Para além das eleições
A polarização PT e PSDB
parece uma cortina de fumaça bem definida pelo PIG (Partido da
Imprensa Golpista), que tenta a todo momento resumir a disputa do
estado brasileiro a uma rinha de dois partidos pelo poder. A verdade
é que quando a mídia confronta e estabelece uma distancia pequena
entre petistas e tucanos quer inclusive romper com essa lógica.
Ambos foram importantes
para os interesses da burguesia e elites em nosso país, cada qual
com sua medida e seus interesses. Fato, a regulação da mídia e o
controle social da comunicação não saíram e isso já é vitória
desses setores que sustentam através do status quo as relações de
classe neste país.
Comunicação de massa,
publicidade, opinião pública, marketing, propaganda, enfim todos os
instrumentos conhecidos canalizam para manutenção de uma velha
concepção ideológica chamada de hegemonia (Gramsci), poder
exercido com muita maestria e sustentada pela mídia mercadológica.
O enfraquecimento do
estado, ridicularização de pessoas em cargos públicos (“os
políticos”), a idealização de heróis (Barbosa e outros), tudo
uma estratégia pensada e orquestrada para encobrir outro Brazil que
se gesta a cada crise e cada triunfo do capitalismo em nosso país.
Repito, capitalismo em nosso país, porque a ideia de capitalismo
nacional não está mais em voga em tempos de neoliberalismo.
Neoliberalismo que se
sustenta cada vez mais por uma rede de mercados, corporações,
grupos (como as Holding),
enfim uma infinidade de sub classes que apoiam o sistema, ou seja, o
combate passa por enfrentar essa rede.
E
porque o título? É preciso retomar as perspectivas dos que
reivindicam o projeto alternativo, popular e anti capitalista, neste
caso, nós militantes socialistas e comunistas.
Para
nós da esquerda do PT ficam as lições necessárias do Processo de
Eleições Diretas do partido que mesmo que tratemos com festa é
evidente o tamanho das nossas correntes de pensamento no interior do
próprio partido. Cada vez mais devemos fazer o debate partindo das
nossas lutas.
O
governismo tem criado abismos profundos entre o que defendemos e o
que realizamos. E não falo em programa máximo como reforma agrária
ou erradicação da falta de vagas em creches, mas sim da efetivação
das bases para fortalecer os movimentos sociais que tem na sua luta
estas pautas.
Pode
um governo não ser capaz de fazer a reforma agrária nos limites
impostos hoje, porém é dever do governo ter posição, fortalecer e
financiar ações, projetos e programas que permitam avançar renda e
consciências em articulação com os movimentos, tornando cada nova
conquista uma conquista do povo organizado.
Não
basta distribuir uma parte da riqueza produzida que foi capitaneada
pelo Estado por meio dos impostos se este mesmo Estado não consegue
fortalecer nas relações com a população a defesa, pore exemplo,
de se manter os atuais tributos que incidem sobre o lucro para manter
um sistema de seguridade social que temos hoje, público e que de
fato faz (com seus limites) um pouco de justiça social.
É
preciso exigir de nós mesmos mais. Se buscarmos compor alianças
conservadoras, elaborar programas de governo populistas ou
tecnicistas e irmos para as eleições de 2014 assim, mesmo que
possamos vencer nas urnas, podemos perder nas ruas.
O
estado de São Paulo é o centro da econômia capitalista nacional.
Concentra os quadros desta burguesia e desta elite. Dirige daqui os
processos políticos que devem ser defendidos por uma classe
dominante de nosso país. Os demais representantes
nos rincões do Brazil vivem seu mundo colonizado nos demais estados,
mas centram aqui.
Será
que venceremos? Mesmo com o melhor candidato, melhor campanha, melhor
aliança, melhor partido, melhores quadros, melhor recursos, será
fácil vencer aqui? E porque queremos mesmo vencer aqui?
Algumas
pautas mostram quais devem ser nossas prioridades, para além das
eleições.
Primeiro,
retomar o papel do estado sobre seu patrimônio: seus recursos
naturais como energia (Cesp e Daee), as terras devolutas para reforma
agrária como no Pontal do Paranapanema, o patrimônio sociocultural
e afrodescendente do Vale do Ribeira, entre outros.
Segundo,
enfrentar a questão da violência com a participação e organização
da população com uma reforma da segurança pública com decisão
política centrada no combate a violência institucional contra a
juventude negra, pobre, trabalhadora e periférica, com investimento
pesado em direitos de cidadania nas regiões onde vivem essa
juventude.
Reconstruindo
o processo inverso do sistema penal e das medidas socioeducativas,
devolvendo os presos políticos do governo do estado de São paulo
que passou as duas décadas penalizando a juventude das periferias
sem construir uma alternativa ou oportunidades de direitos.
Terceiro,
a educação não pode ser remendada com mais uma fórmula para
resolver o abismo do projeto educacional neoliberal. Devemos entender
o contexto das reformas de 1996, sua causa e consequência sobre a
educação estadual, o analfabetismo funcional gerado por esta
política, a manutenção do status quo de escola fechada,
institucionalizada e antiparticipativa, sem um projeto pedagógico
claro (qual posição, que concepção defende), para além do
processo neoliberal.
Não
há reforma que solucione este problema senão uma reforma que atenda
o princípio da ocupação da população, ou seja, uma tomada do
poder popular sobre a escola fisicamente e pedagogicamente, compor
com as organizações e movimentos pela educação sem medo dos
organismos institucionais e suas avaliações representativas do
Banco Mundial.
Quarto
desafio, é enfrentar o processo de desestatização. A palavra tem
peso, portanto devemos dar uma resposta objetiva, devemos reestatizar
os serviços públicos do nosso estado com o equilíbrio de retomar
também os conselhos de direitos. Enfrentar
a questão das organizações sociais na saúde, fortalecer conselhos
de saúde que incidam sobre as gestões como primeiro passo, apoiar
as prefeituras a assumir sob controle do SUS as falidas Santas Casas,
descentralizar e regionalizar e permitir o máximo de transparência
nos investimentos através
do controle social.
Fortalecer
a Sabesp e enterrar de vez a sua privatização e retomar o controle
das águas do estado em parceria verdadeira com os municípios.
Aplicar e investir em serviços regionais de Assistência Social que
nunca foi feito pelo SUAS em São Paulo. Retomar o controle das
rodovias assumindo o controle sobre as concessionárias e
progressivamente restabelecendo o direito de ir e vir da população.
Estas
não são os únicos desafios para o nosso estado. Mas são
necessários e urgentes.
E
para além das eleições está colocado o desafio para o partido:
restabelecer em seu projeto político de poder a centralidade da
militância, que não pode ser tratada como cabo eleitoral, mas
agente da mudança e da transformação.
Isso
exige não cairmos em contradições como defender direitos humanos e
ter guardas municipais extremamente violentos no trato com as
populações periféricas, estas contradições são inexplicáveis
aos olhos e gestos da militância petista que luta pela igualdade
racial, por exemplo.
Gestos
e atitudes são fundamentais para o momento. Para caminharmos para além das
eleições!