Não
existe posição política sem força política. Não existe força política sem
influência pública. Não existe influência pública sem meios para obtê-la.
E
em nossa débil democracia liberal meia boca, aquela pouco reformada pelos
constituintes de 1988 e que gera essa sociedade política majoritária de
oportunistas eleitorais, vende-pátria, vira-casacas, cafetões do voto
periférico e representantes legítimos das elites, uma maioria que por vezes
conquista o voto da classe trabalhadora, a mesma vítima depois dos seus “representantes”,
expressam que caminhos táticos e tortuosos pelo qual devem passar uma parte da
esquerda (na sua maioria).
Não
é uma crítica ao processo eleitoral e muito menos um discurso despolitizado as
eleições. Apenas pretendo avaliar o fato que tornou as esquerdas no Brasil
dependentes de um lugar que carrega suas condições de classe e que ainda é o
campo das denúncias que é a ocupação, pelo voto, das suas representações nos
parlamentos e no executivo.
Hoje,
a rigor temos que admitir o mal necessário que o processo de impõe nas nossas
esquerdas, digo isso no plural já que divergimos tanto na tática, quanto na estratégia,
e onde a luta pelo voto é a expressão dual do que um pensamento de esquerda
pressupõe.
O
voto ao mesmo tempo que politiza, despolitiza.
Conclamamos
o voto politizado, das ideias e, portanto, ter a compreensão das massas é
fundamental. Mas isso exige um certo grau de valor que passa mais pelo crivo da
moral do que da ética, ou seja, nós pedimos o voto no projeto popular, mas o
conquistamos pela “honestidade”, “atenção individual ou familiar” e
referências, esse último podendo ser o voto politizado.
Na
forma, todos os partidos a rigor precisam dialogar com a média do pensamento
nacional e que devido a formação histórico-pedagógica, meios culturais e de
comunicação, cotidiano alienante e ausência de uma cultura política participativa
leva mais a esquerda a fazer um “garimpo” do que diálogo fraterno voto a voto.
Isso
explica a nossa luta intestinal por aparelhos sindicais, movimentos sociais e
exposição pública, na ausência de uma disputa de ideias, disputamos um nicho mais
politizado das massas e fora disso o que vier é lucro. Vide o voto identitário,
que fora do espectro da consciência para si, a grande maioria embarca o
discurso ideológico vigente.
Mesmo
as forças políticas sem representação político-institucional dependem da
disputa eleitoral formal, utilizando canais como o horário eleitoral
obrigatório como meio de difundir suas ideias – com o mesmo baixo impacto do
“garimpo” – e com um dos seus objetivos pragmáticos de manutenção do partido e
seus meios para existir no próprio jogo institucional.
Outras
forças políticas partidárias tornaram-se máquinas eleitorais com ampla
penetração na massa, fazendo escolhas como a governabilidade para implantar
pequenas reformas sociais de impacto direto e conquistaram a atenção do
“eleitor”. O risco da estratégia é sempre o custo que isso atrai.
Tornar-se
um partido de massas eleitoral e influente traz o problema das alianças e a
imposição de filiações de conveniência, fora das regras político-ideológicas e
agregando métodos de acúmulo de votos idênticos aos do outro lado da classe.
De
descamisados a mercenários, acumula-se a despolitização das relações, jogando o
debate político (nas esquerdas) para o campo da moralidade (liberal-conservadora)
e redefinindo o perfil dos seus militantes, onde muitos tornam-se “seguidores”
deste ou daquele “líder” a depender o humor financeiro, do espaço de poder e do
“jeitinho” individual.
Esta
última questão faz a disputa eleitoral e o jogo institucional cair
progressivamente em termos de constituição das esquerdas como força
alternativa.
Nesse
quadro, isso explica porquê o principal partido de esquerda com mais de um
milhão de filiadxs não conseguiu impor-se diante da massa “verde-amarelo” no
impeachment de 2016.
Pois,
se seguir a tradição histórica das esquerdas, ser derrotado pelas instituições
burguesas seria o menor dos problemas se houvesse uma resposta efetiva e de
massas a fazer frente e expressar que o campo da disputa seria polarizado. Mas
no final não é o que foi estabelecido, seja por ausência de direção ou de mera
representatividade cartorial, nesse momento ainda sentimos os efeitos da
derrota.
Portanto,
para cada lado das esquerdas a luta pelo voto é um fato. Negar sua busca é
mentir para massa e para si mesmo.
Reconhecer
essa condição tática não é erro, é estratégia.
Reposicionar
é admitir que nesse momento todo quadro político deve se colocar nessa tarefa. Mesmo
sem unidade central, que seja pela pauta.
E
que seja politizada. Se não há dinheiro, há solidariedade. Ou seja, se a causa
é importante, se a candidatura expressa esses valores e se há compromissos
coletivos, que ocupemos as ruas, praças, quebradas, vielas, condomínios, enfim,
usar a nossa máquina: ideias, voz, sapatos, tempo disponível e relações.
A
esquerda estigmatizada tem que ser exterminada na visão dos conservadores-liberais,
capitães do mato do mercado financeiro e todo tipo de oportunista local ou
regional. Mas a derrota destes também é nossa vitória, campanha para tirar
esses votos é avançar um pouco a nossa resistência. Temos que tirar o
“brinquedo”, enfraquecer o inimigo.
A
vitória maior seria essa conjugação de programa, ações e iniciativas, do que
estão na esquerda, mesmo nas legendas contraditórias ou até de direita. Um
progressista hoje vale mais do que um esquerdista ressentido.
É
preciso unidade pelo menos no reconhecimento do debate eleitoral pelas
esquerdas. Estamos no jogo, mesmo negando, jogamos o jogo.
Precisamos
convocar uma conferência ou fórum ou seminário ou o raio que o parta para
reunir as esquerdas nessa reflexão. Sem pretensão de unidade eleitoral, mas de
discutir nosso papel no processo eleitoral.
Dialogar
é um passo. Se não for por nós, que seja pela classe trabalhadora brasileira.
Wagner
Hosokawa – Militante do PT de Guarulhos (SP) e docente do curso de Serviço
Social da UNG/Ser e autor do livro: Orçamento Participativo: uma experiência de
articulação entre o poder local e democracia participativa na cidade de
Guarulhos (2001-2011) link: http://www.portodeideias.com.br/autores/wagner-hosokawa/orcamento-participativo.html