Aumento dos salários
dos vereadores de São Paulo: a polêmica que divide a esquerda.
“O mundo está
perdido”, é assim que poderíamos resumir o debate intenso que
vários dirigentes e militantes tem travado nas redes sociais sobre o
aumento dos salários dos vereadores da Câmara de São Paulo. Como
se fosse uma guerra de forças caminhando para mudar o mundo, as
posições emocionadas e até mesmo ríspidas sobre o assunto,
dependendo de qual posição toma, é motivo de fortes emoções.
Ambos os lados tem suas
“razões”, mas com um pequeno e, ao mesmo tempo, grande detalhe
que está em disputa, o imaginário das massas com relação ao
aumento dos salários.
De um lado, os que são
contrários tem razão de sê-lo. O aumento em fim de ano e de
mandato, em meio a crise econômica do Estado e do país, expressa
sinal de pouco interesse da casa de leis em se preocupar com o
momento. Também é verdade que esta é para esquerda (repito, apenas
para esquerda), uma luta simbólica. Uma vez que não foi apenas a
esquerda que votou contra, mas também os representantes da direita
em nome das suas articulações pelo poder na próxima legislatura.
Digo luta simbólica,
justamente porque é muito pragmático para esquerda colocar-se
contra o que se denomina “privilégios do Estado” para as
representações parlamentares. Isso não é novo, e o PT (pré Lula
2003), já fazia esse tipo de disputa. Lembremos que no final da
década de 1990 um dos adesivos que o partido distribuiu tinha como
chamada: “honestidade é com o PT” ou o famoso adesivo “xô
corrupção”. Errado? Não, se pensarmos que aquele PT disputava
parte da visão moral pequeno burguesa da classe assalariada média.
Ou seja, o discurso
contra o aumento de salários vale para dialogar com biotipo de
pensamento de “esquerda” que de longe não é revolucionário e
bem mais próximo de uma esquerda liberal.
Pois, isso vale o velho discurso, pregado pela classe média pequeno burguesa, que nega os meios para que as representações políticas no Estado possam cumprir seu papel. E reforça um discurso moralista sobre algo que evidentemente é desigual, diante da massa de assalariados.
Pois, isso vale o velho discurso, pregado pela classe média pequeno burguesa, que nega os meios para que as representações políticas no Estado possam cumprir seu papel. E reforça um discurso moralista sobre algo que evidentemente é desigual, diante da massa de assalariados.
Um representante dos
interesses fundiários, bancos, empresários e a elite que o valha,
não apropria-se do salário parlamentar e sim das benesses da sua
representação de classe. Diferente do representante dos
trabalhadores, seja o professor, metalúrgico, servidor público,
etc., que ao assumir a representação parlamentar tem uma direção
de classe, e obviamente, precisa ter mobilidade para exercer as
funções do parlamento e da luta social.
Do outro lado, os que
defendem que o aumento é o menor dos problemas para esquerda e para
o país, o fazem de forma muito lúcida, dentro dessa perspectiva que
apresentei, onde no Estado republicano, os poderes exercidos pelas
representações devem ter condições mínimas para o exercício do
mandato e da representação parlamentar, ou seja, do salário.
Contudo, são nesses
debates que precisamos entender “qual esquerda está sendo forjada
na sociedade civil brasileira?”, porque, o que defenderam, não o
aumento, e sim a irrelevância do alvoroço com o tema, questionam –
de certo modo – uma visão bem moralista pequeno burguesa das
coisas.
E com isso, não estou
justificando a posição da bancada do PT. Que votou a favor.
Mas em casa de
ferreiro, o espeto é de madeira. Então, depois de muitos anos, o PT
majoritário tendo se apoiado numa narrativa de diálogo com uma
parcela da sociedade civil usando do discurso da moralidade pequeno
burguesa colhe o que planta. Em tempos de crise do capital, aumento
de salário de vereador vira crise política moral.
É verdade que o debate
político sobre o tema tem sido turvo. Onde se é para politizar,
então devemos (como esquerda) dizer as coisas como deve ser e
questionar, “porque os trabalhadores não podem em plebiscito,
referendo e debates, aprovar os aumentos dos seus salários?”.
Ou melhor, será que
numa ruptura com o Estado republicano liberal, haverá como disse o
velho e saudoso Plínio de Arruda Sampaio, uma postura da esquerda de
abrir mão de certos benefícios em nome de uma economia de transição
socialista? Convencer trabalhadores de nível superior de que os
colegas coletores de lixo devam receber o mesmo que engenheiros?
Estabelecer que não haverá desigualdade de salários numa transição
socialista é reduzir o de alguém, é aí? Em qual regra moral se
aliará os que se consideram de esquerda?
Cada vez mais penso que
a esquerda brasileira precisa decidir de qual planeta quer fazer
parte. Do que recentemente elevou a renda de parte da classe
trabalhadora, sem trabalhar um milimetro da formação do nosso
sujeito. Ou romper a lógica e nisso se inclui disputar o pensamento
da classe assalariada média contra o moralismo pequeno burguês.
Em tempo: a PEC 55
(241) passou porque a tempos o funcionalismo público tem se
descolado da sua identidade de classe trabalhadora, e a solidariedade
não venho porque não se combateu o pensamento neoliberal sobre o
“servidor público”, agora a PEC 281 ataca duramente a
previdência pública, agora este tema deveria ser o assunto das
esquerdas, isso ataca conquistas históricas da classe. Deixar passar
é lograr a vitória da mentira contada com mascara de verdade, a
culpa da previdência é a própria previdência.