segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

São os traficantes agora? Quem é o culpado?




São os traficantes agora? Quem é o culpado?

O protesto que parou um trecho da rodovia Fernão Dias na Zona Norte contra o assassinato do jovem Douglas (veja a matéria: http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/protesto-contra-morte-de-jovem-bloqueia-fernao-dias-na-zona-norte-de-sp,491f86189e002410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html) , e que resultou na prisão do policial militar que atirou a queima roupa vai fazer três meses. Quando houve a manifestação muito se especulou e as criticas da direta a esquerda foram as piores possíveis.

Com as cenas cirurgicamente escolhidas e a imagem de jovens dirigindo caminhões, ateando fogo em ônibus e a polícia descendo o sarrafo nos manifestantes ofuscaram só uma coisa: o fato dos protestos terem sido realizados após o enterro de Douglas.

Eu, como militante de esquerda, entendi, analisei, compreendi e avaliei diferente, ao ponto de ser criticado de estar ao lado dos “traficantes” que “coordenavam os atos”. Agora não podemos esconder que houve intenção da grande imprensa fazer o que ela queria: criminalizar os pobres!

Sim, criminalizar. Vamos aos fatos, nesses três meses nem a família de Douglas viu nenhum gesto do governo do estado, do governador Alckimin, da secretaria de segurança pública, do ministério público ou corregedoria da PM sobre como será o desenrolar dos fatos e da justiça a ser feita.

Já a região da Zona Norte de São Paulo também não viu nenhuma ação efetiva da prefeitura, e eu tenho a obrigação de dizer, do prefeito Haddad, que poderia na contramão da ação violenta do policial do governo estadual ter declinado parte (só uma parte) de seus esforços para aquela região.

A região da Vila Medeiros concentra os bairros Jd. Brasil e Jd. Julieta, áreas que possuem periferias conhecidas e fazem divisa com Guarulhos na grande São Paulo, pelo mapa social da prefeitura paulistana os serviços de assistência social são poucos em comparação com as demais regiões e consultando o http://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Medeiros, observamos que a concentração de serviços estão mais nos centros comerciais, ou seja, longe da população que poderia ter acesso. 

A divisa com Guarulhos é exemplo de como a fronteira dos municípios ainda guardam desafios para as gestões públicas, muitas moradias em situação precária, ocupações irregulares, pobreza e poucos, poucos serviços públicos e interação entre seus moradores que dividem-se entre duas cidades sua cidadania.

Se contrapondo as soluções militares do governo Alckmin que quem atuado apenas na repressão com operações como o “saturação” que representam apenas a estética da segurança que ficam por um tempo mas não levam absolutamente nada de políticas sociais.

Haddad poderia ter levando parte das ações do programa Juventude Viva, poderia ter potencializado os espaços públicos na fronteira e nas margens da rodovia Fernão Dias, poderia ter dado uma resposta daquelas que só o pT pode dar. Mas ainda não deu.

Caminhões são saqueados, invadidos e incendiados na rodovia Foto: Beto Martins / Futura Press

E a vida caminha num trecho que contrasta entre a beleza da mata da Serra da Cantareira e dos bairros que ficam margeando a região, das transportadoras e do sentimento de ausência de direitos para uma juventude que tinha (pelo menos) nos pancadões uma forma de diversão, que por sinal poderia ter outra direção caso houvessem ações para potencializar a vida da juventude nos bairros.

Pior é como a vida segue: se matam um jovem e o protesto é radical são os traficantes, se a comunidade é passiva são os traficantes, enfim, que poder tem estes traficantes sobre o governo do estado e a prefeitura paulistana, heim!

Devemos todos e todas pensar que estas questões não serão resolvidas por governo X ou Y se não houver outro ponto que é fundamental: projeto político alternativo e autoridade para fazer.

Não digo arrumar uma praça, mas envolver de forma participativa. Aí temos muito que elogiar a iniciativa do governo Haddad em criar e fazer acontecer os Conselhos Participativos da cidade de São Paulo, desde que seja pra valer!

Douglas, mais do que justiça merece uma sociedade que responda “porque o sr. atirou em mim” e “como podemos acabar com esse genocidio sem usar a força militar”

Três meses e a vida não parou na Zona Norte. Mas a justiça sim!