ARTIGO
“Com que roupa, eu vou?”
Brasil de Fato
Edição 614
1° de dezembro de 2014
Alipio Freire
Se os golpistas de plantão não consumarem seus intentos durante os dias de desmobilização das festas de final de ano; se o senhor Aloysio Nunes não assumir a Presidência depois de uma overdose induzida que abata o senhor Aécio Neves – O Aspirante; se dona Marina Silva não for entronizada e coroada A Nefertiti do Igarapé Verde; se dona Kátia Abreu não decidir invadir a Bolívia e a Venezuela com o apoio do pessoal do pijama-e-coturno, para acabar com a baderna no Continente e expandir o agronegócio para além das atuais fronteiras; se Deus quiser e o Divino Espírito Santo permitir; se a presidenta reeleita, Dilma Rousseff, for empossada – conforme ordena a nossa Constituição; se..., se... , etc., uma das primeiras questões (se não a primeira) que se colocará, será a Reforma Política.
Da direita à esquerda – passando pelos radicais de extremo centro – já existem vários projetos. Como originalmente esta é uma proposta programática do Partido dos Trabalhadores (assumida pela Presidência), antes mesmo de conhecermos todos os pontos da Carta de 1988 a serem reformados, temos uma singela pergunta a fazer, especialmente ao PT: com que força contamos para aprovar reformas que interessem aos trabalhadores e ao povo (povo=todos os explorados e oprimidos)?
As recentes eleições já demonstraram que não estamos com essa bola toda... No primeiro turno, acabamos com um Congresso mais à direita, que o da legislatura que ora finda e, no segundo, a diferença de votos entre os dois candidatos à Presidência foi pequena. Além disso, junto à opinião pública, consolida-se (e nos parece crescer), o ódio contra a esquerda, contra o PT e contra a presidenta.
Ou seja, neste momento a correlação de forças não nos é favorável, mas sim aos nossos inimigos de classe. O fato da presidenta ser obrigada a engolir ministros como a senhora Kátia Abreu e o senhor Joaquim Levy – por mais trágico que consideremos, é apenas a ponta do iceberg.
O processo de golpe que se desenvolve desde junho de 2013, prossegue em curso, e não duvidamos que recrudesça e possa ter um “final feliz” para os golpistas, se a Constituinte Exclusiva aprovar suas emendas (de sentido diametralmente oposto àquelas que propusermos, para o aprofundamento da democracia no Brasil). O golpe poderá se consumar por esse caminho, sem necessidade sequer de arcar com o ônus de tanques nas ruas. Ou seja, o tiro tende a sair pela culatra, com um retrocesso das conquistas obtidas em 1988.