domingo, 23 de abril de 2017

Negros, índios, mulheres e jovens ATRAPALHARAM as eleições internas do PT?

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Importante dizer que a fonte é do jornal "O Estado de São Paulo", voz da direita assumida do país. Porém, a pactuação ou leviandade são impressionantes. Primeiro pelo teor da matéria que atinge diretamente o coração da direção política do partido, segundo pela forma como é tratada a questão da derrota interna referente a baixa participação política dos filiados/as.

A afirmação "Alguns dirigentes do PT apontam a dificuldade para preencher as cotas obrigatórias destinadas a negros, índios, mulheres e jovens como motivo para o desaparecimento dos diretórios nessas cidades." é uma evidente forma de preservar quando interessa os nomes dos dirigentes. Ora, nunca tomam cuidado com nenhuma fonte ligada ao PT, quando um membro da esquerda, minoritária, se expõe falta apenas colocar o RG do sujeito, agora neste caso não é preciso "dar nome aos bois".


Isso quando o partido precisa orgulhar-se de compor suas direções com a maior diversidade e representação da classe trabalhadora brasileira, e expor as verdades sobre os limites da população negra, das mulheres, indígenas e da juventude em poder ocupar os espaço na política brasileira, e note-se a ausência da população LGBT. E somado a isso, as afirmações de que a "exigência" impôs limites na construção das chapas é ridícula, para não dizer despolitizante.

O certo é que o partido que contribuiu muito para mudança de certos hábitos da política brasileira pudesse agora enfrentar o golpe e a crise política renovando-se ao ponto de transpor, expor e desafiar-se a mudar novamente a política enfrentando a mare que se abate.

Segundo, é a polêmica das fraudes que pouco serão constatadas se as coisas caminharem como estão sendo dadas a condução. 



http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pt-encolhe-27-e-perde-1120-diretorios-municipais,70001747592


PT encolhe 27% e perde 1.120 diretórios municipais

Em série de reveses, partido não conseguiu nem sequer montar nessas cidades uma chapa para eleger direção; órgãos serão substituídos por comissões provisórias

Números do Processo de Eleição Direta (PED) do PT realizado no dia 9 em todo o Brasil mostram que, das 4,1 mil cidades onde o partido está organizado, cerca de 1.120, 27% do total, não conseguiram organizar nem sequer uma chapa de 20 filiados para compor o diretório municipal. Nesses municípios, os diretórios serão substituídos por comissões provisórias. Entre eles estão cidades importantes como Uberlândia, a segunda maior de Minas.

Foto: FOTO FILIPE ARAUJO/INSTITUTO LULA
Lula - Filipe Araujo - Instituto Lula
Luis Inácio Lula da Silva vota no Processo de Eleições Diretas do PT, no dia 9 de abril



É por meio do PED que os petistas escolhem as direções locais do partido e os delegados para os Congressos Estaduais, que, por sua vez, vão definir os representantes para o 6.º Congresso Nacional, onde será eleita a nova direção partidária, em junho deste ano.

Alguns dirigentes do PT apontam a dificuldade para preencher as cotas obrigatórias destinadas a negros, índios, mulheres e jovens como motivo para o desaparecimento dos diretórios nessas cidades. Há ainda suspeitas de fraudes que podem contribuir para o resultado (mais informações nesta página).

Outros, porém, admitem que o encolhimento do partido revelado pelo PED é mais um capítulo na série de reveses que levaram o PT a uma crise contínua desde o início da Operação Lava Jato, em 2014. São incluídos nesse processo a dificuldade para reeleger Dilma Rousseff naquele ano, as prisões de petistas importantes, como José Dirceu e Antonio Palocci, as acusações contra Luiz Inácio Lula da Silva, o impeachment de Dilma, a derrota histórica do partido nas eleições municipais do ano passado e a debandada de prefeitos e vereadores da sigla.

“Essa queda reflete uma situação em que o partido perde com a saída de prefeitos e vereadores em função dos ataques que sofremos”, disse o secretário nacional de Formação Política, Carlos Árabe, representante da corrente Mensagem.

No total, 290.124 filiados saíram de casa no Domingo de Ramos para votar no PED em cerca de 3 mil municípios em todo o Brasil – o País tem 5.570 cidades. O número de votantes é 31% menor do que os 425 mil participantes do último PED, em 2013. Mesmo assim, diante das circunstâncias, o partido comemorou o resultado.

Encolhimento do PT
Encolhimento do PT
“Com essa situação toda que nós vivemos, o PED ficou dentro do esperado. Ninguém tinha a expectativa de superar os 300 mil. Ver que 290 mil pessoas saíram de casa para votar mostra que o partido está muito vivo”, disse Gleide Andrade, vice-presidente do PT e integrante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB).

Segundo ela, a situação nos 1.120 municípios onde não houve eleição para diretório municipal reflete a necessidade de uma mudança no estatuto do partido, que, no auge do governo Luiz Inácio Lula da Silva, criou cotas de gênero, raça e faixa etária para todas as esferas de direção.

Quórum. Segundo o PT, 909 cidades nem sequer se credenciaram para eleger um diretório municipal e outras 210 não conseguiram realizar a eleição. Em 89, o partido não cumpriu o quórum mínimo de eleitores. É o caso de Uberlândia, segundo maior colégio eleitoral de Minas, com 478 mil eleitores, governada pelo PT até 2016. O ex-prefeito petista Gilmar Machado, da corrente Mensagem, teve apenas 10% dos votos na eleição do ano passado e atribuiu o mau resultado à “onda de ódio” contra o partido.

Em conversas reservadas, dirigentes petistas dizem que na maioria das cidades onde os diretórios foram extintos – a lista é guardada a sete chaves – houve debanda de prefeitos e vereadores para outros partidos. Os detentores de cargos levaram consigo os filiados que compunham seus grupos políticos, esvaziando o partido.

Segundo o secretário nacional de Organização, Florisvaldo Souza, o encolhimento é um fenômeno que tem atingido todos os partidos, mas no PT fica mais visível por causa do PED. “Historicamente, o PT tem vida ativa em cerca de 3 mil cidades. Por isso, comemoramos o resultado”, disse Florisvaldo.

Dos 3.086 municípios onde o PSDB está organizado, cujos números constam do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 1.847 (59%) são comandados por comissões provisórias. No PMDB, essa mesma estrutura alcança 22% das 3.703 cidades cujos dados são publicados pelo TSE – o site do tribunal não informa os números dos Estados de Minas, Rio e Paraíba.

“Com essa situação toda que nós vivemos, o PED ficou dentro do esperado. Ninguém tinha a expectativa de superar os 300 mil.” Gleide Andrade / VICE-PRESIDENTE DO PT

Eleições internas do PT: farsa ou tragédia?

Eleições internas do PT: farsa ou tragédia?
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Os números são absolutos, ou melhor dizendo absurdos. Neste último dia 09 de abril de 2017 o PT realizou seu processo de eleições internas para renovar as direções ou deixar tudo como está.

A quem já tenha dito que a história não se repete. A busca pela sua repetição pode ser uma tentativa de falsear o movimento da realidade. Ou se repetir for na forma de seguir em frente pode dar em uma tragédia.

No balanço final menos festa e muita troca de acusações. Denúncias formais nos estados questionando a validade das listas onde a militância, distribuídas nas chapas, não tem como fiscalizar a transparência da votação. Troca de “elogios” entre dirigentes. E num clima de “ninguém se salva” a maior pena recai sobre a força política majoritária e vai descendo até as forças minoritárias no troca-troca dos votos. Repito, ninguém se salva.

A luta pelo novo é alimentada pela velha forma de fazer as coisas. O sentimento é de que não aprendemos nada com a crise política e o golpe. Vejamos porque:

Primeiro, a forma hibrida lulista de “ajeitar as coisas” manteve na base as eleições diretas, ou seja, o inevitável carregamento de filiados, e nas demais instâncias os congressos por delegação. Na soma, só fecha para um lado. Pois se é na base do voto de massa que se elegem os delegados e como as delegações já seriam pré-determinadas, quer perderia novamente seriam as forças políticas minoritárias.

Segundo, o debate em si não foi prioridade nessa primeira fase. Uma coisa lógica seria promover intensos debates, mobilizações e articulações a fim de motivar a fase de massas para impulsionar um congresso qualificado. Bom, a escolha foi navegar nas feridas da desmotivação, derrota eleitoral recente e depressão política generalizada, deixando passar o tempo até o dia da eleição.

Terceiro, mesmo a ausência de grandes máquinas não impediu a reprodução de velhas práticas. As acusações de interferência interna de outras forças político-partidárias só reforçam a tentativa desesperada de “dirigir o ônibus sem passageiros”, pois, o sentimento da militância que organiza, reúne, dialoga, atrai, mobiliza e constrói cada vez mais se esgota, e não digo um esgotamento que seria mais uma saída do partido, mas um laisser-faire político onde a força política majoritária pode ganhar, porém não leva.

Quarto, os números absolutos são extraordinários: segundo a secretaria de organização somos mais de 1,7 milhões de filiados e ao votarem cerca de 270 mil, ainda assim é um grande exército para nenhum Lênin botar defeito, sendo que destes, mais de 50 mil foram só de São Paulo. Enfim, vamos olhar mais afundo isso. Não éramos 100 mil petistas na av. Paulista denunciando o golpe e as reformas que destroem os direitos da classe trabalhadora no dia 15 de março de 2017. Tampouco na esplanada dos ministérios durante a votação do impeachment em 2016. E pior ainda nas jornadas de julho de 2013.

E que “cagas d’agua” serve as eleições internas se não for para reconhecer que o tamanho partidário tornou-se ilusório, irreal e patético. Assumir que não foi possível coesionar um milhão e setecentas mil pessoas para defender o projeto do partido e o seu governo contra uma ameaça interna e externa ao país?

Uns vão dizer que é estratégico manter a farsa numérica, “para não dar força ao inimigo”, Ok para fora quer se dizer isso, digam, porém, internamente admitam o caráter cartorial do negócio. Pois, quando a força política majoritária botar os seus mais de cem e tantos mil nas ruas, é obrigação nossas, das forças minoritárias e ideológicas nos submeter.

Mas essa não é a verdade. E a verdade é que o golpe da direita indigna a todos/as nós e frustra gerações de esperança e lutas sociais. Agora golpe interno, inaceitável.

Inaceitável porque mostra que não aprendemos nada.

Se não aprendemos nada, continuamos insistindo no erro.

Nosso erro recai sobre a classe trabalhadora brasileira.

Classe que vai abandonando a fé na sua força.

Tragédia, mesmo que temporária, apenas tragédia.

Há culpa maior e menor. Sim há. Muito de nós retorna ao ponto de partida, uns nas máquinas sindicais, funções no partido, nos parcos governos e outros na raiz da classe assalariada. Outros, ainda com sobrevida, exerce a política da velha forma, tradicional e conservadora, negocia o PT como legenda qualquer, assume os riscos da compra dos votos ou dos acordos futuros.

Tem culpa maior, com nome, RG, sigla, lideranças e tudo mais. Escondidos em institutos ou na máquina partidária e governamental. Usam a história como lhes pertencesse e discursam como se não houvesse outra verdade. Fingem que escutam, enquanto promovem guerra contra seus próprios aliados e irmãos/irmãs no partido. E o que vai acontecer se chegarem no poder de novo? Vai trair, vai ter tragédia.

Nós, na esquerda socialista, também temos nossos erros e culpa. Menor em culpa, porém, não menor em erros. Continuamos com nossas capas, nossas tentativas de sobreviver, nos acordos pelo voto das forças que criticamos, como uma partilha solidária, nos contentamos a subsidiar nossos dirigentes nas executivas partidárias para perderem votações. Ridicularizados, em momentos como esse somos cobrados, duramente.

Seja pela indisciplina, do esquecimento ou desconsideração das regras já pactuadas a um tempo, seja pelo “chapéu” que é passado para ter uma partilha dos votos da força majoritária em alianças cada vez mais locais. E nem quem tenha tido boa votação nas eleições gerais consegue reproduzir isso em pelo menos uma reunião, mostrando que há fraquezas do lado de cá.

Jeitinho de lá, jeitinho de cá. E como um castelo de areia, pelo calor ou pela força das ondas, vai se desfazendo. Aqui não trato mais como tragédia, porque o coração pulsa.

Sobre o debate público. Ninguém pode cobrar isso no PT. A tempos tudo que reside nas áreas internas das salas escoam pela boca da especulação política. Tentações de vários tipos percorreram os meios de comunicação golpistas desde as páginas amarelas da Veja, a terceira página da Folha, o caderno do Estadão, os segundos globais, os talk-shows e tudo aquilo que ilumina na frente podendo ser a imprensa, desde que seja a “grande” imprensa. Um pelo outro, a questão é saber o que debate interno, restrito e estratégico e o que é perfumaria ou de interesse de debate nacional?

Penso que classe trabalhadora não está tão interessada em saber dos problemas intestinos do PT.

Que o ex-governador Garotinho não nos chamou de “partido da boquinha” à toa, algum petista fez jus ao nosso merecimento do termo.

E então, como chegamos até aqui? O PCB é muito cobrado por não ter ativado suas forças sociais contra o golpe de 1964, e o PT de 2016 não será cobrado por menos. Uns vão até dizer que não, pela característica do partido, metamorfoseado para tornar-se a débil borboleta no “reino dos ratos”.

Como petista, interessaria defender o partido. Claro, no que for defensável.

A menos de alguns dias para greve geral de 28 de abril de 2017, o programa de TV do partido prefere a ilusão marqueteira, sem posicionar o que é preciso fazer para resistir.

Vai propagandeando a “era de ouro” do “new deal brasileiro” até as eleições de 2018, esquecendo que aos poucos o golpismo quer encher os bolsos de dinheiro capitalizado pelo capitalismo financeiro, sem se preocupar com os 90% de desaprovação e vai também armando as candidaturas anti-petistas com o discurso de que programas como Bolsa Família, Prouni e outros não precisam do PT para fazê-lo, e isso não está sendo percebido pelo “grande irmão”.

Antes que as pedras sejam levantadas, para me calar, prefiro dizer: não fui votar dia 09 de abril.

E ninguém vai usar a sua boca cheia de merda para dizer um “a” sobre a minha decisão. A dor que senti e sinto é minha, pessoal. Militante partidário, nunca, repito nunca deixei um processo interno de debate ou de escolha de direção. Fui dirigente municipal, da macroregião e como força política representante estadual e nacional, nunca fugi da luta pelo PT que acredito e nunca descumpri decisão partidária.

Porém, as tramas que vão se entrelaçando no processo de eleições internas não foram firmes e tampouco dispostas a dar num resultado final que pudesse ser uma mudança de postura.

E diante de dirigentes que num passado nem tão distante não cumpriram com suas obrigações partidárias, financeiras ou militantes, que descumpriram decisões coletivas ou falsificaram resultados em nome do governismo, eu digo, não me sinto culpado pela minha ausência. Foi minha forma de ver e dizer o quanto as coisas estão sem rumo.

O balanço político da primeira fase das eleições internas do PT demostra a fragilidade de uma organização coletiva, que tem raízes (ainda) fortes na massa popular e real da sociedade, e que foi se tornando numa máquina de ilusões. Ilusões em nome do interesse do partido.

Há muito ainda por vir. Apenas torço que haja um bom combate interno, mesmo sabendo como estão as cartas, não se pode dar como dado a história.

E da minha militância? Nem de longe é uma proposta estratégica e tampouco coisa nova.

Voltando a base, exercendo a profissão, dialogando e partilhando o que tenho e o que posso. Na formação, que creio ser necessário retomar, com paciência impaciente. Nas relações sociais do cotidiano, nas opiniões simplistas sobre a política que combato sem bater, mas no duro trabalho do convencimento, sem ser arrogante. Nas pequenas iniciativas. No enraizamento, que ainda existe no reconhecimento de quem sabe o que cada um de nós fez no passado.

Hoje e daqui pra frente recuso tudo que foi dito em nome da estratégia da vitória da classe. Não me importa o tempo que leve, se chegar ao poder puder expressar a forma e conteúdo do que queremos no “cara a cara” da disputa de projetos societários.

Qual projeto de nação que passa por reformas que sejam estruturais? Não basta ficar de mimimi com relação a Globo e cia., qual é projeto de democratização da comunicação? Abraçar a educação e retomar de onde Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros pararam, tornando-a uma prioridade de projeto político nacional. Mudar radicalmente a lei de cooperativas, estimular o processo produtivo coletivo, com financiamento público direto e massivo. Controlar o sistema financeiro no seu coração. Retomar o fantasma da democratização política, se tremeram diante do decreto de Dilma, então este seria o caminho.

Sabemos que um programa político destes é chumbo que vem pra cima de nós. Mas até agora sofremos um linchamento midiático e público, portanto, não há nada a perder. Se o voto é a coisa mais desvalorizada pelas massas, o que a sobrevaloriza no meio das forças políticas conservadoras e da elite, façamos o inverso, e como uma onda que quer emergir, dizer ao humilde, ao simples e ao suburbano que o protesto agora é botar a nossa gente, nosso cheiro, nossa cara lá no “banquete” deles.

Contudo, tudo isso, depende de força social. Que o PT se abra para as forças políticas no campo contra o golpe, para Frente Brasil Popular, a Consulta Popular, o Levante e demais para apoiar candidaturas proporcionais com força para vencer nas bases dos golpistas e no interior do país. Renovar a força parlamentar na base, ousar quando parece fácil ceder, já cedemos e não deu certo, agora é ocupar.

Reunir as pessoas. Promover a reflexão crítica dessa realidade. Deixar a religião para os religiosos e formar militantes, sem dogmas, mas com princípios e projeto coletivo.

Hora de retomar a frase do bom velhinho: “não temos nada a perder, a não ser as cadeias que nos prendem”.


Penso PT. Mas para uma outra e nova história.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Um domingo de expectativas? As eleições diretas e os rumos do PT.

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Fatalmente pode ser que pouca coisa mude neste domingo (09 de abril de 2017) onde se realizará o Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores. Como militante filiado e apoiador de um dos programas para mudar a organização partidária e adepto da tese do golpe institucional, o que pode se esperar desse modelo hibrido adotado pela conciliação lulista reflete o clima que atinge os/as petistas em geral.

As comemorações em torno das unidades promovidas Brasil afora escondem o jogo que circunda os acordos e interesses que visam o "menor desgaste" e a "maior unidade" para fortalecer o partido para as eleições de 2018. E ai é que reside o perigo da baixa participação no processo de renovação das direções partidárias.

Lula operou a velha conciliação agindo na contramão do que fazia desde a vitória de 2002: ocupar-se das tarefas partidárias. Ouviu, reuniu e costurou até chegar num acordo interno entre os que defendiam o trágico eleitoralismo liberal chamado de PED e o retorno dos encontros que reuniam a militância partidária e a envolviam na construção dos rumos do projeto partidário. Disso venho o nosso ornitorrinco (Oliveira, 2003) que vai "diretamente" receber os votos dos filiados/as e nos níveis estaduais e nacional reunir os quadros partidários para definição de rumos estratégicos e escolha das direções estaduais e nacional.

O que virá desse processo? Sempre espera-se que haja um reascenso de massas interna, que mobilize o filiado/a e que recoloque o partido na pauta da vida militante dos filiados/as, para sair dessa onda depressiva que tem nos acompanhando nos últimos meses pós golpe.

Espera-se pouco inclusive do maior colégio eleitoral, o estado de São Paulo, que tende pelas mãos do campo majoritário, a reproduzir mandonismos de alta especie, não aprendendo com as lições da conjuntura e ainda atravessando essa crise política como se fosse fácil ou por osmose trazer o ânimo militante diante de velhas formas de fazer política hegemônica.

E talvez seja esse o problema central, a forma de fazer política hegemônica. Alguns de nós buscamos tirar lições desse processo, ao ponto de escolher não abrir mão mais de ideais em nome de recuos, de pressupostos erráticos, de simplismos de análise ou de verdades exclusivas, ou seja, nem sectarismo e nem oportunismo, tornam-se palavras de ordem de quem fez a leitura e quer agora não errar (ou errar menos) na análise.

Aqueles que acompanham o blog podem estar já cansados dos meus códigos cifrados, sem dar nomes ou identificar recados, mas prefiro assim, quem vive de fato a vida do partido não precisa de didatismo alfabetizador para explicar quem joga e como esta sendo jogado o jogo interno do petismo.

Certo mesmo é a unidade da classe trabalhadora em torno da greve geral de 28 de abril, que vai marcar no calendário (para mim) a lembrança impetuosa da primeira greve geral de 1917 e a revolução russa, lembrando como o velho Vito Gianotti nos ensinou sobre a importância de resgatar sempre a história das lutas da classe trabalhadora.

Mesmo com os recuos amedrontados do governo golpista, que agora sinaliza em desmobilizar os professores ao retirar da proposta da reforma, isso ainda será um problema para maioria dos trabalhadores celetistas do regime geral da previdência que são as maiores vitimas desse arrocho previdenciário. A luta continua, até cair, a reforma e Temer.

E em meio a tudo isso, o que não tem de fato contribuído para que a própria militância tenha se articulado nas mobilizações é o próprio partido. Ainda errando na comunicação, na articulação e no enfrentamento. Quais foram as formas possíveis e impossíveis de incorporar o debate das lutas contra as reformas neoliberais no PED? Nas localidades que residiu a "unidade", quais foram então as ações unitárias que mobilizaram os filiados/as para debater e organizar a greve geral?

Perguntas sem respostas e sem tempo, pois no domingo os problemas da casta dirigente se resolvem. Amizades, coleguismo, alguns beneficiários e outras formas que irão trazer os/as filiados/as para votar domingo ainda não darão as respostas efetivas para sair da crise, derrotar o golpe, vencer as eleições de 2018 e retomar um programa político de transformações estruturais do país.

Outro trauma será o resultado. Comemorar quórum no limite não é motivo de sorrisos e alegria, mas de derrota e de reflexão critica necessária para reconhecer que a velha forma que conduz o PT esta agonizando e a nova forma ainda não surgiu.

Tempos de crise, tempos de luta.

Guarulhos, abril de 2017.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

28 de abril vamos parar o Brasil.


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Duas Frentes nacionais, Brasil Popular e Povo Sem Medo, articulam com o movimento sindical via centrais, partidos de esquerda e movimentos sociais e populares uma grande greve geral para 28 de abril, véspera da possível votação do nefasto projeto de reforma da previdência.

Projeto que dispensa comentários, basta ler o que dizem os pesquisadores do DIEESE, intelectuais e profissionais posicionados sobre a questão previdenciária no Brasil, e claro, do ponto de vista do principal ator que será afetado por esta medida: os/as trabalhadores/as.

Esta greve geral marca historicamente uma ponte entre a primeira greve geral no Brasil, de 1917, em outro contexto do capital e antes da própria legislação trabalhista e da previdência pública. O que é nada comemorativo neste centenário é justamente a causa que provocou a primeira e a esta nova greve: a luta pelos direitos da classe trabalhadora.

A cem anos atrás o Estado Brasileiro patinava em sua condição republicana, a democracia era frágil e a exploração capitalista saltava os olhos pela forma como reprimia os lutadores e lutadoras, a desumanidade das fábricas e todo setor produtivo nacional. Hoje, depois desse período todo a roda da historia girou. 

2017 o Estado Brasileiro é minimo aos sonhos de uma cidadania plena, com uma republica ainda vitima dos acordos na transição democrática da década de oitenta, novamente privilégios foram preservados antes do conjunto da sociedade, a exploração capitalista esta adaptada aos ditames neoliberais, com desemprego estrutural, sub-emprego, precarização, informalidade, terceirização e toda forma de desumanidade moderna, agora é "neo". E num contexto de democracia arrasada pela ruptura da ordem constitucional com o golpe institucional promovido pelo Congresso nacional e referendado pela corte suprema (STF).

Nada a comemorar? Imaginemos que ao garantirmos a nossa resistência, estabelecemos conexões necessárias entre o passado e o presente, podendo virar a mesa. Para isso, a velha paciência volta em cena, o estudo e a formação retomados, a perspectiva de intervir sobre ou contra as velhas instituições conservadoras e o seu papel dominante retornam com um peso significativo.

Para alguns militantes, o que voga é esse momento paciente/ impaciente de fazer sem se preocupar com calendários muito institucionalizados ou engessados pelo modus operandi destas instituições. Outros, tentam na pressa, restabelecer uma narrativa e uma mobilidade de classe que destoa do ritmo da própria classe, tentam correr atrás do rabo, girando, girando.

Todos e todas, iremos nos encontrar no dia 28 de abril, onde a muito tempo não víamos esse clima de impaciência sem rumo, que sabe que esta reforma, em especial, atinge no coração da classe trabalhadora, que tem na previdência pública um sopro de vida, financeiro e de dignidade.

O que se tem vivido nesse processo é a vontade de virar a mesa das instituições. O povo, genericamente, quer que haja justiça com as próprias mãos contra o corpo majoritário da sociedade política brasileira, há ratos abandonando o navio de Temer a cada pesquisa negativa (bate a casa dos 90% de impopularidade), e nesse caso, qualquer virtude ou oportunismo pode emergir.

Melhor que seja do lado de cá, dos que lutam e querem transformar.

Até lá, construindo diariamente, nossa centenária greve geral!

O conflito na Venezuela: quem está dando golpes?

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O conflito na Venezuela: quem está dando golpes?
          
         1.O que de fato está acontecendo na Venezuela?
Essa é a primeira pergunta que todos nós, que desejamos e lutamos por um América Latina livre e soberana devíamos fazer antes de reproduzir notícias falsas fabricadas nas redações da mesma mídia golpista que derrubou o governo eleito democraticamente no Brasil.
            A morte de Hugo Chávez ,a crise internacional capitalista e a queda no preço do petroleo,fizeram com que a complexa situação economica da Venezuela entrasse em um novo patamar de dificuldades. A direita venezuelana colocou em marcha uma nova estratégia para derrubada do governo, pois a tentativa fracassada de golpe clássico em 2002 – uso de setores das forças armadas e sequestro do presidente – lhe impôs uma década de derrotas. A atual estratégia é a mesmo aplicada no Paraguai em 2012 e no Brasil em 2016, porém com intensidade correspondente ao conflito do país: utilizar as vias legais para dar o verniz democrático ao golpe parlamentar.  E a tática para chegar a esse objetivo se parece mais ao que a CIA fez contra o governo Allende em 1973 no Chile: guerra economica, inflação provocada e estoque de produtos de impacto psico-social.
 
2.A crise econômica internacional - que provocou a queda brutal nos preços do barril de petróleo (de 125 dólares em 2012 para os atuais 50 dolares ) – impôs a Venezuela, quarta maior produtora de petróleo do mundo, mudanças econômicas profundas. Assim como a maior parte dos países do mundo, ela viu sua economia perder recursos e, com isso, seus programas e medidas que beneficiavam o povo  passaram a enfrentar grandes dificuldades. Some-se ao contexto macro-economico adverso, de uma economia ainda totalmente dependente do petroleo e do abastecimento do exterior-  que não houve tempo historico suficiente para reindustrializar a economia do país e gerar empregos na produção.   Estas dificuldades foram muito bem utilizadas pela burguesia sempre na oposição- e ainda acrescentaram a especulação permanente com a moeda do dolar.  Atraves da manipulação da taxa de cambio no paralelo e usando as divisas fornecidas pelo proprio governo, a burguesia compradora induziu taxas incontrolaveis da inflação em bolivares (moeda local).   Por outro lado, organizou uma guerra comercial ao controlar e esconder produtos de consumo de massa, que tem forte impacto psico-social, como: esconder papel higienico, pasta de dente,  oleo de cozinha, ou farinha de trigo para pão salgado que tem preço controlado, etc    Esperavam com isso criar uma situação de ingovernabilidade e  o caos,  através da guerra econômica  que pudesse desmoralizar o governo Maduro e levar a novas eleições.
Neste contexto, obtiveram a primeira vitoria eleitoral ao eleger a maioria no Parlamento nas eleições de 2015.
 
3.De lá para cá, praticamente todas a medidas de recuperação econômica enviadas pelo poder executivo ao congresso foram automaticamente rejeitadas e, assim, aprofundam e atrasam qualquer possibilidade de recuperação da economia gerando enormes sacrifícios ao povo venezuelano. A escalada do conflito obrigou então o governo a adotar uma série de medidas legais para continuar governando o país mesmo com a declarada sabotagem do parlamento.
Porem, na disputa politica com as massas e na tentativa de derrotar o governo Maduro, a oposição burguesa não teve sucesso.    Primeiro estão divididos entre eles.  Os setores de direita mais radicais querem aumentar os conflitos para inviabilizar o governo.  E os setores mais moderados, liderados por Capriles, querem desgastar o governo para colher os votos em 2019, dando maior legitimidade ao novo governo, e esperando que o petroleo até lá, se recupere.   Segundo: Manipularam grosseiramente as assinaturas para convocar um referendum, e isso os desmoralizou.   Terceiro: não conseguiram dar seriedade e fazer funcionar a assembleia legislativa.   Tinham tres deputados eleitos fraudulentamente e suas disputas internas inviabilizou o funcionamento da assembleia durante todo ano.   E quarto, a denuncia de propina da empresa brasileira Odebrecht para o principal lider oposicionista senhor Capriles, que recebeu  5 milhões, os deixaram envergonhados perante a opinião publica.
De parte do governo e das forças populares, apesar de todas dificuldades economicas, reconhecidas e debatidas todos os dias na imprensa popular, o governo teve a humildade de debater sempre com a população e  a convocá-la a se mobilizar.    Nunca houve tantas passeataa e mobilizações como nos ultimos dois anos.
 
            4.  Uma nova escalada do conflito teve início em 9 de janeiro de 2107, quando a Assembleia venezuelana simplesmente decidiu não reconhecer o presidente eleito como chefe da nação. Alguém viu a mesma gritaria como agora? Alguém viu a palavra “golpe” ser usada nesse caso? Não, nenhuma palavra sobre uma Assembleia que simplesmente resolveu destituir o presidente eleito, rompendo com a constituição daquele país. Diante disso, uma série de leis especiais foram promulgados pelo governo, visto que agora a Assembleia não somente faz oposição e sabotagem mas, também,  desconhece legalmente o presidente. A partir de então, o conflito entre poderes passa a ser um fator constante e o TSJ – Tribunal Supremo de Justiça -, equivalente ao STF no Brasil, passou a atuar para a sua resolução.
           
            5.O que de fato ocorreu na última semana?
            Não foi, nem de perto, um “autogolpe” como saíram às pressas a proclamar nas redações da mídia golpista. O TSJ já havia solicitado que a Assembleia não nomeasse três deputados eleitos pelo Estado do Amazonas que, comprovadamente, cometeram crimes eleitorais (imaginem se o STF resolve de fato atuar aqui nessas questões...) e que, portanto, não deveriam ser empossados. Por se tratarem de três opositores ao governo a Assembleia descumpriu a ordem do TSJ (lembram do caso Renan e STF?) e, dessa forma, o TSJ considerou a Assembleia incapaz de cumprir suas funções e assumiu o controle dessas.
Em nenhum momento o parlamento foi fechado ou dissolvido, muito menos a pedido do executivo. Portanto, em nenhum momento se descumpriu a constituição e a lei e nenhuma ditadura foi implantada. Isso tudo só existiu na bem articulada rede golpista que, através de suas mídias, rapidamente divulgou uma avalanche de mentiras e cenas de um golpe que nunca existiu. O governo de Nicolas Maduro atuou inclusive para restabelecer a ordem, pois acatou a interpretação de inconstitucionalidade proferida pela procuradora-geral e, através do Conselho de Defesa do país (órgão previsto na constituição venezuelana) solicitou ao TSJ que revisse a decisão e devolvesse o poder da Assembleia aos parlamentares.
Alie-se a esse contexto local, as artimanhas na OEA, em que o seu presidente, um embaixador indicado pelo Uruguai, sr. Almagro, passou a atuar claramente de acordo com as orientações do governo dos Estados Unidos.   Colocou em votação um voto de punição da Venezuela.  Precisava de 24 paises apoiando a propositura, conseguiu só 19 dos 34 membros.    A OEA voltou a ser um bastião colonizador dos interesses dos Estados Unidos.  Nenhuma deliberação sobre as prisões ilegais de Guantanamo, as colonias de Porto Rico, Guiana Francesa, Belize e Malvinas.   Nenhuma palavra  sobre os problemas no Paraguai, Colombia, Peru, Brasil  ou sobre a saida ao mar- direito histórico da Bolivia...
           
          6.Portanto, estamos diante de uma articulação internacional (mídia, poder judiciário, grandes empresas locais e interesses do imperio dos Estados Unidos) que já derrubou tres governos legítimos na América Latina nos ultimos anos, utilizando-se  de  métodos semelhantes. É mais uma tentativa de golpe por parte da direita venezuelana via parlamento e a grande mídia continental - que conta agora com o apoio do governo golpista brasileiro que reuniu às pressas o Mercosul para expulsar e isolar a Venezuela.   Mas não fez nada para impedir novo golpe no Paraguai em que o Presidente quer impor a reeleição, proibida pela constituição.
Felizmente a Venezuela conta com um  poder Judiciário democrático que não se acovarda , nem se rende diante dos golpistas, como aconteceu  no Brasil ou mesmo nos Estados Unidos na eleição do Bush.
           
         7.  Devemos ter consciencia e acompanhar com atenção as dificuldades de um processo que quer construir uma sociedade igualitaria, mas enfrenta  as atrofias de um estado burgues e burocratico dominado por uma pequena burguesia acostumada com as propinas do Petroleo.  Uma economia dependente e não industrializada, que ainda não consegue ter no trabalho produtivo seu pilar principal.  
Um processo de construção democratica, que  propoe  maior participação popular, em todos os niveis, mas se depara tambem com as tradições eleitorais do passado.
Sabemos que há vontade politica dos dirigentes do processo de  estimular cada vez mais o protagonismo da mobilização e organização popular, unica forma de superar os dilemas historicos da luta de classes.
             É dever nosso, defender esse projeto de soberania popular, que luta bravamente em meio à crise e problemas internos, que são manipulados pelos inimigos que desejam a volta ao modelo servil e de exploração que reinava na Venezuela, para que a renda petroleira seja apropriada apenas por uma minoria capitalista.  Certamente se a Venezuela não fosse o quarto maior produtor e exportador mundial de petroleo, não estaria passando por essa situação.
             Denunciar essa rede de mentiras é nossa tarefa, contribuindo  para manter um presidente eleito democraticamente, de um país símbolo de soberania, diante da ofensiva do imperialismo e defender as  conquistas obtidas pelo o povo. 

Articulação dos movimentos populares hacia ALBA-  Brasil
 

Sao Paulo, 5 de abril 2017