É claro que para grande maioria do povo brasileiro, em especial da classe trabalhadora, o que o PT (Partido dos Trabalhadores) discute ou deixa de discutir pouco importa, nessa conjuntura então isso vem acompanhada de um velho preconceito agora justificado pela moral burguesa nas relações do Estado e a corrupção.
Mas ignorar o partido é ignorar a própria sociedade brasileira, da qual filiados, militantes e simpatizantes fazem parte e buscam, mesmo que atônitos, discutir os rumos dessa organização partidária que mudou o jeito da política brasileira, principalmente para que residem no andar de baixo das classes sociais.
O seu futuro dependerá das escolhas que fizer hoje. Caso convoque um congresso, precisa dizer para o que? com risco de desagradar inclusive os possíveis participantes. Se for palaque exclusive de solidariedade à Lula - que até o merece, mas não exclusivamente - frustará quem quer discutir rumos programáticos. Se for lugar para novas composições via cisão aberta, olhando para "unidade do Sul", de Tarso-Olívio-Raul, pode também ser marcado mais pela "caça aos culpados da derrota" do que de um debate necessário. E qual debate é necessário ao PT hoje?
Pautar a analise do golpe de 2016, da crise com relação a exitosa "tática de alianças" do último período, da correlação de forças na sociedade civil brasileira e a criminalização do PT que atrela isso aos movimentos sociais, sindicais e partidos de esquerda dentro ou fora da relação petista, e lógico, qual é o projeto de sociedade que o PT defende? Será a atualização das antigas deliberações ou aprofundamento das relações do atual estágio do capitalismo brasileiro?
E os petistas que não possuem tal poder de pelo menos participar das instâncias de deliberação, já ocupadas por militantes (ainda) profissionais? Vão acompanhar pela internet os debates, passivamente e sem condições de intervir?
Defendo a concepção do partido de massas e de quadros, entendo o quanto é importante que os militantes filiados a um projeto de sociedade coletivo e de transformação societária sejam fortalecidos num processo continuo e ativo, tendo o partido como protagonista, com suas direções dedicadas a esse processo e com uma militância orientada a alicerçar-se nos espaços públicos e organizações da sociedade civil para construir a erosão da sociedade de classes e o questionamento às relações sociais no capitalismo.
Pelo menos era o que se esperava do maior partido político do Brasil. Sem nenhum demérito aos demais e sem falsa modéstia, o PT ousou em suas três décadas de vida partidária, orgulho para uns em saber que o partido tem sede física o ano inteiro, que ousou na construção de políticas públicas para fortalecimento da democracia e de um Estado Social, além da inserção de segmentos étnico-racial, de mulheres, a população LGBT, os sem terra, sem teto e sem opção no capitalismo globalizante.
Se a luta institucional tem limites, também foi o PT que provou que parte da máquina pública pode promover inversões de prioridades até o ponto de promover ações mais amplas e internacionais, ou não foi em Porto Alegre (RS) que ocorreram os Fóruns Sociais Mundiais, os mandatos parlamentares que em resistência ou em lutas sociais serviram (e ainda servem) como ponte de apoio aos lutadores e lutadoras, as inovações democráticas e todo esforço para tornar as relações urbanas mais humanas.
Tudo isso pode virar pó? Não acredito na catástrofe, a não ser que a casta dirigente novamente se omita ou erra na análise, ai poderei até recuar. Mas a intensidade do debate interno mostra que há muita expectativa.
Ou é isso, ou assistiremos o nascimento de novas configurações totalmente alheias ao debate das esquerdas nas últimas décadas. Falo da ideia do "PT sem Lula"ou "Lula sem PT", e já ouvi dirigentes do campo majoritário lulista afirmarem que em último caso as correntes e tendências internas à esquerda do PT podem até ficar com a legenda, mas não com a lenda.
Seria isso uma ameaça? É consenso que Lula exerce força social atrativa forte diante dessa conjuntura adversa. Pós golpe, a sua posição em primeiro lugar nas pesquisas para 2018 deixam intranquilos alguns setores da direita. E para além da ameaça do governo ilegitimo e hibrido de Temer, sabe-se que para o PMDB a partilha do Estado é mais importante que qualquer ajuste neoliberal. Muito diferente dos aliados tucanos.
Entre os tucanos há muita festa de um lado e apreensão do outro. O único consenso são os ajustes neoliberais, querem ser os democratas e republicanos estadunidenses numa mesma legenda, ao ponto de divergirem inclusive sobre as teses da prisão ou não de Lula. Teses ultra radicais, dialogando ainda com os "verde-amarelos" das ruas, querem logo a prisão. Diferente do sangue frio de outros setores que preferem, em nome da sua tática eleitoral, empurrar um setor para o abate de 2018 para perder e aí no calor do novo congresso cassar, via impeachment, Lula.
Ambas as teses tem seus poréns, os contrários a prisão alertam sobre a criação do "mártir", onde ao observar Vargas na história, isso tardou um projeto da direita que vingou (em parte) em 1964. A outra é de que deixar Lula para disputar e possivelmente vencer é mais uma manobra para desgastar setores do tucanismo em nome de uma oportunidade de vitória eleitoral. Bom, qual tese vencerá, veremos nesses dois anos.
Voltando ao petismo, o campo majoritário e seus dirigentes "bate-paus" insistem em intimidar as forças políticas à esquerda do PT, dizendo sobre o "possível e hipotético" movimento de "saída" destes grupos. E em última resposta, a depender dos rumos do congresso, que haja um movimento de desagregação mexicana, onde os defensores da tese da "revolução democrática" sem a ousadia de expulsar os "infiéis" criem um artificio de prazo determinado para fundar o seu próprio partido, levando inclusive o "líder" para suas hostes.
Será que o centro comporta mais um partido? Um "Partido da Radicalização Democrática" (PRD) ou coisa do gênero? E parte do petismo, filiado ou simpatizante, seguirá tal legenda?
Essa possibilidade pode abrir uma nova "caixa de pandora", para além da que foi aberta em junho de 2013, dialogando com uma comum lógica de indivíduos da sociedade civil brasileira que perfilam as fileiras do discurso anti radical (mesmo sem entender o que ser radical numa sociedade que penaliza os pobres como a nossa), e que sustenta o lulismo.
De que pensamento estamos falando? Do pensamento que alienadamente afirma que, (1) "no Brasil, se o partido não fizer alianças ele não ganha eleições", isso é falacioso se observarmos algumas vitórias eleitorais recentes como em Guarulhos (SP), onde o candidato apadrinhado pelo vice governador do estado de SP obteve 68% dos votos válidos com um leque pequeno de partidos (PSB/REDE/PSC) contra um ex prefeito (Eloi Pieta do PT) e figuras como Eli Correa Filho (DEM), este último com leque de alianças enorme (quase dez partidos, mais os que se agregaram no 2. turno); (2) "se vencer não governa", OK, mas as relações mudam depois que se estabelecem os vencedores, e a colizão é prova disso na história do país; (3) "não adianta o PT radicalizar", sim, essa lógica durou até agora, mas o que seria "radicalizar"?, o PT poderia ter feito governos medianos na gestão pública, mas nunca deveria ter abandonado o projeto de constituir uma nova sociedade civil com valores de justiça social, humanidade, democracia e participação social, porém, as escolhas fáceis levaram a uma despolitização, essa reverteu-se contra o partido.
Bom, tudo isso para dizer que estamos, filiados-militantes e simpatizantes, na expectativa, já que o campo e a arquibancada ainda estão tomadas de "filiados ilustres", a nós, nos cabe apenas aguardar. Contudo, não nos deixe esperando muito, estamos acompanhando as lutas, participando de algumas e com certeza fazendo escolhas sobre o que fazer diante do atual projeto de Estado que sai do papel pelas mãos do governo golpista, e não vamos esperar sentados!