sábado, 20 de outubro de 2018

O Brasil merece Bolsonaro?


Seja biologicamente ou por alguma força superior, aquele ou aquilo que nos deu organicamente duas orelhas acaba sendo, as vezes, um incômodo. Ao ponto de pensar que as redes sociais como facebook provam (ainda bem) que o ser humano não tem capacidades sensoriais para “ouvir” pensamentos alheios, pois seria um caos. Uma psicose individual e coletiva.

Pode-se dizer que o “efeito Bolsonaro” trouxe uma coisa de boa: revelou o grau de formação político-cultural da sociedade brasileira e provocou o debate político nas intimidades dos indivíduos.

Nos vários ambientes, as conversas de alguma forma, convergem para o debate das eleições deste ano. 2018 será estudada, por muitos pensadorxs, por um bom tempo.

Além do fator emocional das conversas, a maldição da audição está nos argumentos, sendo um pior que outro por sinal, e numa dessas ouvi (sem querer) uma conversa acalorada em mesa alheia (já que o tom de voz também tornou-se componente aliado das emoções nesse tipo de discussão) onde permeou o debate sobre a Constituição e a prisão de Lula.

E esse é o debate que não fazemos. A Constituição de 1988 foi a maior expressão de unidade da formação dos Estados-nação e uma invenção liberal (só para lembrar) e que atravessou os tempos legitimado, como instrumento desta unidade, o pacto social (paz social) e a mediação entre as classes sociais no capitalismo.

Analisando friamente as possíveis situações no final dessas eleições, a resposta é evidente: não haverão vencedores.

E por que? Porque, independente do meu voto, que não será no ódio e nem na destruição de direitos sociais, e portanto será em Haddad (13), como de muitos e muitas que querem um país democrático. O fato é que a simbologia apregoada pelos instrumentos de poder e por algumas personalidades públicas é de que essa eleição se resume aos que “odeiam ou gostam do PT” e retiram o elemento central de disputa de projeto que está em jogo.

Todas as teses sócio históricas e de formação da sociedade brasileira podem ser repensadas agora, seja do “brasileiro cordial” ou do “nacional desenvolvimentismo”, é possível que a arrogância e ignorância do pensamento neoliberal tenha penetrado tanto no cotidiano e nos "sonhos" individualistas ao ponto de levar também à derrota dos ideais liberais, ortodoxos ou democráticos, do liberalismo tradicional e da perspectiva de Estado-nação, esse último assassinado pelos próprios (neo) liberais diante a globalização dos mercados.

A questão destas eleições reside no projeto despolitizado que agrega “vontades” em todas as classes sociais, ou como alguns denominaram como "um projeto liberal na economia e moralizante-conservador no íntimo da sociedade e dos indivíduos”, e é fascista pelo seu componente principal: normatizar um modelo de indivíduo. (Ponto)

Aos trabalhadores e seus segmentos que sobrevivem na pobreza e na miséria é oferecido o fetiche da “ordem”, levando negros, mulheres, jovens e demais a seguirem para o possível “paraíso” prometido em contraposição a violência urbana e o sensacionalismo da mídia.

Nem afirmando que o projeto “bolsonarista” representa retira de direitos trabalhistas, permissão para semi-escravidão (ou total escravidão), e enfraquecimento do pouco de nação, expressada no modelo de Estado existente, tudo isso e muito mais, não convence a pessoa e nem leva à reflexão dos seus seguidores de segunda hora, já que parte desse voto é desse novo imbecilismo "anti-pt".

Vamos então lutar até o fim? Sim. Eleitoralmente seguimos resistindo até 28 de outubro. Depois é depois.

Se Haddad vencer o que teremos que reconhecer é que será um governo que buscará a tentativa de reconstrução da “paz social”. O que já é muito diante do caos que cresce na violência verbal e física dos novos “fascistas” de plantão, moralistas sem moral.

Serão quatro anos de intensos debates e combates, conciliações e enfrentamentos, destruição e reconstrução, ou seja, isso não para por aí. O ciclo de 2013 termina em 2018, já que os seus “frutos venenosos” já brotaram, e o que se pode se pode esperar de 2019 em diante vai ser o momento de pensar, refletir e buscar reconfigurara práxis existente nos vários lugares.

A esquerda brasileira terá que fazer reflexões e discussões necessárias. Deve estar alerta ao novo fascismo e a luta por direitos, mas se ficar na mesmice será engolida pelo discurso fácil desse "verde-amarelismo" conservador.

E se o “lado B” ganhar?

Muita gente tem me perguntado, e afirmado, que estaremos sendo jogados ao caos em um eventual governo do “coiso”?

Sempre disse que isso seria ruim a vitória do "lado B", mas não um problema total. E eu explico.

1) Um governo Haddad colocaria os "cães de guarda" do sr. Bolso em permanente perseguição contra o governo e as pessoas com um ódio virulento, pois estaria na oposição. (Sim, isso será também efeito durante o mandato do “coiso”, mas imagine o modelo de oposição dessa gente durante o mandato de um eventual governo do PT);

2) Sendo governo, o sr. Bolso tem que mostrar ao que veio. Vai ter que conhecer a máquina e ver que no presidencialismo "verde-amarelo" há mais limites que possibilidades. E todxs sabemos que o poder executivo é importante para o exercício de poder, mas também espinhoso, limitador e cheio de desafios;

3) A retirada de direitos em todos os aspectos: trabalhistas, sociais, humanos, civis, enfim, de toda espécie ainda não terá o efeito de massa, e essa indignação ainda não será imediata, mas o “caldo” tende a ferver e pode ser que não seja a esquerda a reunir  e a liderar parte dos futuros “indignados” - e aí mora o perigo, voltando as teses pela "ditadura de verdade" já que para eles a "via democrática faliu";

4) Se o governo do sr. Bolso usar a repressão com força total para conter os ânimos do item (3) anterior, só vai “botar mais lenha na fogueira”, a barbárie pode (ou não) levar ao “estado de sítio” (por favor ler art. 137, 138 e 139 da Constituição), bem como buscar a paralisia, conchavo ou conivência das instituições. Lembrando que ainda poderá ser debitada na conta da esquerda algo que ela não necessariamente construiu nessas mobilizações;

5) Diante da crise econômica e social do governo do sr. Bolso e numa possível retirada radical de
direitos, principalmente os trabalhistas, é certo que não haverá muros, câmeras, segurança privada ou instituições “republicanas” que irão dar conta do “Haiti” que poderá se formar;

6) O centro do poder burguês tolera, em nome dos lucros, certos governos. Já vimos isso, como fez com os militares durante a ditadura e com as versões do governo Lula-Dilma, desde que o capital nunca perca, apoiam de “sorriso amarelo”. Mas quando querem botam a mão na massa, mudar o centro do poder no Estado, fazem sem a menor vergonha, vejamos os exemplos de Collor. No painel da FSP (20/10/18) isso aparece em sinais ao que se referente ao caixa 2 do “Watthsgate” e dizendo subliminarmente que as instituições jurídicas podem agir, até cassando a chapa eleita. Depois do impeachment de Dilma, você ainda dúvida disso? (Oh coitado). Então pare de chamar de "golpe" ou aceita que doí menos.

Dentro desse quadro, o que sobra a esquerda e aos progressistas que tem projeto societários anti capitalistas?

De novo a base. Base construída a partir da totalidade da classe, com raiz e disputa desse cotidiano alienante por outro que cultive diariamente um projeto de sociedade democrática, ambientalmente sustentável, de economia solidária e alternativa, distributiva, socialista, enfim, construindo a possibilidade da sociedade livre e emancipada.

Reafirmo o chamado a refletir para avaliar os erros e acertos pós 1988, que devem agora passar por uma avaliação coletiva de tática e estratégia. Quero errar de um modo diferente pós 2018.

Sem respostas pré cozidas.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

LANÇAMENTO do meu livro no II SINESPP (SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ESTADO, SOCIEDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS)


Tenho prazer de informar que irei lançar meu livro no II SINESPP (SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ESTADO, SOCIEDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS) -  DIA 20 DE JUNHO ÁS 16:00H NO CINE TEATRO DA UFPI (Universidade Federal do Piaui). 


domingo, 3 de junho de 2018

ANÍBAL QUIJANO (1928-2018) PRESENTE!



ANÍBAL QUIJANO (1928-2018)
Su obra reinterpretó las raíces de las ciencias sociales latinoamericanas

Nació en la ciudad de Yanama, Departamento de Áncash, Perú, en 1928. El mundo andino fue su casa, a la que siempre regresó.

Su pensamiento se reconoce en el linaje de José Carlos Mariátegui. De inmensa lucidez teórica y analítica, su obra fue tan diversa como impactante y, por momentos, dispersa. Solía decir que no tenía el hábito de la sistematización de la escritura, y que por eso prefería “escribir al viento”. El viento, la metáfora que elegía para expresar su incondicional compromiso con la libertad de pensar y de escribir, tan propia de de los intelectuales cuyas vidas de exilios prolongados, proscripciones y persecuciones, les han impedido mantenerse en un lugar fijo.

Durante muchos años estuvo vinculado a la Universidad Nacional Mayor de San Marcos, donde fue estudiante y profesor. Renunció definitivamente a ella en 1996, cuando fue intervenida por la dictadura de Alberto Fujimori. En San Marcos mantuvo una activa vida política, por la cual fue perseguido y encarcelado en 1948 y en 1950.

Recordando aquellos años, sostuvo: “La policía me despojó de todos mis papeles de trabajo, que eran muchos, y de toda la escritura que una desolada vigilia de demasiadas horas durante muchos años, había recogido en demasiados, dispares campos. En cada vez me sentí, como si no hubiese hecho nada nunca. Y en un momento de ese mismo 1953, eso sí lo recuerdo con precisión, decidí que no volvería a escribir. Todo lo que yo podía decir, ya estaba escrito y mejor”.

Más tarde, realizó diversos estudios sobre sociología y política y llegó a enseñar en diversas universidades de América Latina y del mundo. Fue investigador de la CEPAL durante su exilio en Chile. Fundó y dirigió la Revista Sociedad y Política en los años 70. Fundó la cátedra "América Latina y la Colonialidad del Poder" en la Universidad Ricardo Palma de Perú. Renunció a establecerse en Estados Unidos, aunque se desempeñó como profesor en el Centro Fernand Braudel de la State University of New York, en Binghamton, fundado por su gran amigo Immanuel Wallerstein.

Sus teorías sobre la idea de raza, colonialidad y eurocentrismo constituyen una línea divisoria en la historia del pensamiento latinoamericano y mundial.

En los años 90, sus textos se reprodujeron vertiginosamente. Fueron traducidos a varias lenguas y divulgados en toda América Latina, África, Asia y Estados Unidos, Canadá y Europa.
Fue un luchador incansable en defensa de la democracia, los derechos humanos y la igualdad. Su obra ha inspirado no sólo varias generaciones de cientistas sociales críticos, sino también movimientos y organizaciones libertarias, emancipatorias y anticoloniales en América Latina y África.
CLACSO lo distinguió con su Premio Latinoamericano y Caribeño de Ciencias Sociales y publicó su antología esencial: Cuestiones y Horizontes: de la Dependencia Histórico-Estructural a la Colonialidad/Descolonialidad del Poder.

Nos despedimos de Aníbal, un intelectual inmenso, un ser humano generoso y bueno. Sentiremos su ausencia, seguiremos su ejemplo.

Pablo Gentili
Secretario ejecutivo de CLACSO
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales
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ANÍBAL QUIJANO
Cuestiones y Horizontes

De la Dependencia Histórico-Estructural a la Colonialidad/Descolonialidad del Poder

Antología Esencial
Selección y prólogo a cargo de Danilo Assis Clímaco
Aníbal Quijano ha argumentado que la persistencia de un pensamiento deriva del modo en que su relación cognitiva con el mundo permite la emergencia de nuevos sentidos en cada giro de la historia. En este sentido, la presente antología se propone perfilar las especificidades del pensamiento de Aníbal Quijano y el modo en que este se ha interactuado con los acontecimientos cruciales de nuestra historia reciente, permitiendo desde hace cinco décadas, lecturas que han transformado nuestra comprensión de la historia y la contemporaneidad latinoamericana.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A “greve dos caminhoneiros” e a farsa para o golpe do golpe.


A “greve dos caminhoneiros” e a farsa para o golpe do golpe.

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Desde 21 de maio de 2018 os chamados “representantes” dos caminhoneiros deflagaram uma “greve” que dentro da sua tática conhecida estão o bloqueio de estradas. Até ai tudo normal de qualquer “movimento” que diz reivindicar algo “justo”, e neste caso, com as mudanças na política da Petrobrás realizadas pelo governo ilegítimo de Temer fez com que os reajustes dos combustíveis sigam os interesses dos acionistas da bolsa de Nova York e não do país e o pavio que ascendeu esse barril foi o diesel que alcançou o valor de R$ 5,00 (cinco reais).

Alguns sinais indicam o porquê a esquerda brasileira não deve apoiar ou ingenuamente acreditar na sua capacidade de influência sobre essa “greve”.

A primeira indicação é inclusive de Lenin, quando traz a figura do “inocente útil” e isso os caminhoneiros tem de sobra na sua trajetória histórica, suas greves sempre penderam para atender os interesses político e econômicos das elites, das burguesias e justamente por que a condição desta categoria profissional enquadrasse bem nas definições liberais, de “autonomia econômica” ou “livre iniciativa”, “dono do seu destino econômico” como taxistas e outros setores profissionais da área de serviços.

Se recordarmos na história da luta de classes temos 1973 contra o governo socialista de Salvador Allende e com Chavez em 1999, a tática de desabastecimento e locaute, combinadas recaem sobre os governos ou os interesses que rondam os setores que os dirigem, os empresários.

Segundo, a forma como se comporta a mídia, como se fosse combinado gerar essa sensação de “indignação” disseminada no empurra-empurra nos ônibus, padarias, locais públicos em geral, essa mesma mídia que criminalizou as lutas contra o golpe de 2016, que buscou jogar contra as greves gerais de 2017 contra as reformas impopulares, trabalhista e previdenciária, e no processo de julgamento do ex-presidente Lula.

A narrativa construída desde o início com apoio direto, parcialidade e complacência sobre os “bloqueios” fazem ascender o sinal amarelo. Os destaques feitos sobre as “negociações” e a baixa ou quase nula crítica aos bloqueios sinalizam que algo está sendo “trucado” no jogo do poder e das elites. Se tirar Lula da disputa presidencial de 2018 é verdadeira, se Luciano Hulk, Barbosa, Alckimin, Meireles e até Ciro são apostas que não chegam a encostar no “efeito Bolsonaro” que tem certo 20% das intenções de voto, então porque não supor que essa tentativa de avaliar em que grau o desabastecimento pode permitir gerar um clima de instabilidade.

Instabilidade que se for declarada pelos poderes constituídos, pode gerar uma tese de “necessidade para criar condições de estabilidade da ordem pública”, isso é possível e como já indicado num processo indireto, um juiz do STF teria a aura da “legitimidade institucional” e “sem partidos”.

Ainda não há medida para essa tática, mas o alerta é necessário.
Os movimentos confusos das direções da nossa esquerda deixam claro o grau de desagregação de unidade programática. A favor ou contra, em nome da tática da cooptação ou do momento único, alguns setores entendem que é “possível ganhar o movimento”, mas as primeiras bandeiras de “intervenção militar” foram levantadas e isso gera a confusão.

Terceiro, o desabastecimento providencial evidencia que ou somos uma caricatura de capitalismo ultra dependente ou há intencionalidades no jeito de fazer. Vamos aos fatos, como é possível os postos de combustíveis “esvaziarem” nesta quinta, se a corrida aos postos ficou mais evidente na manhã deste mesmo dia? Alguém solicitou medir com a régua se há ou não combustível?  Se é verdade que 40% da frota não rodou, quem ficou em casa de folga? Tem lista de quem “ganhou” o dia de folga nas empresas de ônibus?

Quarto, quem vence com a redução do reajuste? O Estado perde, novamente sobre ele incide perder receita com a redução de tributos e impostos sobre o diesel, a conta sendo paga pela população trabalhadora e negociada pelos políticos tradicionais, como se o Estado fosse um lugar vazio, onde os poderosos de plantão apenas negociam a seu prazer suas vontades. E quem vai ganhar nessa “greve”? Não será o frete dos caminhoneiros e nem a sua renda, que mantem na mesma, com todas as cobranças, pedágios e problemas relacionados ao seu trabalho, e seus donos, os empresários sorrindo.

A sensação está nas ruas, como em 2013. E em 2013 a esquerda também tratou de achar que poderia disputar o indisputável, que era a narrativa, essa que a direita também disputou e com toda sua força.

Agora, depois de várias reações as reformas neoliberais, nossas derrotas não nos ensinaram que o momento é de reflexão, repensar e retomar o horizonte estratégico.

Lições que precisam ser apreendidas concentram-se no debate em torno do conceito de cotidiano. Ou seja, como tornar diária essa luta pelo que é coletivo, humano e justo para classe trabalhadora.

Nesse maio não me engano. 

Essa greve não é nossa. A nossa vai ter luta.

Links para debater:

Por que os progressistas não devem apoiar a “greve” dos caminhoneiros. Por Afrânio Silva Jardim


  

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-os-progressistas-nao-devem-apoiar-a-greve-dos-caminhoneiros-por-afranio-silva-jardim/

Grupos pró-intervenção militar tentam influenciar rumo de greve dos caminhoneiros


https://www.terra.com.br/noticias/brasil/grupos-pro-intervencao-militar-tentam-influenciar-rumo-de-greve-dos-caminhoneiros,98806679cf0fa68dd3c90101c8401eb8y6tke0f7.html

Favorável à greve de caminhoneiros, Bolsonaro critica bloqueio de estradas... - 

https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/05/24/bolsonaro-bloqueio-caminhoneiros.htm?cmpid=copiaecola


Centrais apoiam greve dos caminhoneiros. São Paulo terá manifestação

Presidente da CUT diz que constantes altas de preços de combustíveis têm reflexo nos preços de outros produtos importantes para o consumo. Ato pedirá redução no preço do botijão de gás


http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2018/05/centrais-apoiam-greve-dos-caminhoneiros-sp-tera-manifestacao


Caminhoneiros recebem geladeiras, mantimentos e carvão em apoio à greve
Campanhas de apoio também estão sendo feitas por meio das redes sociais.

https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/porto-mar/noticia/caminhoneiros-recebem-geladeiras-mantimentos-e-carvao-em-apoio-a-greve.ghtml

Fala Zé Maria: Por que é preciso dar todo apoio à greve dos caminhoneiros

https://www.pstu.org.br/fala-ze-maria-por-que-e-preciso-dar-todo-apoio-a-greve-dos-caminhoneiros/

Não é locaute. É greve!

https://www.pstu.org.br/nao-e-locaute-e-greve/

Unificar as lutas contra a austeridade, o desemprego e o aumento do custo de vida

https://pcb.org.br/portal2/19761/unificar-as-lutas-contra-a-austeridade-o-desemprego-e-o-aumento-do-custo-de-vida


Todo apoio à greve dos caminhoneiros! Não à privatização da Petrobrás!
https://www.causaoperaria.org.br/todo-apoio-a-greve-dos-caminhoneiros-nao-a-privatizacao-da-petrobras/

sábado, 7 de abril de 2018

Reproduzindo: Editorial | A história está só começando I Editorial Jornal Brasil de Fato

LUTA

Editorial | A história está só começando

Não é a primeira vez que o Brasil se vê em um cerco provocado por forças conservadoras

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG)
,

"Em todas as situações anteriores, o povo não teve outra saída senão se organizar e construir saídas coletivas para superar a realidade" / Ricardo Stuckert
Mais um ataque à democracia brasileira. É isso que significa a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, votado na quarta (4) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Um julgamento que segue com o objetivo do golpe que destituiu Dilma Rousseff a fim de recolocar (e manter) forças conservadoras, elitistas e anti-povo à frente do governo do Brasil.
Como resultado até agora, foram dois anos de corte de investimentos, de direitos trabalhistas destruídos e a da Constituição estraçalhada. E o povo brasileiro sofre com isso na pele: o custo de vida está mais alto, o desemprego batendo recordes, as contas no fim do mês não fecham… A vida realmente piorou para quem depende só do seu trabalho para sobreviver.
O cerco parece se fechar cada dia mais quando se olha ao redor e vê assassinatos políticos e perseguições, quando se vê milicos velhos e impunes fazerem ameaças públicas de intervenção, caso a decisão do STF fosse a favor do ex-presidente.
A realidade é dura mesmo e o sentimento de impotência tende a prevalecer. O que fazer diante disso tudo? É uma pergunta que vem logo à cabeça, sobretudo daqueles que já entenderam que vivemos em uma sociedade de classes, em que poucas famílias – donas de empresas e bancos – se beneficiam do trabalho de milhões.
É importante destacar que não é a primeira vez que o Brasil se vê em um cerco provocado por forças conservadoras. Para citar a história recente, foi assim na ditadura e nos anos 1990 com FHC. Em todas as situações, o povo não teve outra saída senão se organizar e construir saídas coletivas para superar a realidade. Muita gente se lembra das Diretas Já, nos anos 1980, e das marchas gigantes que cortaram o país em 1997, por um projeto popular para o Brasil.
A ideia de que “juntos somos mais fortes” tem que ser fortalecida neste momento. O Congresso do Povo, organizado pela Frente Brasil Popular, é uma boa oportunidade para isso, uma vez que tem a proposta de construir coletivos em cada cidade do Brasil, nos bairros, na periferia, na roça. Coletivos que terão a missão de levantar os reais problemas que as pessoas vivenciam em seu dia-a-dia. É também um espaço de estudo, de encontro, de achar esperança no olhar do outro, de ver na angústia uma possibilidade de superação.
A esperança não vem do além. Ela surge quando há um projeto de um país melhor. A tarefa é construir esse projeto. Que o Congresso do Povo, que acontece em julho deste ano, seja grande e capaz de apontar uma saída que vá para além das eleições. A história brasileira, contada pelos trabalhadores, ainda está só começando. Ainda tem muita luta pela frente.
Edição: Joana Tavares
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São Bernardo, 1978-2018
Lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico, mas terá que se reinventar

Opinião de André Singer (FSP 06/04/2018)avsinger@usp.br

No dia 12 de maio de 1978 começava a greve da Scania-Vabis em São Bernardo do Campo. Era a primeira paralisação operária desde 1968 e o sucesso dos trabalhadores do setor automobilístico mudaria a história do país. A presença de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder sindical que emergiu daquele movimento, por 24 horas no Sindicato dos Metalúrgicos depois de decretada a sua prisão na última quinta (5), fecha simbolicamente o longo ciclo iniciado então.

O lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico. Mas terá que se reinventar para sobreviver sem a liberdade daquele em torno do qual o movimento cresceu ao ponto de chegar à Presidência da República. A despeito de quaisquer outras considerações, Lula demonstrou, durante esses 40 anos, a inegável capacidade de aglutinar o campo popular da política brasileira em torno de si.

Operação Lava Jato, que alcança seu ápice com a ordem de aprisionamento do ex-mandatário, conseguiu o efeito objetivo de afetar o coração da alternativa popular. 
O juiz Sergio Moro, mais uma vez mostrando que age olhando para a política, apressou-se a executar a sentença antes que pudesse haver algum recuo superior. 

A profunda divisão do  STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito, demonstrada na votação do habeas corpus, indicava a instabilidade da decisão anti-Lula tomada quarta (4).

Mas a Lava Jato, independentemente das intenções de cada um de seus membros, é apenas a ponta de um iceberg. 

Quando, na véspera da sessão do STF, o comandante Eduardo Villas Bôas divulgou duas postagens no Twitter e em uma delas escreveu que “o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”, ficou claro que a prisão de Lula tinha se tornado, para determinados setores da sociedade, um assunto de “segurança nacional”.

As “intervenções pretorianas”, conforme as qualificou o ministro Celso de Mello, aproximaram um pouco a situação atual daquela vivida depois de 1964. 

Trata-se, mais uma vez, de impedir, no tapetão, que haja verdadeira alternância no poder. Uma disputa sem Lula candidato, e com dificuldade para explicar ao seu eleitorado quem o representa, esvaziará o pleito de outubro. A possível vitória de um candidato de “centro”, na realidade do campo da classe média, nessas circunstâncias, terá a sua legitimidade diminuída.

Por outro lado, a evolução dos acontecimentos poderá transformar a condenação de Lula no principal assunto da própria eleição. Dependerá, então, da capacidade dos dirigentes forjados neste ciclo, que permanecem em liberdade, reconstruir o polo que representa os pobres. Sobre o seu sucesso, o futuro dirá.


terça-feira, 3 de abril de 2018

Erros e derrotas


  • Vão completar treze anos onde pude ter a oportunidade de participar da última grande marcha realizada pelo MST (Movimento dos/as Trabalhadores/as Sem Terra) era maio de 2005 e é sempre com emoção que repito esse assunto. Mais emocionado ainda por ter encontrado meu diário, registro que fiz durante os dias que caminhei de Goiânia até Brasília com mais de quinze mil companheiras e companheiros movidos pelo sentimento da solidariedade coletiva e da construção de uma sociedade não capitalista, justa, de igualdade e socialista.
  • O tempo pode ser amigo ou inimigo a depender do seu estado de espirito individual. De lá para cá me aconteceram muitas coisas e vou utilizar este espaço, o blog, para algo incomum em uma conjuntura também adversa. Tratar do balanço ou compartilhamento do que sinto e que não tenho respostas, minhas angustias pessoais, das quais não deveriam interessar a ninguém mais. 
  • Na verdade espero que os/as leitores/as possam ler de fato e não apenas "passar o olho" como tem acontecido no mundo comunicacional de hoje. 
  • Sempre, como bom marxista que tento ser, apesar de não ser, pois me faltam leituras e reflexões, busco olhar para história com essa busca necessária, dialético-critica e tentando "não me arrepender do que fiz", já que esse arrependimento ou sentimento de erro vai acabar sendo ou auto-crítica ou só divagação mesmo.
  • Estes últimos anos não tem sido o que eu considero "bons". E mesmo que eu tente todo dia quando saio de casa refletir sobre minha vida e como a dos que atendo (como assistente social) são mais atingidas pelas expressões duras da questão social. 
  • Mesmo que eu tenha vergonha de ver que há outras vidas pessoais mais envoltas em desgraça do que a minha, me incomoda minha patética tentativa de pensar "tenho um trabalho, um salário, uma casa, uma companheira, não me falta comida, não tenho doenças crônicas ou algo que me torne inválido" e mesmo pensando nisso, ainda assim tem algo que incomoda dentro de mim. Um vazio, algo que falta ou que já foi muito presente e agora falta.
  • A exatos 12 anos me convenci de que poderia alçar novas tarefas a partir da minha militância política. Fazer luta política, enfrentar o sistema e estar sempre em algum lugar era minha vida, pelo menos grande parte do tempo. 
  • Na transição da crise do PT em 2006 refleti sobre qual tarefa assumir e duas me pareceram obvias: ou me assumir como um militante-dirigente em estruturas estadual ou nacional, e me dediquei a isso tentando representar a juventude do PT estadual e depois pela juventude da Via Campesina, pois organizar era algo que aprendi ao longo da minha experiência militante. 
  • Ou voltar as minhas origens, a minha cidade (Guarulhos) e retomar o trabalho de base a partir de um mandato de vereador, podendo agora me aventurar em uma tarefa difícil que é a vida parlamentar. 
  • Perder pessoas ou romper relações é natural do ser social e será inevitável na luta política, e a via pela juventude do PT me custou companheiros, suas traições e a certeza de que parte do que sou hoje tem se repetido na minha história. Pensei uma coisa que (ainda) me incomoda e é forma como uma parte dessa casta dirigente se mantém nas estruturas, estadual e nacional, e ao ver até onde chega a indignidade humana para estar "liberado" em nome da luta, desisti. Covarde, não tenho estomago para esse jogo que envolve vaidades, traições e muitas rasteiras, esse vai e vem da luta pelo cargo é cansativa demais, há gente mais profissional nisso. 
  • Portanto, e ainda necessário, a opção por retornar a vida política local, na cidade teria mais sentido, pois uma cidade de mais de um milhão de habitantes era quase uma "Comuna de Paris", e ainda no clima do "chavismo", fórum social mundial, e etc., tudo confluía para tal e foi o que fiz. 
  • Mas é aí onde tudo pode ser o meu erro. Erro que vai me incomodar por um bom tempo. Erro porque há neste tempo de militância duas coisas que eu aprendi a fazer bem: articular coletivos e promover "agitprop" e foi assim que foi feito: criação de um núcleo do PT, disputa interna, articulação e negociação, diálogos e resgate de antigos companheirxs, além dos novos, tudo confluiu rápido demais e posso resumir que foi "da ousadia para estrutura" que fez com que de 2008 a 2015 tudo fosse acontecer de um modo que se pudesse pensar um pouco mais, teria tentado outra via.
  • "O poder é uma merda" e de fato é. Ainda mais quando o tempo cobra você mais pragmaticamente do que ideologicamente. Mudança de hábitos e buscas fora da ideologia apenas levaram a morte um bom plano.
  • Não sei se foi tarde ou se foi algo que tinha que acontecer, mas sei que tudo virou fumaça rápido demais. Em menos de dois anos várias perdas, antigos companheiros e companheiras, amizades e outras relações perdidas e rompidas, e em ambos os casos, meu sentimento foi o mesmo: de lixo. 
  • Sim, me sinto um lixo. Olhando pra trás cheguei a conclusão do tipo de militante que me tornei, vendo que participei de instâncias, organizações, instituições e grupos sempre em funções de articulação e agitprop, nunca foi minha tarefa presidir e coordenar nada, mas estar presente nestas direções para travar a luta interna, fazer o jogo sujo e sempre na defesa e no ataque, mesmo escalado para ser artilheiro, nunca fui capitão. 
  • Pois bem, seria eu tão instável ou tão inexpressivo? Não sei, só sei que foi assim (como diria Chicó). Dando a pista para que tipo de militante me tornei. E de fato, articular coletivos e promover agitação e propaganda sempre fiz bem, modéstia a parte, fui sempre um bom agitador. Vai ver por isso que sou um péssimo dirigente. Aceito a tarefa e sei agora o meu lugar.
  • Mas isso ainda não é o problema. Nem sei o que é o problema de fato. Mas penso como seria se tivesse tomado outro rumo. Porquê hoje, nem consigo ter uma vida militante como antes. Nem aqui nesse lugar onde moro (Guarulhos) tenho mais apreço, a cidade tornou-se medíocre para mim, com uma direta medíocre, uma elite medíocre e uma parte de uma esquerda medíocre, o que mais quero é abandonar esse lugar. Algo faz falta e nada me atrai.
  • O que sobrou foi o ego e acredito que até nisso falhei, na tentativa assombrosa de deixar uma contribuição publiquei minha dissertação, na forma de livro, e reconheço o caráter patético da tentativa em manter minha referência, minha contribuição. intelectual medíocre, pouca atenção tive de pessoas que julgava terem respeito por mim, pela minha militância. Mas não, na esquerda pertencer a uma casta ou uma elite exige um enorme esforço de ego, do qual não possuo. Vale tudo, menos ter dignidade.
  • Me sinto cansado. Um pouco doente da cabeça, vai ver porque agora trabalhando na área da saúde, compreendo melhor as razões que fizeram a luta pelas 30 horas emergirem desse lugar. Lugar histórico das lutas pelas políticas públicas e sociais, por ter essa bagagem, torna-se o "saco do mundo" sem retaguarda das demais políticas da Seguridade Social e outras. 
  • Soma-se ao sentimento de vazio. Antes bastava ter pouco dinheiro e muita disposição para ouvir boa música, me estragar e curtir a vida, assim como almejo para toda classe. Hoje, pago contas, vou a eventos familiares, moro numa boa casa e tenho uma condição melhor, e mesmo assim sinto um vazio danado, falta algo.
  • As vezes lembro do que construí. E foi assim, correndo, participando, me reunindo, sem feriado, sem final de semana, sem tempo ruim, uma dedicação como se a revolução fosse acontecer amanhã. E hoje? Não consigo ir aos lugares da luta, não pertenço a nada, não me entrego a causas, apenas frequento eventos. 
  • Eu sou o que sou pela minha determinação militante, hoje parece que o freio que me coloquei, me bloqueia e é como se a morte ou a invalidez  fossem os únicos problemas, e assim perco as referências e me dissipo na massa despolitizada. Antes era alguém, militante de fala dura e presente. Agora, um cara que chega aos 40 anos apenas contando consigo mesmo como lugar de reconhecimento. 
  • A conjuntura política atual pegou a todxs de surpresa. Para nós, na esquerda, a oportunidade de poder "errar novos erros", acertar as contas com a história, rever e resistir no seio da massa, construir novas relações na luta de classes, enfim, construir e desenvolver um caminho que seja sólido e não frágil, que não seja institucional-simbólico, mas sólido de uma legitimação de projeto. 
  • Nunca recorri a outros profissionais para tratar do que se chama "doenças da cabeça", mas até isso me entreguei. Não renunciei a ideais, nem a ideias. Porém, todxs precisamos de ajuda, de apoio, de solidariedade, de reconhecimento, de valor...
  • Como li numa camiseta que não uso a muito tempo: "Existem dois dias no ano em que não podemos fazer nada: o ontem e o amanhã. (Mahatma Gandhi) ora de fechar ciclos, de superar lutos e quem sabe superar o vazio que ainda persiste em mim.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

”Militares do Exército tiram foto e 'ficham' morador de favela no Rio” - Nas abordagens aos moradores das favelas, os militares enviavam RG e foto das pessoas por um aplicativo para um setor de inteligência, que avaliava eventual existência da anotação criminal. Após flagrar esse "fichamento" das pessoas, a reportagem da Folha chegou a ser impedida de continuar no local e foi encaminhada por homens do Exército a uma distância de 300 metros. Ao justificar a medida, um militar disse que a presença da imprensa estaria "intimidando" a ação deles. Mais tarde, com a troca de um oficial, a presença da reportagem foi liberada novamente. O pedreiro Edvan Silva Monteiro, 47, reclamou da abordagem dos militares. Pouco antes das 12h, ele voltava para a Vila Kennedy após ter perdido seu dia de trabalho. Afirmou que havia sido obrigado a retornar para casa porque estava sem documento ao tentar deixar a comunidade pela manhã. "Estava saindo pro serviço apenas com a marmita. O pessoal do Exército disse que precisava ver meus documentos. Ao voltar para casa [para buscá-los], acabei me atrasando e fui dispensado por meu patrão", afirmou Monteiro, que disse ter sido fotografado com e sem boné pelos soldados do Exército. • A OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), que criou um grupo para acompanhar a intervenção no Rio, classificou as ações dos militares como "gra ves infrações às garantias constitucionais". "A ação afrontou os direitos constitucionais de ir e vir e da liberdade de expressão, ao cercear moradores e equipes da imprensa", afirmou a OAB, que estuda medidas judiciais para impedir novos casos como os desta sexta. • A Defensoria Pública do Rio manifestou "veemente discordância" com a prática." A abordagem pessoal por qualquer agente de segurança só é permitida quando há razões concretas e objetivas para a suspeita de que o indivíduo esteja portando bem ilícito ou praticando algum delito. O fato de se morar em uma comunidade pobre não é razão suficiente para este tipo de suspeita", afirma. • A página Maré Vive, administrada por líderes comunitários da favela da Mar é, na zona norte, afirmou que esse tipo de revista pelo Exército nunca seria tolerado em bairros nobres. "Eu queria ver se isso algum dia vai acontecer no Leblon, Ipanema, Flamengo, Laranjeiras, Barra, qualquer lugar que não a favela." • A ONG Justiça Global disse que enviou à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) pedido para que mandem observadores internacionais para acompanhar a intervenção no Rio. • A socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança Pública da Universidade Cândido Mendes, afirmou que a abordagem do Exército a moradores de favelas "é medida que viola o direito constitucional de todo cidadão de não ter sua liberdade e intimidade cerceada". (FSP 23/02/18)



Não costumo mais reproduzir matérias da mídia golpista, porém, o relato do morador de uma das comunidades invadidas pela intervenção federal do exército. 

O que chama a atenção é que o pedreiro perdeu o dia de trabalho, sem nenhuma manifestação das instituições do Estado. Bom, quando a greve atinge parte da classe, importante lembrar que a outra parte esta em LUTA por direitos, agora neste fato, o Estado e sua propaganda de violência e força militar querem intervir sobre a vida das pessoas que trabalham e sobrevivem. Criminoso mesmo estão entre aqueles que estão em condomínios fechados que se misturam entre chefes do tráfico e outros, sonegadores e exploradores como vimos nas emboscadas aos líderes da organização PCC. 

De novo, a inversão de valores contra a classe.
Reflita, se puder....

Veja matéria:

”Militares do Exército tiram foto e 'ficham' morador de favela no Rio” - Nas abordagens aos moradores das favelas, os militares enviavam RG e foto das pessoas por um aplicativo para um setor de inteligência, que avaliava eventual existência da anotação criminal. Após flagrar esse "fichamento" das pessoas, a reportagem da Folha chegou a ser impedida de continuar no local e foi encaminhada por homens do Exército a uma distância de 300 metros. Ao justificar a medida, um militar disse que a presença da imprensa estaria "intimidando" a ação deles. Mais tarde, com a troca de um oficial, a presença da reportagem foi liberada novamente. 

O pedreiro Edvan Silva Monteiro, 47, reclamou da abordagem dos militares. Pouco antes das 12h, ele voltava para a Vila Kennedy após ter perdido seu dia de trabalho. Afirmou que havia sido obrigado a retornar para casa porque estava sem documento ao tentar deixar a comunidade pela manhã.

"Estava saindo pro serviço apenas com a marmita. O pessoal do Exército disse que precisava ver meus documentos. Ao voltar para casa [para buscá-los], acabei me atrasando e fui dispensado por meu patrão", afirmou Monteiro, que disse ter sido fotografado com e sem boné pelos soldados do Exército.

• A OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), que criou um grupo para acompanhar a intervenção no Rio, classificou as ações dos militares como "graves infrações às garantias constitucionais". "A ação afrontou os direitos constitucionais de ir e vir e da liberdade de expressão, ao cercear moradores e equipes da imprensa", afirmou a OAB, que estuda medidas judiciais para impedir novos casos como os desta sexta.

• A Defensoria Pública do Rio manifestou "veemente discordância" com a prática." A abordagem pessoal por qualquer agente de segurança só é permitida quando há razões concretas e objetivas para a suspeita de que o indivíduo esteja portando bem ilícito ou praticando algum delito. O fato de se morar em uma comunidade pobre não é razão suficiente para este tipo de suspeita", afirma.

• A página Maré Vive, administrada por líderes comunitários da favela da Mar é, na zona norte, afirmou que esse tipo de revista pelo Exército nunca seria tolerado em bairros nobres. "Eu queria ver se isso algum dia vai acontecer no Leblon, Ipanema, Flamengo, Laranjeiras, Barra, qualquer lugar que não a favela." A ONG Justiça Global disse que enviou à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) pedido para que mandem observadores internacionais para acompanhar a intervenção no Rio.

• A socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança Pública da Universidade Cândido Mendes, afirmou que a abordagem do Exército a moradores de favelas "é medida que viola o direito constitucional de todo cidadão de não ter sua liberdade e intimidade cerceada".

Convite do lançamento do livro que será na FAPSS nesta sexta feira (02/03)


Ola companheiras e companheiros,

Segue o convite do lançamento do livro que será na FAPSS (SP) onde debateremos sobre a conjuntura, a democracia e os rumos das lutas. Será um momento importante junto aos alunxs e colegas docentes do curso de Serviço Social e imagino que também poderão estar presentes participantes interessados no tema.

Mais do que apresentar a construção da pesquisa, é reafirmar que caminhos a classe trabalhadora brasileira vai enfrentar e deve construir diante do retrocesso da classe dominante e seus meios de controle/ consenso, que democracia deve nos mobilizar e manter em vigilância contra o arbítrio, a opressão e o autoritarismo que nesse momento histórico usa mais efetivamente a mídia, o cotidiano desesperançado e a força da opressão financeira como meio de manter o consenso capitalista, e onde as forças de repressão do Estado figuram apenas para impor "ordem".

Bom, seguimos. Não podem nos calar, nem suprimir nossa posição. Posição que tem mantido a espinha da classe de pé e não de joelhos.

Quem quiser, puder ou tiver paciência, nos vemos nessa sexta.

abraços

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Excelência acadêmica requer custeio público



Excelência acadêmica requer custeio público

* Fernanda de Negri, Marcelo Knobel e Carlos Henrique de Brito Cruz 
A crise fiscal dos Estados e da União e de várias universidades importantes tem suscitado um debate sobre modelos de financiamento da universidade e da pesquisa científica no País. O debate é bem-vindo, assim como a proposição de alternativas que possam impulsionar a formação de pessoas e a produção de conhecimento no Brasil.

Várias universidades de ponta pelo mundo, públicas ou privadas, têm fontes de receitas mais diversificadas (doações, fundos patrimoniais e mensalidades, entre outras) do que as universidades públicas brasileiras. Mesmo assim, quem mais paga pelos custos das grandes universidades do mundo, sejam elas públicas ou privadas, continua sendo o Estado.

Endowments são fundos patrimoniais, em geral provenientes de doações, comuns nas universidades norte-americanas. As receitas de tais fundos usualmente cobrem algo como 5% das despesas anuais. As mensalidades, por sua vez, também não são, por si sós, a solução, pelo menos não para universidades de pesquisa. No Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, elas equivalem a cerca de 10% das receitas.

O mesmo vale para recursos de pesquisa oriundos de empresas, que no MIT são cerca de 5% da receita anual. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) têm ficado próximos de 3% nos últimos anos. Nenhuma diferença abissal aqui.

As melhores universidades do mundo, além do ensino, produzem pesquisa de alta qualidade e impacto, com benefícios sociais e econômicos acima de seus custos. Por isso o Estado é um dos seus principais financiadores. No MIT, os contratos de pesquisa e subvenções do governo norte-americano são a principal fonte de receitas da instituição: 67% do total para pesquisa no quinquênio 2011-2015. Em Oxford, cerca de 50% das receitas vêm do governo. Na Alemanha, onde as universidades são, em sua maioria, públicas, esse porcentual é ainda maior. Na Universidade Tecnológica de Munique, por exemplo, mais de 60% das receitas correntes são provenientes do governo.

Quando se fala no financiamento da pesquisa, o papel do Estado é ainda maior. Na Inglaterra, estima-se que 66% dos recursos de pesquisa das universidades sejam provenientes diretamente do governo inglês e outros 11%, indiretamente, venham da União Europeia.



No Brasil, as fontes de receitas não são tão diversificadas como em outros países. E também é verdade que nossas melhores instituições custam relativamente pouco ao Estado brasileiro. Uma comparação entre a Unicamp e o MIT, duas universidades de excelência em seus países e com grande vocação para a produção de tecnologia, evidencia esse fato. A Unicamp tem, somando repasses do governo do Estado e receitas extraorçamentárias, uma receita anual, em paridade do poder de compra, de cerca de US$ 1,1 bilhão, menos da metade da do MIT.

Acontece que o MIT possui 4.500 estudantes de graduação e 6.800 de pós-graduação, enquanto a Unicamp tem 19 mil alunos de graduação e 16.600 estudantes de pós-graduação. A Unesp tem 35000 alunos de graduação e 11000 de Pós-graduação.  O número de professores na Unicamp, por sua vez, é praticamente igual, pouco menos de 1.900 docentes nas duas instituições, e o número de funcionários técnico-administrativos é um pouco superior no MIT. A Unicamp tem mais que o triplo dos estudantes, com metade do orçamento e o mesmo número de funcionários e professores, sendo um dos mais importantes centros de pesquisa no País.  A Unesp tem 3500 docentes (relação próxima de 1 docente para 10 alunos) a relação da Unicamp é próxima a da Unesp e no MIT é de 1 docente para cada 2 alunos.  (dados da Unesp foram inseridos no texto original). 

O volume de recursos que o MIT recebe a mais do que a Unicamp é, provavelmente, o que faz a instituição norte-americana ser uma das melhores universidades do mundo. Esses recursos são investidos em novos centros de pesquisa, laboratórios e equipamentos e na contratação temporária de pesquisadores. Os pesquisadores estagiários de pós-doutorado no MIT são mais de 5 mil, enquanto na Unicamp são apenas 270. Esses profissionais são definitivos para fazer a máquina de pesquisa do MIT funcionar tão bem. Ainda assim, a Unicamp é a universidade brasileira com o maior número de patentes solicitadas ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Pesquisa científica é essencial não apenas para estimular a inovação e o crescimento econômico, mas também para resolver questões críticas do nosso desenvolvimento. Novas vacinas e novos tratamentos para doenças que afetam a população brasileira, tecnologias capazes de ampliar a produtividade agrícola e industrial, conhecimento capaz de mitigar os efeitos do aquecimento global sobre a nossa produção agropecuária são alguns dos exemplos. E é o Estado o grande financiador da ciência no mundo todo. Já a inovação exige investimentos empresariais.

As boas universidades no Brasil estão cada vez mais abertas às demandas da sociedade, incluídas aí as empresas. Precisam, além disso, buscar alternativas de financiamento e demonstrar transparência e visibilidade sobre os custos e resultados. Também precisam estar atentas às necessidades de uma das sociedades mais desiguais do mundo. Afinal, é o conjunto da sociedade que define, e assim deve ser numa democracia, os recursos que serão alocados para o ensino superior e a pesquisa científica.

As boas universidades no Brasil precisam e podem mostrar à sociedade que custam pouco, considerando sua qualidade e seus resultados. Precisam modernizar a gestão do orçamento, criando mecanismos internos de controle que permitam que as decisões sejam compartilhadas, transparentes e consistentes com nossa realidade econômica, demonstrando à sociedade os custos e impactos. E o Brasil precisa definir quantas boas universidades intensivas em pesquisa e ensino consegue manter em condições competitivas internacionalmente, considerando que caro mesmo para um país é não saber criar conhecimento.
* RESPECTIVAMENTE, TÉCNICA DO INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA), REITOR DA UNICAMP E DIRETOR CIENTÍFICO DA FAPESP

Publicado em 5 de janeiro de 2018, O Estado de S. Paulo, página 2, Espaço Aberto

sábado, 13 de janeiro de 2018

"Nova" classe trabalhadora, ou uma esquerda que pensa o Brasil?

Concordo com Marilena Chaui, mas na real esse " novo" Brasil nunca deixou de ser o velho Brasil se pensarmos no número de pessoas que durante o governo Lula já recebiam os benefícios como salário-família, BPC, aposentadorias de um salário mínimo e os próprios trabalhadores que ainda viviam com menos de um salário mínimo e meio. A estes as condições de vida sofreram mudanças durante o lulismo graças, e verdade seja dita, a melhora nos preços com forte ampliação do de acesso do mercado consumidor e a política de valorização do salário mínimo contribuíram para "inclusão" dos Excluídos.

Porém, não alterando sua estrutura social e política, as medidas do lulismo ainda eram vítimas de uma política econômica neoliberal, perversa e intrrnacionalmente controlada pelo capital financeiro, voraz e anti-social.

Não criando mecanismos de estímulo a participação política, valorização dessa participação constante nas políticas públicas com apropriação da população pelos espaços e pelos rumos. Sem uma.politica econômica alternativa, mesmo que paripasso e concorrente à esta do rentismo, que estimulasse novas formas de comércio, relações econômicas como a economia solidária, cooperativas de trabalhadores, mercados que estivessem aclopados a uma nova "governabilidade" que dialoga com a sustentabilidade da vida do ser social. Pois, devemos reconhecer que a forma de consumo no capitalismo contemporâneo é predatória e causadorade graves doenças da mente que levam o ser humano a buscar pelo ridículo, pelo crime, pela força física, entre outros o acesso aos bens materiais nesse nosso século.

A esquerda que quer dialogar com a classe trabalhadora deve assumir que seu compromisso não é pelo acesso a bens materiais (retórica do lulismo) e sim acesso a condições de vida que agreguem vontades coletivas e individuais sem sofrimento, sem desigualdade e lógico com coragem de enfrentar e combater a exploração do capital.

Parece discurso batido, mas combater a exploração é combater os valores culturoais ultra-liberais do pensamento capitalista neoliberal como aquele mantra que diz que "não há ascensão de uns sem a derrota de muitos outros" ou a ideia de "mérito" (meritocracia) e onde a idiotização funciona como resposta à ciência e a construção do pensamento pela formação intelectual do ser social. Ou seja, o mundo do capital que gira em torno de ideias para empurrar goela abaixo da massa produtos manufaturados cada vez mais e sentido e sem necessidade, a falsa ideia de escolha (basta ver que a roupa que você veste não é exclusiva, mas produzida em larga escala) e a meta pela acumulação de riqueza monetária precisam ser combatidas.

Lógico que um sistema só se altera ppr um outro e seu processo de mudança exige uma transformação que a burguesia conhece bem e é por uma revolução.

Dizer que isso é demorado pode ser um atestado de preguiça ou um reconhecimento de que precisamos dar um novo passo, diferente, ou como diria o poeta: "um caminho começa pelo primeiro passo, e mesmo o caminhar por um outro caminho, exige de nós a iniciativa de seguir caminhando".

Bora seguir um novo caminho, sem.medo de ser feliz.

INCLUSÃO NO DEBATE

Marilena Chauí defende diálogo da esquerda com o 'subproletariado'

Para professora emérita da USP, é preciso saber o que pensa essa nova e crescente classe trabalhadora, formada por precarizados, subempregados, excluídos e órfãos dos programas sociais
por Redação RBA publicado 13/01/2018 09h49, última modificação 13/01/2018 15h11
ACERVO/UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
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Para Marilena Chauí, é preciso ouvir essas populações no enfrentamento à desconstrução do estado e dos direitos
São Paulo – A filósofa e professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Marilena Chauí, defende aproximação dos movimentos de esquerda com a nova classe trabalhadora, que surge sobretudo da precarização do trabalho pela perda dos direitos trabalhistas e dos programas sociais.
“Não sabemos o que pensam as pessoas que estão voltando à condição de miséria. Em São Paulo, o grau de exclusão atingiu uma situação alucinante, com desempregados morando nas ruas com suas famílias, o que não se via nem durante a ditadura e nem no governo de Fernando Collor. Ao mesmo tempo, em um contexto neoliberal, surgem uma nova classe trabalhadora totalmente precarizada e mais miséria. Não temos a dimensão de seus valores e percepção política e eleitoral”, disse Chauí nesta sexta-feira (12), em entrevista aos blogueiros Wellington Calasans e Romulus Maya, do Duplo Expresso.
A filósofa considera essa distância da esquerda um “problema gravíssimo”. “Tenho estudado o assunto e não vejo as esquerdas pensando nisso”, disse, ressaltando considerar que a vitória de João Doria (PSDB), para prefeito de São Paulo, não é uma simples vitória da abstenção.
“Há o grande risco de envolvimento dessa nova classe trabalhadora no processo de despolitização, da crença de que a política é corrupta e que você precisa é de um gestor. A mídia vem construindo imagens para nomes com chances de vir a ser candidatos à Presidência da República. Lula é apresentado como messiânico, populista, salvador; Bolsonaro como o nome da segurança e da ordem, e Geraldo Alckmin como o grande gestor. Nenhuma dessas imagens é política”, disse.
Ela destacou que esse diálogo é importante para o debate sobre caminhos para a desconstrução de ideologias neoliberais baseadas na supervalorização do empreendedorismo como alternativa ao emprego, ao desmonte e privatização do estado com perda de direitos.