sexta-feira, 25 de novembro de 2016

37 anos, de fato "eu não vou me adaptar!"


Chegar aos 37 anos para algumas pessoas, ainda no mundo de hoje, é um sinal de sobrevivência. E me refiro aos filhos e filhas, principalmente, negros e negras, ou as mulheres, ou crianças e adolescentes filhos e filhas da classe trabalhadora, vitimizados pela violência do Estado e a omissão frente as desigualdades dessa sociedade do capital.

Poderia começar esse texto fazendo inúmeras elucubrações sobre a minha trajetória de vida, sobre eu, eu e eu. Mas eu, Wagner Hosokawa, sujeito do meu tempo histórico, sempre me vejo o militante, que escolhi ser e que me trouxe os desafios, derrotas e conquistas da minha vida até aqui.

Por isso, não poderia compartilhar esse momento de outra forma. Não reclamando, mas olhando pra frente. E escolhi essa música dos Titãs que cabe bem nesse corpo carcomido pelo tempo.

Dizem que não envelhecemos, nos tornamos mais experientes. Sim, desde que a experiência seja uma das portas para um novo caminho ou nova forma de caminhar.

Sou um socialista, e de longe percebesse. 

E é recorrente ter que responder que ser socialista é bem mais profundo, complexo e complicado de explicar do que a ignorância ou o senso comum atribuem sobre o que é ser "socialista". 

Ouço sempre que, "se você é socialista, divide o que você tem", a afirmação é tão burra quanto a premissa. Dividir, materialmente, para um socialista, é dividir aquilo que foi produzido coletivamente, diferente da lógica (presente) do capitalismo, que se apropria da riqueza socialmente produzida do tempo, desgaste e dedicação daqueles que vivem do trabalho (pago pelo ínfimo valor, salário), então dividir sim, mas aquilo que é construído por todos e todas.

É um dos pressupostos e está na canção da "Internacional Comunista", que diz "nem direitos sem deveres, nem deveres sem direitos", essa é uma das nossas reivindicações.

Bom, antes de virar textão. O que quero dizer com isso é que chegar aos 37 foi um exercício de coerência e de princípios. 

Coerência, porquê "fazer o que se fala e falar o que se faz", é tarefa árdua, ser socialista não é ser prefeito, muito pelo contrário, é escolher andar numa estrada de contradições. Contradições que fortalecem as escolhas, decisões, posições e tudo mais que pertença a vida, vida com "V" maiúsculo. 

Ou seja, é não tornar patologia o que é da alma humana. Viver as contradições é não ter que produzir sentimentos por meio dos remédios medicamentosos da industria farmacêutica, feliz ou triste depende apenas de mim e não da pílula indicada nas soluções fáceis do sistema.


E a música? Tem tudo a ver com o momento. E quando pensei sobre o dia do aniversário, realmente "Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, Eu não encho mais a casa de alegria. Os anos se passaram enquanto eu dormia, E quem eu queria bem me esquecia.", cabe bem com o momento que vivo. Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar, me adaptar. Não vou me adaptar! Me adaptar!

Nunca soube bem como tratar a questão dos ex-amigos (as) e ex-companheiros (as), apenas sei que quando acaba, acaba. Uma tristeza na alma, na minha, e que percebo que poucos se preocupam da mesma forma que eu quando surge esse rompimento. E diante dessa crise política do país, o que mais aconteceu foram rompimentos, variados e inúmeros, de todos os tipos e motivos, o que faz a gente sair da cama não é os que se foram (em sentido figurado), mas os que ficam e são (ainda) os seus amigos e amigas, companheiros e companheiras.

Desses rompimentos, descobri que não sou imprescindível, as vezes até mesmo descartável.

Porém, como disse antes, coerência e princípios nunca me faltaram, num duro exercício pessoal, contraditório sempre, mante-los é o que faz de mim o que eu sou.

37 anos de vida, desses uns bons 20 dedicados a luta. 

Que venham os próximos anos, porque lutar e resistir é um passo do ousar e transformar. 

abraços e saudações socialistas (claro!)

Não Vou Me Adaptar


Compositor: Reis/Antunes

"Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia,
Eu não encho mais a casa de alegria.
Os anos se passaram enquanto eu dormia,
E quem eu queria bem me esquecia.

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar,me adaptar (2x)

Eu não tenho mais a cara que eu tinha,
No espelho essa cara já não é minha.
Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho,
A minha barba estava desse tamanho.

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia,
Eu não encho mais a casa de alegria.
Os anos se passaram enquanto eu dormia,
E quem eu queria bem me esquecia.

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Não vou!

Eu não tenho mais a cara que eu tinha,
No espelho essa cara já não é minha.
Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho,
A minha barba estava desse tamanho.

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Não vou!
Não vou me adaptar!Eu não vou me adaptar!
Não vou! Me adaptar!