sábado, 25 de novembro de 2017

Quando o buraco é mais embaixo. Nem velha, nem nova política. Apenas a política necessária.



Quando o buraco é mais embaixo. Nem velha, nem nova política. Apenas a política necessária.

Dividindo o tempo entre um trampo e outro, são muitas impressões e expressões que tenho de como nós, militantes da esquerda socialista, perdemos a medida da estratégia. 

Convivo com pessoas que não vivem o meu mundo. E é óbvio porque, já que meu mundo é restrito pelas escolhas que fiz e pelo que acredito (individual e coletivo) ou seja, quando vou a uma festa de aniversário ou a um ato público, para mim ambos fazem parte da minha realidade.

Contudo, a primeira é certa para maioria (majoritária) da sociedade e a segunda menos e tratada, por esta mesma maioria, como algo do tipo “quando der” ou da máxima “não vai adiantar nada”. E assim segue a vida para os que vivem nesse cotidiano: dividindo o tempo entre ano-novo, carnaval, Páscoa, dia das mães, dos pais, feriados sem importância histórica  (para maioria) e o natal. 

E aí reside a diferença de escolhas e compreensão de nação e de sociedade da qual faço parte. No meu calendário estão: o dia de luta das mulheres, as várias expressões de manifestação como o “Grito dos Excluídos” no 07 de setembro e as reflexões do 20 de novembro, entre tantas para pensar, refletir, defender e lutar por uma outra sociedade.

Outro dia compartilhei a ideia  (meio óbvia) onde imagino, que haja na formação das crianças e adolescentes dos outros países o estudo dos seus intelectuais tradicionais ou aqueles que marcaram a sua história, tornando-se referência em estudos e pesquisas consagradas e sendo lidos e apresentados na formação escolar básica. Exemplo, o desenvolvimentista Franklin Roosevelt que para história básica estadunidense é apresentado enquanto presidente, bem como seu modelo de governo, podendo-se debater suas convergências e divergências, e mesmo que a indiferença opere, vários destes jovens terão uma vaga e certa ideia de quem foi e o que defendeu.

E no Brasil? Apenas quem se salvou da censura burguesa foram os literários. Mas, os que buscaram entender o Brasil, onde estão na formação básica? Sergio Buarque de Holanda, Florestan, Josué de Castro, Celso Furtado, entre outros, que eu mesmo esqueci e que poderiam (e deveriam) sair do aprisionamento da excelência do ensino superior acadêmico e fazer parte do ensino básico.

Com suas convergências ou divergências, proporcionar às nossas crianças e adolescentes o conhecimento e assim permitir que cada um tire suas conclusões e promova o debate.

Essa é uma das reflexões que tem me incomodado, depois de tanto tempo assumindo tarefas coletivas, dirigentes e outras que me confinavam em reuniões que, geralmente, deliberavam a data da próxima.

Hoje, acredito ainda mais na iniciativa de um coletivo de compas que, por exemplo, chegaram a disputar e vencer as eleições do Sindicato dos Servidores Públicos de Guarulhos, e o seu presidente, a época, decidiu manter seu vínculo no local de trabalho, sem liberação, para exercer suas funções sindicais. Mantendo vínculo junto a realidade dos seus colegas de trabalho.

Na época achei estranho, já que a regra geral, era comum ver dirigentes sindicais que nunca mais haviam voltado aos seus locais de trabalho. Perpetuando-se nas direções. Alguns sobre o argumento de que "não havia como formar novos quadros". Bem, pesando a estrutura e a liberação não deveria ser problema, mas isso é outro debate.

Ou quando pertenci ao Conselho Regional de Serviço Social do estado de São Paulo e pela lei federal não é permitido remuneração e (em alguns  casos) nem liberação do local de trabalho. Porém, o pertencimento direto ao local de trabalho também mantêm vivo o olhar e as relações no cotidiano da classe.

Com o tempo e vivendo essa conjuntura de transição da esquerda brasileira (pelo menos eu acho isso) percebo que a iniciativa do companheiro no sindicato e essa vivência no Conselho me deram a síntese do que precisamos repensar: quais vínculos queremos estabelecer com a classe trabalhadora? 

Quando surgem as primeiras liberações, entre as organizações de esquerda, o profissionalismo militante era uma sentença de morte, lembrando que haviam os riscos da dedicação. Onde a regra para maioria destes militantes profissionalizado era desempenhar a tarefa da agitação, da propaganda, articulação, rede de relações orgânicas, etc, etc. E não apenas fazer volume em atos e manifestações como vemos hoje em alguns casos (pra não ser indelicado ou derrotista) piada pronta que, as vezes, se estabelece nos nossos próprios círculos e comentários.

E, esta deve ser a questão. Solidariedade de classe se expressa no grau de vínculo e confiança, na contribuição, inclusive financeira, nas tarefas que fazem parte  do cotidiano da classe e não fora dele.

Talvez esteja sendo simplista. E nem é o objetivo desta contribuição, não escrevi essa opinião para ser teórica, porém, com aqueles que compartilho, fica a necessária reflexão: de quais devem ser as “novas-velhas” tarefas da esquerda?

Insisto, convivo com pessoas alheias a esse mundo da esquerda, e o faço isso como trabalhador, sem liberação ou cargos. Nelas vejo, ouço, compartilho e vivencio a realidade da classe assalariada, que produz a sua solidariedade, não de classe, mas humana. E é difícil ser “diferente” e ser um militante hoje do agitprop, mas o militante deve desempenhar sua tarefa.

E tenho reaprendido muito. Sobre nós e o que de fato representa transformar a sociedade.

Insisto, ensinar Josué de Castro, Nise da Silveira ou Gilberto Freire para as crianças e adolescentes  é provocar a necessária ideia de Brasil no plural. Se elas irão seguir os caminhos da esquerda, não sei, mas se buscarem seguir um caminho coletivo, de povo, já ficarei contente.

Ps.: Esqueci, mas inclui, que nas relações sindicais do sindicalismo dos professorxs também há esse vínculo, não em todos os níveis, mas há. E pode ser isso que mantêm o seu vigor sindical na base.