quarta-feira, 31 de outubro de 2012

É hora de reposicionar as peças do jogo. Mas antes saber o que está em jogo?



Terminou a festa da democracia. Resultados já dados, festas já passadas, descansos merecidos e retomada da vida diária. Isso poderia ser o cenário da trajetória normal da política tradicional brasileira.

Porém para uma parte dos que se dedicaram, debateram e apresentaram propostas para população partem para uma nova jornada: disputar a sociedade com as condições em jogo.

Há setores hoje no PT já em olho em 2014 e outros em 2016. Projetos para o futuro só deveriam ser traçados e determinados pelo presente, mas há quem já sonhe com a próxima cadeira que quer se sentar.
Para nós da esquerda socialista brasileira os caminhos que existem são os que estão colocados já faz um tempo:
  • 1)      Disputar as eleições no marco das regras atuais, ocupar espaços institucionais e seguir na resistência e no fortalecimento de movimentos contestatórios a ordem vigente;
  • 2)      Envolver-se nas entranhas do movimento sindical e fazer de lá, com todos os seus problemas, um espaço a ocupar, sobreviver e resistir;
  • 3)      Organizar-se nos movimentos sociais e populares, sobrevivendo pelas beiradas da institucionalidade, das organizações não governamentais e mandatos parlamentares. Correndo riscos de todo tipo nos enfrentamentos e conflitos sociais.

Todas as alternativas de lutas estão aí sendo realizadas, sem demérito ou crise com a forma. O que importa agora é saber de fato o que se quer e qual é a perspectiva pela frente.

Qualquer escolha depende do grau de organização dos militantes e da sua evidente sobrevivência econômica, uma vez que o modelo de partido que Lênin previu não cumpre mais esse papel para agremiações como o PT ou Psol que repartem a partir das forças internas seus militantes liberados. Ou quando o partido de quadros persiste em existir as formas mais fechadas e que são mais rígidas na escolha dos seus militantes organizadores como Pstu, Pcb e PcdoB.

E qual acúmulo social queremos e para onde? Estas duas perguntas vivem de respostas vagas e  beirando o oportunismo de quem já está estabelecido em seus cargos, portanto se não for feito de forma seria, com uma análise partindo do estudo, da vivencia e da certeza do sacrifício que a organização esta disposta a fazer nenhuma resposta é sincera.

Mesmo o crescimento do PSB não foi um definidor da vitória dos “socialistas”, pois parte dessa vitória é debitada na conta de Eduardo Campos (governador do Pernambuco) que com o sonho em chegar ao Palácio do Planalto dialoga inclusive com o playboy-tucano de Minas Gerais, Aecio Neves. O PcdoB recuou na linha programática e amargou derrotas, a maior em Porto Alegre foi dada pela trágica linha da candidata sem bandeira ideológica como se definia Manuela. O Psol será testado na administração pública no governo do Macapá, e já foi derrotado no quesito alianças pois ao ser eleito até com o DEM no Amapá joga de lado a “unidade da esquerda contra o Pt e o Psdb”, vive uma crise de identidades onde diferente (mas não tanto), no RJ o efeito Marcelo Freixo é mais ligada ao bom mandato que possui do que a força organizada do Psol no estado, vamos ver como se comporta a bancada de quatro vereadores.

Hoje para nós da Esquerda Popular Socialista (EPS) há algumas certezas sobre porque construir o pensamento socialista no PT, organizar a resistência ao capitalismo e manter-se na luta popular e institucional. São elas:

  • a)      O PT ainda é a força eleitoral e popular que agrega parte significativa dos setores populares, comunitários e sociais nas cidades, reúne um sentimento de compromisso com os mais pobres ao mesmo tempo tem essa idéia de “partido que se preocupa com o social”, exemplo disso é a votação expressiva na cidade de São Paulo nos extremos;
  • b)      Quando há o confronto entre idéias que buscam romper com o velho Estado nacional tradicionalista e patrimonialista, seja na defesa das cotas raciais e sociais nas universidades, nas políticas para mulheres, direitos para a população LGBT, liberalização da maconha, enfim, as vozes mais atrasadas da sociedade se levantam, acusam e taxam o PT como se fossemos ungidos de um “lugar do mal” para acabar com a “santa aliança moral”. Esse confronto de idéias ainda nos posiciona como setor progressista e de pensamento avançado de sociedade;
  • c)       A qualidade das políticas públicas e da atuação parlamentar continua sendo referencia na sociedade brasileira;
  • d)      Estamos ainda com raízes nas lutas sociais, nas entidades de categorias e na luta sindical, sendo que causamos as polêmicas necessárias, as mobilizações necessárias e estamos presentes em movimentos onde mesmo hostilizados pela posição partidária, somos respeitados como militantes.
  • Por isso é preciso superar a “vergonha” de 2005. Para quem não conhecia essa diferenciação interna no PT nós já combatemos os mesmos acusados pelo “mensalão” em outros encontros internos, já enfrentávamos o desvio de nossos princípios e ideais e, portanto não nos cabe ter problemas de consciência moral e sim de enfrentar o debate político.

O Supremo Tribunal Federal mostra a sua parcialidade diante de uma constituição que é objeto histórico da conciliação entre as classes, e claro quando chamada a enfrentar grandes polêmicas pode ser tão progressista quanto atrasada, dependendo de cada cabeça . Ingênuos ou não provamos que nossas indicações ao STF não foram para privilegiar ninguém, pois é o PT o partido que está no banco dos réus e não o processo 470.

Reposicionar o jogo da disputa pela sociedade é reafirmar nosso compromisso com a luta socialista, buscando meios de construir a revolução social e popular, unir as forças progressistas, democráticas e revolucionárias que querem romper com o velho Brasil patrimonialista, clientelista, moralmente atrasado, elitista e de classes.

Reposicionar o jogo é romper agora com as velhas picuinhas da esquerda ou a velha necessidade de saber quem tem a verdade. Quem insistir nesse não-método esquerdista vai ficar só, sozinho mesmo, pois alguns debates precisam ser feitos com a população e não com guetos ou grupos dos “mesmos”.
Reposicionar o jogo é não ter medo de ter posição.

Reposicionar o jogo é saber o tamanho da nossa força, o que acumulamos no período e como poderemos sustentar nossa força ou nosso crescimento.

Aqui me dirijo aos companheiros/as que disputaram as eleições de 2012, onde é momento de fazer um balanço do que cresceu em nossa tática, o que mantemos para manter viva nossa organização e  do que não foi possível conquistar. E claro, o que queremos conquistar.

O que está em jogo são os elementos que nos fazem permanecer e continuar a luta revolucionária no PT.

Agora é preciso organizar, preparar, visitar, cativar, cuidar e construir as bases para um novo período que pode ser constituído pela hegemonia do lado de cá, só depende de nós!

Wagner Hosokawa
Militanto do PT de Guarulhos e da EPS.