terça-feira, 20 de outubro de 2015

Guarulhos, o que esperar do próximo prefeito (a)? Por Wagner Hosokawa



Guarulhos, o que esperar do próximo prefeito (a)?
Por Wagner Hosokawa[1]

Ser guarulhense tem ganhado outros sentidos. Mesmo que a nossa condição de “cidade dormitório” venha a ser renovada pelo boom imobiliário da última década isso só mostra o potencial de crescimento da cidade que sofre e se beneficia ao mesmo tempo da sua condição de “vizinha” da capital paulista.

Nesta última década tudo cresceu em Guarulhos do trânsito aos espaços públicos e privados, as opções de lazer ou de consumo. Segundo analistas é uma das cidades “não” capitais que mais se desenvolveu no último período dando ao seus administradores públicos também maiores responsabilidades.

Só a previsão orçamentária para 2016 é de 4,3 bilhões de reais e desafios para um momento em que despesa e arrecadação estão em uma briga intensa dada as condições econômicas em que vive o país e neste caso tamanho é “documento” quando tratamos da segunda maior cidade do estado de São Paulo (1,3 milhões de habitantes).

E para ter uma ideia segundo o IBGE alguns dados: 401 mil pessoas possuem automóvel, quase 100 mil alunos na rede municipal (entre ensino infantil e fundamental), uma diversidade no setor econômico com destaque para indústrias do ramo metalúrgico e químico, além do setor de serviços, 52 mil famílias beneficiadas no Programa Bolsa Família, enfim, um município que é um grande desafio de gestão pública.

E o que esperar da próxima gestão pública?

1)      Cuidar da cidade: o papel de “zelador” em tempos de poucos recursos para investimento exige que se faça a lição de casa básica como manter a limpeza pública principalmente dos espaços de uso comum (centros comerciais, praças e principais ruas e avenidas), funcionamento dos serviços fundamentais (educação, saúde e atendimento ao público – Rede Fácil) e resolução rápida de problemas pequenos e médios (buracos na rua, manutenção diversas, etc..);

2)      Escolher prioridades: em gestão pública “tudo é urgente”, por isso escolher terminar obras ou projetos que sejam voltadas para prevenção são importantes. Desde um CEU (Centro de Educação Unificado) em uma região com alto índice de violência e vulnerabilidade social, até ações de enfrentamento a enchentes;

3)      Se vai parar a obra ou algum programa: explique, negocie e repactue! Se houver decisões difíceis como ter que paralisar algum investimento vá preparado com estudos, argumentos e contra proposta, um bom acordo é melhor do que uma decisão “burocrática” ou de algum técnico “iluminado”;

4)      Aí entramos na questão da transparência. Uma cidade que não possui meios de comunicação que cheguem a grande maioria da população precisa criar seus canais de transparência.  Não apenas sobre o uso do dinheiro público, mas explicar porque tomou decisão X ou Y, por isso democratizar exige informar, sempre, todo dia e por qualquer meio – uma Prefeitura desse tamanho tem departamentos administrativos em vários lugares e de várias políticas públicas (escolas, unidades de saúde, regionais, etc..);

5)      Deixar a sua marca de governo! Parece obvio, mas não é um governo que quer fazer tudo não cria marca de nada, portanto buscar “marcas” em tempos de crise financeira é buscar escolher de um a três serviços (no máximo!) para torna-lo o mais qualificado possível e que possa ser elogiado gratuitamente, sem propaganda oficial. (exemplo: serviços de atendimento a população, buscar eficiência em serviços como do SAAE ou outra empresa ou área da Prefeitura);

Uma marca que ficou nesses 15 anos foi da educação, visto que a cidade tinha até 2000 uma rede de ensino municipal precária e pequena.

6)      Valorizar os servidores públicos! “Nem só de pão vive o homem”, já dizia o dito popular, e não é apenas salário que cabe na satisfação dos trabalhadores do setor público. Encontrar formas, meios e benefícios que não contrariem o atual quadro financeiro e ao mesmo tempo traga satisfação atende inclusive aos interesses da população;

7)      “Fazer mais e gastar menos”, não pode ser apenas discurso de cartaz. Em tempos de “moralização” da política gestos valem mais que palavras e um desafio antigo são os alugueis pagos pela Prefeitura. Um bom plano progressivo  e que seja divulgado para população gera menos gasto e muitos pontos junto aos munícipes;

8)      O que vale mais: algo que a população abrace no seu dia a dia ou eventos que marcar apenas num momento? Memória e lembrança são importantes, mas o gestor público vive o agora! Estudar no rol de ações, projetos e programas que marcam o dia a dia da população como Bosque Maia e os demais, espaços públicos de promoção do esporte como o Ginásio Thomeuzão, João do Pulo entre outros, na cultura com o Adamastor, Padre Bento, os Postos de Entrega Voluntária de entulho e material recicladoos Centros Ambientais ou os CEU’s. Isso tudo potencializado vale mais do que shows, ainda mais em tempos de crise;

9)      Fazer um estudo para entender a máquina pública. Nenhum gestor público faz ou olha para a máquina sozinho, precisa de equipe e feedback das situações. Entender o que é necessário e o que é supérfluo é importante;

10)   Nunca deixar uma região ou bairro com a marca do “terror”. É comum na disputa política e na ausência de gestão pública surgir denominações como “cracolândia”, “esquina do pó”, etc., saber agir preventivamente é como a experiência da praça no bairro Soberana que foi revitalizado e no espaço surge um leque de serviços públicos importantes, ou seja, antever não é agir depois que acontece;

11)   Não governar apenas para uma região! Olhar para tudo e todos é uma tarefa difícil, contudo não impossível e as últimas gestões estão para provar isso (exemplos não faltam do Hospital Pimentas ao Centro educacional na Ponte Alta).  Às vezes reformar é melhor que construir, melhorar o que existe é melhor que prometer mudanças que exigem muito;

12)   Olhar para as regiões com pouco desenvolvimento. A pobreza e as condições de vida em comunidades onde há ausência ou impedimento de atuação mais direta da Prefeitura não podem virar ”desculpas”. Há serviços e ações que chegam até as pessoas e podem servir como meio de aproximação e viradas na qualidade de vida da população, o importante é saber o que pode fazer mais diferença e promover cidadania;

13)   Participação como forma de governar. A experiência do Orçamento Participativo é marca da cidade, mas para manter vivo o diálogo permanente e o apoio popular o futuro governo deve avançar. Para serem os olhos, a voz e o fiscal das ações e contribuir para que a administração seja reconhecida é preciso mais.

Esse seria um bom investimento para o futuro. Investir em canais de diálogo onde já existem conselhos de políticas públicas – mas com inúmeras dificuldades e descredito, conselhos de escola e gestores na saúde que poderiam ter seu papel ampliado e o OP que precisa reorientar-se (e o Congresso que esta sendo realizado pela atual gestão prova isso). Hora de reunir os cidadãos e cidadãs preocupados com a cidade.

Estes esforços somados poderiam fazer uma próxima gestão à frente da Prefeitura, garantir credibilidade popular, controle sobre a cidade sem ser “pego de surpresa” sobre fatos ou situações que atinjam os direitos do munícipe e o melhor índice desse governo futuro será o grau de qualidade de vida daqueles que moram e vivem a cidade.

Desafios para 2016 para vencer as eleições não bastam falar do passado e nem prometer um futuro, mas dizer a população quais compromissos nos qualificam para esta próxima tarefa.




[1] Assistente Social, funcionário público da Prefeitura de Guarulhos e militante socialista do PT. Professo do Curso de Serviço Social da UNG, Mestre em Serviço Social pela PUC/SP e doutorando do Programa de Pós Graduação em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC. Foi membro do DM PT Guarulhos e da executiva da Macroregião do PT na gestão do companheiro “Seu” Cândido.