Terminou a festa da democracia. Resultados já dados, festas
já passadas, descansos merecidos e retomada da vida diária. Isso poderia ser o
cenário da trajetória normal da política tradicional brasileira.
Porém para uma parte dos que se dedicaram, debateram e
apresentaram propostas para população partem para uma nova jornada: disputar a
sociedade com as condições em jogo.
Há setores hoje no PT já em olho em 2014 e outros em 2016.
Projetos para o futuro só deveriam ser traçados e determinados pelo presente,
mas há quem já sonhe com a próxima cadeira que quer se sentar.
Para nós da esquerda socialista brasileira os caminhos que
existem são os que estão colocados já faz um tempo:
- 1) Disputar as eleições no marco das regras atuais, ocupar espaços institucionais e seguir na resistência e no fortalecimento de movimentos contestatórios a ordem vigente;
- 2) Envolver-se nas entranhas do movimento sindical e fazer de lá, com todos os seus problemas, um espaço a ocupar, sobreviver e resistir;
- 3) Organizar-se nos movimentos sociais e populares, sobrevivendo pelas beiradas da institucionalidade, das organizações não governamentais e mandatos parlamentares. Correndo riscos de todo tipo nos enfrentamentos e conflitos sociais.
Todas as alternativas de lutas estão aí sendo realizadas,
sem demérito ou crise com a forma. O que importa agora é saber de fato o que se
quer e qual é a perspectiva pela frente.
Qualquer escolha depende do grau de organização dos
militantes e da sua evidente sobrevivência econômica, uma vez que o modelo de
partido que Lênin previu não cumpre mais esse papel para agremiações como o PT
ou Psol que repartem a partir das forças internas seus militantes liberados. Ou
quando o partido de quadros persiste em existir as formas mais fechadas e que são
mais rígidas na escolha dos seus militantes organizadores como Pstu, Pcb e
PcdoB.
E qual acúmulo social queremos e para onde? Estas duas
perguntas vivem de respostas vagas e beirando o oportunismo de quem já está
estabelecido em seus cargos, portanto se não for feito de forma seria, com uma
análise partindo do estudo, da vivencia e da certeza do sacrifício que a
organização esta disposta a fazer nenhuma resposta é sincera.
Mesmo o crescimento do PSB não foi um definidor da vitória
dos “socialistas”, pois parte dessa vitória é debitada na conta de Eduardo
Campos (governador do Pernambuco) que com o sonho em chegar ao Palácio do
Planalto dialoga inclusive com o playboy-tucano de Minas Gerais, Aecio Neves. O
PcdoB recuou na linha programática e amargou derrotas, a maior em Porto Alegre
foi dada pela trágica linha da candidata sem bandeira ideológica como se
definia Manuela. O Psol será testado na administração pública no governo do
Macapá, e já foi derrotado no quesito alianças pois ao ser eleito até com o DEM
no Amapá joga de lado a “unidade da esquerda contra o Pt e o Psdb”, vive uma crise
de identidades onde diferente (mas não tanto), no RJ o efeito Marcelo Freixo é
mais ligada ao bom mandato que possui do que a força organizada do Psol no
estado, vamos ver como se comporta a bancada de quatro vereadores.
Hoje para nós da Esquerda Popular Socialista (EPS) há
algumas certezas sobre porque construir o pensamento socialista no PT,
organizar a resistência ao capitalismo e manter-se na luta popular e
institucional. São elas:
- a) O PT ainda é a força eleitoral e popular que agrega parte significativa dos setores populares, comunitários e sociais nas cidades, reúne um sentimento de compromisso com os mais pobres ao mesmo tempo tem essa idéia de “partido que se preocupa com o social”, exemplo disso é a votação expressiva na cidade de São Paulo nos extremos;
- b) Quando há o confronto entre idéias que buscam romper com o velho Estado nacional tradicionalista e patrimonialista, seja na defesa das cotas raciais e sociais nas universidades, nas políticas para mulheres, direitos para a população LGBT, liberalização da maconha, enfim, as vozes mais atrasadas da sociedade se levantam, acusam e taxam o PT como se fossemos ungidos de um “lugar do mal” para acabar com a “santa aliança moral”. Esse confronto de idéias ainda nos posiciona como setor progressista e de pensamento avançado de sociedade;
- c) A qualidade das políticas públicas e da atuação parlamentar continua sendo referencia na sociedade brasileira;
- d) Estamos ainda com raízes nas lutas sociais, nas entidades de categorias e na luta sindical, sendo que causamos as polêmicas necessárias, as mobilizações necessárias e estamos presentes em movimentos onde mesmo hostilizados pela posição partidária, somos respeitados como militantes.
- Por isso é preciso superar a “vergonha” de 2005. Para quem não conhecia essa diferenciação interna no PT nós já combatemos os mesmos acusados pelo “mensalão” em outros encontros internos, já enfrentávamos o desvio de nossos princípios e ideais e, portanto não nos cabe ter problemas de consciência moral e sim de enfrentar o debate político.
O Supremo Tribunal Federal mostra a sua parcialidade diante
de uma constituição que é objeto histórico da conciliação entre as classes, e
claro quando chamada a enfrentar grandes polêmicas pode ser tão progressista
quanto atrasada, dependendo de cada cabeça . Ingênuos ou não provamos que
nossas indicações ao STF não foram para privilegiar ninguém, pois é o PT o
partido que está no banco dos réus e não o processo 470.
Reposicionar o jogo da disputa pela sociedade é reafirmar
nosso compromisso com a luta socialista, buscando meios de construir a
revolução social e popular, unir as forças progressistas, democráticas e
revolucionárias que querem romper com o velho Brasil patrimonialista,
clientelista, moralmente atrasado, elitista e de classes.
Reposicionar o jogo é romper agora com as velhas picuinhas
da esquerda ou a velha necessidade de saber quem tem a verdade. Quem insistir
nesse não-método esquerdista vai ficar só, sozinho mesmo, pois alguns debates
precisam ser feitos com a população e não com guetos ou grupos dos “mesmos”.
Reposicionar o jogo é não ter medo de ter posição.
Reposicionar o jogo é saber o tamanho da nossa força, o que
acumulamos no período e como poderemos sustentar nossa força ou nosso
crescimento.
Aqui me dirijo aos companheiros/as que disputaram as
eleições de 2012, onde é momento de fazer um balanço do que cresceu em nossa
tática, o que mantemos para manter viva nossa organização e do que não foi possível conquistar. E claro, o
que queremos conquistar.
O que está em jogo são os elementos que nos fazem permanecer
e continuar a luta revolucionária no PT.
Agora é preciso organizar, preparar, visitar, cativar,
cuidar e construir as bases para um novo período que pode ser constituído pela
hegemonia do lado de cá, só depende de nós!
Wagner Hosokawa
Militanto do PT de Guarulhos e da EPS.