Apelar para o estômago ou apelar
para o coração: a luta revolucionária na construção de um Brasil emancipado.
“Que adianta programa popular sem
o Lula lá”, esse foi o grito de guerra que ouvi em um dos últimos encontros
nacionais da juventude do PT (Partido dos Trabalhadores) antes da vitória
eleitoral de 2002, como pode-se ver o entusiasmo das eleições foram maiores do
que o programa a ser implantado.
Ouço muitos reclames,
principalmente quando há críticas como as que apresento aqui. Dizem que isso “joga
contra o partido”, contudo, em que espaços ou lugares o meu partido tem
garantido o debate sobre os rumos que vai tomar para mudar o país.
Vacilos acontecem aos montes e no
PT da minha cidade não é diferente. Saber que em plena reunião de diretório,
dirigentes defendo uma nota menos branda que a que foi aprovada pela executiva
municipal e que orienta o voto nulo dos militantes e filiados (as) diante da
ausência de alinhamento com dois candidatos identificados com o golpismo é no mínimo
um sintoma de que o tempo e o debate ainda estão por vir, agora o que existe é
o oportunismo rondando ainda o partido.
O personalismo tornou-se muito
forte no PT e cristalizou-se com o Processo de Eleições Diretas (PED),
desvinculando a figura da chapa e do presidente, reforçou apenas o sistema
liberal de representação e matou o modelo congressual, em que militantes
participavam da construção do partido ativamente.
Privilegiou-se os apadrinhamentos
e toda forma de composição. Ideologicamente as forças políticas de esquerda e
revolucionaria diminuíram em vez de crescer em 2006, isso aliado à reeleição de
Lula aumenta a estima da arrogância interna da força majoritária. Mesmo diante
do “mensalão” nada abalava o “lulismo” até a reeleição de Dilma.
A direita e as elites preferiram “cortar
na própria carne” através da operação “Lava-jato” ao ativar seus instrumentos
da sociedade civil, que nunca foram enfraquecidos, contra o PT.
Passou pouco tempo ainda para que
os petistas-militantes pudessem de fato parar e refletir. O tempo da depuração
apenas está começando, entre os que querem sobreviver na velha forma, apinhados
em aparelhos institucionais e mandatos, e os que desde 2014 pararam para
observar os fatos e buscar fazer a política como exige-se um militante de esquerda.
E a nós que estamos na esquerda?
Temos bandeiras de luta, muitas bandeiras de luta. Das que já tínhamos que nos
preocupar e as novas que estão surgindo, parece um tsunami do qual apenas
corremos e nos agarramos para nos salvar.
Não vamos nos iludir com os
discursos de unidade. Unidade política pode acontecer sazonalmente, nos atos e
lutas comuns, mas a unidade programática, aquela que expressa o elo que nos
une, os diferentes num programa comum, isso faz falta.
Aos militantes, que não somos
poucos, mas dispersos, nos faltam condições para poder fazer a luta
clandestina, da desobediência civil, do trabalho de base, enfim, disputar a
sociedade seja por dentro ou fora das instituições públicas, da sociedade civil
e contra esse Estado exige combinar a práxis cotidiana e o programa político da
classe. Para além de um clichê, uma necessidade.
O partido da classe trabalhadora,
aquele enraizado no dia a dia, presente na articulação das lutas sociais e
populares, nas eleições liberal-burguesa e nos espaços da sociedade civil, estes
são imprescindíveis para que, sempre atentos, novas gerações sejam livres para
escolher sua identidade, sua religião, vontades e todo tipo de escolha que seja
na direção de uma humanidade solidária, coletiva e socialista.