sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Hora de decidir: uma esquerda socialista ou uma esquerda liberal?


Há uma grande diferença no ar: transformar o poder ou apenas fazer parte dele? A questão não é tão simples e a resposta para quem estabeleceu em sua vida uma distância da sua antiga pele para uma nova, ou seja, que busca em vida alguma forma de atuação ou militância política precisa, se escolheu ser da esquerda refletir sobre essa questão.

Escolhas definem lado, posição e podem trazer consequências, como tudo na vida.

Um projeto político tornou-se majoritário no PT e configura-se nas suas escolhas de governo, adotando uma postura de "paz" ao capital, aos mercados e ao jogo político nacional travou uma luta intensa no espaço das oposições. Criticou o neoliberalismo e manteve-se atuante no Congresso Nacional e nas experiências de governo, isso tudo até 2002.

A força politica majoritária venceu! (Até aqui). Mas vamos voltar um pouco atrás nas posturas desse campo majoritário para entendermos o que chamo de postura de "esquerda liberal", Rosa Luxemburgo denominaria "reformismo" e na Europa Ocidental nas experiências da França e Espanha, neoliberalismo mesmo.

1998 a campanha Lula determina a desaproximação do MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, me lembro bem, apoiei um candidato a deputado federal que buscou eleger-se com esta marca, Luis Eduardo Greenhalgh. A propaganda eleitoral já era meio morta, meio "branca" e tenta radicalizar no final, o "Lula operário" surge nas últimas inserções e o segundo turno vai embora e com ele mais quatro anos de FHC, o terror.

2002 temos de tudo, postura de Lula em não aceitar prévia e ser urgido como único faz a primeira provocação vindo do senador Suplicy quando se inscreveu para as prévias advertindo que Lula precisava ouvir as bases e ser aclamado por elas (nesta eu votei Suplicy contra a arrogância do grande líder), depois a aliança com o PL e com Quércia, novamente provocações com a ocupação do palco do encontro estadual que terminou em pancadaria (eu participei), e a "carta aos brasileiros" que mais era "carta aos mercados financeiros", sela a vitória de 2002 no clima da "paz e do amor".

É fundamental lembrar que uma esquerda liberal na perspectiva da luta de classes não busca aprofundar contradições e promover mudanças no jogo político hegemônico, faz da "luta pela qualidade vida e aumento de renda" o seu "farol" para uma sociedade "mais justa" ou "menos desigual".

Portanto não se deve desconsiderar os avanços do governo de alianças com o PT a frente no quesito políticas públicas justamente pela ampliação da legislação social vigente (lei maria da penha, estatuto do idoso, SUAS, etc..), nem a adoção de programas e projetos no campo do "welfore state" tipo brasileiro seja com a transferência de renda ou ações políticas incisivas como agricultura familiar, cisternas, "luz para todos", entre outras que canalizaram recursos de investimento para regiões e populações que não tinham a intervenção do Estado.

Mas com os limites de uma política econômica alinhada ao modelo anterior - neoliberal - com um processo intenso de financeirização do capital com reformas antipopulares na previdência pública, aumento do crédito e financiamentos, enfim, na lógica do capita, veja o lucro dos bancos/ banqueiros na última década.

Essa combinação desenvolvimentismo calçado em renda e consumo durou, e durou bem, mas a geração de privilégios ao capital produtivo  em gestos de cortes de taxas, tributos ou impostos não consolidou uma nova mentalidade no velho capitalismo brasileiro que tem tendências "vampirescas"sobre o patrimônio do Estado. Ou seja, nunca se lucrou tanto e nunca se acomodou tanto um setor que é o coração do capitalismo.

"Todos ganharam!", sim até certo momento. A "nova" classe assalariada de renda média surge no cenário, engorda os lados da "pirâmide social" e junto com a antiga classe assalariada média consome não apenas os produtos, mas a cultura e os ideais de uma sociedade capitalista moderna - obter privilégios, manter e subir "padrão de vida". E com certeza não buscar uma sociedade mais igualitária.

Seria tarefa do governo politizar as "massas". Não e Sim. Não, porque esta tarefa é do partido que seria a organização com esse papel de mobilizar, disputar projetos e organizar. E SIM o governo poderia ter posição, deveria fazer gestos, mostrar que a diferença do projeto e modelo está na forma de governar devendo inclusive optar pela combinação soberania e participação deliberativa. Não o fez.

Houveram conferências e consultas públicas. Mas nada disso em um país continental como o nosso é tão "liquido e certo", dado que os participantes das conferências vem de um processo de desgaste com os governos anteriores e isso acaba (equivocadamente) deslegitimando o instrumento político: conferência. E as consultas públicas são pelos meios virtuais, não atingido quem deveria ser consultado de fato, os trabalhadores.

Então qual caminho? O melhor seria construir meios participativos na consolidação das políticas públicas, subverter a lei do "cão" (a 666 das licitações), abrir as decisões regionais de iniciativa federal e o acompanhamento local pela população beneficiada, ou seja, se vai ter ônibus, ambulância, creche, etc. com recursos federais, uma obrigação seria "botar o povo pra dentro", canais de denúncia pública, reuniões e plenárias com autoridades sem burocracias, acesso aos trâmites com linguagem popular, e obrigar sim o gestor, servidor público e quem quer que seja. Os contratos de financiamento federal são tão burocráticos na relação com as prestações de contas, porque não subverter tambçem pela participação?

E isso tudo para afirmar que o modelo que ainda está em curso majoritariamente no PT e no governo de alianças é de uma esquerda liberal, limitada pelas opções que fez não quer transformar o poder, apenas fazer parte dele e promover algumas mudanças. Governabilidade substituiu a palavra reformas de base.

O que fazer? Há caminhos abertos como o que vivemos com o Plebiscito por uma reforma do sistema politico em 2014 e lutas sociais que se fortaleceram. Nunca a certeza que o caminho para uma esquerda socialista esteve tão próxima como agora. 

Quando a direta e as elites querem impor sua posição, seu discurso, seus símbolos e pensamentos, abre novamente o jogo das mudanças, pois se o campo de batalha é aquele em que se pode disputar inclusive cores e ideias, agora é a hora de afirmar para esta sociedade qual modelo? qual projeto de sociedade é ideal, se o que está ai incomoda tanto.

De um lado esse projeto é disputado pela "volta da ditadura civil-militar", "intervenção militar", "fora Cuba", e assim vai. Se o lado de lá é louco, porque revidamos. Simples, porque o lado de lá se apoio na grande mídia que reproduz um "peido" como se fosse perfume, como é o preconceito a Cuba que foge da verdadeira realidade, mas vendida para sociedade a mentira, essa se estabeleceu. Quando defendemos a ilha, "loucos" somos nós.

Cabe aos militantes da esquerda socialista não buscar esforços no mesmo dilema, mas se reunir, organizar, fazer, agitar, propagandear...sigla, discurso, não! Nossas ideias e ideais, a luta e a organização são processos. Retomar o que é um partido para nós socialistas e comunistas, que é o partido da classe, nossa organização em rede, em teia, de nós com nos mesmos, popular, comunitários, não juntos num partido institucional, mas filiados no único partido que interessa aos trabalhadores e trabalhadoras, o da nossa classe com um programa político claro: defesa da humanidade!

Desorganizados ou reduzidos perderemos esse momento.

Não temos nada a perder com esse sistema político.

Mudando temos muito a ganhar! Vencer!

Voltado a pergunta inicial: você quer transformar o poder ou apenas fazer parte do que está aí?

Ps.: Bobbio representa bem um termo que claro não existe como conceito, "esquerda liberal", mas se nos aprofundarmos na raiz do termo "esquerda" ela também não nasce comunista e nem revolucionária, os que estavam a esquerda do parlamento defendiam reformas sociais mas dentro de um sistema que é cruel pela sua própria forma de acumular riqueza. Cito Bobbio porque é claro os próprios liberais tem vergonha de serem identificados com a "direita", preferem esconder-se na democracia liberal.