quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mobilização dos “feios, sujos e malvados”



Mobilização dos “feios, sujos e malvados”

Essa era a forma como o PIG (Partido de Imprensa Golpista) se referia a nós, militantes de esquerda e lutadores (as) do povo brasileiro antes, durante e agora pós Lula. Claro que isso não era direto assim, mas sempre sobrava espaço nos telejornais para falar dos “feios, sujos e malvados” contrários ao progresso das privatizações, oposicionistas politiqueiros contra o governo dirigido por um intelectual e que “combateu” a inflação e radicais do contra.

Agora as últimas mobilizações dos “indignados” ocupam a mídia pelo seu “poder” de mobilização segundo os “sabidos” em manifestação que surgem aos montes nos programas de TV, na rádio e na comunicação no geral.

O último manifesto dos movimentos sociais enviado no dia 18 de junho reafirma a análise do reascenso de massa e da participação protagonica da esquerda com nossa pauta permanente pela qual estamos lutando ao longo dos 10 anos do governo petista.

Como militante me sinto no direito de discordar e analisar os três momentos que nortearam o processo de luta em curso. O primeiro momento é o início dos atos quando o prefeito Haddad e o governador Alckmin anunciam simultaneamente o aumento das passagens. Vamos  recordar antes quando surgiu o  MPL (Movimento pelo Passe Livre), um movimento que existe a uma década como coletivo organizado e que canaliza esta pauta, expandindo-se por vários estados e mobilizado a cada aumento dos transportes públicos.

 Até este momento, tratados sempre como um “grupo de manifestantes insatisfeitos com o aumento da tarifa”, o PIG sempre se referiu de forma pejorativa  taxando de “pequenos e radicais”, e assim os tratou até o ato do dia 11 e 13 de junho quando os funcionários do PIG também sentiram o gosto azedo das bombas de gás e balas de borracha.

Agora temos o segundo momento construído pelos fatos, pelas novas articulações dos grupos organizados da direita/ elite brasileira e que determinou as suas redações a “separar o joio do trigo”, num misto de preservação coorporativa do PIG e oportunismo. Essa combinação ainda não tinha contornos, mas serviu bem.

Com a mudança no tom e afinando a orquestra via PIG temos um novo discurso preparado para 17 de junho que era “há vândalos, mas a grande maioria quer reivindicar de forma pacifica”, a “polícia não pode incitar a violência”, “não é ato político”, “são manifestações espontâneas e sem partidos” e “outras reivindicações estão se incorporando ao movimento”, e o PIG apela pegando cartazes dispersos como a PEC 37, o mensalção/corrupção, os gastos da copa, a saúde, a educação, e outros generalismos. Bem no estilo “vai que cola”.

Agora senão colou começou a dar aderência! No dia 19 de junho começam haver presenças cada vez mais autonomistas (espontânea), participantes civicamente bem vestidos de “verde-amarelo” tipo “meu Brasil eu te amo” e onde temos os primeiros relatos de hostilidade severa aos partidos de esquerda em especial. Minha impressão: perdemos aqui, analisamos tarde e nossa resposta foi um desastre.

Culpa nossa? Não, e começo o terceiro momento no dia de hoje (20 de junho) observado as movimentações da mídia, a forma de mobilização, as articulações ora ocultas ora diretas da lista de mailing dos primeiros “cansei”, somados a do Instituto Millenium e setores da direita/elite adotaram uma tática conhecida por todos e todas nós: a guerra de posições prolongada.

Isso mesmo. Não precisa de “fora Dilma”, não precisa de “governo mensaleiro” e nem de organizar os jovens da TFP (Tradição, família e propriedade), eles agora só precisam estimular o espontaneismo das massas, mesmo correndo risco com grupos radicalizados ou de saqueadores (lúpem) , para isso serve a força coercitiva do Estado, manter viva nas redes as convocações de atos e dizer via PIG que o “gigante acordou”.

O que e quem está no centro da disputa? O que nós sabemos que é retomar o controle do Estado governado pelo PT, ou seja, nada de Estado misto entre o capital e o social, nada de estatização de setores ou ampliação da capacidade de atendimento público (universidades federais, previdência, assistência social, etc.), e sem controle sob o mercado financeiro, quem decide é o Banco Central autônomo do Estado Nacional, sem controle público só privado.

E quem? Os setores médios da classe trabalhadora. Aquele que o governo do PT elevou a ascensão de renda e de pleno emprego em vários setores da economia  mas não disputou politicamente para as pautas da esquerda brasileira, ou parte.

Dito isso, perdemos? Não, mas fomos encurralados. A conjuntura concebida pela direita/elite foi evidentemente mais ágil porque tem os meios de comunicação e articulação financeira, centrou a sua “guerra de posições prolongada” no estímulo a continuidade dos atos legitimando a conquista do MPL, mas irando-o de cena para colocar os “indignados” como novos sujeitos.

Controlam os atos estimulando o “apartidarismo e a hostilidade aos partidos”, cobrindo e “convocando” para a passividade da participação, repreendem aqueles que “estragam a beleza da manifestação pacifica”, e reafirma que ninguém deve parar colocando e pinçando entrevistados na massa com suas famílias, amigos, etc.

Querem um golpe. Não avalio que eles tenham tanta pretensão.  Porém apostam no desgaste dos partidos de esquerda (principalmente), na hostilidade (como vemos nas redes sociais), aos militantes ou “governistas”, imprimindo ritmo para pesquisas de opinião e preservando aliados. Alguém viu a “rede e a Marina”? Não, pois bem numa mão não se joga todas as cartas.

O que vejo pode ser um pouco pior: o PIG controlar uma parte dos setores médios em torno destes “consensos” e mobilizá-los contra nós como já vem fazendo.

E nós? Já disse no começo desta análise de que o manifesto deste campo de esquerda e popular foi derrotado, não na análise da intervenção política, mas no momento e repito, no momento. Perdemos o “time” em apenas prestar solidariedade o MPL e não ter forçado a amizade em participar conjuntamente como um campo de força política divergente na tática e unida na estratégia de manter vivo um campo de luta popular.

Diante da nossa falta de direção política frente aos rumos dos atos o que vimos nesta semana, por exemplo, são significativas derrotas que estão passando imperceptíveis da luta popular. Vejamos: só na Comissão de Direitos Humanos a “cura gay” e o “estatuto do nascituro” e recentemente o reconhecimento do STJ  onde permitiu a Santa Sé  de legislar e decidir  sobre um caso de separação de casais reconhecendo o direito internacional desta instituição religiosa de impor sua legislação sobre a nossa, alegando que não fere nossa soberania.

 Concluo fazendo um chamado aos companheiros e companheiras da esquerda brasileira: só se derrota uma guerra de posições prolongada criando outra centralidade de posições com luta de massa. A tática de tentar vencer no meio não tem dado boas conseqüências, pelo contrário, tem gerado violência aberta contra nós.
 Recompor esse campo dos “sujos, feios de malvados”, onde não teremos apoio da mídia (como sempre), mas pelo menos reuniremos nosso campo de força, nossas bandeiras vermelhas e nossas pautas.

Wagner Hosokawa
Militante da Esquerda Popular Socialista (EPS/PT)

De Guarulhos/SP