seja mesmo a gestão da ex-prefeita Luiza Erundina que teve como secretário o educador Paulo Freire, e de fato, governos vem e vão à frente da prefeitura de São Paulo e não conseguem derrubar o Plano de Carreira, sabiamente, construido por este governo. Os anos se passaram e partidos da esquerda como PT, PSB, PDT e outros fizeram uma mudança de rota no debate educacional, abandonaram a ideia de investimento, fortalecimento dos profissionais e da comunidade escolar e projetos político-pedagogicos por um populismo educacional. Preferiram na metade da década de 1990 implantar projetos e programas populistas e apenas materiais. 

O governo Marta escolheu enfraquecer a gestão de base e recorrer a lógica da direita: imagem e assistencialismo. Com construções gigantescas como os CEU's (Centros de Educação Unificados) e a entrega farta de uniformes, material escolar e outros. E foi sendo um modelo que foi sendo abraçado de forma geral pelas administrações de esquerda. Ou seja, metas como erradicar analfabetismo forma sendo substituidas por um slogam eleitoral mais direto (e oportunista). Ambas poderiam existir? 

A implantação de um projeto educacional popular, alternativo, participativo e autonomo somado a entrega material de insumos necessários, sim ambos são perfeitamente possíveis e fariam a esquerda disparar na frente da direita. A direita poderia no máximo acusar a esquerda de "gastar muito com educação", mas quem quer ser contra a educação? 

E com a possibilidade da esquerda poder dizer que é referencia exclusiva de algo em que seria imbatível (no plano ideologico e eleitoral), pois seria um projeto em duas frentes: qualificar a cidadania por meio da inclusão e participação política e garantir recursos aos mais pobres. 

Talvez venceriamos até o debate da universalização do ensino. Agora isso não foi feito, como muita coisa que a esquerda brasileira abandonou em nome da luta eleitoral, e conforme os anos passam o que entrou no lugar foi o projeto educacionmal da direita fascista, militarizar escola remete a uma memória distorcida, confusa e não verdadeira de que escola militarizada, como quartel, forja a "moral e a cidadania" da pessoa. 

 Andamos para trás. 

Pois só restou a nossa esquerda resistir e lutar contra a implantação das escolas militares, sem o reconhecimento de nenhum projeto educacional de base que represente alternativa a esse modelo. Eu sei que houveram gestões locais exitosas, mas sobrevivem no anonimato ou foram derrotadas nas eleções seguintes pela total falta de prioridade. 

 Alguns imbecis na nossa esquerda poderão até dizer bobagens e argumentar que as expeirências foram boas, mas não cabem mais. Eu respondo a cada uma dessas posições imbecis: "Para que priorizar alfabetização? Foi bom, mas agora não tem projeção, não aparece!" Alfabetizar para libertar é diferente de Mobral da ditadura, então, a iniciativa dos Movimentos de Alfabetização (MOVA) devem ser construídos para libertação político-ideologica, devem ser mais do que "ensinar a ler e escrever", devem servir para que as pessoas compreendam o mundo e não apenas faça a sua leitura acritica. 

Onde é feito nessa direção conquistamos militantes e não apenas eleitores. O MST segue com as metodologias do "Sim eu posso!" cubano e outros movimentos também. "Os CEU's são grandes conquistas lembradas até hoje" Como complexos educacionais excelentes, como lugar de articulação social e participação popular virou pó, viraram escolões com lazer embutido, que de nada representam lugar de protagonismo, onde resiste a participação é porquê foi iniciativa dos movimentos e sem apoio dos governos, Haddad teve essa chance e podou. 

E no final, a resposta objetiva desses complexos não resolve problemas estruturais: numa cidade como São Paulo, a falta de vagas em creches segue de forma abusurda. "Os mais pobres precisam dos uniformes, material escolar e alimentação" Niguém esta questionando o papel do Estado em fornecer insumos. 

Mas a ausência de projeto societário causa uma crise em cadeia. De um lado esse oportunismo assistencial não qualifica a relação da comunidade e a escola, cria conflitos estupidos sobre tamanho de uniforme em vez que integrar a comunidade na luta em defesa da educação pública. 

Do outro, a luta dos movimentos de trabalhadores desempregados e das cooperativas como dos catadores de materiais reciclavéis seguem sem apoio, quando poderiamos potencializar essas organizações que tem militantes combativos do lado de cá da nossa esquerda, podend destinar o fornecimento por meio dessas organizações. 

A única experiência foi durante o governo do PT na cidade de Osasco (SP) que articulou a produção e fornecimento de uniformes à cooperativa de trabalhadoras ligadas ao Programa Bolsa Família, e só. "Servidores públicos tem custo e tem os limites na Lei de Responsabilidade Fiscal" Esse discurso é de direita. 

Apesar de ter sido aplicada com fidelidade pelos governos de esquerda, que transformaram servidores públicos em inimigos, quando deveriam ser incorporados como aliados. A ausência do fortalecimento das carreiras e consolidação de um funcionalismo forte de direitos e firme de posições com relação ao projeto político-pedagogico só faz a esquerda perder. Poderíamos até perder o governo, mas não a política pública. 

E bastava estruturar a carreira com o modelo educacional, pois, não quea educação seja progressista por natureza, contudo, se construida e incorporada as ações faz com que a hegemonia político-educacional-pedagogica seja forte mesmo tempos de guerra, porque isso é uma conquista em cadeia: se a escola pública educa e faz pensar, se os profissionais só tem como preocupação educar, criar e construir, à população assume o papel de defesa! Voltamos ao drama: eles tem a escola militarizada como alternativa, e nós? 

 E mesmo que "dê errado", o estrago a médio e longo prazo está feito! As gerações que pssarem por essa merda influenciará alguém, ponto. E esses alguéns vaõ seguir caminhando com essas ideias do fascismo. 

É esse o ponto de risco. Sempre há tempo de mudar!

Dez teses sobre a extrema-direita de um tipo especial | Carta semanal 33 (2024)Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.

 Dez teses sobre a extrema-direita de um tipo especial | Carta semanal 33 (2024)




Queridas amigas e amigos,


Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.


Desde 2016, verificamos uma consternação generalizada sobre como compreender o surgimento de Donald Trump como um candidato sério a presidente dos EUA. Longe de ser um fenômeno isolado, Trump chegou ao poder ao lado de outros “homens fortes” como Viktor Orbán (primeiro-ministro da Hungria desde 2010), Recep Tayyip Erdoğan (presidente da Turquia desde 2014) e Narendra Modi (primeiro-ministro da Índia desde 2014). Parece ser impossível que homens como esses, que chegaram ao poder e consolidaram seu governo por meio de instituições liberais, saiam de cena permanentemente por meio das urnas. Está claro que está ocorrendo um giro para a direita nos Estados democráticos liberais, cujas constituições enfatizam as eleições multipartidárias e, ao mesmo tempo, permitem que o espaço para o governo de um partido seja gradualmente estabelecido.


O conceito de democracia liberal foi e é um conceito altamente contestado que surgiu das potências coloniais da Europa e dos EUA nos séculos 18 e 19. Suas alegações de pluralismo e tolerância interna, o Estado de Direito e a separação dos poderes políticos surgiram ao mesmo tempo em que suas conquistas coloniais e seu uso do Estado para manter o poder de classe sobre suas próprias sociedades. É difícil conciliar o liberalismo atual com o fato de que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) são responsáveis por 74,3% dos gastos militares mundiais.


Países com constituições que enfatizam eleições multipartidárias têm visto cada vez mais o estabelecimento gradual do que é efetivamente um governo de partido único. Essa regra de partido único pode, às vezes, ser mascarada pela existência de dois ou até mesmo três partidos, ocultando a realidade de que a diferença entre esses partidos têm se tornado cada vez mais insignificantes.



Helios Gómez (Espanha), Viva octubre [Viva outubro], 1934.


Tornou-se evidente que um novo tipo de direita surgiu não apenas por meio de eleições, mas exercendo domínio nas arenas da cultura, da sociedade, da ideologia e da economia, e que esse novo tipo de direita não está necessariamente preocupado em derrubar as normas da democracia liberal, como debatemos no nosso mais recente dossiê, O avanço do neofascismo e os desafios da esquerda na América Latina. Isso é o que chamamos de “abraço íntimo entre o liberalismo e a extrema direita”, seguindo os escritos de nosso falecido membro sênior Aijaz Ahmad.


A formulação desse “abraço íntimo” nos permite entender que não há contradição necessária entre o liberalismo e a extrema direita e, de fato, que o liberalismo não é um escudo contra a extrema direita, e certamente não é seu antídoto. Quatro elementos teóricos são fundamentais para entender esse “abraço íntimo” e a ascensão dessa extrema direita de um tipo especial:


As políticas de austeridade neoliberal em países com instituições eleitorais liberais destruíram os programas de bem-estar social que permitiam a existência de sensibilidades progressistas. O fracasso do Estado em cuidar dos pobres se transformou em severidade para com eles.

Sem um compromisso sério com o bem-estar social e com os programas redistributivos, o próprio liberalismo entrou no mundo das políticas de extrema direita. Isso inclui o aumento dos gastos com o aparato repressivo que policia os bairros da classe trabalhadora e as fronteiras internacionais, juntamente com a distribuição cada vez mais avarenta de bens sociais, distribuídos somente se os beneficiários aceitarem a destituição de direitos humanos básicos (como “concordar” com a obrigatoriedade do controle de natalidade).

Nesse terreno, a extrema direita de um tipo especial descobriu que se tornava cada vez mais aceita como uma força política, dado o giro dos partidos liberais em direção às políticas defendidas pela extrema direita. Em outras palavras, essa tendência de basear-se em políticas de extrema direita permitiu que esta ala se tornasse convencional.

Por fim, as forças políticas liberais e de extrema direita se uniram em todos os setores para diminuir o alcance da esquerda sobre as instituições. A extrema direita e seus colegas liberais não possuem divergências econômicas fundamentais em relação à classe. Nos países imperialistas, há uma grande confluência de pontos de vista sobre a manutenção da hegemonia dos EUA, a hostilidade e o desprezo pelo Sul Global e o aumento do chauvinismo, conforme observado pelo apoio militar total ao genocídio que Israel está realizando contra os palestinos.


Após a derrota do fascismo italiano, alemão e japonês em 1945, os analistas do Ocidente se preocuparam com a incubação da extrema direita em suas sociedades. Enquanto isso, a maioria dos marxistas reconhecia que a extrema direita não havia surgido do nada, mas das contradições do próprio capitalismo. O colapso do Terceiro Reich foi apenas uma fase na história da extrema direita e do desenvolvimento do capitalismo; ela ressurgiria, talvez com roupas diferentes.


Em 1964, o marxista polonês Michał Kalecki escreveu o estimulante artigo “The Fascism of Our Times” [Faszyzm naszych czasów]. Nesse ensaio, Kalecki disse que os novos tipos de grupos fascistas que estavam surgindo na época apelavam “para os elementos reacionários das grandes massas da população” e eram “subsidiados pelos grupos mais reacionários dos grandes negócios”. No entanto, escreveu Kalecki, “a classe dominante como um todo, embora não aprecie a ideia de grupos fascistas tomarem o poder, não faz nenhum esforço para suprimi-los e se limita a reprimendas por excesso de zelo”. Essa atitude persiste até hoje: a classe dominante como um todo não teme a ascensão desses grupos fascistas, mas apenas seu comportamento “excessivo”, enquanto as seções mais reacionárias das grandes empresas apoiam financeiramente esses grupos.




Mario Schifano (Itália), No [Não], 1960.


Uma década e meia depois, quando Ronald Reagan parecia estar prestes a se tornar o presidente dos Estados Unidos, Bertram Gross publicou Friendly Fascism: The New Face of Power in America (1980) [A nova face do poder na América], que se baseou livremente em The Power Elite (1956) [A elite do poder] de C. Wright Mills e Monopoly Capital: An Essay on the American Economic and Social Order (1966), [Capital monopolista: um ensaio sobre a ordem econômica e social americana] de Paul A. Baran e Paul M. Sweezy. Gross argumentou que, como as grandes empresas monopolistas haviam estrangulado as instituições democráticas nos Estados Unidos, a extrema direita não precisava de botas e suásticas: essa orientação viria por meio das próprias instituições da democracia liberal. Quem precisa de tanques quando se tem os bancos para fazer o trabalho sujo?


As advertências de Kalecki e Gross nos lembram que a intimidade entre o liberalismo e a extrema direita não é um fenômeno novo, mas emerge das origens capitalistas do liberalismo: este nunca foi nada além da face amigável da brutalidade normal do capitalismo.



Os liberais estão usando a palavra “fascismo” para se distanciar da extrema direita. Esse uso do termo é mais moralista do que preciso, pois nega a intimidade entre os liberais e a extrema direita. Para isso, formulamos dez teses sobre essa extrema direita de um tipo especial, que esperamos que provoque discussões e debates. Esta é uma formulação provisória, um convite para o diálogo.


Tese um. A extrema direita de um tipo especial usa instrumentos democráticos até onde for possível. Ela acredita no processo conhecido como “longa marcha através das instituições”, por meio do qual constrói pacientemente o poder político e aparelha as instituições permanentes da democracia liberal com seus quadros, que depois levam seus pontos de vista para o pensamento dominante. As instituições educacionais também são fundamentais para a extrema direita de um tipo especial, pois determinam os programas de estudo para os alunos em seus respectivos países. Não é necessário que essa extrema direita de um tipo especial deixe de lado essas instituições democráticas, desde que elas ofereçam o caminho para o poder não apenas sobre o Estado, mas sobre a sociedade.


Tese dois. A extrema direita de um tipo especial está promovendo o desgaste do Estado e a transferência de suas funções para o setor privado. Nos Estados Unidos, por exemplo, sua propensão à austeridade está ajudando a reduzir a quantidade e a qualidade dos quadros em funções essenciais do Estado, como o Departamento de Estado dos EUA. Muitas das funções dessas instituições, agora privatizadas, são realizadas sob os auspícios de organizações não governamentais lideradas por capitalistas bilionários emergentes, como Charles Koch, George Soros, Pierre Omidyar e Bill Gates.


Tese três. A extrema direita de um tipo especial usa o aparato repressivo do Estado de modo a silenciar seus críticos e desmobilizar movimentos de oposição econômica e política. As constituições liberais oferecem ampla latitude para esse tipo de uso, do qual as forças políticas liberais se aproveitaram ao longo do tempo para reprimir qualquer resistência da classe trabalhadora, do campesinato e da esquerda.




Maryan (Polônia), Personnage [Personagem], 1963.


Tese quatro. A extrema direita de um tipo especial incita uma dose homeopática de violência na sociedade por parte dos elementos mais fascistas de sua coalizão política para criar medo, mas não medo suficiente para que as pessoas se voltem contra ela. A maioria das pessoas de classe média em todo o mundo busca conforto e se incomoda com os inconvenientes (como os causados por manifestações, etc.). Mas, ocasionalmente, um assassinato de um líder trabalhista ou uma ameaça a mão armada feita a um jornalista não é atribuída à extrema direita de um tipo especial, que muitas vezes nega apressadamente qualquer associação direta com os grupos fascistas marginais (que, no entanto, estão organicamente ligados a ela).



Tese cinco. A extrema direita, de um tipo especial, oferece uma resposta parcial à solidão que está presente no tecido da sociedade capitalista avançada. Essa solidão decorre da alienação das condições precárias de trabalho e das longas jornadas, que corroem a possibilidade de construir uma comunidade e uma vida social vibrantes. Essa extrema direita não constrói uma comunidade real, exceto quando se trata de seu relacionamento parasitário com comunidades religiosas. Em vez disso, ela desenvolve a ideia de comunidade, comunidade pela Internet ou por meio de mobilizações ou comunidade por meio de símbolos e gestos compartilhados. A imensa fome de comunidade é aparentemente resolvida pela extrema direita, enquanto a essência da solidão se transforma em raiva, e não em amor.


Tese seis. A extrema direita de um tipo especial usa sua proximidade com conglomerados privados de mídia para normalizar seu discurso, e sua proximidade com os proprietários de mídias sociais para aumentar a aceitação social de suas ideias. Esse discurso de agitação cria um frenesi, mobilizando setores da população, seja on-line ou nas ruas, para participar de manifestações em que, no entanto, continuam sendo indivíduos e não membros de um coletivo. O sentimento de solidão gerado pela alienação capitalista é atenuado por um momento, mas não superado.


Tese sete. A extrema direita de um tipo especial é uma organização tentacular, com suas raízes espalhadas por vários setores da sociedade. Ela atua onde quer que as pessoas se reúnam, seja em clubes esportivos ou organizações beneficentes. Seu objetivo é construir uma base de massa na sociedade, enraizada na identidade da maioria em um determinado lugar (seja raça, religião ou senso de nacionalidade), marginalizando e demonizando qualquer minoria. Em muitos países, essa extrema direita se apoia em estruturas e redes religiosas para incorporar cada vez mais profundamente uma visão conservadora da sociedade e da família.



Tese oito. A extrema direita de um tipo especial ataca as instituições de poder que são o próprio alicerce de sua base sociopolítica. Ela cria a ilusão de ser plebéia em vez de patrícia, quando, na verdade, está nos bolsos da oligarquia. Ela cria a ilusão de plebeia ao desenvolver uma forma altamente masculina de hipernacionalismo, cuja decadência transparece em sua feia retórica. Essa extrema direita se aproveita do poder da testosterona desse hipernacionalismo e, ao mesmo tempo, joga com sua retratada vitimização diante do poder.


Tese nove. A extrema direita de um tipo especial é uma formação internacional, organizada por meio de várias plataformas, como o The Movement de Steve Bannon (com sede em Bruxelas), o partido Vox do Fórum de Madri (com sede na Espanha) e a anti-LGBTQ+ Fundação Fellowship (com sede em Seattle, EUA). Esses grupos estão enraizados em um projeto político no mundo atlântico que reforça o papel da direita no Sul Global e lhes fornece os recursos para aprofundar as ideias de direita onde elas têm pouco solo fértil. Eles criam novos “problemas” que antes não existiam nessa proporção, como a algazarra sobre sexualidade no leste da África. Esses novos “problemas” enfraquecem os movimentos populares e reforçam o controle da direita sobre a sociedade.


Tese dez. Embora a extrema direita de um tipo especial possa se apresentar como um fenômeno global, há diferenças entre a forma como ela se manifesta nos principais países imperialistas e no Sul Global. No Norte Global, tanto os liberais quanto a extrema direita defendem vigorosamente os privilégios que obtiveram por meio da pilhagem nos últimos 500 anos – por meio de seus meios militares e outros – enquanto no Sul Global a tendência geral entre todas as forças políticas é estabelecer a soberania.



A extrema direita de um tipo especial surge em um período definido pelo hiperimperialismo para mascarar a realidade do poder hediondo e fingir que se preocupa com os indivíduos isoladamente quando, na verdade, os prejudica.


Ela conhece bem a loucura humana e se aproveita dela.


Cordialmente,


Vijay.


P.S. Salvo quando indicado de outra forma, as ilustrações desta carta semanal foram retiradas dos dossiês Novas roupas, velhos fios: a perigosa ofensiva da direita na América Latina (2021) e O que esperar da nova onda progressista da América Latina? (2023)