quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Aumento dos salários dos vereadores de São Paulo: a polêmica que divide a esquerda.

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Aumento dos salários dos vereadores de São Paulo: a polêmica que divide a esquerda.

“O mundo está perdido”, é assim que poderíamos resumir o debate intenso que vários dirigentes e militantes tem travado nas redes sociais sobre o aumento dos salários dos vereadores da Câmara de São Paulo. Como se fosse uma guerra de forças caminhando para mudar o mundo, as posições emocionadas e até mesmo ríspidas sobre o assunto, dependendo de qual posição toma, é motivo de fortes emoções.

Ambos os lados tem suas “razões”, mas com um pequeno e, ao mesmo tempo, grande detalhe que está em disputa, o imaginário das massas com relação ao aumento dos salários.

De um lado, os que são contrários tem razão de sê-lo. O aumento em fim de ano e de mandato, em meio a crise econômica do Estado e do país, expressa sinal de pouco interesse da casa de leis em se preocupar com o momento. Também é verdade que esta é para esquerda (repito, apenas para esquerda), uma luta simbólica. Uma vez que não foi apenas a esquerda que votou contra, mas também os representantes da direita em nome das suas articulações pelo poder na próxima legislatura.

Digo luta simbólica, justamente porque é muito pragmático para esquerda colocar-se contra o que se denomina “privilégios do Estado” para as representações parlamentares. Isso não é novo, e o PT (pré Lula 2003), já fazia esse tipo de disputa. Lembremos que no final da década de 1990 um dos adesivos que o partido distribuiu tinha como chamada: “honestidade é com o PT” ou o famoso adesivo “xô corrupção”. Errado? Não, se pensarmos que aquele PT disputava parte da visão moral pequeno burguesa da classe assalariada média.

Ou seja, o discurso contra o aumento de salários vale para dialogar com biotipo de pensamento de “esquerda” que de longe não é revolucionário e bem mais próximo de uma esquerda liberal.

Pois, isso vale o velho discurso, pregado pela classe média pequeno burguesa, que nega os meios para que as representações políticas no Estado possam cumprir seu papel. E reforça um discurso moralista sobre algo que evidentemente é desigual, diante da massa de assalariados.

Um representante dos interesses fundiários, bancos, empresários e a elite que o valha, não apropria-se do salário parlamentar e sim das benesses da sua representação de classe. Diferente do representante dos trabalhadores, seja o professor, metalúrgico, servidor público, etc., que ao assumir a representação parlamentar tem uma direção de classe, e obviamente, precisa ter mobilidade para exercer as funções do parlamento e da luta social.

Do outro lado, os que defendem que o aumento é o menor dos problemas para esquerda e para o país, o fazem de forma muito lúcida, dentro dessa perspectiva que apresentei, onde no Estado republicano, os poderes exercidos pelas representações devem ter condições mínimas para o exercício do mandato e da representação parlamentar, ou seja, do salário.

Contudo, são nesses debates que precisamos entender “qual esquerda está sendo forjada na sociedade civil brasileira?”, porque, o que defenderam, não o aumento, e sim a irrelevância do alvoroço com o tema, questionam – de certo modo – uma visão bem moralista pequeno burguesa das coisas.

E com isso, não estou justificando a posição da bancada do PT. Que votou a favor.

Mas em casa de ferreiro, o espeto é de madeira. Então, depois de muitos anos, o PT majoritário tendo se apoiado numa narrativa de diálogo com uma parcela da sociedade civil usando do discurso da moralidade pequeno burguesa colhe o que planta. Em tempos de crise do capital, aumento de salário de vereador vira crise política moral.

É verdade que o debate político sobre o tema tem sido turvo. Onde se é para politizar, então devemos (como esquerda) dizer as coisas como deve ser e questionar, “porque os trabalhadores não podem em plebiscito, referendo e debates, aprovar os aumentos dos seus salários?”.

Ou melhor, será que numa ruptura com o Estado republicano liberal, haverá como disse o velho e saudoso Plínio de Arruda Sampaio, uma postura da esquerda de abrir mão de certos benefícios em nome de uma economia de transição socialista? Convencer trabalhadores de nível superior de que os colegas coletores de lixo devam receber o mesmo que engenheiros? Estabelecer que não haverá desigualdade de salários numa transição socialista é reduzir o de alguém, é aí? Em qual regra moral se aliará os que se consideram de esquerda?

Cada vez mais penso que a esquerda brasileira precisa decidir de qual planeta quer fazer parte. Do que recentemente elevou a renda de parte da classe trabalhadora, sem trabalhar um milimetro da formação do nosso sujeito. Ou romper a lógica e nisso se inclui disputar o pensamento da classe assalariada média contra o moralismo pequeno burguês.

Em tempo: a PEC 55 (241) passou porque a tempos o funcionalismo público tem se descolado da sua identidade de classe trabalhadora, e a solidariedade não venho porque não se combateu o pensamento neoliberal sobre o “servidor público”, agora a PEC 281 ataca duramente a previdência pública, agora este tema deveria ser o assunto das esquerdas, isso ataca conquistas históricas da classe. Deixar passar é lograr a vitória da mentira contada com mascara de verdade, a culpa da previdência é a própria previdência.