domingo, 29 de novembro de 2020

Eloi Pieta não venceu, mas quem foi derrotado foi o PT de Guarulhos.


 


Em 2009 o PT foi derrotado em Santo André (SP) encerrando uma hegemonia que foi construída pelo prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. Um companheiro que foi eleito vereador, Tiago Nogueira me disse como seria a estratégia do partido para enfrentar a derrota e construir a oposição, e uma delas foi a decisão da bancada em manter o Orçamento Participativo (OP) por meio das emendas da bancada do PT, demostrando unidade na Câmara de Vereadores/as, dentre outras ações. Em 2012 o PT voltava para prefeitura com a vitória de Carlos Grana. 

Essas lições são algumas das quais analisarei sobre a derrota de Elói Pieta à prefeitura de Guarulhos (SP). 

E por que a derrota é do partido? 

Vamos aos fatos, aos 95% das urnas do segundo turno apuradas, a distância de Guti (PSD de Kassab) de Elói é cerca de 14%. Ou seja, perto dos 10% que em minha avaliação poderiam ter sido conquistados já, se o partido tivesse cumprido sua tarefa na oposição, escolhido ficar imerso no cotidiano da população e reunido a militância em reuniões revelantes e não nas chatissimas discussões intermináveis sobre quem é o melhor ou as velhas marcações de posições.

Digo disso diante da realidade. O governo Guti é a imagem do novo com a velhas elites políticas, envolvido em polêmicas e ausências fez com que a saúde saltasse como o maior problema da cidade, onde 70% de pesquisados pelo IBOPE consideram o principal problema de Guarulhos cidade, o problema do aterro sanitário onde houve tragédia por má gestão e tentativa de ampliar para interesses de máfias que compõem a questão do lixo e a desaprovação que supera a barreira dos 40%, mesma média de rejeição apontada pelas pesquisas eleitorais. Cidade abandonada, foi maquiada descaradamente no ano eleitoral e o asfalto foi o protagonista.

Bom, e o PT? O partido não mudou algumas lógicas, e a prova é a própria campanha majoritária que afastou o próprio PT (como símbolo e identidade) e que parece uma anti marca na maioria das nossas candidaturas do partido, a direita na contramão explora a ideia de que o “PT é ruim", e o próprio PT assume a carapuça quando esconde. Espero, como sempre, que seja feito um balanço.

Na verdade fatores anteriores também pesam. Tínhamos uma bancada de sete vereadores, um foi para o Psol e foi reeleito recentemente, e era o mais atuante. Mas a bancada e o partido ficaram inertes nesses anos até o processo de escolha do candidato. Nesses quatro anos nenhuma ação pesada, não foi realizada uma permanente de fiscalização e denúncia, enfim nada foi feito de forma efetiva e o partido tinha poucas atividades politicas. Mesmo com o acordo entre o Alencar (dep. fed./ CNB)  e o Eloi (onde havia ameaça de previas internas) ainda assim fizeram com que o partido se colocasse para disputa sem a marca da oposição e sim da “mudança segura".

Elói ir para o segundo turno foi uma façanha, já que na última eleição que disputou em 2016 ficamos em terceiro lugar. Agora, a conjuntura foi aliada, onde “bateu aquela saudade do PT", em uma cidade que em 2018 o eleitorado mudou, aqui Bolsonaro levou 60% dos votos. 

Há gerações que não viveram o governo do Elói ou grupos e lideranças de bairro que escolhera manter seus projetos pessoais dependendo do financiamento do atual governo para suas "ações sociais" e migraram rápido para o colo de Guti. O OP em Guarulhos havia completado 10 anos em 2011 e mesmo assim, foi extinto em 2017 pelo atual governo, sem nenhuma reação da população ou do partido .

Ou seja, a vitória poderia ser por um mínimo, nossa distância do atual prefeito no primeiro turno foi de 10%, não é muito se considerar a onda “anti PT", mas poderia ter sido conquistada com uma ação do partido ao longo dos quatro anos.

As urnas mostram então quais devem ser as prioridades políticas do PT daqui para frente. Uma delas é erguer sua sede no Pimentas, como dever e respeito a população que de fato reconheceu o trabalho realizado pelos governos petistas, já que a região deu 61,88 % dos votos para Elói contra 38% de Guti. Em duas regiões há empate evidente, na grande região que envolve São João, Presidente Dutra e Bonsucesso, Eloi vence com 50% contra 49% de Guti.

Analisando onde Eloi foi derrotado, vejamos onde houve empate, como em Cumbica e adjacências, pois Guti vence com 53% contra 46% de Eloi, região periférica e que está polarizada, em outra região considerada periférica foi bem diferente, Cabuçu-Recreio-Taboão deram 66% para Guti contra 33% de Eloi, região marcada por reclamações de abandono de ambos candidatos na série histórica dos prefeitos da cidade.

A resposta da classe assalariada média preferiu a continuidade, se observamos a região da Ponte Grande Guti vence com 73% contra 26% para Eloi, em outra Cecap-Vila Barros Guti vence com 61% contra 38% e a região do Centro expandido (reunindo o bairro do Continental e adjacências) deu 71% para Guti contra 28%. Em todas tanto Guti como Eloi cresceram, em nenhuma região do primeiro turno para o segundo ambos conquistaram votos.

O que fazer diante dessa realidade? Guti teve ascensão mais pela onda anti-PT do que pelos seus mandatos na Câmara, como prefeito preferiu gerenciar mais do mesmo, fez um governo medíocre onde se envolveu em confusões causadas mais pelos seus próprios aliados do que pela oposição e ficou evidente que colocou a máquina para funcionar no processo eleitoral. A reeleição se deu mais pela ausência de oposição e não por um governo com uma marca ou dinamismo de gestão pública.

O PT precisa fazer uma avaliação política, repito política. A ausência do uso de personalidades como Lula na campanha evidência que a estratégia foi se afastar do próprio partido, e a imagem do grande líder NÃO aparece em nenhuma peça publicitária da campanha, bem diferente dos tempos áureos do petismo na cidade.

Não digo apenas o PT de Guarulhos. É uma questão nacional e que não devemos botar apenas na conta do bolsonarismo, este foi pra debaixo da mesa nessa eleição e o centro pragmático foi o vencedor. Sinais de que podemos estar perdendo a simbologia da constituição de 1988, marcada pelos direitos sociais e por políticas públicas. 

Mas por enquanto só posso falar de Guarulhos.

Os dados provam que algumas teses simplistas e despolitizadas não se confirmam: uma delas é a de que Eloi fora do PT poderia ter sido eleito, errado, tanto que o PT foi o partido com maior número de votos na cidade e elegeu cinco vereadores mesmo depois de um tsunami anti partido ter atingido em cheio em 2016 e 2018. Outro mito da derrota é a imagem do PT, a frase “não voto no PT" escuto desde os meus quinze anos, e agora com 41 anos, esse tipo de preconceito partidário é comum em sociedades onde a elite controla, manda e polariza a política contra seus inimigos de classe, e por fim não há espaço vago na política, se o partido não construir unidade programática mínima e ação política permanente e de massas melhor não se assustar com o futuro se não lhe for favorável.

No final não vamos culpar a vítima, a população. Se somos militantes de esquerda devemos ter análise de classe, compreender que há uma classe trabalhadora assalariada presa a ilusões políticas estéticas, sem quem dialogue com seus anseios, dúvidas e possibilidades, categorias profissionais que precisam de apoio e articulação, e a necessária politização da política.

Aqui é só uma análise preliminar. Espero que hajam outras sem julgamentos, catastrofismos, culpabilização, denuncismo, enfim, desejo o melhor para cidade, e a oportunidade foi perdida.

Abaixo, imagens tiradas de print do site G1 com a divisão eleitoral.