quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

falha de S. Paulo, um jornal de classe, de uma única classe!



Quando você imagina que a "Falha de S.Paulo" já destilou todo veneno que podia, não, ela vai mais longe. No editorial de hoje, segundo dia do novo ano de 2014, realmente é a porta voz da sua classe...as elites desse país.

Atacou empregadas domesticas, os manifestantes que contrariaram o governo tucano-paulista, criminalizou os movimentos sociais...enfim, e agora no inicio do ano tenta analisar (tarde) os "rolêzinhos", tentando fazer um contraponto as posições (como a minha) que consideram que há no Brasil duas questões sobre os "rolês".

A primeira é o reconhecimento do enorme desenvolvimento socioeconomico da última década durante dos governos do presidente Lula e Dilma.

E a segunda, é justamente o centro deste desenvolvimento que não conciliou com novas perspectivas de  poder, mudança de paradigmas sociohistoricos e culturais, não subeverteu a ordem das coisas e nem das classes sociais. Onde a juventude é preterida como consumidor e não como agente da transformação via políticas públicas. Sobrou o shopping.

Já a analise da "Falha de S. Paulo" é no final do seu editorial bem afinada com os "cansadinhos e coxinhas" e diz "Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias."

Desordem e estagnação. Bem este cenário pode ser do Brasil governado pela ditadura civil-militar, pelos governos Sarney, Collor, Itamar e FHC, neles conteúdo e forma de um país que crescia nada a não ser a sua burguesia e onde os mortos e desaparecidos, os Chico Mendes e Margaridas Alves e Eldorado dos Carajás representavam um Brazil menos Brasil.

Podemos discordar dos rumos e escolhas da governabilidade. Mas não do momento. Momento esse que não é favorável mesmo nem a direita e nem esquerda. A direita porque não tolera dividir poder e a esquerda porque não exerce seu poder sobre o Estado de forma mais efetiva.

Mas e o panfleto diário, a "Falha de S. Paulo", porque quer analisar os rolêzinhos? Posso enumerar algumas hipóteses:
(a) quer transformar de dentro pra fora em atos contra a política econômica do governo Dilma;

(b) acalmar os consumidores dos shoppings e os mercados;

(c) fazer média e criar uma nova onde de manifestações com a chamada "não é por tênis nike, é por um governo sem o pt";

(d) somos as elites e os rolês tem que acabar nos shoppings e ir pra porta do palácio da alvorada.

Bem, piada a parte, levar a "Falha" a sério é como crer que as oposições tem um projeto para o país.

Leia abaixo a postura de classe, muita classe da "Falha de S.Paulo"

"02/01/2014 - 03h00
Editorial: "Rolezinhos"

O objetivo seria "tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos". Assim é definido, por seus próprios participantes, o "rolezinho", que chegou a reunir 6.000 jovens da periferia numa única ocasião.

No dia 7 de dezembro, foi esse o número dos que atenderam à convocação das redes sociais para um encontro num shopping paulistano. Também a polícia compareceu, como é recomendável e de praxe em aglomerações dessa monta.Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias.

Parte dos frequentadores do centro comercial assustou-se com a cena, que, sem ser prenúncio de atividade criminosa, não escondia suas intenções contestatárias.

Trata-se de questionar a cultura do consumo, o exclusivismo dos espaços frequentados pelas classes abastadas e a suposta discriminação racial que lhe seria subjacente.

"É arrastão", exclamou alguém. Deu-se o corre-corre, e quatro jovens terminaram sendo encaminhados à delegacia mais próxima.

Conseguiu-se, assim, colocar o "preconceito social" em primeiro plano. Mas é de perguntar o quanto há de discriminatório na atitude dos que, cientes do risco real de arrastões e vandalismo no Brasil, entraram em pânico ao ver tantos jovens num mesmo lugar, com intenções não de todo explicitadas.

Os "rolezinhos" se repetiram, acompanhados de intenções duvidosas de enquadrá-los em algum artigo da legislação penal.

A novidade do fenômeno e a sutileza com que foge a classificações estabelecidas são sinais de algo nada novo: as imensas desigualdades de renda do país criam formas de segregação espacial, e áreas privadas, como os shopping centers, substituem, por razões de segurança e de pasteurização social, lugares tradicionais do convívio público, como ruas e praças.

O incremento da renda das classes baixas e o maior acesso à informação tornaram mais aguda a percepção das diferenças que, paradoxalmente, começaram a se tornar menos dramáticas.

Ao acesso a bens de consumo vêm somar-se outras reivindicações: o ingresso em espaços públicos, a luta pelo reconhecimento, a denúncia do preconceito –que se faz, num novo paradoxo, mais pela afirmação das diferenças de cultura, vocabulário, roupa e comportamento do que pela vontade da imitação e da fusão indiferenciada com o estrato superior.

Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias."