quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A classe trabalhadora não vai ao paraíso?

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Guarulhos pode ser o modelo do novo jeito de gerir os negócios no neoliberalismo brasileiro. A julgar como essa fase do capitalismo é altamente mutável e adaptada, inclusive às suas tragédias sociais, recriando inclusive um problema antigo - dos refugiados pela fome, desemprego e gerras civis, pois circula o capital tão rápido quanto as mercadorias sem o menor pudor. Um país pode falir em minutos a depender do movimento dos capitais no atual cenário.

A informalidade do trabalho trouxe a segunda maior cidade do estado do São Paulo a tragédia da imigração que joga milhares de cidadãos e cidadãs, bolivianos e haitianos, aos guetos escuros das oficinas de costura e outros trabalhos manuais de baixo custo e alta lucratividade. Difícil, nos dias de hoje, não é escolher a marca do produto, mas atestar qual não foi produzido de forma escrava em sua cadeia de produção.

Outro problema é a terceirização, que generaliza como uma gripe "incurável" vai afetando um número cada vez mais significativo da classe trabalhadora (não apenas dos serviços, diga-se de passagem), e jogando vidas na incerteza dos direitos mínimos expressos nas leis trabalhistas. Se para a a burguesia (empresários e banqueiros), as leis trabalhistas são obsoletas, o que diríamos, nós trabalhadores, sobre a herança e o lucro, obtidas da exploração e da preguiça das gerações burguesas. Terceirizar não é "moda" é desastre e aumento da desigualdade, pois, o desemprego sempre rondou a vida da classe trabalhadora, mas a regulação via políticas sociais e públicas, como a Seguridade Social, surgem na história como resposta a exploração da força de trabalho. Agora retirando-se o mínimo, abre-se a porta do descaso, porque o que está oculto na proposta de "regularizar" a terceirização é a retirada de direitos básicos como 13. salário, férias, licenças como o direito das gestantes dentre outros.

Individualismo nas negociações também é enfraquecer o já em crise movimento sindical. Se os trabalhadores e trabalhadoras não possuem meios de lutar por direitos coletivos, como conquistar direitos efetivos. Nunca na historia da humanidade, com o nascimento das relações mediadas pelo capitalismo os trabalhadores conseguiram direitos em luta coletiva. Os que tentaram a sorte sozinhos atuando como "puxa-sacos", "traíras", "X9", "lambe-botas" e prostituindo-se aos patrões apenas conseguiram (o que mereciam) um belo pé na bunda.

E Guarulhos? A noticia que reproduzo abaixo (GH 29/11/2016), expressa parte do que virá com essas indas e vindas do neoliberalismo brasileiro. O aumento de contratações na cidade nas linhas de montagem são a prova de que o que será ofertado para parte da classe trabalhadora serão os velhos e renovados empregos ligados a produção alicerçados por um sistema financeiro que vende problemas transvestidos de oportunidades, como são as dividas advindas do desconto em folha de pagamento, créditos e etc.. Aliasse isso a uma vocação da cidade para os alugueis e soma-se isso ao total do custo de vida. A proletarização não é um fato novo, mas agravasse depois de um curto período de avanços sociais. 

Avanços sociais que tem nome, falo dos quatro mandatos dos governos do PT (Partido dos Trabalhadores), a frente da cidade. Impossível dizer que esta cidade não mudou, basta perceber que o acesso ao centro tornou-se viável para algumas regiões e em outras existem seus próprios centros com infra estrutura de consumo a bens e serviços que espalharam-se pelo município justamente porque a renda e as reformas estruturais chegaram efetivamente a vários bairros. Não falasse mais em desagregar o município em várias cidades, como no passado, hoje nenhum membro da sociedade política quer desvincular-se de Guarulhos. 

Um breve balanço pode ser feito em termos de serviços públicos, pois, na cortina de fumaça dos cargos comissionados (indicados), esconde-se o fato de que há mais de 30 mil servidores públicos atendendo em diversas áreas da municipalidade, destes, a maioria são trabalhadores públicos da educação e da saúde, portanto é inegável que escolas e ampliação da rede de atendimento na saúde foram importantes conquistas e como toda melhora traz problemas, a população cresce proporcionalmente as demandas. E a máquina pública para fazer esse gigante funcionar também aumentou. 

E onde estão os problemas? Despolitizar a política é um dos problemas. Despolitizar a máquina publica é o problema. Falta objetivo real que alicerçado com subjetivo possível. Quando governar tornasse tedioso, não há mais pelo que lutar. E esse pode ser um dos problemas pelo qual passou o PT local e levou a sua derrota. Não apenas, alia-se isso a uma conjuntura adversa com uma oposição que usou e abusou dos seus meios para atacar, arrebentar e não permitir defesa séria levando ao golpe consagrado pelo impeachment da presidenta Dilma. Efeito cascata que rolou ladeira abaixo chegando as urnas da cidade.

Desgaste da governabilidade de 16 anos no poder local também podem ser explicados pelo inchaço de aliados em áreas estratégicas, limites da máquina aliado a erro de manobra política, nesse caso o sistema de água e esgoto (SAAE), que administrou no último período a maior obra da sua história no saneamento básico, com média capacidade de reparo no atendimento aos moradores e a dívida com a Sabesp, não há administrador público que sobreviva a isso sem ralar muito. 

Uma máquina que espraiou-se pela cidade e que permitiu-se no seu meio a deixar que velhos e novos projetos fossem colocados na pratica, digo isso das políticas públicas em geral, mas com capacidade de execução financeira comprometida, onde querer tudo é não fazer quase nada, ou um pouco de cada coisa, resultado a conta não fecha, levando o governo a propor o impensável num governo do PT, a adotar medidas ortodoxas e de cunho neoliberal, vejamos, venda de áreas públicas (que poderiam ser potencializadas na dinamização da máquina pública, principalmente burocrática, que consome historicamente horrores com custo de aluguéis), o erro na curva do Plano de Carreira dos serviores públicos, que previa o fundo previdenciário via Ipref e que tem sido utilizado pelos governos estaduais para cobrir as dividas públicas, ou seja, o percentual retirado dos trabalhadores públicos utilizados como ativos de investimentos e financeirização, e que poderia (e pode) ser perdido numa dessas manobras da jogatina do mercado financeiro e a securitização da dívida, meio que amarra o município aos interesses privados, ou seja, quando a divida da cidade passa a ser oferecida como meio de investimento não importa como a cidade (leia-se seus cidadãos e cidadãs) vai pagar os devedores (compradores da dívida), desde que pague mesmo retirando isso do bolso dos contribuintes e claro dos direitos sociais que serão afetados.

Isso é parte do que inclusive esta sendo questionado pela bancada do PT no congresso nacional quanto as premissas da PEC 55 (241), que vai congelar recursos públicos em nome do financiamento da divida pública, feito por parte da própria sociedade política e que esta sendo jogado para o colo da população em geral para pagar a conta. 

O que esperar do futuro da cidade? E porque não do país? Diante desse quadro, é preciso saber como conectar-se novamente a setores da classe trabalhadora, objetivamente não apenas numa luta econômica, pelo reajuste de salario ou pela sua manutenção, sem retirada de direitos. Mas disputar um projeto de país e de sociedade. 

A derrota no senado com a provação da PEC 55 representa a resposta apática da população em geral aos colegas servidores públicos (nos mais me incluo), de que não houve solidariedade de classe porque não há uma identidade de classe que nos vincule. Mesmo que os efeitos da PEC sejam destrutivos aos serviços públicos e consequentemente à própria população nos atendimentos, é verdade que a tempos paramos de disputar o que é de interesse público, tratando o serviço público como emprego desvinculamos isso do seu compromisso primeiro, com o público. Nesse caso, com grande parte da classe trabalhadora assalariada que depende e precisa destes serviços e destes trabalhadores.

Do outro lado, as frações e segmentações da classe assalariada em suas rendas e rendinhas, seus imoveis financiados, suas escolas particulares e saúde privada, seus carros (também financiados), seu padrão de consumo e tudo mais apenas nos unificam na hora de comprar algo nas lojas dos mercados afora. Nem é preciso lembrar quem deveria mandar nesta cidade e de fato perdeu essa oportunidade, os próprios trabalhadores e trabalhadoras. Numa cidade em que servidores públicos, metalúrgicos, trabalhadores do setor químico, condutores, professores das redes pública e privada e tralhadores dos serviços compõem a maioria da população, imagine se um dia escolhêssemos coletivamente a parar e governar nos mesmos esse lugar?

Bom ai é outra história. Mas tudo tem um começo!                                       
                                                                                                                                                                 


Matéria citada:
link:http://www.guarulhoshoje.com.br/2016/11/29/alimentador-de-linha-de-producao-e-a-profissao-que-mais-gerou-empregos/

Alimentador de linha de produção é a profissão que mais gerou empregos
29 DE NOVEMBRO DE 2016


A linha de produção é o que está gerando mais empregos na cidade


Alimentador de linha de produção foi à profissão que mais empregou guarulhenses neste ano. Segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a área responsável por organizar e abastecer máquinas e linhas de indústrias gerou 5.507 vagas de janeiro a outubro de 2016.

O número é 7% inferior ao registrado pela pasta no ano passado. Conforme dados da pesquisa, foram 5.984 pessoas empregadas nessa área em 2015. De acordo com o levantamento da consultoria de recrutamento Page Personnel do ano anterior, à demanda por profissionais com formação técnica em indústrias aumentou 15%, o que inclui os alimentadores de produção.

Segundo a gerente de consultoria, Daniela Guimarães, empresas que antes terceirizavam o serviço de manutenção, requisitado apenas diante de problemas, perceberam que é mais vantajoso ter técnicos em tempo integral.

Saindo da terceira para a segunda colocação no ranking, o auxiliar de escritório em geral alcançou 4.327 vagas neste ano, uma queda de 17% em relação ao ano passado, quando existiam 5.263 vagas nesta ocupação.

A terceira carreira mais empregatícia de 2016 foi de vendedor de comércio varejista. O ofício gerou 4.184 vagas de emprego, uma diminuição de 23% contra os 5.439 recolocações no mercado de trabalho de 2015.O levantamento mostrou ainda o quadro de emprego classificado por grau de instrução.

Reportagem: Leticia Lopes