terça-feira, 21 de novembro de 2017

O voto: ainda a arma e o fetiche da nossa esquerda.

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Não existe posição política sem força política. Não existe força política sem influência pública. Não existe influência pública sem meios para obtê-la.

E em nossa débil democracia liberal meia boca, aquela pouco reformada pelos constituintes de 1988 e que gera essa sociedade política majoritária de oportunistas eleitorais, vende-pátria, vira-casacas, cafetões do voto periférico e representantes legítimos das elites, uma maioria que por vezes conquista o voto da classe trabalhadora, a mesma vítima depois dos seus “representantes”, expressam que caminhos táticos e tortuosos pelo qual devem passar uma parte da esquerda (na sua maioria).

Não é uma crítica ao processo eleitoral e muito menos um discurso despolitizado as eleições. Apenas pretendo avaliar o fato que tornou as esquerdas no Brasil dependentes de um lugar que carrega suas condições de classe e que ainda é o campo das denúncias que é a ocupação, pelo voto, das suas representações nos parlamentos e no executivo.

Hoje, a rigor temos que admitir o mal necessário que o processo de impõe nas nossas esquerdas, digo isso no plural já que divergimos tanto na tática, quanto na estratégia, e onde a luta pelo voto é a expressão dual do que um pensamento de esquerda pressupõe.

O voto ao mesmo tempo que politiza, despolitiza.

Conclamamos o voto politizado, das ideias e, portanto, ter a compreensão das massas é fundamental. Mas isso exige um certo grau de valor que passa mais pelo crivo da moral do que da ética, ou seja, nós pedimos o voto no projeto popular, mas o conquistamos pela “honestidade”, “atenção individual ou familiar” e referências, esse último podendo ser o voto politizado.

Na forma, todos os partidos a rigor precisam dialogar com a média do pensamento nacional e que devido a formação histórico-pedagógica, meios culturais e de comunicação, cotidiano alienante e ausência de uma cultura política participativa leva mais a esquerda a fazer um “garimpo” do que diálogo fraterno voto a voto.

Isso explica a nossa luta intestinal por aparelhos sindicais, movimentos sociais e exposição pública, na ausência de uma disputa de ideias, disputamos um nicho mais politizado das massas e fora disso o que vier é lucro. Vide o voto identitário, que fora do espectro da consciência para si, a grande maioria embarca o discurso ideológico vigente.

Mesmo as forças políticas sem representação político-institucional dependem da disputa eleitoral formal, utilizando canais como o horário eleitoral obrigatório como meio de difundir suas ideias – com o mesmo baixo impacto do “garimpo” – e com um dos seus objetivos pragmáticos de manutenção do partido e seus meios para existir no próprio jogo institucional.

Outras forças políticas partidárias tornaram-se máquinas eleitorais com ampla penetração na massa, fazendo escolhas como a governabilidade para implantar pequenas reformas sociais de impacto direto e conquistaram a atenção do “eleitor”. O risco da estratégia é sempre o custo que isso atrai.

Tornar-se um partido de massas eleitoral e influente traz o problema das alianças e a imposição de filiações de conveniência, fora das regras político-ideológicas e agregando métodos de acúmulo de votos idênticos aos do outro lado da classe.

De descamisados a mercenários, acumula-se a despolitização das relações, jogando o debate político (nas esquerdas) para o campo da moralidade (liberal-conservadora) e redefinindo o perfil dos seus militantes, onde muitos tornam-se “seguidores” deste ou daquele “líder” a depender o humor financeiro, do espaço de poder e do “jeitinho” individual.

Esta última questão faz a disputa eleitoral e o jogo institucional cair progressivamente em termos de constituição das esquerdas como força alternativa.

Nesse quadro, isso explica porquê o principal partido de esquerda com mais de um milhão de filiadxs não conseguiu impor-se diante da massa “verde-amarelo” no impeachment de 2016.

Pois, se seguir a tradição histórica das esquerdas, ser derrotado pelas instituições burguesas seria o menor dos problemas se houvesse uma resposta efetiva e de massas a fazer frente e expressar que o campo da disputa seria polarizado. Mas no final não é o que foi estabelecido, seja por ausência de direção ou de mera representatividade cartorial, nesse momento ainda sentimos os efeitos da derrota.

Portanto, para cada lado das esquerdas a luta pelo voto é um fato. Negar sua busca é mentir para massa e para si mesmo.

Reconhecer essa condição tática não é erro, é estratégia.

Reposicionar é admitir que nesse momento todo quadro político deve se colocar nessa tarefa. Mesmo sem unidade central, que seja pela pauta.

E que seja politizada. Se não há dinheiro, há solidariedade. Ou seja, se a causa é importante, se a candidatura expressa esses valores e se há compromissos coletivos, que ocupemos as ruas, praças, quebradas, vielas, condomínios, enfim, usar a nossa máquina: ideias, voz, sapatos, tempo disponível e relações.

A esquerda estigmatizada tem que ser exterminada na visão dos conservadores-liberais, capitães do mato do mercado financeiro e todo tipo de oportunista local ou regional. Mas a derrota destes também é nossa vitória, campanha para tirar esses votos é avançar um pouco a nossa resistência. Temos que tirar o “brinquedo”, enfraquecer o inimigo.

A vitória maior seria essa conjugação de programa, ações e iniciativas, do que estão na esquerda, mesmo nas legendas contraditórias ou até de direita. Um progressista hoje vale mais do que um esquerdista ressentido.

É preciso unidade pelo menos no reconhecimento do debate eleitoral pelas esquerdas. Estamos no jogo, mesmo negando, jogamos o jogo.

Precisamos convocar uma conferência ou fórum ou seminário ou o raio que o parta para reunir as esquerdas nessa reflexão. Sem pretensão de unidade eleitoral, mas de discutir nosso papel no processo eleitoral.

Dialogar é um passo. Se não for por nós, que seja pela classe trabalhadora brasileira.


Wagner Hosokawa – Militante do PT de Guarulhos (SP) e docente do curso de Serviço Social da UNG/Ser e autor do livro: Orçamento Participativo: uma experiência de articulação entre o poder local e democracia participativa na cidade de Guarulhos (2001-2011) link: http://www.portodeideias.com.br/autores/wagner-hosokawa/orcamento-participativo.html