Pode ser especulação, pode ser conversa pra distrair, pode ser fakenews adversário ou pode ser uma articulação em curso. O que importa é que o bode, ou chuchu, está na sala e oficialmente até haverá um jantar fake para justificar o primeiro encontro dos enamorados (segundo nota da jornalista Mônica Bergamo, ver site: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/12/jantar-que-deve-reunir-lula-e-alckmin-pela-primeira-vez-em-publico-esta-lotado.shtml), apesar do Diretório Nacional alegar de joelhos que tal negociação não está na pauta, como já disse, Lula é autoridade e seus interlocutores uma direção a parte (que é a que manda).
Pelo menos por aqui, não vou ficar justificando meu voto. Nem vou apelar para a condição secreta do voto. Só quero trazer algumas reflexões.
Primeiro, concordo que um estranho no ninho (Alckmin) é sim a reprodução da governabilidade pregada em 2010 para ter Michel (golpista) Temer na chapa de Dilma. Com um elemento pré agregador que são os votos que supostamente a chapa atrairia (segundo seus defensores), o que a Falha de SP contesta em sua recente pesquisa, apontando a "indiferença" de 70% dos entrevistados/as para possível aliança (link: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/12/17/datafolha-70percent-dizem-que-ter-alckmin-como-vice-nao-muda-intencao-de-voto-em-lula.ghtml).
Segundo, a esquerda liberal que ronda a classe assalariada média e que milita por redes sociais em suas bolhas prefere seguir sendo o que é: arregona. Prefere jogar os ímpetos da democracia para um baixo padrão, essa esquerda liberal iria na revolução francesa tentar convencer os liberais a encontrar um meio termo entre "aristocracia e liberalismo" e iria aceitar em vez de guilhotina uma saída tipo João Goulart, ou seja, "vira presidente, num parlamentarismo de última hora". Eu acho que essa esquerda liberal perderia suas cabeças diante dos ânimos e a determinação da burguesia em dar seu golpe fatal na aristocracia, na monarquia e na igreja, e deu, pois só assim poderiam moldar o poder aos seus interesses, por isso é revolução.
Mas a questão não é essa, minha questão é que essa esquerda liberal insiste em dourar uma pílula que no máximo é um placebo, pois, chamar de tático ou estratégico a aliança de Lula com Alckmin é no mínimo um exercício intelectual porco. Seria honesto se a justificativa ficasse no discurso do pragmatismo eleitoral mesmo, o numa vingança contra Doria, enfim, qualquer justificativa mais honesta do que ficar manchando a ciência política colocando plumas em pombo.
Terceiro, os argumentos contrários a Alckmin estão presentes no conteúdo do filme "Eu sei o que você fez no verão passado", mas convenhamos, 2003-2010 foi bom para classe trabalhadora e os pobres, porém, excelente para os banqueiros, o capital financeiro e outros né. Então, sim pesa a forma como o fascismo emplumado de Alckmin agiu contra a classe trabalhadora e os pobres, pesa porque só vivendo no "mundo colorido do estado de São Paulo" para entender como o Psdb ficou quase três décadas no poder mesmo pilhando o Estado, arrebentando com direitos sociais, humanos e públicos, jogando o estado para a vala da precarização com falta de água, educação pública de baixa qualidade, segurança pública repressiva, entre outras, essa aliança tinha tudo para não dar certo.
Contudo, parece que há uma situação que em política tradicional tudo se releva quando um inimigo ou adversário é maior, a vida como ela é.
A questão é o preço. Que preço a pagar para retirar Bolsonaro do palácio do Planalto?
Não prevejo futuro, mas isso pode levar a um período de estagnação da esquerda revolucionária, pelo simples fato de que nada terá mais sua identidade. Lula prefere a aliança, a conciliação e um longo período de paz institucional, tendo o centro como polo irradiador das decisões políticas. Nada de novo, a não ser pela possibilidade de conseguir construir com e fora do PT o que ele já queria com Dilma-Temer: estabilidade institucional, manutenção do poder e reformas que já tem nome: neodesenvolvimentismo.
Lembrando: neodesenvolvimentismo não é anticapitalismo
Então, aos anticapitalistas como eu, que se preparem para gelo da Sibéria. Não porque seremos silenciados ou perseguidos, pior, seremos ignorados enquanto organização política e ainda bem quistos no mundo acadêmico, que é o que vai restar.
E o trabalho de base? Bom, legal fazer. Mas não acho que Lula joga apenas pelo Estado desse vez. O sinal é que ele quer um partido ou partidos forte de articulação e reprodução dessa lógica, não manda interlocutores, vai a campo. Eu assisti a fala e presença dela no 5º congresso da juventude do PT que está ocorrendo em São Paulo nesses dias. (ver link: https://youtu.be/5mkaoy9tjlc), prevejo que seja sério a busca por "renovação".
Voltamos ao preço de retirar Bolsonaro do poder. Sabemos que o fascismo presente não abrirá mão de seguir na sua jornada pelo poder, então fica um alerta: não basta apenas ganhar eleição, vai ter que fazer.
Outro problema: Lula pode vencer e deverá jogar com um congresso que mesmo sem o parlamentarismo, exerce hoje um poder extraordinário sobre os recursos do Estado e sabemos que Cunhas, Liras e outros sempre então mais preocupados em reeleger a si e seus colegas para manter essa lógica que alimenta a direita no poder. como vai contornar isso? E já digo, não há reforma política que dê jeito, o caminho seria construir uma maioria robusta em 2028 jogando dois jogos: mantendo um olho no peixe e outro no gato.
Será que fará isso?
São mais duvidas do que certezas. Então, no momento ser contra Lula-Alckmin para uns como eu é preservar alguma dignidade, para outros que embarcarão é vencer a todo custo.
Ainda tem chão e jogo para andar e jogar. Só não queria estar nesse "Round 6" do jogo eleitoral de 2022.