sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O PT queria te ouvir. A tribuna de debates sobreviveu quase dois anos.

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Na convocação do 6º Congresso Nacional do PT uma das poucas iniciativas, abertas para militância petista, sem restrições ou filtros ou "escolhas" de preteridos começou a funcionar como um espaço de promoção do livre pensamento de opiniões e estímulo para filiadxs militantes exercer sua arma da critica. 

A "Tribuna de Debates" (TD) começou com um certo receio da militância acostumada com o mandonismo interno e os filtros das forças políticas majoritárias que pouco se esforçam para possibilitar que a base militante se manifeste em algum espaço que não seja controlado por "algum dono interno". Tanto que no começo haviam constantes mensagens nas redes sociais pedindo para que os/as filiados/as escrevessem para a  TD. Eram constantes mensagens pedindo que os/as petistas se manifestassem. 

O receio foi vencido quando militantes foram aos poucos se apropriando do processo. Escrevendo suas posições, opiniões e garantindo internamente a livre circulação de ideias que expunham abertamente posições quanto aos mais variados temas: Lula, golpe, Estado nacional, privatizações, alianças, governabilidade, etc., etc., uma infinidade de posições que expressavam a alma do partido em seu sentido de massas e de ideologia, sem desapegar do debate central: a estratégia do PT para o Brasil.

Independente das opiniões ali publicadas, o certo é que a ferramenta "pegou", tanto que foi mantida pós-congresso e legitimada como espaço permanente. O que representou um grande avanço, pois, na guerra midiática e comunicacional nas redes na internet, de que vale um militante que apenas é "convocado" para replicar posições oficiais e institucionais? Importante sim, mas não estimulante. 

Isso remete a um jargão antigo sobre o "militante e o balde de cola" que era (ou ainda é) aquele que serve apenas na "hora de colar o cartaz no poste e no muro", mas não serve para oferecer suas opiniões e posições. Ainda mais em um método que não superamos, dos encontros e congressos em que se busca sintetizar em "um minuto, com mais um para concluir" ideias, divergências e propostas. 

Incrível como a nota que "funda" esse novo espaço é apresentada como uma grande inovação: "Criado originalmente como iniciativa integrante dos preparativos para o 6º Congresso Nacional do partido, que aconteceu em junho de 2017, o espaço tornou-se permanente no site do Partido dos Trabalhadores como forma de manter acesa a chama do debate democrático e da livre troca de ideias." (http://www.pt.org.br/contribua-com-a-tribuna-de-debates-do-pt/)

E após quase dois anos no ar, a última postagem é de 30 de dezembro de 2017 e sua identidade visual saiu da página principal do site do PT. Nem é possível achar o espaço sem ajuda do buscador e detalhe, da impertinência militante em querer saber "onde está o lugar do debate?"

Sei que os esforços oficiais e institucionais estão voltados para defesa do "grande líder dos povos", onde dia 24 de janeiro de 2018 saberemos se a direita e a burguesia decidiram por permitir ou não a candidatura de Lula, no julgamento do TRF4 em Porto Alegre (RS). Nem quero entrar no mérito do debate sobre a questão dos motivos do julgamento, já que Moro exerce um judicialismo politizado à direita, e mesmo para os padrões jurídicos liberais, condenação por ausência de provas, em si, já é uma aberração contraditória para o próprio legalismo burguês.

O certo é que o site do PT voltou-se para "guerra" de 24 de janeiro e à defesa de Lula. 

Contudo, ficou exagerada a forma e o conteúdo:

Não tenho dúvida que a correlação de forças será bruscamente alterada em Lula candidato. Reconheço a alta dependência do partido a sua imagem para sobrevivência da legenda. E o pouco da própria democracia  liberal-burguesa que ainda vigora que também está em risco.

Agora eliminar, dificultar ou desconsiderar o espaço da "Tribuna de Debates" é um gesto que não pode ser desprezado. Fica a impressão de que a abertura desse espaço trouxe um problema, já que no começo não havia um filtro ideológico e político, pois, imagino que a sua primeira versão não era coordenada por burocratas, mas por "técnicos" isso permitia que as diversas posições pudessem ser publicadas sem dificuldades, obvio valendo-se da nota colocada estrategicamente no final de cada artigo, onde leia-se "ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores" 

E mesmo assim, ainda representava um alento para o debate interno. Ao ponto de ser um espaço que foi aos poucos ocupado pelo establishment do partido, com dirigentes ocupando este espaço. Basta ver o histórico dos artigos (se ainda não tiraram do ar).]
Se é um desafio desse momento histórico que vivemos estabelecer canais de debate político mais acessíveis e abertos, oos do  certo é que a última plataforma do governo federal durante os governos  do PT a frente foi o "participatório", criado para aproximar a participação da juventude. 

Também não vamos cair num velho argumento sobre "precisamos estudar meios que nos aproximem às redes sociais na internet, pois esses espaços tradicionais em sites não funcionam", caralho e vamos esperar um gênio criar essa merda para depois nos comunicar? Ou vamos criar mais e mais lugares que possamos interagir e expor nossas posições como um partido (e de esquerda) deve ser. Um lugar para o debate livre e aberto, internamente, para sua militância!

Como petista, militante e atualmente desencantado com a institucionalização da esperança na qual a direção majoritária não abriu mão e segue firme no seu conservadorismo político, desconsiderando as lições do golpe de 2016, vai aos poucos tornando o PT o que era o PT sob a ditadura do lulismo: um partido dependente da imagem e semelhança do grande líder, sem margem para o debate.

E antes que algum "indignado" venha a encher o saco com a desculpa de que foi criado a plataforma: "O Brasil que o povo quer", lançado pela Fundação Perseu Abramo, vamos ser honestos com nós mesmos, as bases que lançaram esse "fala que eu te escuto" surge tarde, soa hipócrita e não pegou onde deveria pegar: na militância.


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Diferente da "Tribuna de Debates" que permitia ao militante sem cargo, não-dirigente, pouco ouvido, as vezes sem espaço na sua cidade, localidade, zonal ou etc., que não está em corrente, tendência ou grupo, não é influente e nem apadrinhado, mas apenas preocupado com os rumos do seu partido e buscando manter vivo o debate das ideias encontrou na TD a possibilidade de expor suas posições.

Agora, desde o inicio de 2018, parece que até isso (no momento) vai dar um tempo.

Uma pena, quem perde é o próprio PT.

Muita força Lula. Se superarmos dia 24 de janeiro, aí que não haverá tribuna de debates ou plataforma que garanta incorporar a militância não-dirigente ou apadrinhada na contribuição ao debate do país, seremos engolidos pela lógica eleitoral.

Se derrotados em 24 de janeiro, a luta interna sobre quem irá "iluminar" o nosso caminho, como um poste a ser carregado pelo grande líder, com certeza será insuportável para o partido. 

De qualquer forma, novamente, estamos alijados. A militância que aos poucos quer menos esquerda institucional e mais luta de classes real vai buscando outros caminhos. A sorte está lançada.