EDITORIAL
Que o capital pague por sua crise
Brasil de Fato
Edição 653
Depois do grande acordo a portas fechadas entre o grande capital, banqueiros, representantes do Governo, do Instituto Lula, do Partido dos Trabalhadores, etc., um silêncio surdo parece haver coberto o País.
Negociados os “dossiês” mais urgentes – de modo que figuras de proa não tivessem (pelo menos, de imediato) suas imagens maculadas, nem fossem obrigadas a fazer faxina nos corredores de penitenciárias, casas de detenção ou delegacias, parece-nos viver uma trégua. Doce ilusão daqueles que, reféns dos seus próprios “desvios”, animaram e participaram das negociações imaginando que os nossos adversários e inimigos de classe se satisfarão com o negociado. Eles arrocharão sempre o torniquete, a cada momento que necessitem novas concessões. Se, por enquanto, os inimigos lhes tomaram as calças, noutro momento, vão querer os slips. E assim por diante, até exigirem aquilo que calças e slips não mais cobrem... .
Doce ilusão, também, imaginarem que os trabalhadores e o povo (povo = explorados e oprimidos) respaldarão sempre seus recuos e rendições; que se deixarão trair passivamente. Isto não existe: ninguém engana todos, durante todo tempo.
Por isto, a nossa pauta tem de ser outra: a crise econômica está aí e, a depender dos de sempre, seremos nós – a classe trabalhadora e o povo – quem pagará toda a conta. A depender de muitos que pensam e dizem nos representar, também.
Rejeitaremos toda medida que transfira para nós, o preço da crise: seja em termos de tributos e taxações (tipo o modo como estão sendo conduzidos o ajuste fiscal ou a ressurreição da CPMF); seja no que diz respeito à entrega de nossas riquezas (Pré-Sal e outras); das nossas tecnologias (enriquecimento do urânio, submarino atômico etc.); seja de qualquer das nossas conquistas de 1988. Além – é pressuposto óbvio – da defesa intransigente da integridade do nosso território e da nossa soberania.
Para garantir nossa pauta, é indispensável que tragamos para as ruas, avenidas, praças – enfim, para os espaços públicos – as nossas disputas, inviabilizando qualquer acordo de cúpula que não atenda aos nossos interesses de classe, e submetendo a luta institucional à pressão dos trabalhadores e do povo, organizados de forma independente e autônoma – como fizemos há duas semanas, no dia 20 de agosto. Ou seja, para garantir nossa pauta é indispensável nos transformarmos de fato em sujeito político – sujeito coletivo.
Sim, só o povo organizado derruba a impostura.
Com a crise política e institucional (que está longe de chegar a um final – sobretudo a um final que corresponda aos nossos interesses); com a falência de diversos partidos do espectro de esquerda, formaram-se, em todo o País, grupos de militantes de todas as gerações, em busca da construção de instrumentos políticos (organizações frentistas, pautas, programas, etc.) capazes de intervir na conjuntura de modo a defender os interesses dos trabalhadores e do povo. Muitos têm avançado, apesar de enfrentarem problemas de todos os tipos. É fundamental que esses coletivos se fortaleçam, e procurem formas de trabalhar conjuntamente entre si, com os sindicatos e movimentos populares combativos e que agem no mesmo rumo. Alguns partidos têm também desempenhado importantes papéis nesse sentido.
É fundamental que todos prossigamos.
É indispensável que todos prossigamos.
Não dá para baixar a guarda.
É igualmente fundamental que deixemos de pensar no Brasil como uma ilha, isolado, portanto, das dinâmicas econômicas e políticas (e também ideológicas) que se desenvolvem mundo afora. Impossível pensar de modo adequado o que fazer (sempre do ponto de vista dos trabalhadores e do povo), sem ter em conta que as crises que se aprofundam nos Estados Unidos e na China, para além da influência que terão em toda a economia internacional, cobrarão um preço especial à nossa economia: Pequim e Washington significam os dois maiores mercados de importação dos nossos produtos.
Vamos todos juntos em torno de um programa que possamos construir coletivamente. Mas, são partes constitutivas de um programa, os métodos a serem utilizados. Métodos e programas são como forma e conteúdo: não podem ser separados. Eles constituem um todo indivisível. E, infelizmente, muitos camaradas ainda não perceberam que a maioria dos problemas que resultam em divisões e rachas na esquerda, tem origem na utilização de métodos que repetem aqueles dos nossos inimigos de classe (oportunismos, passa-moleques, rasteiras, golpinhos, etc.), e não necessariamente de divergências políticas que, mantidos os princípios, podem quase sempre ser negociadas, desde que de forma clara e transparente.
Assim, se nos comprometermos a repelir os velhos métodos, vamos todos juntos e conquistaremos grandes vitórias.