quarta-feira, 7 de abril de 2021

Cuidados para não se tornar um autoritário!

 






Cuidados para não se tornar um autoritário!

Bolsonaro não é uma fase, é um projeto. Projeto que foi sempre funcional às classes dominantes desde a colonização até a República. A diferença é que os cães de guarda (ou de reserva) subiram a rampa do Planalto.

O fascismo brasileiro não é diferente de outros movimentos ao redor do mundo. Sua existência se deu de uma ramificação da lógica capitalista, por isso, mesmo que o fascismo original recuse parte das ideias liberais, base da sociedade do capital, ainda assim não recusam o sistema, pois a base dessa sociedade de mercado é a exploração por meio da subserviência, servidão alienada e opressões consentidas ou de contenção.

Jair era uma caricatura quando interessava. Era o palhaço de uma corte que se apoiava nele quando precisava criticar qualquer radicalismo de esquerda, bastava um político de centro dizer que rechaçava radicalismos, “nem de esquerda e nem de direita". Mas como disse o poeta, “tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra", e venho a porta que se abre em 2016.

Jair não foi um erro na curva e nem uma questão nacional, localizada ou um problema brasileiro. As influências, relações e projetos já estavam em diálogo, disseminadas nas suas bolhas e ganharam repercussão progressiva para fazer oposição aos governos do PT. O fascismo brasileiro foi estimulado como uma das trincheiras para combater o “avanço do comunismo" na medida que nada abalava as sucessivas vitórias dos governos do PT.

Os governos do PT buscaram conciliar classes, atender interesses diversos, apoiar em especial no campo das políticas públicas conceitos modernos e modernizantes de Direitos Humanos, com planos, pactos, conferências e toda forma de fortalecer uma sociedade civil amplamente progressista. O “New Deal brasileiro” (Singer, 2012) do período dos governos do PT foi como uma “paixão de uma noite de verão” e virou trevas em 2016, indicando que as classes dominantes aceitam os lucros preservados, mas não inclusão social dos pobres, indicando seu ódio de classes que é a raiz da sua criação numa sociedade onde o andar de cima constitui o ideário racista, patriarcal, misógino, conservador, opressor, violento, patrimonialista, homofóbico, escravista, antidemocrático e avesso a matriz dos valores liberais originais.

A experiência de um governo fascista-neoliberal de Jair expressa a nossa condição sincrética, pois, sendo parte do sistema não quer renunciar ao poder e nem dos seguidores, segue em contradição entre fazer a “velha política” que denunciou nas eleições de 2018 e manter os dentes cerrados para sua base de apoiadores. E é justamente a sua base que tem deixado perplexo uma parte da militância de esquerda e progressista. Onde os interesses de parte da classe dominante preferiu seguir com uma saída que combina "ordem e progresso".

Ao chegar em abril de 2021 com mais de 330mil mortos pela Covid-19 e esperando que as medidas de proteção como uso da máscara e do álcool em gel fossem suprapartidárias e acima das ideologias, o que vemos são gestos canalhas e manifestações imbecis individuais e coletivas, de bombados à médicos, de artistas à jornalistas, parece que nenhuma categoria sai ilesa de ter seus imbecis de estimação seguindo as “orientações” do sr. Jair.

Nossa reação de indignação perpassa nossos princípios e convicção nos Direitos Humanos, e quando menos esperamos estamos reproduzindo uma postura autoritária quando dissemos: “foi em festa clandestina, fica na espera da UTI", ou “não acredita em isolamento, não deveria tomar vacina".

Longe de mim ficar numa linha abobalhada de humanismo alienado, não acredito em caridade, mas em solidariedade de classe. Nem sou ingênuo sobre a origem dos Direitos Humanos, que nascem dos princípios liberais e que em parte são tolerados dada memória dos horrores do passado, em particular, da Segunda Guerra e do totalitarismo nazifascista.

 Contudo, devemos as vezes respirar. Refletir para não nos somarmos ao autoritarismo que combatemos e reestabelecer nossa compreensão de classe para exercitar uma práxis revolucionária e não meramente emotiva motivada pelo momento. Assim como Lênin, que viu com dor o assassinato do irmão mais velho, teve a frieza e a razão em observar que o crime dele de tentar assassinar o Czar para instaurar uma nova ordem societária tinha pouco resultado objetivo e subjetivo para mudar as relações sociais e as suas estruturas.

Essa reação humana de indignação está no ar e muitos de nós estamos respirando e até propagando, já que a palavra segue cassada, não nesse momento, mas em todos os momentos em que a hegemonia dominante quer cercear posições e opiniões contrárias. Nunca foi tão importante ter uma posição, uma identidade e certezas com relação a manter o debate vivo em casa, no trabalho, nas lives, nos encontros remotos e outros espaços que estamos frequentando, mesmo que a distância e isolados. 

As lições que apreendemos até aqui devem servir de gesto. Vivemos aprendendo a história, as gerações que formam vitimas de pestes, guerras e privações que atingiram massas de pessoas e gerações ao longo da nossa existência humana. O Estado Social Capitalista conciliou as classes, atendeu necessidades urgentes da classe trabalhadora, mas a burguesia também viu sua acumulação prosperar. O capitalismo neoliberal disseminou a discórdia sobre direitos sociais e para promover o mercado totalmente livre estimulou o individualismo no limite, onde a competição, a busca pela satisfação individual, o consumo total, enfim, criou uma geração de frustrados, depressivos e derrotados individualmente, já que as experiências coletivas foram combatidas em todas as dimensões da micro e macro política.

E quando uma pandemônio se estabelece em Brasília e uma pandemia se abate sobre o planeta, dois caos em tempos diferentes e que se estabelecem sobre uma sociedade vulnerável econômico e socialmente, com um Estado desarmado de políticas públicas e sociais que reage apenas às emergências e uma geração de jovens e adultos que estão vivenciando o caos causado por um vírus que se espalhou pelo mundo e no país causando mortes e dores intermináveis ainda.

Nunca foi tão real a fragilidade humana e exigindo de nós uma reação. Porém, responder ódio com ódio não é ação revolucionária e fulaniza as relações e não soma. Nunca foi tão importante manter sinais de alerta, levantes e contrapontos, mas organizados e alinhados num projeto coletivo, ou seja, seguir com nossos contatos, lugares e relações de luta, seguir nos protestos virtuais ou presenciais como carreatas e outras, seguindo as orientações de segurança (álcool gel e mascara), articulando e amarando com novas pessoas e como bons propagandistas da nossa causa gritar aos quatro ventos "fora Bolsonaro". 

Então, vamos sim expressar nossa indignação, mas sempre voltar para o ponto que interessa: como derrotar o fascismo-neoliberal e imprimir um processo de luta que construa as bases para uma revolta que se converta em revolução e desta uma nova ordem societária  de relações sociais verdadeiramente humanas, emancipadas.

E se quiser irritar essa galera e animar a nossa, vamos pro escracho, como o Chico Cesar: 

Pedrada


Cães danados do fascismo
Babam e arreganham os dentes
Sai do ovo a serpente
Fruto podre do cinismo
Para oprimir as gentes
Nos manter no escravismo
Pra nos empurrar no abismo
E nos triturar com os dentes
Ê, república de parentes, pode crer
Na nova Babilônia eu e você
Somos só carne humana pra moer
E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!

Ê, república de parentes, pode crer
Na nova Babilônia eu e você
Somos só carne humana pra moer
E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!

Cães danados do fascismo
Babam e arreganham os dentes
Sai do ovo a serpente
Fruto podre do cinismo
Para oprimir as gentes
Nos manter no escravismo
Pra nos empurrar no abismo
E nos triturar com os dentes
Ê, república de parentes, pode crer
Na nova Babilônia eu e você
Somos só carne humana pra moer
E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!

Ê, república de parentes, pode crer
Na nova Babilônia eu e você
Somos só carne humana pra moer
E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!
Fogo, fogo (queima)
Fogo, fogo
Queima, Senhor! (queima)

Todo homem que oprime outro homem
Por ganância, por dinheiro
Faz da nossa revolta teu incêndio
Cada um de nós tua fagulha, Senhor

E queima a Babilônia
Salve, Jah!
Fogo, Jah!
Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!

https://www.youtube.com/watch?v=mr5ZBN1kQgY

Fonte: Musixmatch
Compositores: Francisco Cesar Goncalves
Letra de Pedrada © Chita Producoes E Edicoes Musicais Ltda (chit