Fiquei dias refletindo sobre os mandados de prisão dos
condenados da ação penal 470. Assisti as chegadas e as emoções diversas em
torno dos presos, em particular, dos filiados Delubio, Genoino e Ze Dirceu.
Li as teses e posições da esquerda brasileira sobre o
assunto. A nota do MST (Movimento Sem Terra), curta e direta, e a nota do
Movimento Consulta Popular que desde o início do julgamento tem tecido análises
criticas sobre a condução da suprema corte do país.
Eu me filiei ao PT ouvindo, lendo e lutando contra esse
judiciário. Que privilegia os ricos e penaliza os pobres. Que desocupa áreas e
joga famílias nas margens dos córregos e favelas. Que não pune assassinos de
sem terra, de índios e jovens negros (as). Que rasga o Estatuto da Criança e do
Adolescente a todo momento. Esse judiciário, ora o judiciário.
Esse judiciário é burguês. Veja os currículos e o berço da
grande maioria que chega as togas dos tribunais. Veja a condição de classe e a
origem da família. Desculpem, não é capacidade, é berço. Se é berço é burguês.
Posso confiar na sentença justa de quem nunca viveu ou
sentiu ser da classe trabalhadora? Não.
Agora sobre a “solidariedade” me desculpem. Em nome da
coerência política da minha trajetória não me peçam isso, pela história vivida
no Partido dos Trabalhadores.
Vamos aos fatos, um a um. Delúbio é para o seu grupo aquele
que foi o tesoureiro chefe das grandes articulações na disputa interna e
externa do PT, em nome do partido (kkkkk), me poupem, uma autorização do grão
tesoureiro dependia mais de uma decisão política do seu grupo do que do
partido. Desconheço outra trajetória.
Genoino, aguerrido companheiro no PT na década de 1980 era
dirigente da corrente “democracia radical”, junto com a ex-senadora Marina
Silva. Lança em 1998 a tese do “socialismo republicano” até hoje sem muita
clareza teórica. Seu erro, servir sem questionar, perguntar, apontar, atuar
como dirigente maior do partido no quesito assinar na confiança. Excesso de
confiança na força majoritária do partido.
Zé Dirceu, criador do PED (Processo de Eleições Diretas),
acabando com o modelo assembleista de
encontros de filiados (as) para fazer o debate político do programa do
partido e depois eleger a direção. Intervenções para impor alianças como a do
Rio de Janeiro que indicou democraticamente candidatura própria, mas o
interesse do “vale tudo” derruba a decisão e nos joga nos colo do aliado
Garotinho.
Alianças que culminariam inclusive na relação com o nosso
algoz do mensalão, Bob (roberto) Jeferson, homem linha de frente do governo Collor, articulador
político do bloco anti cassação, e dono do PTB praticamente vendeu o partido em
nome das alianças de 2002. Eu não me sentei com esse cara e nem trouxe ele para
uma aliança com Lula, mas o Zé sim.
Nunca nos processos coletivos, chapas, direções ou relações
coletivas de militância partidária nunca presenciei gesto de solidariedade ou
de respeito às posições do nosso campo de pensamento a esquerda do partido,
qualquer que fosse. Desobrigo-me a compor qualquer manifestação de cunho
pessoal.
Evidente que nenhum inocente deve ir para cadeia ou ser
penalizado. Mas revendo a história espero no mínimo que possamos aprender junto
o que estamos passando. Que não cometamos o mesmo erro com revanchismo, nossa
resposta é a força do povo que deve ter como diretriz única: não aceitar mais a
exploração do sistema capitalista.
A injustiça não deve alimentar o ódio. Não me sinto melhor
ou pior diante da condenação política dos presos filiados na ação penal 470.
Contudo, em nome do fortalecimento de um projeto político de
grupo jogar três décadas de história de luta pela democracia e etc. já é uma
pena eterna sob as cabeças dos condenados.
E isso não mudará minha posição. Lutar contra o jugo de um
poder judiciário burguês e autocrático é necessariamente parte da nossa luta.
Exigindo um partido no mínimo mais ideológico do que temos atualmente.
Exige uma profunda reforma no Estado sob nossos conceitos,
concepções e compreensão do que é público.
Não a este Poder Judiciário. Barbosa é o menor dos nossos problemas, ele é mais um que negou suas raízes sócio históricas e escolheu ser serviçal do modelo vigente. Lutemos sim, pelo fim da autocracia liberal dos tribunais dominados pelos filhos, netos, bisnetos da burguesia. Em defesa do PT e do seu programa socialista para o Brasil.
Pautar nossa atuação partidária interna pela confiança e coerência.
Confiança advém da certeza de que o caminho é o melhor para o conjunto do
partido e do programa político. Coerência é poder ser sincero aos companheiros
(as) e saber quando dizer não a algo duvidoso, alguma movimentação pantanosa,
enfim, manter de pé os princípios (estes inegociáveis).
Solidariedade é um gesto condicionalmente socialista.
Expressa a afirmação de queremos conjugar com aqueles que pertencem a nossa
classe. Não é o caso.
E a palavra socialismo desapareceu dos nossos textos, das
nossas formulações, das nossas resoluções, dos discursos, mas jamais deveria
ter saído das nossas atitudes.
Natal de 2013.